.
Numa pequena pausa ao tema cangaço e nordeste; trazemos por indicação do amigo Dário Castro Alves, a apresentação de um grande cearense, que fez história e por isso, está no Cariri Cangaço. A partir do texto de Douglas Lima, apresentamos o Cel José Julio Andrade, O Czar do Jari, vale a pena conhecer...
José Júlio de Andrade, personagem controvertido da história da Amazônia, montou um império envolvendo terras nos municípios paraenses de Almeirim e Porto de Moz, além de Laranjal do Jarí e Mazagão, no Estado do Amapá, conseguindo assim a distinção de ter sido um dos maiores latifundiários do mundo, com propriedades que atingiram mais de três milhões de hectares.
O coronel Zé Júlio, como ficou conhecido, conseguiu a patente graças à compra junto a então Guarda Nacional. Foi senador da República por vários anos, sem nunca ter perdido uma eleição em Almeirim, onde ficava a localidade Arumanduba, sede de suas atividades. Ele conheceu vários países do mundo falando apenas o português, gabando-se de ter se banhado quatro vezes no Rio Jordão, onde João Batista batizou Jesus.
Para Cláudio Bastos, ex-agente social da região do Jarí, na divisa entre os Estados do Pará e Amapá, este território sempre esteve envolvido por uma aura de megalomania, tendo parte destas terras tornado-se propriedade de Zé Júlio no final do século XIX, o primeiro coronel a enriquecer extraindo e exportando produtos amazônicos. Ele ficou rico com o extrativismo e exportação de castanha, andiroba, borracha, o que era prática comercial corrente.
José Júlio de Andrade nasceu em julho de 1862, em São Francisco de Uruburetama, no Estado do Ceará, chegando ao Norte aos 17 anos de idade, passando por Benevides, no Pará, onde trabalhou na agricultura, protegido por um tio que ali residia. A chegada do então desconhecido nordestino na região do Jarí ocorreu em 1882. Como muitos peões que ali viviam, Zé Júlio trabalhou como seringueiro e coletor de castanha, vendendo o que produzia para os regatões, embarcações muito comuns na época, cujos proprietários faziam comércio na região, adquirindo produtos em troca de gêneros de primeira necessidade e até de tecidos estrangeiros.
É falado na região que o coronel mantinha o império dele com mão-de-ferro, praticando hediondos castigos àquele que se insurgia contra os seus interesses, utilizando capatazes e pessoas de confiança como executores. Duca Neno, cunhado de Zé Júlio, foi um dos mais cruéis destes algozes. Mas o coronel é pintado com nuances mais brandas por Cristóvão Lins no livro Jarí - 70 anos de história, que relata uma coletânea dos mais diversos assuntos do local onde José Júlio de Andrade ditou ordens por quase cinco décadas.
O ex-agente Cláudio Bastos conta que era comum o coronel Zé Júlio passar em algum de seus domínios, ver uma garota bonitinha e falar “ó, compadre, tal ano eu volto aqui”, o que queria dizer que ele assumia a responsabilidade por aquela criança até que ficasse jovem, quando ela estaria pronta para servi-lo, inclusive sexualmente, em uma de suas fazendas. Cristóvão Lins, contrapondo-se ao que se sabe do personagem através de relatos dos mais antigos moradores do Jarí e alguns historiadores, diz que Zé Júlio era “pessoa fina, educada, que não falava palavrões, despido totalmente de vaidade, dando a mão ao seu empregado mais humilde”.
O coronel, além de viver da extração da borracha, castanha e outros produtos, era também proprietário de frota de barcos e criava gado. É citado por Cristóvão Lins como portador de uma grande paixão por crianças. Em um dos trechos do livro diz que José Júlio criou muitas crianças, inclusive um casalzinho de índios da tribo caiapó. Os entrevistados no livro falam da paixão do coronel por crianças e que os índios, ao terem notícia de sua chegada à Arumanduba, vinham pedir presentes, chamando-o de Papai Grande. Cristóvão Lins diz que José Júlio tinha apenas o curso primário e amealhou a sua fortuna em apenas 20 anos, em lances dignos de mérito, muitas das vezes, entretanto, através de métodos reconhecidamente “extravagantes”.
Na verdade, ele precisou de um empurrão para se tornar rico. O sogro Manuel Maia da Silva Neno, intendente do município de Almeirim, lhe deu um título de propriedade, a partir do qual conseguiu terras e mais terras, favorecido por benesses de sucessivos governadores paraenses, de maneira que o império latifundiário tornou-se tão grande que o patrimônio da cidade de Almeirim ficou muito reduzido.Antes da ajuda do sogro, entretanto, Zé Júlio já tinha uma extensa área, na localidade Prazeres, à margem esquerda do Jarí, adquirida numa jogada de pura esperteza: trocou o terreno com linha de pesca, tecidos e mais algumas mercadorias.
Zé Júlio percorreu palmo a palmo as suas vastas terras. Depois que viu que não poderia mais ser enganado, deixou capatazes tomando conta de tudo, dando-se ao luxo de passar a maior parte do tempo em viagens pelo Brasil e exterior. O coronel montou residência em Belém e no Rio de Janeiro. Ao Jarí ia apenas para reger o início e o término das safras. Entre as excentricidades do coronel está a de levar cunhãs (moças) do Jarí para servi-lo em suas residências em Belém e no Rio de Janeiro, apenas para embalá-lo na rede, embora dormisse em cama, tarefa na qual as garotas se revezavam dia e noite. Certo dia, no retorno de uma de suas viagens ao exterior, alguém lhe perguntou como ele se virava no estrangeiro falando somente o português. Respondeu de pronto: “Eu tenho um dicionário no bolso que me resolve problemas em todas as línguas”, mostrando a carteira de dinheiro.
Continua...
Douglas Lima
NOTA DÁRIO CASTRO ALVES: Este é mais um cearense que saiu pelo mundo a ganhar a vida e fazer história. A vida dele foi muito interessante , porém pouco divulgada. Era o dono das terras onde hoje é o projeto Jari. Tem ligações fortes com a familia de minha mãe que o conheceu no casarão que o mesmo possuía em Santa Teresa (RJ).
Abraços, Dario.
.
EU VIVI NA LOCALIDADE DE ALMERIM, JARILANDIA, PAGA DIVIDA, BAIOA E TRANSITEI NAQUELA LINHA DE DIVISA ENTRE PARÁ E AMAPA POR VOLTA DE 1960 E CONHECI DIVERSOS FILHOS DE CRIAÇÃO DO CORONEL JOSE JULIO E CONVERSEI COM PESSOAS QUE CONVIVERAM COM O CORONEL.
ResponderExcluirPodemos trocar informações sobre as histórias de Almerim , epoca José Júlio
ExcluirContato para troca de informações mendesrjbr2@gmail.com
ExcluirJosé Júlio era tio da minha avó.
ResponderExcluirEsse José Júlio de Andrade seria a mesma pessoa que dá nome a um Palacete em Belém do Para? O qual também é conhecido como Palacete Bibi Costa.
ResponderExcluirCorreto essa era sua residência em Belém
ExcluirSou professor e vivo em Portugal numa localidade chamada Esposende. Terá alguma ligação com o rio Esposendo, que passa perto da localidade de José Júlio, município de Almeirim?
ResponderExcluirLi também que terá havido (pelo menos até ao século XIX)uma vila de Esposende, onde está esse rio?
José Rodrigues Ribeiro
Esposende - PORTUGAL
Olá Professor José Rodrigues.
ResponderExcluirSei que meu comentário é um pouco tardio, mas vou arriscar faz~e-lo. Espero que você o leia e veja quanta relação tem portugal com a Amazònia. Tudo começou com Marques e Pombal, que resolveu criar vilas e cidades nessa região. O objetivo era integrar a amazônia a economia colonial, com objetivo de aumentar a receita dos cofres lusos. A partir dessa momentos vamos ter várias localidades erijidas com nomenclatura de cidades portuguesas: Arraiolos, Esposende, Mazagão, Obidos, etc. Algumas foram anexadas a cidades maiores, caso das duas primeiras localidades citadas.
Att.
Luna.
e-mail xavierlunav@gmail.com
Cara Verónica
ResponderExcluirNão é nada tardio. Agradeço muito a sua atenção à minha mensagem. Diz que Arraiolos e Esposende foram anexadas a cidades maiores. Não me pode dar mais pormenores acerca disso?
Muito obrigado
José Rodrigues Ribeiro
Esposende - PORTUGAL
Olá professor José Ribeiro, eu morei no Arraiolos e meu pai que comprou muito açaí e castanha naquela região, conhece Esposende que na verdade se chama atualmente de "Esposento", é uma vila bem carente no Arroilos, nós tivemos a oprotunidade de morar há alguns quilômetros dali em uma comunidade chamada Pracaxí em 2012. Em relação a Almeirim ter se anexado com Esposento, a resposta é não, mas tem uma estrada aqui que percorre exatamente para lá. Conheço, Cujaí, Espírito Santo, Ilha de São Paulo, Sara Cura, Goiabal, Vila Nova e Pesquisa e Serra São Raimundo( um lugar onde fizemos pesquisas para trabalho de escola, na Serra São Raimundo mora apenas o cuidador daquela pequena cidade abandonada por volta dos anos 70,e tive uma experiência fantástica, tenho muito a contar sobre o que vi ali), todas são as pequenas vilas pouco habitadas hoje em dia no interior do Munícipio, para chegar até o Esposento, é um pouco precário pois o meio de transporte pode ser apenas por meio de barcos pequenos ou atravéz de carro pela estrada.
ResponderExcluirEscutava muitas histórias sobre José Júlio quando viajávamos para aquela região...
Ana Amelia me permite corrigi-la
ResponderExcluirJosè Julio foi tio-avô da sua avó ou seja
seu tio-trisavô.
Abs
Pedro Paulo
Procuro dados e histórias de Melgaço do Amazonas. Se alguém tiver agradeço o envio e indicação de contatos na Cidade e Município de Melgaço. Saudações. José Ribeiro
ResponderExcluirEu nascir um 1978 em arumanduva em um casarão do jose Júlio. em 1987 este mesmo casarão foi levado com a força da água do rio Amazonas.
ResponderExcluirOlá, sou mestrando em Estudos Literários da Universidade de Rondônia, em Porto Velho, e estou pesquisando sobre o cel José Júlio. Além do livro Jari: 70 anos de história, quais fontes foram baseadas este texto? Se puderem me informar e até me disponibilizar via e-mail, ficaria muitíssimo grato.
ResponderExcluirFrancisco Américo
e-mail: avespucio@globomail.com
O meu tio Abreu foi guarda-livros do José Júlio. Depois da morte do tio Abreu, a tia Rosa morou por uns tempos no palacete Bibi
ResponderExcluirBoa noite,
ResponderExcluirMeus pais nasceram na região de Almeirim.
Meu avô era de Baturité/CE e até onde sei teve contato com o "Zé Júlio", não sei em que momento ele chegou na região. Minha avó era sobrinha de uma das "mulheres" do coronel (tenho uma foto da tia da munha avó). Minha avó perdeu os pais muito nova ela ficou na responsabilidade desta tia, chegando a estudar no colégio Santo Antônio em Belém, patrocinado por eles. Estou pesquisando sobre Almeirim e minhas raízes.
Se puderem me enviar mais informações e fontes, ficaria imensamente grata.
Se puder entrar em contato por email: danycanto7@hotmail.com
Danyelle Freitas
Boa noite, meus bisavós eram de Arumanduba, o nome deles eram Raimundo Rabelo Mendes e Francisca Rabelo Mendes, Raimundo era estivador, provavelmente trabalhavam para José Júlio, se alguém tiver mais informações sobre eles ou sobre Arumanduba, por favor, comente aqui ou me procure no e-mail gmteller.gmt.gs@gmail.com
ResponderExcluirAqui em Almeirim tem uma rua chamada de Rabelo Mendes. Eu sou de Almeirim e moro ainda na cidade.
ExcluirEu quero saber o nomes dos teus avós,o papai conhece um Manoel Mendes. Ele Morava no Arumanduba
ResponderExcluirO Papai conheceu o Manoel Mendes e Ana Mendes, esses são seus avós?
ResponderExcluirEle é meu conterrâneo, nasceu na minha terra natal Uruburetama.
ResponderExcluirMeu bisavô era funcionário de confiança de José Júlio. Nome do meu bisavô Raimundo Brandão de Araújo.
ResponderExcluirQuem souber informações, meu contato:
(91) 996318788
Email alrilene26@gmail.com
Trabalhei muito tempo junto com uma pessoa que se chamava Raimundo Rabelo Mendrs,trabalhamos juntos na Segurança Patrimonial ,e ele morava no Beiradinho (hoje Vitória do Jari)não sei se é a mesma pessoa.
ResponderExcluirMeu avô morou com o famoso coronél "Zé Julio" no palacete em Belém. Era um dos varios filhos de criação dele . Meu avô tbm trabalhou no Jarí gerenciando uma de suas vilas . Meu avô era JOSÉ TAVARES do Jarí . Realmente esse nome é muito marcante na história da Amazônia . (Marcelo Tavares)
ResponderExcluirJosé Júlio era meu tio trisavô e tenho fotos dele. As histórias dele vivem ainda pelos seus decendentes. Ele escreveu um livro sobre a vida dele e eu tenho uma cópia. raulmoreiraleite@hotmail.com
ResponderExcluir