Se o Folheto de Cordel foi o maior divulgador impresso do cangaço, o mesmo se pode dizer da cantoria, no campo da música que durante muitos anos personalizou a cultura nordestina. É quase impossível não associar o Repente ao sertão. O som metálico da viola, as possantes vozes dos cantadores e suas pelejas cantadas no improviso, formam um duelo simbólico entre o bem e mal, Deus e o Diabo, vida e morte. Ao levarem informações aos povoados mais distantes através das suas cantorias, os cantadores de viola levavam, não apenas as notícias do momento, mas o fantástico, o maravilhoso, ou seja, o que p ossibilitasse que a imaginação trabalhasse fertilmente para aliviar as dores da vida calejada pela miséria. Certamente, o cangaço era um tema de destaque, pois possuía uma série de fatores que rapidamente permitia que se passasse do real para o imaginário. Era uma espécie de bálsamo para se entrar no realismo fantástico. As canções que abordavam o cangaço, até hoje ainda são facilmente ouvidas:
“Olê, mulé rendeira,
Olê, mulé renda,
tu me ensina a fazer renda
que eu te ensino a namora”
Ou:
“Acorda, Maria Bonita!
levanta vem fazer o café
que o dia já vem raiando
e a polícia já tá de pé”
Ou ainda:
"Assim é que cantava
os cabras de Lampião
dançando e xaxando
no forró do sertão".
"As Bandas de Pífanos, também estão vinculados ao cangaço. A gemedeira do ‘pife’ é única e está atrelada não somente ao homem da Zona da Mata ou do Agreste, mas, também, ao sertanejo. No sertão as Bandas de Pífanos, hoje bem mais raras de se encontrarem, são chamadas de Cabaçal e sempre que tocam, executam xote, xaxado e baião. O curioso é que os músicos se apresentam com chapéus semelhantes aos utilizados pelos cangaceiros o que também acontecia com Luiz Gonzaga, o rei do baião. Dentro do universo sonoro, não podemos esquecer o Parraxaxá, canto de insulto entoado pelos cangaceiros no intervalo das batalhas contra os soldados do governo (volantes) e esse canto também era conhecido como “Canto de Guerra”; os aboios e as várias formas sonoras de se chamar toda espécie de bicho: bode, pássaro, galinha etc". Acentua o pesquisador e professor Adriano Marcena.
Adriano Marcena ao lado de Severo e Danielle
A Música do Cangaço nasceu dentro dos bandos. Não foi produzida fora e os cangaceiros assimilaram, receberam e adotaram. Eram, eles mesmos, com seus poetas e músicos, compondo, tocando, dançando, recitando. Sendo, inclusive, dezenas dessas modinhas, atribuídas a autoria ao próprio Lampião, outras, a Zabelê, Cajarana e Gitirana.
O tema fascinou e inspirou outros músicos e compositores que cantaram – e cantam - as músicas alusivas ao cangaço, de forma que, muitos e muitos nomes da Música Popular Brasileira tem no seu repertório pelo menos uma música alusiva a Lampião ou ao Cangaço.
Anildomá Willians, presidente da Fundação Cabras de Lampião
O I FESTIVAL DE MÚSICAS DO CANGAÇO pretende revigorar essa musicalidade. Será realizado em Serra Talhada, sertão pernambucano, no meio da caatinga, região do Pajeu, lugar de origem do LAMPIÃO, onde o cenário é propiciado pela diversificação cultural, visando envolver todos os gêneros e estilos - pode ser rock, xaxado, blues, reggae, hip hop, forró, etc, o importante é que o tema seja CANGAÇO, objetivando fomentar o segmento musical em vários formatos, além de formar platéias e criar massa crítica.
As inscrições ficarão abertas até o dia 25 de março/2010.
Será etapa única, que acontecerá no dia 1º de maio de 2010. Realização da FUNDAÇÃO CULTURAL CABRAS DE LAMPIÃO / PONTO DE CULTURA ARTES DO CANGAÇO, em parceria com instituições públicas e privadas.
Venha participar desse momento histórico!
Saudações cangaceiras,
Karl Marx Santos Souza
FUNDAÇÃO CULTURAL CABRAS DE LAMPIÃO
PONTO DE CULTURA ARTES DO CANGAÇO