Poeta Vaqueiro José Peixoto Júnior
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Deputado Federal José Arnon e convidados do ICC
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Abaixo transcrevemos o texto de saudação feito pelo confrade e mestre, Napoleão Tavares Neves, apresentando o novo acadêmico do Instituto Cultural do Cariri - ICC, querido amigo José Peixoto Junior, escritor, poeta e vaqueiro, na noite do 22 de setembro, em Crato, oportunidade em que era lançada a segunda edição de seu festejado "Bom de Veras e seus Irmãos". À solenidade de posse de Peixoto Junior em uma das cadeiras do ICC, justamente na noite que antecedeu a abertura do Cariri Cangaço, contou com a presença de muitos confrades da SBEC.
.Paulo Brito, Manoel Severo e Napoleão Tavares Neves
Deputado Federal José Arnon e convidados do ICC
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Paulo Gastão, Lemuel, Emanuel Braz, Wilton Dede e Kaika Luiz
Bom Deveras e Seus Irmãos - Por:Napoleão Tavares Neves
No dia 05 de Novembro de 1943, indo a cavalo de Porteiras para o Crato, para o exame de admissão ao Ginásio, na “Estrada da Feira” que ligava Barbalha a Crato, passando no Alto do Leitão, o meu pajem naquela viagem, Antonio Farosa, mostrou-me cruzes toscas abandonadas no matagal, exclamando: “Eis ai as cruzes dos cangaceiros Marcelinos. Quando você for homem, procures saber essa história e vai ver como era o cariri em 1928”. Aquilo ficou na minha mente!
No dia 05 de Novembro de 1943, indo a cavalo de Porteiras para o Crato, para o exame de admissão ao Ginásio, na “Estrada da Feira” que ligava Barbalha a Crato, passando no Alto do Leitão, o meu pajem naquela viagem, Antonio Farosa, mostrou-me cruzes toscas abandonadas no matagal, exclamando: “Eis ai as cruzes dos cangaceiros Marcelinos. Quando você for homem, procures saber essa história e vai ver como era o cariri em 1928”. Aquilo ficou na minha mente!
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19 anos depois, o destino me trouxe para Barbalha, como jovem médico. Certo dia, tomei a minha Belina amarela e com René Grangeiro, sai em busca daquelas cruzes que tanta curiosidade me causou nos doces tempos de menino. De pergunta em pergunta, de informação em informação, eis que chegamos ao Alto do Leitão. Em uma casa isolada no meio da capoeira, divisei um homem que trabalhava de foice. Interpelei-o para informar-me onde ficavam as cruzes dos cangaceiros Marcelinos. Resposta: “Fica daqui a uns 500 metros de mata e o senhor não vai conseguir chegar lá, a menos que seja a pés”. Topei o desafio e paguei ao rurícola que comigo conversava para abrir uma picada até as cruzes. Senti um grande impacto ao visualizar cruzes toscas, com a madeira já corroída pelo tempo e pelo cupim. Imaginei o desespero daquela gente humilde cavando o chão duro as suas próprias sepulturas! Teria havido algum diálogo entre eles? O que teriam imaginado? Lá no aceiro do mato vi mais uma cruz, a 5ª cruz, encimando um montículo de pedra tosca. Era, certamente, a cruz de Manoel Toalha, um jovem aparvalhado que, na hora da execução, correu em busca do mato e foi alvejado pelas costas! Crime inominável! Manoel Toalha era um pobre vendedor de pão que cobria a cabeça com uma toalha para proteger-se do sol. Jamais portou uma arma e apenas levava os bilhetes dos cangaceiros para os coronéis da região pedindo dinheiro e ele o fazia apenas para ganhar alguns míseros trocados! Repito: crime inominável que só a polícia do Ceará de então, ousaria praticar! Com certeza, cangaceiro seria mais nobre!
19 anos depois, o destino me trouxe para Barbalha, como jovem médico. Certo dia, tomei a minha Belina amarela e com René Grangeiro, sai em busca daquelas cruzes que tanta curiosidade me causou nos doces tempos de menino. De pergunta em pergunta, de informação em informação, eis que chegamos ao Alto do Leitão. Em uma casa isolada no meio da capoeira, divisei um homem que trabalhava de foice. Interpelei-o para informar-me onde ficavam as cruzes dos cangaceiros Marcelinos. Resposta: “Fica daqui a uns 500 metros de mata e o senhor não vai conseguir chegar lá, a menos que seja a pés”. Topei o desafio e paguei ao rurícola que comigo conversava para abrir uma picada até as cruzes. Senti um grande impacto ao visualizar cruzes toscas, com a madeira já corroída pelo tempo e pelo cupim. Imaginei o desespero daquela gente humilde cavando o chão duro as suas próprias sepulturas! Teria havido algum diálogo entre eles? O que teriam imaginado? Lá no aceiro do mato vi mais uma cruz, a 5ª cruz, encimando um montículo de pedra tosca. Era, certamente, a cruz de Manoel Toalha, um jovem aparvalhado que, na hora da execução, correu em busca do mato e foi alvejado pelas costas! Crime inominável! Manoel Toalha era um pobre vendedor de pão que cobria a cabeça com uma toalha para proteger-se do sol. Jamais portou uma arma e apenas levava os bilhetes dos cangaceiros para os coronéis da região pedindo dinheiro e ele o fazia apenas para ganhar alguns míseros trocados! Repito: crime inominável que só a polícia do Ceará de então, ousaria praticar! Com certeza, cangaceiro seria mais nobre!
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Sai dali ao cair da tarde pensando naquela tragédia que nem a imprensa noticiou, certamente por ser mais uma “queima de arquivo humano” no conluio que juntava coronéis-policia-cangaceiro. Terra de ninguém era o sertão de então!
Pois bem, o tempo foi passando e em janeiro de 1989, recebi um livro que me esclareceu todo o drama dos Marcelinos: “Bom Deveras E Seus Irmãos”, do poeta-vaqueiro, José Peixoto Junior, caririense do pé da Serra de Caririzinho. A sua leitura me empolgou tanto que li todo o livro em uma só noite! Livro referencial da história cangaceira do sertão.
Vasado em português castiço, “Bom Deveras” traz o dialeto do sertão na sua magnífica expressividade, fazendo de José Peixoto Junior o Guimarães Rosa do Cariri, indiferente à crítica. Homem telúrico, José Peixoto Junior ama o Cariri com todas as fibras do seu coração, mesmo agora, sendo bacharel em Direito em Brasília. E a leitura deste livro impar que detalha a saga dos Marcelinos foi, como que, a cabeça de ponte que criou e solidificou uma fraterna amizade entre o autor e leitor.
Sai dali ao cair da tarde pensando naquela tragédia que nem a imprensa noticiou, certamente por ser mais uma “queima de arquivo humano” no conluio que juntava coronéis-policia-cangaceiro. Terra de ninguém era o sertão de então!
Pois bem, o tempo foi passando e em janeiro de 1989, recebi um livro que me esclareceu todo o drama dos Marcelinos: “Bom Deveras E Seus Irmãos”, do poeta-vaqueiro, José Peixoto Junior, caririense do pé da Serra de Caririzinho. A sua leitura me empolgou tanto que li todo o livro em uma só noite! Livro referencial da história cangaceira do sertão.
Vasado em português castiço, “Bom Deveras” traz o dialeto do sertão na sua magnífica expressividade, fazendo de José Peixoto Junior o Guimarães Rosa do Cariri, indiferente à crítica. Homem telúrico, José Peixoto Junior ama o Cariri com todas as fibras do seu coração, mesmo agora, sendo bacharel em Direito em Brasília. E a leitura deste livro impar que detalha a saga dos Marcelinos foi, como que, a cabeça de ponte que criou e solidificou uma fraterna amizade entre o autor e leitor.
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Por ocasião do evento Cariri Cangaço está sendo lançada nova edição de Bom Deveras e por um capricho do destino, eis que meu arguto autor me encomenda a “Orelha” do livro. É por isso que aqui estou aplaudindo a nova edição de “Bom Deveras e Seus Irmãos”, livro maiúsculo, cujas letras estão ensopadas do sangue de inocentes sertanejos, todos de menor, imberbes e somente um, “Lua Branca”, era um cangaceiro, ainda sem crimes.
Esta 2ª edição deste livro é um imperativo da sua procura por todos aqueles que querem saber da triste saga dos Cangaceiros Marcelinos que, ocasionalmente, engrossavam o bando de Lampião na suas andanças pelo Cariri. Vale a pena a sua leitura porque é um livro bom deveras para todos os gostos. É meu livro de cabeceira! É livro bom, livro fácil, livro atraente, com as cores vivas do sertão e cheiro de terra molhada nas manhãs invernosas.
Napoleão Tavares Neves
Médico, Pesquisador e Escritor.
Barbalha - Ceará
Por ocasião do evento Cariri Cangaço está sendo lançada nova edição de Bom Deveras e por um capricho do destino, eis que meu arguto autor me encomenda a “Orelha” do livro. É por isso que aqui estou aplaudindo a nova edição de “Bom Deveras e Seus Irmãos”, livro maiúsculo, cujas letras estão ensopadas do sangue de inocentes sertanejos, todos de menor, imberbes e somente um, “Lua Branca”, era um cangaceiro, ainda sem crimes.
Esta 2ª edição deste livro é um imperativo da sua procura por todos aqueles que querem saber da triste saga dos Cangaceiros Marcelinos que, ocasionalmente, engrossavam o bando de Lampião na suas andanças pelo Cariri. Vale a pena a sua leitura porque é um livro bom deveras para todos os gostos. É meu livro de cabeceira! É livro bom, livro fácil, livro atraente, com as cores vivas do sertão e cheiro de terra molhada nas manhãs invernosas.
Napoleão Tavares Neves
Médico, Pesquisador e Escritor.
Barbalha - Ceará
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NOTA CARIRI CANGAÇO: O texto acima também foi publicado no Jornal da SBEC, comemorativo ao lançamento do Cariri Cangaço.
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Que pode ser dito sobre o trabalho 'BOM DEVERAS E SEUS IRMÃOS', de José Peixoto Júnior?
ResponderExcluirPoderia passar o dia inteiro aqui cantando 'loas' à obra. Todavia, até por questão de espaço, quero apenas destacar a importância deste livro para os que 'levam a sério' o estudo do cangaço.
Desejo relevar a validade do seu conteúdo, o qual vê-se destinado diretamente aos pesquisadores que acreditam que o cangaço não se resume a Lampião e que abraçam a HISTÓRIA como ciência (e não como brincadeira). Obra escrita para aqueles estudiosos que seguem o real 'método científico' a fim de nortear suas pesquisas e conclusões.
O cangaço é um mundo. Mundo de histórias, de violência e de trilhas intricadas que fazem desistir muitos.
Assim, como não é tão fácil pesquisar outros cangaceiros que não o célebre Lampião, personagens como Lua Branca e João Vinte e Dois, por exemplo, estariam fadados ao esquecimento se não fosse a iniciativa de Peixoto.
A obra do mestre Peixoto, saindo do foco estéril dos 'casos e causos' intermináveis envolvendo o Capitão Virgulino, nos traz - com riqueza de detalhes - uma breve história dos irmãos Marcelinos, que se tornaram célebres no Ceará e partes do Rio Grande do Norte e da Paraíba.
Excelente trabalho. Guardo com carinho o meu exemplar de 1988, devidamente autografado e não o entrego por dinheiro algum. Jóia rara que conservo com esmero em minhas estantes.
Trata-se de obra séria, escrita com engajamento e plena dedicação, passando longe do 'pieguismo' de certos setores - que não satisfeitos com a história real - se ocupam apenas com a fantasia, com o fato inventado, com a teoria inconsistente. Um livro que serve de lição para muitos.
Ah, se todos fossem José Peixoto Júnior...
Saudações
Sérgio Dantas.'.
pesquisador de roça
NATAL/RN
Estimado Dr Sérgio Dantas, nos traz imensa felicidade ter seu testemunho sincero e inteiramente compartilhado por nós do Cariri Cangaço sobre o grande Peixoto ; além do trabalho primoroso, a figura ímpar que o vaqueiro poeta o é.
ResponderExcluirReceba meus cumprimentos com um Grande abraço.
Manoel Severo - Cariri Cangaço
Severo o mais incrível é que poucas pessoas de nossa região de Barbalha conhecem a história de Manuel Marcelino, Lua Branca ets. Nem tão pouco conhecem o Alto do Leitão.
ResponderExcluirPeixoto é realmente um grande escritor e merece toda nossa saudação.
Neli de Barbalha.
Nos causa espanto as autoridades ligadas a cultura e ao patrimonio histórico deixarem o sítio do Alto do Leitão abandonado, deveriam pelo menos preservar o que é um pedaço da históira de nossa região.
ResponderExcluirLima Junior (Barbalha)
Valeu Dr. Sérgio, Peixoto Junior merece.
ResponderExcluirAbraços,
Professor Mario Helio.