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Mané Véio: O feroz da Santa Brígida Parte II Por: Alcino Costa

José Cícero, Alcino Alves Costa e Bosco André , no Angico


Vamos voltar a contar a incrível história de Mané Véio, o grande protagonista do cerco de Angico. Agora em Goiás deixa de ser Manoel para se tornar Euclides Marques da Silva, o nome de um irmão falecido na Bahia. Fixa residência na cidade de Goiania. Torna-se joalheiro. Casa-se com uma bela moça chamada Maria Bosco da Silva e com ela procura recomeçar a sua nova vida. Nascem dois filhos. Uma menina, chamada Jovina, e um garotinho batizado com o nome  de Jacob. Anos depois o casal muda-se para São Paulo. Vão morar no Bairro da Liberdade. O seu meio de vida, a sua subsistência, continua sendo o comércio de jóias e ouro. 


O ciúme era uma constante, uma chaga cruenta na vida deste ex-soldado de volante. Aliado a tão medonho, doloroso e maléfico sentimento, o gênio extremamente violento do antigo “contratado” jogou no abismo a convivência, o sossego e a paz existente entre o baiano do Raso da Catarina e sua nova e também desafortunada esposa. Aquela vida harmoniosa do princípio, quando os dois em parceria comerciavam jóias e ouro juntos, havia chegado ao fim. E Maria começou a ser espancada pelo perverso marido. 


Mané Véio, ou Antônio Jacó, ou Euclides Marques.


Não suportando aquela triste e medonha situação, temerosa e apavorada com as torturas e brutalidades do companheiro, a goiana pediu o divórcio, não tinha como continuar vivendo debaixo de tanto sofrimento. O advogado contratado por Maria Bosco chamava-se Othoniel Brandão. Ele iria cuidar do desquite. Ao tomar conhecimento da decisão da esposa, o homem da Santa Brígida se revoltou, chegando a tentar enforcá-la, o que não aconteceu em virtude da intervenção imediata dos vizinhos. Após este grave incidente Maria prestou queixa na polícia. Mesmo assim, dias depois, o marido abandonado tentou a reconciliação, alegando que amava a sua companheira e mãe de seus filhos.


Irredutível, Maria Bosco não aceitou a pretensão do marido. O que queria, o que lhe interessava era ficar ao lado do filho e da filha, e longe, muito longe, do pai deles. Sem alternativas, Mané Véio, mesmo a contra gosto, terminou por concordar com a separação e a divisão amigável dos bens. Na 2ª Vara da Família e das Sucessões a vitória da vítima foi total. Além da pensão para ela e os filhos, ainda aconteceu à partilha e divisão dos pertences de ambos e os filhos ficaram sob a tutela de dona Maria. 


Mesmo tendo aceitado o desquite, o antigo caçador de bandidos não se conformava com aquela separação. Agoniado, ameaçava assassinar a antiga companheira. A sua maior preocupação, o seu maior temor, era vê-la acompanhada de outro homem. Dominado pelo ciúme, costumava rondar a residência da ex-mulher, à Rua Pirapitingui, no prédio 97, apartamento 84, no Bairro da Liberdade. Assombrada com as ameaças, Maria Bosco procurou as autoridades policiais explicando a sua grave situação. Aconselhada pelos militares, comprou um revolver calibre 22, tirou porte de arma, e carregava a sua pequena arma em sua bolsa.


Os meses foram se passando. Aquela aflição continuava. O mês de julho de 1966 despontou. Chega o dia 13. É uma quarta-feira. Dona Maria,  acompanhada de sua filha Jovina Marques da Silva, sai do apartamento e vai até um açougue comprar carne. O filho caçula, Jacob, que sempre acompanhava a mãe, dessa vez não a acompanhou para jogar uma pelada com seus amiguinhos de infância. Na volta, após comprar a carne, um pistoleiro espreitava os passos de Maria. Era ele Josafá Marques da Silva, meio irmão de Mané Véio. Este bandido assim agia cumprindo ordem de seu mano que o incumbiu de assassinar a sua própria esposa. 

Em um ponto da Rua Pirapitingui, Maria aparece ao lado da filha, uma linda mocinha de apenas 16 anos de idade. O assassino está de tocaia, a espera de suas vítimas. Pouco mais do meio dia mãe e filha surgem ao longo da rua. Caminham despreocupadas por uma calçada. O verdugo sorrateiramente se aproxima delas. Saca um revolver “S & W”, calibre “32”. Aciona o gatilho de sua homicida arma. Dois tiros atingem mortalmente dona Maria, uma ainda jovem mulher, com apenas 40 anos de idade. Um balaço perfurou o tórax e o outro se alojou um pouco abaixo do peito. Vendo a mãe baleada e cambaleante, Jovina se interpôs entre ela e o cruel assassino. Este sem compaixão e sem piedade, mesmo sabendo que ali estava uma menina-moça no verdor de sua florida existência, e além do  mais, sua sobrinha, uma vez que ela era filha de Mané Véio, não titubeou, atirou para matá-la. Este terceiro tiro também foi mortal. A bala atingiu o peito do lado direito da mocinha que cambaleou e caiu nos estertores da morte por cima do corpo de sua mãe.

Este duplo assassinato abalou São Paulo. No outro dia, 14 de julho de 1966, o jornal NOTÍCIAS POPULARES, estampava: “Cangaceiro contratou um bandido para exterminar a família em SP”. E em grandes letras: “PISTOLEIRO MATOU MÃE E FILHA!”. Na sexta-feira, dia 15, o jornal DIÁRIO DE NOTÍCIAS, estampava em grande manchete: “PISTOLEIRO CONFESSA: MATOU PORQUE TINHA PENA DO IRMÃO”. O “DIÁRIO DA NOITE”, também no mesmo dia 15 de julho, estampava: “MATOU A TIROS A CUNHADA E UMA SOBRINHA”. Josafá e Mané Véio foram presos e processados. No dia 25 de outubro de 1967, o responsável pelo assassinato da esposa e da filha foi para o banco dos réus – e foi severamente exemplado.


Alcino Alves Costa
O Decano, Caipira de Poço Redondo
Sócio da SBEC; Conselheiro Cariri Cangaço




NOTA CARIRI CANGAÇO: Agregando ainda mais valor aos dois capítulos da  Saga de Mané Véio, nos trazida pelo grande escritor Alcino Alves Costa, vamos recorrer ao confrade e Conselheiro Cariri Cangaço; Kiko Monteiro em seu espetaculaer "Lampião Aceso". 


Fala Kiko: "Recebemos da leitora Marylu, uma importante informação via comentário para nossa matéria sobre Manoel Marques da Silva o célebre Mané Véio. Ela nos revelou que Euclides Marques da Silva, nome adotado por ele, faleceu aos 92 anos de idade -saciado de dias - na cidade de Pires do Rio - Goiás - em 09.01.2003 ao lado de sua terceira esposa -a goiana Nori Alves Marques da Silva. Hoje residente na capital - vide: http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Man%C3%A9%20V%C3%A9io 

19 comentários:

  1. Como homem do sertão Mané Véio, ou Antônio Jacó, ou Euclides Marques preso a questão da honra, da vingança e do ciúme torna-se uma figura indelével na história do cangaço.

    Prof. Lima Júnior

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    1. Pior que Lampião, esse sim foi um verdadeiro bandido e maníaco cruel.

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  2. Amigo Alcino. ME AGUARDE.
    Já esta tudo pronto. Os cabras já nos esperam.
    Aderbal Nogueira

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  3. Prezado Kiko Monteiro,

    Quero agradecer de público a sua sábia e proveitosa intervenção dentro do nosso artigo sobre Mané Véio.

    É assim que devemos agir. Nós os vaqueiros da história temos um compromisso conosco mesmo. Aquele de procurarmos ajudar e servir uns aos outros, porém nunca sendo amém de ninguém. É maravilhoso sabermos que todos nós, daquele principiante ao mais antigo pesquisador do cangaço, todos, mas todos mesmo, somos de suma importância no caminhar pelos labirintos dessa maravilhosa história sertaneja e brasileira.

    Kiko, nós somos irmãos. Nós formamos a maravilhosa família Cariri Cangaço, Lampião Aceso e SBEC, minha amada SBEC.

    Abraços em Aderbal e o professor Lima.

    Alcino Alves Costa
    O Caipira de Poço Redondo
    Júnior.

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  4. Bela postagem, fechando com chave de ouro a historia do matador de Luiz Pedro.

    Leonel Sales
    Urca

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  5. Escritor Alcino Costa, o Decano; parabens por trazer esse personagem que eu particularmente só conhecia mais de perto a partir do livro do dr. Amaury "Assim morreu Lampião". A contribuição de vocês trazendo a história dessas pessoas só engrandece a pesquisa.

    YURI

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  6. Seu Alcino eu não quero ser apenas vosso irmão... sou mais um dos vossos filhos.

    Abraço fraterno

    E obrigado ao Coroné pela citação.

    Kiko Monteiro

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  7. Alcino vale pena ler seus livros e seus artigos. Muito parabens.

    Fernando Cesar Lima Verde

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  8. Parabéns pela História algumas coisas meu avõ,Euclides Marques da Silva ( mané véio ) não falava devido a religião

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  9. ESSA HISTORIA É TREMENDA,EU OUVIR FALAR MUITO SOBRE ELA...

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  10. Essa foi a história da minha linda tia Maria ou Mariona como era chamada pelas primas/irmãs. Ela era uma mulher muito elegante, bonita, alta.
    Uma verdadeira miss. Até hoje temos fotos dela, junto com minha mãe e tias, da Jovina adolescente e do Jacob. Marcou muito aquele triste dia.

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  11. Essa é uma história vivida pela minha família, eu era uma criança, mas participei de muito perto. Estava em busca do meu primo Jacob, quando deparei-me com essa triste história.
    A tia Maria era prima-irmã da minha mãe.

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    1. Jacob, é irmão do meu pai sou filho do Abílio Marques da Silva, e minha avó mãe do meu pai que morreu na Bahia

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  12. gostaria de conhecer meus parentes ai da Bahia meu e-mail é kafingadodo@hotmail.com e facebook também sou filho de Abilio e neto de Euclides

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  13. Mané Velho tem uma vida muito perversa, era um homem inteligente ambicioso para aquela época.

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  14. Que penas cumpriram e o que é feito deles atualmente?

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