Palavras Tristes do Capitão Por: Rangel Alves Costa


Naquele ano de 38, quando o Capitão Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, deixou as terras hostis e solitárias das alagoas, e veio cortando caatinga, se entricheirando e combatendo à própria sombra, e a força das volantes por trás de toda moita, pisou nas fronteiras do estado de Sergipe. Adentrou pelas suas veredas para prestar contas ao destino. Estava um homem gritando por dentro e que precisava ouvir a si mesmo.Quando pisou no sertão sergipano, o Capitão da caatinga e sol, nem imaginava que ali seria sua última pousada em vida; seus últimos dias na terra aos seus pés estremecida pelo mistério da vida e da morte. 

Não imaginava que brevemente seria tocaiado e morto, seria vítima da volante no seu eterno encalço, seria vítima do próprio contexto que criou e como ninguém soube representar. Se não imaginava que isso viesse a acontecer, tinha certeza de que nas terras sergipanas, naquele local escolhido para descansar, poderia refletir sobre o seu futuro, sobre o destino que queria para si dali por diante. Se nada pudesse ser feito, ao menos que os dias e as noites fossem menos assombrosas. Ora, já estava com quase quinhentos anos, pois cada ano que se passa combatendo por entre mandacarus, quixabeiras e xiquexiques, é como se fosse vinte anos na vida de um homem. O corpo estropia, as forças vão sumindo, os objetivos deixam de ter validade. 

Apenas a vida passa a valer alguma coisa. Mas estava velho demais, com 40 anos, mas um corpo alquebrado de mais de quinhentos anos.Já conhecia bem a região. Volta e meia estava de retorno ao lugar. Gostava de beira de rio, pois numa hora de fuga é mais fácil encontrar caminho pela terra e pelas águas. Ademais, a Grota do Angico, ali nas beiradas do São Francisco, era o local mais apropriada para que ele e sua Maria Bonita, bem como os demais cangaceiros que se faziam presentes no bando, se acomodassem à vontade, vez que já conheciam bem aquelas camas de pedras e aqueles candeeiros enluarados.


De um lado o rio, entre eles as margens de mata rasteira, de outro lado as caatingas e as serras e ainda no alto a esperança pela proteção de Deus.Na Grota havia o lugar reservado para o Capitão e sua bem amada, dentro da fenda aberta em plena rocha. Ali cabia os dois e seus apetrechos. Os outros cangaceiros, homens e mulheres, se arranjavam como podiam ao redor; os casados com suas esposas e os solteiros em grupos separados. Estrategicamente separados para ter ampla visão do lugar e vigiar qualquer suspeita da aproximação do inimigo. O inimigo estava por perto sempre; sempre à espreita.No dia 27 de julho, desde que levantou cedinho, fez suas fervorosas orações e tomou pé da situação. O Capitão passou a carregar pelo resto do dia uma vontade danada de se separar por instantes do bando, e até de sua Maria Bonita. 

Sua vontade era sentar em alguma pedra, montanha ou barranco para pensar sobre a vida, refletir sobre sua pessoa, pensar em seu destino, prestar contas a si mesmo de um montão de coisas que há muito vinham se espalhando pelo seu inconformado espírito.Nesse tormento, ao entardecer desse dia, se afastou do grupo, pediu que ninguém o acompanhasse nem fosse até lá importunar onde quer que estivesse. Foi pra beira do rio. Caminhou até onde a alpercata molhava. Tocou as águas com a mão. Depois se benzeu, lavou os óculos há muito enuviados, molhou o rosto de água, recuou um pouco e foi sentar bem no local onde havia uma pedra grande, de onde passou a olhar o horizonte e tudo ao redor como jamais havia feito em qualquer outro instante da vida.A cor bonita do entardecer refletia no rosto do Capitão dando-lhe ainda mais majestade, mais brilho, mais veracidade. 


Contudo, no seu olhar e seu íntimo era um homem cansado e cheio de dúvidas, pensando em como dar um basta naquilo tudo para se tornar gente novamente. Isso era o que pensava dele, como um bicho feroz, mas naquele instante um frágil ser humano com sua lágrima e sua voz solitária:"Tenho fé no Senhor, meu Deus, que tanto tem perdoado pelo que tenho feito e os outros inventado que fiz. De qualquer modo, perdoai por tudo, meu Deus, pois sou apenas um homem com o destino traçado para viver no sofrimento. Tenho mulher e esposa que não posso colocar numa casa para viver; tenho filhos que não posso ter ao meu lado para uma brincadeira e um cafuné. Tenho amigos que não posso prosear ao entardecer na sombra de uma árvore, sentado num banquinho e vendo calmamente a vida passar. O pior, santo Deus, é que tenho uma vida que não posso viver. 

 Ilustração da publicação Infanto-juvenil de Eliana Carneiro

Quem disse que o meu viver é vida, matando pra não morrer, correndo de um lado pra outro, fugindo da própria sombra e sem ter paz e sossego em tempo algum e em lugar algum? Quem sou, senão um homem entristecido que não pode chorar uma só lágrima? Troco tudo que tenho, o que conquistei e o que inventaram pra mim, por uma vida digna, por um instante de paz e sossego. Trocaria minha patente de Capitão, minha coragem, minha fama, minha revolta, tudo que tenho, por qualquer coisa que me fizesse viver como pessoa comum... "Por trás das lentes dos óculos do Capitão, os olhos molhados deixaram uma lágrima escorrer. E ele continuava falando sozinho, conversando com seu pensamento: "Jamais hei de dizer meu Deus, meu Deus, porque me abandonou. Isso não, meu Senhor, pois se estou ainda vivo é graça a sua grande bondade. Mas poderia ter sorte melhor, isso sim. Como diz a bíblia, que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol? Todas as coisas se afadigam, mais do que se pode dizer. A vista não se farta de ver, o ouvido nunca se sacia de ouvir. Não há nada de novo debaixo do sol. 

O que sou, então, senão um Capitão afadigado e cansado demais de viver debaixo dessa lua e desse sol. Mostre-me um caminho, meu Deus, pois o Capitão Lampião só pensa em ter uma chance de ser novamente Virgulino e viver feliz ao lado de sua Maria...".Ouviu passos e se virou rapidamente. Era Maria Bonita que vinha chegando. "Venha cá Maria, sente aqui". E foi a única vez que Maria Bonita viu Lampião chorando.No dia seguinte, logo ao madrugar os dois seriam mortos. A sina cangaceira estava terminada. Foi-se o triste Capitão.

Rangel Alves Costa - Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com 

Fideralina na Assembléia Legislativa do Ceará


Fideralina,  a matriarca dos Augusto


A Assembleia Legislativa foi espaço, na noite da última sexta-feira (25/11), de destaque para a cultura e para a memória da política cearense, com sessão solene que lançou o documentário “O Poder Político de Fideralina Augusto Lima e seus Descendentes”, produzido pela TV Assembleia (canal 30). O filme foi exibido para convidados no Plenário 13 de Maio. O presidente da Casa, deputado Roberto Cláudio (PSB), registrou sua gratidão a todos os envolvidos na construção do documentário, em especial à equipe do núcleo de documentários da emissora, coordenada por Ângela Gurgel, lembrando que a ideia para a produção surgiu de uma provocação de Melquíades Pinto Paiva, trineto de Fideralina.

“Em 2009, quando estava sendo entrevistado para outro documentário da TV Assembleia, Melquíades sugeriu ao núcleo que estudasse e entendesse melhor a história de Fideralina, nascida no município de Lavras da Mangabeira e tida como um verdadeiro coronel do sertão”, explicou.
O filme vem para exteriorizar a história de uma cearense guerreira, diferente das outras mulheres de seu tempo e capaz de unir, mais de 160 anos após seu nascimento, quase cem descendentes seus para assistirem a um documentário sobre sua vida e sobre a história política do Estado.

O Presidente da Assembléia, deputado Roberto Cláudio destacou ainda o papel que o deputado Heitor Férrer (PDT) exerce no Parlamento e no tema da produção, ressaltando que o pedetista é apaixonado pela trajetória de vida de Fideralina e pela família Augusto. “Ele sempre lembra que a Assembleia tem, nesse momento, dois deputados lavrenses, ele e Danniel Oliveira (PMDB), e um deputado meio lavrense, que sou eu, pois sou neto de um Prisco Bezerra, também nascido naquele município”, acrescentou o presidente.

Ele salientou que este fato acabou fazendo com que a Casa realizasse uma sessão itinerante em Lavras, quando teve o prazer de visitar a obra feita na residência de Fideralina, que Heitor Férrer comprou e recuperou, preservando sua memória.
“Um de seus desejos com esta obra, além de estabelecer o museu, é que a casa sirva de hospedaria para quantos descendentes tiverem curiosidade de visitar Lavras da Mangabeira e conhecer sua história. Ele é o deputado mais associado à história de Fideralina Augusto”, complementou, informando que, ontem, o Ministério da Educação (MEC) solicitou acesso aos documentários da TV Assembleia para uso educativo.

De acordo com Heitor, o documentário não teria saído se não fossem as contribuições de Vicente Ferrer Augusto Gonçalves, que é colecionador da história de Lavras da Mangabeira; Rejane Augusto Gonçalves, trineta da homenageada, e Eduardo Augusto de Oliveira, historiador e escritor.


“A história desta mulher é empolgante. Recebi um texto de Dimas Macedo, professor, procurador e poeta, em que ele diz que eu pertenço a todas as famílias daquele município. E nessa conjunção de famílias, existe uma matriarca que, obviamente, tem uma história pela qual passa a história do Ceará. Esta mulher é Fideralina Augusto, da qual sou descendente”, afirmou o deputado Heitor Ferrer.

Fonte: www.al.ce.gov.br

GECC Comunica Lançamento de Caldeirão

O GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará

Informa:
 Será lançado hoje, dia 30 de Novembro de 2011, às 17 horas, no Museu de Arte da UFC - Universidade Federal do Ceará, nesta cidade de Fortaleza, a segunda edição do Livro CALDEIRÃO, 
do professor Régis Lopes.


ATENCIOSAMENTE
Angelo Osmiro Barreto
Presidente GECC - Fortaleza-Ceará

A família se reencontra em Natal Por:Manoel Severo

Sérgio Dantas, Múcio Procópio, Manoel Severo e Ivanildo Silveira

Por várias vezes destacamos neste mesmo espaço a importancia com  que consideramos esta grande família Cariri Cangaço. Na verdade esta página do cariricangaco.com é antes de tudo um grande ponto de encontro; de idéias, de histórias, de controvérsias, de homens, de mulheres, de amigos, de almas. No último sábado vivemos mais um momento com esse forte sentimento de congraçamento e celebração.

O restaurante Mangai na cidade de Natal foi palco de mais um  encontro desta família de vaqueiros da história. Com a presença de quatro conselheiros Cariri Cangaço: Manoel Severo, Honório de Medeiros, Ivanildo Silveira e Múcio Procópio; e ainda dos confrades, Mestre Sérgio Dantas, João Simplício, o inigualável jornalista e escritor Franklin Jorge e Jomar Henrique; vivemos momentos ricos e marcantes, pontuados por reflexões, impressões e constatações daqueles que dedicam boa parte de suas vidas à pesquisa da temática "Cangaço", e ainda tivemos o privilégio de contar com as presenças; via celular; de nossos companheiros, Ângelo Osmiro, Aderbal Nogueira e Carlos; afinal festa é festa, e não é todo dia que se pode reunir essa turma da pesada.

Manoel Severo, Franklin Jorge, Honório de Medeiros e Jomar Henrique

Sem dúvidas o assunto da noite, além de um ensaio sobre o formato e o planejamento para o Cariri Cangaço 2012; uma vez que acabamos tendo uma informal reunião do Conselho; versou sobre as controvérsias assumidas pela temática, quando lamentamos o tamanho do prejuízo para a pesquisa séria e para as gerações futuras, apartir de obras literárias sem nenhum critério, beirando a irresponsabilidade. Diferentes olhares, diferentes versões, isso tudo é suportável dentro do dinamismo da construção da verdade histórica, entretanto o que acabamos vendo no mercado literário é uma assustadora proliferação de "obras caça níquel", sem nenhum rigor histórico, fundamento ou embassamento minimamente aceitáveis e compromisso com a verdade, e quem perde é a história.

O encontro foi marcado também por maravilhosas e providenciais "provocações", sob  batuta de Honório de Medeiros. Foram provocados o pesquisador e colecionador, Ivanildo Silveira, a enfim... colocar em livro o resultado de seu espetacular acervo e trabalho, e ainda sob provocação também de Honório ao grande pesquisador e escritor Sérgio Dantas, a edição de seu vasto e criterioso trabalho sobre Cristino; o Diabo Louro do Cangaço; o Corisco, segundo na hierarquia do reinado do sertão... Bem, agora é com os dois, vamos em frente! Não perdemos por esperar.

Ivanildo Silveira e Múcio Procópio
João Simplício e Sérgio Dantas
Honório de Medeiros
Confraria Rio Grande do Norte e Ceará, com novo encontro marcado para Dezembro...

A noite sem dúvidas foi de extrema importancia uma vez que criou mais uma possibilidade de estreitar relações entre essa grande família, e já temos um novo encontro Cariri Cangaço/GECC e o Grupo de Natal, para o mês de Dezembro, é só aguardar, certamente todos estão convidados.

Manoel Severo

Santa Maria, Samba, Múcio e Domingos... Por:Manoel Severo

Manoel Severo, Domingos e Múcio Procópio

Amigos são e serão sempre coisas para se guardar debaixo de sete chaves... Por ocasião deste final de semana, estivemos em Natal e tivemos a permissão de rever amigos muito queridos. Na sexta-feira, fomos conduzidos pelo confrade Múcio Procópio para compartilhar uma "casa portuguesa com certeza" e um bacalhau inigualável.

O sabor e a qualidade do que é servido só perde para a gentileza e a espetacular companhia do proprietário, o patrício Domingos, uma pessoa diferente, sem igual; um apaixonado pelo Brasil, pelo nordeste, pelo Rio Grande do Norte, por Natal e... já já...pelo cangaço! Domingos é o proprietário do restaurante Santa Maria, especializado em Bacalhau. Uma excelente carta de vinhos, cerveja gelada, um pão caseiro digno de nota e um dedo de prosa simplesmente sensacional.

Passamos; eu, Múcio e Domingos; boas tres horas batendo papo; Portugal, Brasil, cultura, nordeste, gastronomia, música... Cariri Cangaço; talvez tenhamos um português legítimo a nos acompanhar em 2012. E para não deixar a "peteca cair", o assunto também, como não poderia deixar de ser versou sobre a ousadia de levar o Cariri Cangaço para Portugal, Angola, Cabo Verde... Bem, ganhamos mais um parceiro, vamos em frente. 
Outra novidade são os projetos do Conselheiro Cariri Cangaço, Mucio Procópio, e me permita confrade amigo: Múcio está se dedicando à preparação de cinco palestras seguidas; para apresentação no programa "Diálogos Criativos" que acontece na sala de eventos da Livraria Siciliano do Shopping Midway entre 07 e 12 de dezembro sobre o tema "Semana do Samba" .


Segundo o grande pesquisador de Canudos, Conselheiro e Música Brasileira; teremos pela ordem, na semana do samba; 1) Origem do samba -(1537/1917); 2) Época de ouro -1917/46; 3) Encontro com Noel; 4) Bossa Nova, Tropicalismo e os novos Sambistas - 1958/2000 e 5) Encontro com Chico Buarque.

Chico Buarque e os aplausos para a Semana do Samba

Bem, só nos resta lamentar em não poder está presente nesta verdadeira aula sobre a mais legitima representação da música brasileira a partir do já reconhecido trabalho e talendo do amigo Múcio Procópio, entretanto, você que mora em Natal ou que nesse período estará na bela capital do Rio Grande do Norte, não perca essa dica !

Nota Cariri Cangaço: O Conselheiro Cariri Cangaço, Múcio Procópio, protagonizou em nossa última edição do Cariri Cangaço, uma das mais eletrizantes conferências do evento, quando apresentou a História da Música Nordestina,e agora, convida a todos para a partir dos "Diálogos Abertos" no Shopping Midway, participar da Semana do Samba. Bola Branca!
Manoel Severo

Um Cangaceiro doutor ! Por: Pedro Nunes Filho

Pedro Nunes Filho

Um dia, Antônio Silvino, vendo sua fama declinar, queixou-se enciumado: ”De uns tempos desses para cá, só se quer saber de cangaceiro-doutor!” Referia-se ao Dr. Augusto de Santa Cruz Oliveira, graduado pela Faculdade de Direito do Recife, em 1895. Moço, esquentado e imbuído dos ideais libertários da Casa de Tobias, foi nomeado promotor público em Alagoa do Monteiro, sua terra natal. Naquele tempo, existia a politicagem togada. Juízes e promotores podiam envolver-se em política e até disputar eleições majoritárias. Numa dessas disputas calorosas, Augusto se indispõe com seu opositor, juiz José Neves, de quem descende a clã dos Neves, que até hoje matém tradição de honradez e dignidade na vida privada e no mundo jurídico do Recife.  


Augusto (foto a esquerda) não demora também a discordar da oligarquia que dominava a Paraíba do Norte, rompendo com o presidente da província, João Lopes Machado. Sentindo-se com suas prerrogativas políticas abolidas e com o direito de defesa cerceado, recruta 120 cabras dos porões do cangaço e, no dia 6 de maio de 1911, invade a cidade de Monteiro, quebra a cadeia pública, solta um protegido seu e os demais presos que se incorporam ao grupo armado. Em seguida, encarcera o destacamento de polícia local, pego de surpresa ainda dormindo, numa madrugada-manhã invernosa e fria. 

Depois, os revoltosos avançam contra a cidade, vencem a resistência armada que lhe fizeram as autoridades auxiliadas por alguns cidadãos desafetos do chefe. No final da tarde, a cidade resta dominada e presos o prefeito Pedro Bezerra, o promotor público José Inojosa Varejão, capitão Albino, major Basílio e capitão Victor Antunes, pai do ilustre professor internacionalista da Faculdade de Direito do Recife, Mário Pessoa. No tiroteio, morreram algumas pessoas e, em pavorosa, a população da cidade evade-se, deixando suas casas comerciais e residências abandonadas.Sem condições de resgatar os reféns, o governador João Machado pede ajuda ao governador de Pernambuco, Herculano Bandeira. 

Corria o ano de 1911 e confrontavam-se em acirrada disputa pelo governo de Pernambuco, o prestigiado político, comendador Rosa e Silva, e o general Dantas Barreto, herói da Guerra do Paraguai. Em sua mocidade, antes de ir para a guerra, Dantas Barreto havia morado em Monteiro, onde exercia a profissão de relojoeiro e fez amizade com a família Santa Cruz. Por esta razão, o general resolve dar apoio ao bacharel revoltoso. Temendo que durante a disputa política Dantas Barreto pudesse se socorrer do braço armado das hostes guerreiras do paraibano rebelado, o governador de Pernambuco, que era rosista, autorizou um batalhão de 240 praças e 10 oficiais, sob o comando do Major Alfredo Duarte, invadir a Paraíba, munidos de 40 mil cartuchos mauser para guerrear o bacharel-cangaceiro, como o chamavam seus inimigos. 

 
Ao contingente de Pernambuco, somaram-se 120 homens da polícia paraibana. No dia 27 de maio de 1911, um século atrás, atacam a Fazenda Areal, onde o bacharel estava aquartelado e mantinha os reféns prisioneiros. O combate dura uma manhã inteira. Não conseguindo resistir, Dr. Augusto bate em retirada e vai se refugiar no Juazeiro, levando consigo os prisioneiros. Ao longo da fatigante trajetória de muitos dias, vai libertando os reféns um por um, pois não ficaria bem chegar com prisioneiros no reduto sagrado. Na condição de perseguido político, entra no Juazeiro e é recebido pelo padre Cícero que o acolhe, desarma seus homens e arranja-lhes trabalho digno. Naquele mês de junho, o Juazeiro estava em pé de guerra com o Crato, lutando por sua independência e o padre precisava mostrar-se forte. 

Homens do Cangaceiro Doutor

O patriarca tenta pacificar a Paraíba e não consegue. O conflito se estende até o ano seguinte e é chamado Guerra de 12. Frustrada em seu intento de resgatar os reféns, antes de deixar o palco da luta, a polícia destrói e queima a fazenda Areal e mais algumas propriedades de familiares do bacharel Santa Cruz.Em 1912, o Dr. Augusto retorna à Paraíba e se junta com o médico-fazendeiro Franklin Dantas, pai de João Dantas. Igualmente insatisfeitos com o desprestígio político que suas famílias estavam sofrendo, os dois doutores formam um exército de 500 homens e saem invadindo as principais cidades do sertão paraibano, com o propósito de depor o governador João Machado. Não conseguindo o intento desejado, Augusto refugia-se em Pernambuco, sob a proteção de Dantas Barreto que havia assumido o governo do Estado. Alguns anos depois, é nomeado Juiz de |Direito de Afogados da Ingazeira. Correto, exemplar e temido por sua história de vida, fez justiça e impôs respeito nas comarcas por onde passou. Morreu na comarca de Limoeiro em 1944. Esse fato histórico está minuciosamente descrito no livro Gurreiro Togado, do autor desta coluna.

Pedro Nunes Filho
pnunesfilho@yahoo.com.br

NOTA CARIRI CANGAÇO: Pedro Nunes Filho e Augusto de Santa Cruz no Cariri Cangaço 2012 ?  Com a palavra, o autor de Guerreiro Togado: " Sem nem saber onde será o Cariri Cangaço 2012, aceito o convite que você formulou, pedindo que me avise a data do evento com certa antecedência. Forte abraço, Pedro Nunes." Então já começamos a contagem regressiva...

Quantos Reis se meteram nela, se foram doze ou catorze!


...Um dia perguntei a tia Filipa onde eram todos aqueles lugares maravilhosos, chamados Lorena, Alemanha,
Baviera, Gênova e Bruxelas. 
Ela respondeu:
     – Não sei direito não, Dinis, mas deve ser longe como o diabo, ali por perto da Turquia, já quase na beira do mundo! Em Serra Talhada, existe uma família Lorena: portanto esses lugares devem ser pra lá do Sertão do Pajeú, de Serra Talhada pra cima, mais de sessenta léguas! Ou então, é pr’os lados do Piauí, entre a Turquia e a Alemanha! A guerra do Doutor Santa Cruz contra o Governo da Paraíba, parece que foi pr’aquelas bandas, em 1912: mas o que eu me admiro é que uns chamam ela de “A Guerra de Doze”, e outros de “A Guerra de Catorze”, e a gente fica sem saber quantos Reis se meteram nela, se foram doze ou catorze!
   
  Ariano Suassuna, 
 “Romance d’A Pedra do Reino”

Cabeças e Tijolos no Cariri Cangaço...Por:Dario Castro Alves

Caras, bocas, olhares e tijolos...
Olhar de Dario Castro Alves no
Cariri Cangaço 2011...

Geraldo Ferraz e a ALANE

Décio Canuto, João de Sousa Lima e Geraldo Ferraz em manhã de Cariri Cangaço

É com muita satisfação que informamos aos leitores do cariricangaco.com que nosso Conselheiro, pesquisador e escritor pernambucano,
 Geraldo Ferraz foi eleito neste sábado,
vice-presidente da ALANE -
Academia de Letras e Artes do Nordeste,
 biênio 2012 / 2013,
tendo sido eleito na mesma chapa como presidente, o escritor Melchiades Montenegro.

A posse da nova diretoria se dará no dia 27 de Janeiro de 2012, no Centro Cutural dos Correios, na Av. Marques de Olinda, em Recife.

Cariri Cangaço em Natal...

Ilustração de Carlão

Caros amigos, neste sábado estaremos participando de um Grande Encontro.

A partir das 19:30h temos um encontro marcado com os amantes da nordestinidade, suas raízes, história e memória; da simpática e acolhedora capital potiguar; na programação, um encontro especial no sábado à noite no Restaurante Mangai, presenças certas:

Ivanildo Silveira, Honório de Medeiros,
Múcio Procópio, Sérgio Dantas, Rostand Medeiros, dentre outros...

Assunto ? ! Não duvidem: Cangaço!
Abraços e até logo mais a noite.
Manoel Severo

Aniversário dos Últimos Cangaceiros em Caruaru

Bate e volta de Aniversário 
dos Últimos Cangaceiros
  27 de Novembro de 2011
Estação Ferroviária
Caruaru - PE
 
email : osultimoscangaceiros@gmail.com
http://www.osultimoscangaceiros.com.br

Programação:
08h - Recepção dos amigos motociclistas
09h - Café da Manhã 0800
Tiros de bacamarte, Gincanas, 
Sorteio de Brindes.

Vera Ferreira e a Bonita Maria do Capitão Por:Lampião Aceso


Com o patrocínio do INSTITUTO BANESE, BANESE CARD, CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco e Assembléia legislativa da Bahia, além do apoio institucional do ÁGORA – Arquitetos & Associados e da UNEB – Universidade do Estado da Bahia, a OSCIP SOCIEDADE DO CANGAÇO lança livro em comemoração ao Centenário de Maria Bonita.



Vera  e seu novo "filhão" Foto: Diário de Pernambuco.
Acreditamos que a importância desta obra sobre a Maria Bonita surge quando temos a sensibilidade de compreender que finalmente se inaugura a percepção sobre uma personagem marco-mulher que transcende a história do Cangaço. Olhar para ela significa ressaltar a mulher de um determinado contexto e período da história do Brasil; como também procurar compreender quais foram as imagens construídas acerca dela utilizadas até hoje para valorar sua representação como mulher nordestina. Bonita Maria do Capitão é uma primorosa publicação que comemora o Centenário de Maria Bonita com a excelência dos estudos e obras artísticas de mais de 40 colaboradores.



Uma iniciativa conjunta que tornou real uma rara coletânea de reflexões e imagens sobre a Maria do mítico cangaceiro Lampião.



Co-autora Germana Araújo
Bonita Maria do Capitão é um livro estruturado em duas partes: a primeira, biográfica, apresenta textos e imagens da sertaneja da Malhada da Caiçara, sertão da Bahia, Maria Gomes de Oliveira. Trata-se do resultado da leitura dos estudos de vários pesquisadores no assunto, mas, principalmente, da busca constante sobre a configuração genealógica dos Gomes de Oliveira pela neta Vera Ferreira. Entretanto, apesar de ser uma escritura baseada em uma possibilidade de interpretação, portanto, com novas facetas de sentido, parte da escritura biográfica desta obra não pode ser exatamente compreendida como inédita.


Já a segunda parte, que é dividida em temáticas, configura-se em uma original composição de obras de artistas que se apropriaram da imagem de Maria Bonita para suas produções, juntamente com textos de estudiosos e pesquisadores sobre a representação dela dentro de cada uma das temáticas desenvolvidas: Fotografia, cinema, xilogravura, literatura, teatro, música, artesanato, moda e artes visuais. 

Para o sucesso da segunda parte, contamos com mais de 40 colaboradores sensíveis com a causa de construir esta obra comemorativa do centenário de Maria Bonita.

SOB A LUZ DO LAMPIÃO:
Bonita Maria do Capitão. Eis ai mais um trabalho que não pode faltar na sua estante. São 327 caprichadas laudas. As cento e vinte e sete primeiras nos trazem um estudo detalhado da trajetória da Rainha do Cangaço, fruto de mais de 40 anos dedicados por sua neta Vera  acrescido por mais uma overdose de paixão, intuição e perspectiva de Germana.
Enriquecido por convidados especiais, estudiosos do quilate de: Sérgio Dantas, em O cangaço e a lei Penal: A questão de Maria Bonita; Frederico Pernambucano de Mello, em Maria Bonita a vivandeira do  Brasil e Wanessa Campos, em Maria Bonita e a mídia ...entre outros. 
Já a outra metade me agrada em dobro. Será indispensável pra quem pesquisa e nclusive pra quem duvida das influencias culturais do Cangaço. Inevitável não lembrar de um titulo provisório do confrade Rubinho, pois esse conteúdo é o que podemos classificar de "Maria e O Baile das quatro artes". Uma coletanea das principais obras e respectivos artistas que tiveram em Dona Maria a inspiração. Surpreendam-se ao constatar seu vulgo e imagem em todos os seguimentos apontados no sumário acima. 
De acordo com Vera há uma agenda pré definida para lançamentos (sessão de autógrafos) e distribuição nas principais capitais do Nordeste. Em Aracaju ele está disponível nas Livrarias Escariz.



Para adiquirir agora? 

VERA Ferreira
(79) 9191-4088 - malamp@hotmail.com


GERMANA Gonçalves de Araújo
(79) 9198-1227 - germana_araujo@yahoo.com.br


Valor R$ 100 (Cem reais) Frete a consultar



Fonte: www.lampiaoaceso.blogspot.com.br 

NOTA CARIRI CANGAÇO: Receber a mais nova obra de Vera Ferreira e Germana Araujo é motivo de muita alegria; a partir da própria plástica de sua edição, a beleza das imagens e singeleza do título, refletindo o cuidado e zelo mantido e desenvolvido pelas autoras. O Cariri Cangaço deseja todo o sucesso, que certamente virá.

Cariri Cangaço em Natal...

Ilustração de André Neves

Caros amigos, neste final de semana estaremos participando de um Grande Encontro.

Estamos indo até Natal onde teremos a oportunidade de sentar à mesa com os confrades da simpática e acolhedora capital potiguar; na programação, um encontro especial no sábado à noite com os amigos Ivanildo Silveira, Honório de Medeiros,
Múcio Procópio, Sérgio Dantas, Rostand Medeiros, dentre outros...

Assunto ? ! Não duvidem: Cangaço!
Abraços e até lá.
Manoel Severo

Sem método é muito difícil se construir uma história Por:Wescley Rodrigues

Wescley Rodrigues

Acaba de ser lançado, na capital de Sergipe, o livro “Lampião, o mata sete”, de autoria do ex juiz de direito Pedro de Morais. Em linhas gerais, a obra, segundo relato da mídia, versa sobre um possível triângulo amoroso entre Lampião, Maria Bonita e Luiz Pedro. Nas pesquisas do autor ele chegou a conclusão de que Lampião tinha sido atingido por uma bala no seu saco escrotal que fez com que este ficasse impotente.

Mas o interessante na obra não é esse ponto, mas sim o que diz respeito a afirmativa que seria Lampião homossexual, sendo que todos os casos que ele teve com mulheres ao longo de sua vida era apenas para ludibriar o meio social em que ele estava. E Maria Bonita? É apresentada como uma mulher perversa, intrigueira, que apenas era uma espécie de “cobaia” para maquiar a homossexualidade do dito “Rei do Cangaço”.

Há ainda outra peculiaridade na obra, essa diz respeito a Luiz Pedro, homem de confiança de Lampião, que na verdade não passava do amante do líder cangaceiro, sendo o ativo nessa relação, praticando atos sexuais tanto com Lampião como Maria Bonita. Frente a isso, me vêm a mente algumas questões interessantes que como historiador e estudioso do cangaço não poderia deixar passar despercebido.

Não canso de dizer que na história do cangaço e nas pesquisas desenvolvidas, muitos escritores esquecem de que qualquer trabalho histórico precisa de um método, método que possa dá caráter de cientificidade a produção e ajude a elucidar as lacunas dos fatos do passado. Sem método é muito difícil se construir uma história que prime pela verdade ou pelo menos pela verossimilhança. O método não é algo somente de acadêmicos ou daqueles que são portadores de um diploma universitário e fazem da história um ofício, mas o método é uma espécie de rota que faz com que não nos percamos no meio do arsenal de informações que vamos adquirindo ao longo das pesquisas.

Outro elemento preponderante são os documentos, eles são a alma das pesquisas históricas, sejam documentos oficiais, relatos orais, fotografias, mapas, gravuras, etc. Eles possibilitam-nos falar não de forma aleatória, mas nos dão um respaldo, nos servem de pilar para fazermos afirmativas a partir do nosso lugar social de escritores. No entanto, apesar de serem importantes para as pesquisas, não podemos nos deixar levar por eles, pois nem sempre eles são detentores de verdades. Os documentos, como nos ensina o método histórico, devem ser questionados, problematizados, debatidos. Devemos conversar com esses documentos e também entender o lugar de sua produção e construção. Assim, nem todo documento só por ser histórico contem a verdade ou uma verossimilhança.

Pois bem, depois dessa explanação reflitamos um pouco a obra referendada acima. O autor afirma que para a elaboração da mesma ficou no campo das conjecturas, não tendo como ter acesso a fontes primárias, o que já coloca o trabalho em um patamar extremamente problemático. Para a história é preciso de provas, não só fazer ligações, acreditar em hipóteses. Ou você parte da hipótese a prova documental, ou é melhor se calar, pois isso já foge completamente do que se entende hoje como história. Tal afirmativa da homossexualidade de Lampião e do seu poliamor é problemática, pois não se tem documentos palpáveis em que se possa afirmar tal ideia. Qualquer trabalho que fale do passado tem que entender a temporalidade do período estudado, e até onde me consta - não estou afirmando que não tinha -, a homossexualidade no sertão nordestino era um tabu nas décadas de 1920, 1930 e 1940. Ainda não tínhamos passado pela revolução sexual, os homossexuais eram tratados como doentes que precisavam de tratamento, e nesses usavam-se métodos de “cura” extremamente desumanos, como por exemplo eram trancados em manicômios, passavam por tratamentos de choque, eram agredidos por serem tratados como sujeitos sem moral que precisavam ter a sua conduta reabilitada a partir da agressividade.

O fato de Lampião ter voz afeminada, traços e atitudes mais “finas” para aquele meio “áspero” em que viviam – não estou afirmando um “determinismo geográfico” – não vêm a provar que ele era homossexual, pois é uma evidência muito pobre para se lapidar tal afirmativa. O problema em questão não é se ele era ou não era gay, mas a problemática está em não termos as provas documentais que prove isso, o que impossibilitaria de fazermos tal afirmação, até porque sua sexualidade não mudaria em nada o papel que ele desempenhou na história, até porque o que ele fez ou deixou de fazer no meio da caatinga com Luiz Pedro e Maria Bonita, só dizia respeito a eles.

Fora essa afirmativa que é comum na literatura sobre o cangaço de que Lampião era mais delicado nos traços e político no falar e se relacionar, não há nenhuma prova documental até o presente momento que comprove a sua impotência e homossexualidade, até porque em uma realidade social extremamente fálica, onde o culto a masculinidade se ligava ao genital, como tão bem trabalho o historiador Durval Muniz de Albuquerque Júnior, no mínimo era vergonhoso para o sujeito impotente sair espalhando a sua incapacidade de “expelir sementes” e ter ereção.

Concordo com o autor Pedro de Morais quando ele afirma ter por parte dos estudiosos do cangaço uma supervalorização da figura dos cangaceiros e do próprio Lampião que era bandido. Mas temos que entender que essa imagem também é uma construção histórica, daí teríamos como função entender porque de bandido ele passou a ser exaltado, quais os interesses que estariam nivelados em tal mutação representacional. O fato dele ser “bandido” não desqualifica a sua história, pois tanto os bandidos da caatinga, quanto os das favelas, o do congresso nacional, como os generais do exército ou os líderes religiosos católicos, protestantes, judeus ou mulçumanos, são seres históricos e precisam ser entendidos e historiados dentro de sua realidade. Não podemos marginalizar a imagem dos cangaceiros só por eles serem bandidos, mas temos que ter cuidado com essa supervalorização, que devem ser entendidas pelos estudiosos.

Mais do que nunca clamo aos estudiosos do cangaço que respeitem o passado e a história, respeitem os documentos, questionem as verdades, “nem tudo que parece, é”, como diz o ditado popular. Fazer história é lidar com vidas, vidas que deixam memórias que precisam ser respeitadas. É preciso ter um respeito para com o passado, como também para com os vivos do presente que merecem ter pelo menos uma aproximação do que é a verdade.

Prof. Wescley Rodrigues
Brasília – DF

Lampião o mata sete Por:Alcino Alves Costa

Alcino Alves Costa na casa de Maria Bonita, na Malhada da Caiçara
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Um semanário de Aracaju entrevistou o conceituado e respeitabilíssimo Juiz de Direito aposentado, Dr. Pedro de Morais. Na entrevista, o considerado ex-juiz, discorre sobre o lançamento de seu livro intitulado “Lampião o mata sete”, que ocorrerá nesta quinta-feira, dia 24, na Livraria Escariz, do Shopping Jardins.Nas páginas do jornal, o Dr. Pedro afirma fatos do viver de Virgulino Ferreira da Silva. Fiquei deveras estupefato com as suas colocações. Não tenho dúvida, as mesmas não têm nenhum embasamento e descambam para uma injustiça sem limites. Lamento profundamente que um homem da lisura e do sereno proceder, como foi e é o nosso querido Dr. Pedro Morais, pessoa que eu tenho grande estima e respeito, tenha sido influenciado e acreditar em tamanhos disparates como se fosse um iniciante e inexperiente “vaqueiro da história”. O Dr. Pedro é um estudioso do assunto. Todavia, também sofreu a influência daqueles que registram em livros e documentos grotescas e deslavadas mentiras. Inverdades que tem o poder de embaraçar a cabeça até de atilados homens da estirpe de nosso ex-juiz.
O que me deixou admirado foi perceber que um homem que trilhou a sua vida pelos caminhos da justiça e do conhecimento da mentalidade humana, tenha sido influenciado com tanta facilidade. Foi assim que com certeza aconteceu com o nosso Dr. Pedro. Em um instante da fragilidade mental se deixou envolver por aqueles que não têm compromisso com a verdade e quase sempre registram em livros e documentos grotescas e deslavadas mentiras.


Dizer-se que Lampião era homossexual e Maria Bonita uma adúltera, e os dois, Lampião e Maria Bonita, coabitavam com Luís Pedro, vivendo assim, em plena caatinga, um triângulo amoroso, é algo que em sã consciência ninguém tem o direito de acreditar. Eu sei muito bem que pessoas descompromissadas com a verdadeira história do cangaço e de Lampião tiveram o desplante de dizerem ou registrarem essas verdadeiras aberrações. Porém, um homem do quilate, da hombridade e da nobreza de caráter do Dr. Pedro não merecia participar desse pequenino grupo de pessoas que registraram tão medonhas distorções da história cangaceira. Lampião jamais foi um gay. Aliás, em toda história do cangaço, desde os seus primórdios não se registra nenhum homossexual nos grupos cangaceiros.Luís Pedro tinha a sua companheira, a cangaceira Neném, morta na fazenda Mocambo, em Sergipe. A afirmativa de que o grande cangaceiro, do povoado Retiro, em Triunfo, Pernambuco, era amasiado com Maria Bonita e o próprio Lampião é uma coisa deplorável, uma mentira monstruosa que nasceu da mente doentia dos mal intencionados. Quanto a Lampião ser um estilista, afirmação de um dos maiores pesquisadores da história cangaceira, eu contestei essa esdrúxula afirmativa, inclusive em artigo para este jornal, mostrando que o tão considerado escritor estava usando apenas o seu ponto de vista, nunca a verdade sobre o viver e a conduta de Lampião.

O que Lampião fazia, e muitos sertanejos também faziam, era pelejar com couro, fazendo selas, perneiras, gibão e outros acessórios puramente sertanejos. Ser um estilista, bordar peças e indumentárias do cangaço, isto jamais aconteceu. É acinte a história de Lampião. É querer inventar e se mostrar dono da verdade. Quanto a ele ter sido um feroz bandido, um cangaceiro malvado, com atitudes monstruosas, tudo isto é verdade. Como também é verdade que ele foi e é um dos maiores heróis da história do Brasil. E a prova insofismável está nestas discussões sobre o caminhar pelas estradas da vida desse caboclo das barrancas do riacho São Domingos e das fazendas Ingazeira e Passagem das Pedras. Mesmo após 73 anos de sua morte, Lampião é o personagem mais falado e pesquisado em todo Brasil. Este homem é um herói ou não? 

Maria Bonita jamais foi chamada de Dea. A Dona Dea que na entrevista diz ser Maria era justamente a mãe de Maria Bonita, que antes de sua ida para o cangaço era conhecida como Maria de Dea.Dona Dea, chamava-se Maria Joaquina Conceição Oliveira e era mãe de muitos filhos, dentre eles Maria Gomes de Oliveira, a segunda filha do casal; inicialmente chamada de Maria de Dea e posteriormente de Maria de Lampião, ou Maria do Capitão. Não posso e não quero, sob hipótese alguma, desmerecer o trabalho literário do Dr. Pedro, a quem, repito, tenho uma admiração e um respeito muito grande. Todavia, não tenho como não me manifestar sobre essas monstruosas injustiças. Injustiças que se faz com Virgulino Ferreira da Silva e com Maria Bonita.
Fiquei triste em ter lido a entrevista de responsabilidade de um homem de extraordinária integridade, e por essa razão, os seus escritos irão confundir ainda mais as pessoas que não conhecem verdadeiramente a história do cangaço e de Lampião e o viver do homem sertanejo naqueles tempos do sertão de outrora. Maria Bonita não era uma adúltera. Lampião jamais foi um gay!

Saudações cangaceiras

Alcino Alves Costa
O Caipira de Poço Redondo
Artigo Publicado no Jornal  da Cidade, de Aracaju em sua edição de ontem,
dia 23 de novembro de 2011

Quando Lampião esteve em Aurora Por:José Cícero

 Bosco André, José Cícero e Manoel Severo em manhã de Cariri Cangaço em Aurora
Estamos nos grotões do município de Aurora – Sul do Cariri cearense. Quase na fronteira com o estado da Paraíba. Início do mês de julho de 1927. Vinte e seis dias depois do malogrado ataque a cidade norte-riograndense de Mossoró. Desde então, Virgulino Ferreira - o Lampião, juntamente com os que ainda restarem do seu bando, luta com unhas e dentes para não ser massacrado pelas volantes interestaduais do CE, RN, PB e PE.


Um verdadeiro exército está a persegui-lo sem trégua. A desproporção é, simplesmente gritante em desfavor do chamado rei do cangaço. Em alguns combates, chegando incrível a razão numérica de 40 soldados para um cangaceiro. Mas Lampião não se entregará. Se caíra na esparrela de uma empreitada enganadora, também haverá agora de sair(por sua conta e risco)o quanto antes dela. Sua perspicácia em rasgar a geografia da caatinga cearense ainda continua sendo a sua maior arma. 


O fogo pesado da resistência fê-lo retornar às pressas numa marcha sofrível. Tirando de Mossoró à Limoeiro num fôlego. Exausto nas suas últimas forças lutou como nunca na vida para não sucumbir de vez aos seus inimigos de farda. Estava por assim dizer, desmoralizado, justamente num ataque que lhes disseram ser fácil. Foi ele própria, a primeira vítima de um grande engodo arquitetado por uma corja de interesseiros. Bandidos piores que os que estavam sob seu comando. Mas não se deu por vencido... Rasgou a caatinga cearense na direção de Aurora como um autêntico vaqueiro conhecedor daquelas bibocas. Desde aquele instante, Izaías passou a ser o Norte na sua cabeça.

 Sousa Neto, Manoel Severo, Bosco André e José Cícero, na estação da RVC em Aurora, palco onde foi baleado Izaias Arruda


Adentrou o território aurorense pelas fímbrias da serra da Varzea Grande seguindo o riacho do Bordão de Velho, Malhada Funda, Riacho das Antas, Coxá, Diamente, serrote dos Cantis até finalmente, alcançar o valhacouto da fazenda Ipueiras - propriedade do seu amigo e sócio de empreitada – o coronel Izaías Arruda de Figueiredo. Imaginara está em segurança. Ledo engano. Seus aperreios estavam apenas começando. Chegara exausto, assim como todos os seus cabras em mais de 30 cangaceiros. Muitas deserções foram registradas ao longo do caminho. Uma marcha que pelo jeito, ainda não havia terminado. 


Ansiava angariar o necessário auxílio do coronel, até então seu confiável coiteiro nestas paragens salgadianas. Mas não. Estava desconfiado. Alguma coisa lhe dizia que a Ipueiras não era mais a mesma que deixara dias atrás. Tudo havia mudado, após a humilhante derrota que sofreu em Mossoró. Sabia que agora teria que lutar com inteligência e denodo. Como era amarga a traição, assim como a solidão após uma derrota. Não haveria de morrer ali depois de tantas guerras. Queria ver o coronel que estava a demorar além da conta. Seus amigos de empreitada o traíra. Viu não o foram, nenhum deles. Todos a sua volta estavam com o moral sob a rés do chão. Sabino lamentava as baixas e jurava vingar o companheiro Jararaca. Massilon emudecera. Antes era todo um falastrão...Comemaça a partir dali uma nova batalha. Uma questão de vida ou morte. Salvara-se de novo. Primeiro do banquete envenenado a cargo do vaqueiro de Zé Cardoso, Miguel Saraiva, depois, do incêndio da manga e do fogo cruzado dos macacos do major Moisés e ajudado pela jagunçada do próprio coronel. Salvara-se milagrosamente pela parede do açude velho. Mas, por que ficara desguarnecida até o corredor que dava para a Malhada Vermelho e o riacho do pau branco? Num ímpeto de raiva, gritara não ser preá para morrer sapecado... Fizera naquele instante mais um inimigo. "Izaías vai me pagar esta desfeita", disse ele. Prosseguiu a passos largos pisando o rumo Oeste.

 Caravana Cariri Cangaço visita Ipueiras de Zé Cardoso, em Aurora

Os plano do major Moisés Leite de Figueiredo, por sinal, parente do coronel, foi por água abaixo como que de propósito. Quem sabe, 'eles' não desejassem de fato pegar Lampião... Senão, por que pediu ao governador a dispensa das tropas não-cearenses? Por que fora tão negligente nos combates desde a serra da Macambira? Seguido do sítio Ribeiro e agora na própria Ipueiras e no esconderijo do Diamante? Lampião, contudo seguiu seu rumo. Sabia ele que o grande encontro com o seu destino estava muito mais além. Fez o que estava ao seu alcance para salvar o que restou do seu antigo bando. Ou que restava dele. Malgrado, o cansaço somado a fome e a falta de munição e ânimo dos seus cabras.Os bandoleiros da terra, já não estavam com ele. Deixaram-no tão logo adentraram a região do Bordão de Velho.


A perseguição arrefecera um pouco, ao passo que se distanciavam cada vez mais da cidade, mas não lhe dera trégua. Havia um trem desde a noite do dia 6 a esperar o corpo do bandoleiro na estação. Soldados ainda estavam espalhados em diversas parte de Aurora e região.Talvez dividir-se seria uma opção inteligente e necessária. E foi o que fez. Massilon estava envergonhado, quem sabe com remorso de ter colocado Lampião naquela situação vexatória. Ao ponto de quase ser abatido. Não o deixara na fazenda Letrado no riacho do sangue(como escreveram depois os jornais). Seguiu-o na direção da Ipueiras até o sítio Brandão onde finalmente se separaram de vez. Homem de palavra, Lampião não lhe demonstrara nenhum ressentimento pelo fracasso. Iria na direção da serra do Góes. A despedida foi um tanto quanto amistosa. Massilon pediu-lhe o guia José Alves, um rapazola do sítio Jatobá e de lá, seguiu para o Sul. Na localidade de Catingueira légua e meia depois, o facínora matou covardemente o jovem rapaz da família Arara.

Até hoje seus familiares não têm dúvida, o primo que ficara com Lampião(sã e salvo) contara todo o caso quano retornou pra casa. Virgulino, ao contrário tratara bem os seus guias, tanto que ao chegar no Cajuí de onde era possível avistar (da ponta da serra) a então vila de Ingazeiras agradeceu-o oferecendo algum dinheiro a Joaquim de Lira, outro lservido de guia a partir da Boa Vista(da região de vazantes).

- Que povoado é aquele lá embaixo? - indagou Lampião.
- ali é as Ingazeiras capitão - respondeu o guia.
- Então me diga, como faço pra passar bem longe. Lá deve tá cheia de macacos vindos pela linha do trem.
- De fato, é bem arriscado, capitão...


A pouco mais de 72 horas se safara de mais uma espetacular refrega. Desta feita, na fazenda Ipueiras – justamente o QG onde toda a trama foi organizada com a participação direta e indireta de muitos cangaceiros e potentados regionais, tais como Massilon Leite, Zé Cardoso, Miguel Saraiva, Júlio Porto(representante dos interesses de Décio Holanda do Pereiro), e do mais célebre de todos – o coronel Izaías Arruda, dentre outras pseudo-autoridades que pagaram caro para que ficassem até hoje no anonimato desta história de sangue, traição e poder.

 Antônio Amaury e José Cícero

Na pisada de Lampião...

De Aurora, mais precisamente do riacho das Antas, participaram da empreitada do assalto à Mossoró os cangaceiros: Zé Roque, José Cocô, Zé de Lúcio e Antonio Soares(seria este o Asa Branca?) que alguns(poucos) pesquisadores apontaram como o cangaceiro mais jovem e natural da própria Ipueiras. Teria o bando um segundo ‘Asa Branca’ que depois do ingresso receberia outro nome como era comuns aos neófitos?. Cumpre destacar que no começo de agosto do mesmo ano “O Nordeste”, periódico jornalístico de Fortaleza estamparia em sua capa uma matéria especial em reportagem tratando acerca da suspeição sobre o major Moisés Leite de Figueiredo – comandante geral das tropas dos três estados e parente do coronel. O foco era a suposta facilitação...

A Marcha no território aurorense:
No dia 7 de julho saíram às pressas da Ipueiras. O ziguezague que a partir dali realizou no território aurorense foi algo só digno de um profundo conhecedor da caatinga aurorense. Após a traição de Ipueiras Lampião seguiu para a serra do Góes já na divisa com Caririaçu indo pelas bandas do Pau Branco atravessando o Salgado na altura do sítio Barro Vermelho, passando pelo Jatobá, Brandão e pernoitando em Vazantes. De lá se dirigiu para a serra dos Quintos e no dia 9 para a serra dos Góes, seguindo pelo riacho da boa vista até a ponta da serra pras bandas do Cajuí. Adentrou o município de Milagres transpondo a linha de ferro na localidade de Morro Dourado ainda em Aurora nas proximidades de Ingazeiras. Ainda, mas adiante passara pela Piçarra onde cangaceiro Sabino foi abatido pela volante de Manoel Neto. Uma outra traição, desta feita do velho Antonio da Piçarra outro ex-coiteiro e amigo de Virgulino. As coisas não estavam nada boa...

Uma volta que envolveu todo o perímetro do território aurorense. Esta estratégia deixou completamente perdidos os que o caçavam a ferro e fogo. Dali conseguiu penetrar sem ser incomodado o estado da Paraíba pela a serra de Santa Inês. Um fino estrategista. Verdadeiro preá das matas.

Na parte II deste episódio trataremos do enigmático incêndio da Ponte do trem da RVC sobre o rio Salgado no localidade de Olho d’água(Aurora) depois da vila de Ingazeiras nas proximidades de Quimami a duas légua de Missão Velha.O Enigmático Incêndio da Ponte sobre o rio Salgado em Aurora:Há muita desinformação pertinente a este fato. No livro de Raul Fernandes ( a marcha de Lampião) por exemplo, narra que o incêndio foi obra de Lampião quando(provavelmente) da sua passagem pela proximidade com destina à Milagres e a Fazenda Piçarra e de lá para Serra de Santa Inês e Pernambuco. Outros diziam que o tal incêndio havia sido na ponte do jenipapeiro um pouco antes. Mas não. A ponte era maior: a do olho d’água. E mais: o incêndio foi obra não de Lampião, mas dos jagunços do coronel Izaías Arruda. Em retaliação a um histórico imbróglio deste com os engenheiros da RVC, depois que a ferrovia decidiu romper o contrato com Cel. Izaías sobre a compra de dormentes de madeira extraídos da sua propriedade em face do alto preço, cobrado acima do valor de mercado da época.
 
...Continua
 
José Cícero
Professor e pesquisador do cangaço.

Conselheiro Cariri Cangaço
Secretário de Cultura -Aurora – CE.

http://blogdaaurorajc.blogspot.com/