Em Patos de Irerê, mais precisamente no dia 22 de março de 1930, aproveitando a ausência masculina, pois todos os homens estavam no front, os comandantes aprisionaram todas as mulheres que ali se encontravam, incluindo entre estas várias esposas dos combatentes de Princesa, havendo destaque a Xanduzinha.O grupo comandado por Marcolino interceptou soldado de nome Zeferino, o qual transportava mensagem do Sargento Quelé a Severino Procópio. O delegado-geral do estado se encontrava na ocasião em Piancó, inspecionando atividades militares.
A mensagem transportada pelo soldado informava sobre o intento dos comandantes em marchar sobre Princesa com as reféns formando cordão de isolamento, espécie de escudo humano que objetivava garantir a segurança dos militares. Pensavam que, agindo assim, nenhum defensor de Princesa ousaria atirar nos combatentes do governo paraibano.
O efetivo dessa parcela da Coluna Oeste estacionada em Patos de Irerê era composta de cerca de sessenta homens. Não havia quase nenhuma diferença entre imaginários e ações cangaceiras e volantes, motivos pelos quais os soldados, com raras exceções, se portaram de forma vândala e arrogante durante a ocupação de Patos de Irerê. Notificado com urgência acerca dos acontecimentos gravíssimos verificados na localidade, o "Coronel" José Pereira autorizou a composição de um grupo de resgate, comandado por Marcolino Pereira Diniz, intuindo libertar as prisioneiras. Na maioria eram os esposos das mulheres seqüestradas. As prisioneiras, quando da invasão da localidade, estavam se preparando para se dirigir a Triunfo (PE), a fim de buscar lugares seguros para se homiziarem.
O violento combate teve início no dia 24 de março de 1930, prolongando-se das oito horas da manhã até as dezesseis horas do mesmo dia. As forças paraibanas perderam mais da metade do efetivo, enquanto do lado oposto houve apenas uma baixa, um senhor de nome Sinhô Salviano desprezou as ordens e, inopinadamente, ficou sob a mira dos soldados atônitos com a intensidade da contra-ofensiva.Os soldados paraibanos resistiram galhardamente, mesmo em desvantagem numérica, embora inexpressiva, embora se levando em conta o armamento obsoleto, em vista que lutavam com armas geralmente fabricadas em 1912, enquanto os princesenses brigavam com equipamento e munição novos, conseguidos através de um verdadeiro esquema de fornecimento, no qual havia desde a participação de Júlio Prestes ao Catete, passando ainda pela família Pessoa de Queiroz.
Houve gestos louváveis entre as partes envolvidas na luta, com ênfase às ações humanitárias de um soldado de nome Quintino, o qual se compadeceu com o choro persistente de fome de uma criança, filho de Sinhô Salviano, um dos mais aguerridos e corajosos lugar-tenente do "Coronel" José Pereira. O militar, mesmo no mais intenso tiroteio, passou a colocar pequenas quantidades de leite e açúcar em caixas de fósforos à porta da família sitiada.
Por parte das mulheres que foram feitas reféns também houve gestos de perdão e amor ao próximo. Xanduzinha empenhou sua palavra ao Sargento Quelé após a derrota fragorosa da parcela da Coluna Oeste, embora não tenha aceitado. Contudo, aceitou-a para os soldados feridos. O restante dos militares que escapou com vida se embrenhou em território pernambucano.
Antes da campanha de Princesa, e, principalmente, do ataque da Coluna Oeste a Patos de Irerê, Marcolino tinha os seus bois zebus, sua casa com varanda dando para o norte e paro o sul, seu paiol cheiinho de feijão e de andu, sem contar com mais uns cobres lá no fundo do baú. Seus estudos secundários foram realizados no conceituado Mackenzie, na capital paulista, cursando ainda até o terceiro ano da Faculdade de odontologia no Recife.
Homem rico, Marcolino era grande proprietário rural. Suas fazendas eram o Saco dos Caçulas e a famosa Manga, onde diversas vezes Lampião, com quem Marcolino firmou polêmica amizade, descansava dos combates. Quando Marcolino ficou prisioneiro em Triunfo (PB), após seu guarda-costa conhecido por Tocha assassinar em 30 de dezembro de 1923 o magistrado local, de nome Dr. Ulisses Wanderley, o "Coronel" Marçal Florentino Diniz recorreu aos préstimos do cangaceiro a fim de libertar o filho.
A fortuna do caboclo Marcolino ficou seriamente comprometida. O combate, mas, principalmente, a ira dos soldados, destruiu tudo. Canaviais, engenhos de rapadura, moendas, a casa, alvo das bombas "liberais", nada escapou, só restando ao orgulhoso agro-pecuarista os cheiros de Xandu, por quem se arriscou para libertar, reeditando em pleno sertão da Paraíba a saga de Menelau no ensejo da guerra de Tróia.Xanduzinha saiu ilesa do combate, bem como as esposas dos mais importantes cabos-de-guerra a serviço do "Coronel" José Pereira, durante os turbulentos meses que assinalaram a aguerrida guerra civil paraibana.
A morena mais bela do sertão de Princesa manteve-se impávida ao lado do esposo durante a luta, e, após o término da mesma, recrudesceu a firmeza e a determinação a fim de reconstruir o que havia sido destruído durante as contendas, confirmando o que Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira imortalizaram: "Ai Xanduzinha, Xanduzinha minha flor/ como foi que você deixou tanta riqueza pelo meu amor/ ai Xanduzinha, Xanduzinha meu xodó/ eu sou pobre mas você sabe que o meu amor vale mais que ouro em pó".
Entrevistas pessoais:
SITÔNIO, Hermosa Góes. João Pessoa (PB). 25 de julho de 1989.
SITÔNIO, Zacarias. João Pessoa (PB). 25 de julho de 1989.
José Romero Araújo Cardoso.
Tenho visto em documentário exibido pela tv senado, a grande revolução de princesa, no sertão da Paraíba. Sou de Pernambuco, mas obtive muito interesse na história que são tão bem relatadas a ponto de duvidar de tamanha bravura, chega-se a pensarmos que seja cinema, e pode acreditar daria um bom filme. Mas por fim, ficou-me a dúvida sobre marcolino e xanduzinha; eles tiveram filhos? No documentário nenhum descendente do casal foi entrevistado.
ResponderExcluirteve filhos?
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