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Cariri Cangaço traz a segunda parte da Entrevista de Alfredo Bonessi a Juliana Ischiara, Angico! Parte II
6. Levando-se em condição ao que já leu, Lampião morreu conforme a literatura oficial contou e conta?
Ninguém sabe ao certo como Lampião morreu. Um repórter do Rio de Janeiro chegou a falar com os soldados que atiraram no rumo de Lampião, mas esse repórter não aprofundou o assunto, mesmo porque o momento era de festa, de alegria e a segurança era necessária, ou mesmo talvez como precaução, cautela com receio de uma vingança posterior por algum grupo de cangaceiros. Naquela ocasião ninguém poderia supor que o cangaço terminaria pois outros grupos ainda operavam como o grupo de Zé Sereno, Corisco, Labareda e Pancada. Em minha opinião a ocasião mais propicia de se saber a verdade era aquela em que os homens estavam eufóricos, comemorando e não tinham tempo de enfeitar a história, aumenta-la, diminuí-la, ou fantasia-la. Por isso que eu fico com as declarações do Comandante da volante proferidas três dias depois do ocorrido em Santana de Ipanema – sede da volante- quando ainda ferido deu declarações a esse repórter do Rio de Janeiro, em uma página de 25 linhas, como tudo aconteceu, em Angico - depois o Tenente baixou ao hospital para ser tratado.
pesquisador Alfredo Bonessi
7. Terá havido envenenamento ou alguma substancia capaz de deixar o bando sonolento ou mesmo sem reflexo?
Muita bebida alcoólica ingerida e a despreocupação que tudo estava bem. Essa idéia do envenenamento, creio eu, foi proferida por alguém do grupo para diminuir o feito da polícia e com a certeza de que mais tarde seria essa a verdade definitiva que deveria perdurar, a de que os cangaceiros foram mortos por uma procedimento vil por parte da policia, que não teve coragem de enfrentar os cangaceiros em uma combate leal - mas não foi nada disso - foi bobeira mesmo, e bala, muita bala para cima do pessoal dorminhoco e descuidado.
8. Porque escapou tantos cangaceiros, se estavam em total desatenção quando atacados? Porque só um policial foi atingido, posto que os cangaceiros já houvessem sido surpreendidos em ataques anteriores e mesmo assim saíram ilesos ou mesmo deixaram uma baixa maior na volante?
Porque o alvo do ataque era Lampião e a volante cercou a gruta. Quem estava espalhado pelas encostas dos morros e mesmo nos cimos, de lá mesmo escapou, alguns passando por cima da própria polícia. Não houve retaguarda porque a desorganização foi geral e não houve um líder de coragem para voltar e atacar os policiais que faziam festa no fundo do buraco. Mesmo porque muitos estavam desequipados, desarmados, a maioria feridos, arranhados pelos espinhos, desmuniciados, chocados ao saberem que Lampião, Maria Bonita e Luiz Pedro haviam havia morrido - noticias levadas por Zé Sereno que assistiu a morte do pessoal que estava na gruta ao redor de Lampião.
Zé Sereno à esquerda
Quanto ao soldado que morreu até hoje não se sabe como. Foi fogo amigo ? – foi fogo de algum inimigo dentro da polícia ? foi fogo de algum cangaceiro ? – dizem que foi Elétrico que baleou aquele soldado, sendo em seguida metralhado por João Bezerra – Elétrico não morreu de tiro, foi esfaqueado por um soldado da volante, procedimento esse que muito contrariou o Chefe que determinara a morte do cangaceiro a tiros e não a faca.
"Não houve um líder de coragem para voltar e atacar os policiais que faziam festa no fundo do buraco"
Há uma versão que foi o soldado Mané Véio que viu o soldado sofrendo por ter levado um tiro no quadril e aí aliviou as dores do mesmo matando-o com um tiro. Note que o soldado foi imediatamente sepultado naquela mesma tarde, sem autópsia – ninguém deu importância ao fato – entretanto levaram para exame a cabeça dos cangaceiros. Isso por si só demonstra que alguém queria que a morte do soldado passasse despercebida pelas autoridades. Morto em combate o corpo do soldado deveria ser examinado por um legista. Mas mesmo assim, nesse caso se o mesmo tivesse levado tiros pela frente ou por detrás, se por acaso fossem encontrados em seu corpo os projéteis como se iria descobrir o autor ou autores dos disparos ? As únicas armas de calibres diferentes que atiraram foram as metralhadoras de João Bezerra e do Aspirante Ferreira de Melo, em calibres 7,63 ou de 9 mm. Teriam que ser examinados os projéteis encontrados no corpo do soldado pela balística – trabalho esse que naquele tempo ainda não tinha chegado ao interior do sertão.
O cangaceiro Balão assumiu publicamente a morte do soldado em declarações ao Dr Amaury, (Assim Morreu Lampião) afirmando que o soldado tinha acabado de matar o cangaceiro Mergulhão e estava dando coronhadas na cabeça do mesmo, e em ato subsequente encostaram o cano das armas e que disparam ao mesmo tempo, sendo que nele, Balão, não acontecera nada e que o soldado caíra morto. Com relação a escapar de ataques, vai depender muito como estava o dispositivo do grupo no terreno e a forma de como foram atacados. Em se tratando da Gruta de Angico quem estava lá embaixo não tinha como escapar – a policia estava perto demais – para uma bala de fuzil, em tão pouca distância, não há mandinga que sustente o corpo fechado.
9. Por que Lampião não usou a sua estratégia, já bastante conhecida e testada quando ouviu o primeiro tiro, se é que ouviu?
Não a usou porque ali naquele momento não deu tempo para nada, foi tudo muito rápido, além do mais depois que se aperta o gatilho de uma arma daquela e ela estiver apontada para alguém, não há tempo para mais nada. Quem leva tiro um tiro de fuzil, não escuta o som do tiro que o mata.
10.Qual seu parecer sobre o episódio Angico?
Angico é um mistério – o combate de Angicos é o resultado de um belíssimo trabalho policial – Angicos serve para reflexão para quem vive da lida das armas, que mais hoje, mais amanhã a lei baterá as portas de quem vive as margens da lei, quem quiser ser vitorioso sempre permaneça ao lado da lei, porque o crime de uma forma ou de outra não compensa - é uma ação incerta e a lei, vitoriosa contra o crime - é sempre certa.
Alfredo Bonessi & Juliana Ischiara
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Capitão Bonnessi E Juliana Ischiara:
ResponderExcluirQUERO PARABENIZÁ-LOS PELA EXCELENTE ENTREVISTA, A QUAL NOS TROUXE MUITAS INFORMAÇÕES SOB O PONTO DE VISTA ESTRATÉGICO/MILITAR DO COMBATE OCORRIDO EM ANGICOS/SE, EM QUE MORRERAM LAMPIÃO E MAIS 10 CANGACEIROS.
O CAPITÃO BONNESSI, A QUEM CONHECI NO CARIRI-CANGAÇO, TROUXE IMPORTANTES DETALHES TÉCNICOS, SOB OS ASPECTOS DE ATAQUE E DEFESA NA GROTA DO ANGICO.
TRATA-SE DE UM EXCELENTE ARTIGO, SOB A ÓTICA DE UM MILITAR , E, QUE CONHECE A FUNDO, A GEOGRAFIA DO LOCAL DO COMBATE.
PARABÉNS A AMIGA JULIANA, QUE, A CADA DIA, SE DESTACA NO ESTUDO DO CANGAÇO.
Um abraço a todos
IVANILDO SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC
Natal/RN
O capitão Bonessi tem razão em dizer que os asseclas e os policiais não deram as informações corretas sobre o acontecido na grota de Angicos, em 1938. Ou esconderam fatos verdadeiros ou aumentaram nas entrevistas. Em novembro de 1973, Balão cedeu entrevista à Revista Realidade, e nela eu tenho minhas dúvidas. “-Estávamos acampados perto do Rio São Francisco. Lampião acordou às 5 horas da manhã e mandou um dos homens reunir o grupo para fazer o ofício de Nossa Senhora. Enquanto lia a missa em voz alta, todos nós ficamos ajoelhados ao lado das barracas, respondendo amém e batendo no peito na hora do Senhor Deus. Terminado o oficio Lampião mandou Amoroso buscar água para o café. Mas quando ele se abaixou no córrego veio o primeiro tiro. Havia uma metralhadora atrás de duas pedras, a 20 metros da barraca de Lampião. Pedro de Cândida, um dos nossos, havia nos traído, e acho que tinha dado ao sargento Zé Procópio até a posição das camas. Numa rajada de metralhadora serrou a ponta da minha barraca. Meu companheiro Mergulhão, levantou-se de um salto, mas caiu partido ao meio por nova rajada. Eu permaneci deitado, e com jeito coloquei o bornal de balas no ombro direito, o sobressalente no esquerdo, calcei uma alpargata. A do pé esquerdo não quis entrar, e eu a prendi também no ombro. Quando levantei, vi um soldado batendo com o fuzil na cabeça de Mergulhão. De repente ele estava com o cano de sua arma encostada na minha perna e eu apontava meu mosquetão contra sua barriga. Atiramos. Caímos os dois e fomos formar uma cruz junto ao corpo de Mergulhão. Levantei-me devagar. O soldado estava morto e minha perna não fora quebrada. Então vi Lampião caído de costas, com uma bala na testa. Moeda, Tempo Duro (este não aparece na lista dos abatidos); Quinta-feira, todos estavam mortos. Contei os corpos dos amigos. Nove homens e duas mulheres. Maria Bonita, ferida, escondeu-se debaixo de algumas pedras. Mas foi encontrada e degolada viva. Não havia tempo para chorar. As balas batiam nas pedras soltando faíscas e lascas. Ouviam-se os gritos por toda parte. Um inferno. Luiz Pedro ainda gritou: "-Vamos pegar o dinheiro e o ouro na barraca de Lampião”. Não conseguiu. Caiu atingido por uma rajada. (Esta afirmação, contraria o que disse Mané Veio, pois nas declarações que deu aos repórteres, ele levou um bom tempo para assassinar Luiz Pedro). Corri até ele, peguei seu mosquetão e com Zé Sereno conseguimos furar o cerco. Tive a impressão de que a metralhadora enguiçou no momento exato. Para mim foi Deus". 1 - Será que depois da missa ele voltou a se deitar? 2 - Como foi que ele viu que a bala que atingiu o rei foi mesmo no meio da testa, quando ele diz que Lampião estava de costas? 3 - Como foi que no meio de um tiroteio ele teve coragem de ir pegar o mosquetão de Luiz Pedro que já estava morto? 4 - Como foi que ainda deu tempo para ele contar os mortos, pois no meio de um tiroteio, qualquer ser humano não espera por nada, muito menos para contar quem lá morreu? 5 - Como foi que ainda deu tempo para ele calçar as alpargatas? 6 - Por que Balão caiu quando ele e o policial ambos atiraram, se ele não sofreu nenhum impacto para ser derrubado? O amigo Balão fantasiou algumas respostas. Muitas verdades. É claro. Mas outras, fantasiadas. Gostaria muito que as suas respostas fossem verdades. Mas pelo que ele disse, não há como eu acreditar em todas. Acredito em partes.
ResponderExcluirFelicidade aos confrades do Cariri Cangaço, e que o amigo Severo aprove a minha discordância.
José Mendes Pereira - Mossoró-Rn.
lampião nunca morreu em Angicos, leia io livro de jose geraldo aguiar as verdades estão lá acreditem, lampião em Buritis de MG foi lá que morreu já velho aos 96 anos ,os depoimentos são autenticos e verdadeiros
ResponderExcluirVelho mentiroso. Toma vergonha. Foi seu pai que estava em Angicos.
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