Azulão, Zabelê, Canjica e Maria Dórea... Por:Rubens Antonio

Rubens Antônio


Um dos combates memoráveis do Cangaço é o da Lagoa do Lino. Nele, um subgrupo do bando de Lampião, composto por 4 cangaceiros e 3 cangaceiras liderados por Azulão, que assolara as regiões de Mairi, Várzea do Poço, Miguel Calmon, Várzea da Roça, Serrolândia e Jacobina, entre setembro e outubro de 1934, foi duramente atingido por uma volante.


Está referenciado este combate na postagem:



Como consequência, quatro cangaceiros sucumbiram... Azulão, Zabelê, Canjica e Maria Dórea.Mortos e decapitados, tiveram suas cabeças conduzidas a Salvador. Sua foto mais conhecida é apresentada abaixo.

 Cabeças de, da esquerda para a direita, Zabelê, Maria, Azulão e Canjica.

O pesquisador Orlins Santana nos oferece um material extremamente raro relacionado a este embate. São duas fotos. Uma é outra foto das cabeças dos cangaceiros Azulão e Maria Dórea (abaixo).


Esta outra foto mostra as cabeças dos quatro cangaceiros mortos, Zabelê, Canjica, Maria Dórea e Azulão (abaixo).


Ambas foram tomadas provavelmente quando da chegada das cabeças a Salvador, exibindo já processo de necrose avançada. Que estes ecos daquele terror... melhor sirvam ao entendimento das suas e nossas sombras... e tragam, ao menos, rasgos de luz ao presente e ao futuro.

Fonte: www.cangaconabahia.blogspot.com
Professor Rubens Antônio

Vem aí o V FESMUZA

No ano do centenário de nascimento do Rei do Baião, vem aí o V FESMUZA - Festival de Músicas Gonzagueanas, que acontecerá no dia 18 de agosto de 2012 na Fazenda Cidade; em São João do Rio do Peixe, Paraíba. O Regulamento, inscrições e maiores informações, já podem ser adquiridas clicando no endereço abaixo:

http://www.portalcaldeiraopolitico.net/noticia.php?mostrar=noticiacompleta&id=7f49e60aa9

Cortesia do envio: Kydelmir Dantas - Mossoró








Delegado Archimedes contra o Mata Sete Por:Rangel Costa


Archimedes Marques

Na noite do último dia 02 de junho de 2012, estive participando do lançamento do livro “Lampião Contra o Mata Sete”, do delegado Archimedes Marques, na capital sergipana.

Evento bastante esperado, acabou confirmando as melhores expectativas pelo grande número de afeiçoados pelas coisas nordestinas, as lides cangaceiras de outros tempos, que ali compareceram para prestigiar o autor. E também saborear comidas típicas do ciclo junino. Voltei com o belo exemplar debaixo do braço e muito agradecido pelo que pude presenciar. Numa roda à parte dos convidados estava a nata pesquisadora, entusiasta e escritora sobre a saga do cangaço. Pessoas que acompanham eventos cangacistas onde eles ocorram.

Mesmo adoentado, Alcino Alves Costa, escritor sertanejo de renome nacional, proseava com o também escritor João de Sousa Lima, um pauloafonsino que leva a vida nos passos de Maria Bonita e do Capitão. E para surpresa maior ali também estava o verdadeiro mecenas da literatura nordestina, o Francisco Pereira Lima, mais conhecido como Prof. Pereira.

Archimedes Marques autografa sua obra para João de Sousa Lima
Professor Pereira se faz presente ao Lançamento

Aliás, diz o cartão de visitas do Prof. Pereira que o mesmo é especialista em livros do cangaço, movimentos messiânicos, coronelismo e temas afins. Mas é muito mais, pois responsável pela publicação e reedição de importantes obras sobre tais temas, e que somente através dele puderam chegar ao conhecimento dos pesquisadores e novos leitores. Pois bem, enquanto Alcino, João de Sousa Lima e Prof. Pereira proseavam sobre as trilhas lampeônicas e outras trilhas da história, o delegado e escritor Archimedes Marques autografava livros mais adiante. Aproximei-me com exemplar à mão e logo o mesmo repetia sobre o meu nome também estar constando nas referências bibliográficas, através de artigos e crônicas que subsidiaram a obra.

Contudo, a par da gratidão pelo reconhecimento, o que ouvi ao pé do ouvido só vinha confirmar algo que eu já havia pensado desde o dia que o pesquisador falou-me sobre o lançamento do livro. E confessou-me Archimedes que chegou ao local temendo que um oficial de justiça aparecesse a qualquer instante com uma ordem judicial suspendendo o lançamento da obra. Tinha fundamento a preocupação do escritor, pois o seu livro é praticamente uma contestação, um contraponto a outro livro proibido pela justiça de ser lançado em Sergipe. De autoria do advogado e juiz aposentado Pedro de Morais, o livro “Lampião, o Mata Sete”, até hoje continua sendo objeto de apreciação recursal, vez que um juiz de primeiro grau impediu o seu lançamento.

Acatando ação promovida por familiares de Lampião e Maria Bonita, o livro “Lampião, o Mata Sete” foi proibido de ser lançado. O magistrado de primeiro grau proibiu que o seu teor chegasse ao conhecimento do público por ferir a honra, a imagem, a dignidade, enfim, os direitos da personalidade de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. E tudo porque o livro proibido insinua e tenta provar que o Rei do Cangaço era gay, homossexual. E também que o mesmo não podia gerar filhos e que Maria Bonita o traía com um cangaceiro do próprio bando. E este mesmo seria também o amante de Lampião. Luís Pedro, eis o nome do cangaceiro. Enfim, a história estaria desandada e a família Ferreira desfigurada.

Caipira de Poço Redondo Alcino Costa e João de Sousa Lima no Lançamento
 Neli Conceição presente ao Lançamento de Archimedes Marques

Logicamente que os cangaceirólogos, os pesquisadores do cangaço e grande parte da população nordestina ficaram revoltados com as aleivosias gratuitas, as calúnias e difamações levadas a efeito, sem qualquer fundamento de verdade, contra um dos símbolos maiores da história nordestina e brasileira. Ferir simplesmente por ferir a honra pessoal e familiar daqueles dois, com único objetivo de atrair holofotes, seria algo inaceitável diante da seriedade em que se assenta a história do cangaço.

E lembro como hoje o instante que um amigo de Archimedes chegava ao meu escritório, em nome dele, para xerocar o livro proibido. O autor, amigo do meu pai Alcino Alves Costa, dedicou-lhe o livro antes mesmo de ocorrer a sanção judicial. E o livro estava comigo. E a partir daquele instante Archimedes começou a traçar as linhas da resposta que daria ao embusteiro e mentiroso sobre a vida do rei dos cangaceiros.

Daí ter nascido o “Lampião Contra o Mata Sete”, como confrontação e contestação a tudo aquilo que levianamente fora exposto no “Lampião, o Mata Sete”. E as respostas são apresentadas como se fossem teses derrubando os argumentos apresentados no livro proibido. Quer dizer, as presunções e suposições mentirosas dão lugar a fatos com força de veracidade e fere de morte o invencionismo maldoso e leviano.

E tais teses, apresentadas em capítulos, são: A Origem do Mata Sete e a resposta de Lampião; O porquê da luta de Lampião Contra o Mata Sete; Uma “Malaca” nas orelhas do Mata Sete; Oleone como coiteiro do Mata Sete; O Mata Sete insulta a História, ultrapassa direitos e indigna muita gente; O Mata Sete contra a família Ferreira; O Mata Sete e o “Menino Sapeca”; O Mata Sete e o “Lampião Apaixonado”; O Mata Sete e o suposto “Lampião Eunuco”; O Mata Sete contra os supostos “homossexuais” Virgulino E Zé Saturnino;  O Mata Sete apela ao cangaceiro Volta Seca: O Mata Sete e a misteriosa Tese da Universidade de Sorbonne; O Mata Sete e os seus “armados e amados” policiais volantes; O Mata Sete em proteção às autoridades sergipanas; O Mata Sete e “as travessuras de Maria do Capitão”; A guerreira Maria Bonita transforma paradigmas  e muda o cangaço construindo eterno amor por Lampião; O cabra-macho Lampião se livrando da máscara do Mata Sete; As demais trapalhadas do Mata Sete; Será o fim do mata Sete?

Noutra oportunidade certamente faremos uma análise mais aprofundada sobre o conteúdo e as teses apresentadas pelo delegado Archimedes, autoridade da história que doravante pode se reconhecido como aquele que desmascarou de vez a mentira e jogou-a nos porões do esquecimento.

Rangel Alves da Costa
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

NOTA CARIRI CANGAÇO: Para adquirir a obra do confrade Archimedes, entrar em contato com o email do autor: archimedes-marques@bol.com.br

Recado de Napoleão !

Napoleão Tavares Neves

Anteriormente, já ouvira falar em Aroldo Ferreira Leão, através do nosso amigo comum, Agliberto Bezerra, ambos agregados ao serviço público estadual da Bahia. Através de conversas esparsas, soube ser ele percuciente pesquisador do Cangaço, além de inspirado poeta já de mil estrofes nascidas da sua inspiração sertaneja! Somente isto. Pelo meu inicial entendimento, era ele uma futura estrela da literatura cangaceira que despontava no horizonte do controvertido tema. Tudo bem.

No ano de 2010, um certo dia, recebi em minha residência, em Barbalha, a visita de Aroldo Ferreira Leão que, estando na Estância – Balneário do Caldas, desceu até a cidade para conhecer-me. Veio com a esposa e filha e conversamos a tarde toda. Quanto mais se conversava, mais havia o que se conversar. De logo, vi tratar-se de um exímio comunicador: simpático, comunicativo, extremamente versátil, sabendo na ponta da língua estrofes variadas do cancioneiro popular sertanejo e fatos detalhados da turbulenta cena cangaceira dos sertões. De logo, senti estar ali um notável pesquisador do sempre momentoso tema Cangaço.Após prolongada conversa, no aperto de mão de despedida, veio o que eu não esperava: “O senhor vai prefaciar o meu livro sobre o Cangaço!” 

Mesmo surpreso com o convite, puz-me à disposição do visitante para prefaciar o seu futuro livro. O tempo foi passando, passando e eis que agora, em junho de 2.012, recebi das mãos do amigo comum, Agliberto Bezerra, o “boneco” do livro: “LAMPIÃO: UM ESTUDO DE BUSCAS E ESSÊNCIAS”. De logo, comecei a folhear a grossa e densa brochura e em cada página virada, uma surpresa com muita admiração da minha parte! 
Inicialmente, pincei alguns capítulos ligados ao nosso Cariri, tais como: A morte de Gonzaga, em Belmonte, A morte de Sabino Gomes e outros mais chegados a nós do Sul do Ceará. Com surpresa, notei a verdade histórica “merejando” dos textos escritos pelo arguto autor. Pensei comigo mesmo: esta obra deveria ser prefaciada por Frederico Pernambucano de Melo, ou Ariano Suassuna ou Pedro Nunes Filho... mas, não poderei furtar-me ao atencioso convite do competente autor e eis-me aqui a elaborar o prefácio pedido. 

Aroldo Leão ao lado do inesquecível Ten. João Gomes de Lira

De início, logo no capítulo de abertura do suculento livro, fiquei realmente surpreso com a beleza do texto “O SERTÃO, O SILÊNCIO DOS INSTANTES!”. Que beleza! Dir-se-ai Euclides da Cunha Redivivo, ou Guimarães Rosa Nordestino. Que primor literário, que vivo colorido vernacular! Do autor eu já esperava muito, mas, não tanto! O livro é bom, é intuitivo, é didático, é brilhante! O texto é extremamente rico em metáforas! O vernáculo é primoroso, às vezes condoreiro e até gongórico! A fauna e a flora do sertão foram postadas em cada frase! Os usos e costumes sertanejos parece saltarem de cada capítulo! O vernáculo é escorreito, castiço mesmo! 

Cada tema é exaustivamente debatido, documentado, tudo com as fortes nuances da verdade histórica. A riqueza iconográfica salta aos olhos de cada leitor. O potencial bibliográfico é extremamente abrangente. No livro há cerca de 203 fotos de informantes e entrevistados! Da saída de Lampião das tórridas terras do Pajeú e regiões vizinhas, o inspirado autor diz o seguinte: 

"No dia vinte e três, Lampião, rês que desfez em si os augúrios e arrepios da dexcomunhão, na região do Navio, pernoita no lugar Ponta Fina, com Ponto fino e mais sete cabras. Estava, sem sobras nem dobras, vivenciando as obras do extermínio do bandidismo no Sertão pernambucano. No cano do fuzil confiava, fiava suas ações e deserções, porções de senões a invadi-lo e aturdi-lo sistematicamente. Visivelmente fragilizado, não se entregava a dissuasões, suava, sugava o aroma do abandono, sumia, surgia, em locais os mais variados, antigo balaio baio. Maio o impulsionava para Alagoas, entre mágoas e vagas, nódoas e chagas.”. 

Sintam os leitores como, vez por outra, o poeta emana em cada frase buscando libertar-se do casulo do Cangaço!  Afinal, gostei do livro e o recomendo à leitura de todos os pesquisadores e poetas, curiosos e historiadores. Assim, de parabéns está o competente autor e a literatura cangaceira que incorpora agora mais um profundo conhecedor dos seus ricos e tortuosos meandros, vez por outra navegando nas asas da poesia. 

Napoleão Neves - Médico, Memorialista, Escritor - Barbalha
Conselheiro Cariri Cangaço

NOTA CARIRI CANGAÇO: É sempre um prazer compatilhar com a família Cariri Cangaço as pérolas de Napoleão. Antes mesmo de postar seu prefácio da obra de Aroldo Leão, recebemos do Mestre o simpático email, que transcrevemos a seguir: Prezado Severo, abraços. Recebi para prefaciar um magnífico livro cangaceiro, vindo de Juazeiro da Bahia: "Lampião, Buscas e Essências" do grande poeta e pesquisador Aroldo Ferreira Leão. É um livro para marcar e ficar, extremamente documentado e com 203 fotos de informantes e entrevistados. Pesei o seu 'boneco' hoje e deu 1kg e meio de peso. Veja que trabalheira para o autor e para mim.

Programa da Tv O Povo discute Cangaço Por:Manoel Severo



Ruy Lima comandou o Grande Debate


Na última quarta-feira tivemos a grata oportunidade de participar ao lado dos confrades de GECC-Cariri Cangaço; Ângelo Osmiro, Ricardo Albuquerque e Aderbal Nogueira; do Programa Grande Debate, veiculado pela Tv O Povo e que tem como âncora o jornalista Ruy Lima. O debate teve como ponto principal o livro "Iconografia do Cangaço", orgnizado por Ricardo Albuquerque e que traz um conjunto de imagens da época em que o fenômeno do cangaço imperava pelos sertões nordestinos.

Por mais de uma hora foi possível discorrer sobre vários aspectos ligados a esta mesma iconografia, quando nos detemos por exemplo, sobre a percepção que Lampião possuia "de sua própria imagem" e o quanto o rei do cangaço acabou utilizando-se da mesma, quando compreendeu o magnetismo que exercia sobre a população do sertão; outros aspectos foram abordados, como a presença das mulheres a partir de Maria Bonita, seu papel dentro do bando, o amor, a paixão, a vaidade, enfim.


Ruy Lima, Ricardo Albuquerque, Manoel Severo, Marisa, Aderbal Nogueira e Ângelo Osmiro

Ricardo Albuquerque, o responsável pelo "Iconografia do Cangaço" , nos apresentou todo o cenário que antescedeu a grande saga do mascate Benjamin Abrahão em busca da fama por ser o primeiro a filmar o bando de Virgulino; a presença de avô de Ricardo, Ademar Albuquerque como grande financiador e incentivador da empreitada e todo o rosário durante mais de 15 anos, pelo qual foi submetido o espetacular material colhido pelo secrerário do Padre Cícero.

Ainda com a qualificada participação dos confrades Ângelo Osmiro e Aderbal Nogueira, foi possível discutir sobre as muitas imagens contidas no obra organizada por Ricardo Albuquerque que ainda traz um DVD com os 15 preciosos minutos do que restou das filmagens originais de Abrahão com o bando de Lampião; 4 desses minutos, totalmente inéditos.

A noite foi extremamente agradável, não só pela atmosfera do Programa e talento do grande apresentador Ruy Lima, mas e principalmente pelo oportunidade de levar mais uma vez ao grande público telespectador, um pouco dessa intrigante e sensacional história do cangaço no nordeste. O Grande Debate é veiculado na Tv O Povo de Fortaleza e será reprisado durante a semana em curso.

Manoel Severo
Sócio da SBEC, Diretor do GECC
Curador do Cariri Cangaço

Graciliano Ramos e o Cangaço Por:Honório de Medeiros

Graciliano Ramos por william.com.br


Ricardo Ramos ao ouvir seu pai contar acerca de quando Palmeira dos Índios se armara para enfrentar Lampião, ficara fascinado:“Passara a meninice acalentado pelas estropolias dos cangaceiros, da polícia volante, duas pestes que nos assolavam.” “E (lhe) contei de uma noite, após a ceia, em que, atraído por foguetes, sai à calçada e vi os caminhões, as cabeças cortadas, espetadas em estacas, de Lampião, Maria Bonita e mais dez outros, os soldados empunhando archotes, gritando vitoriosos, um cortejo macabro pelas ruas de Maceió”. 

Graciliano lhe diz:- Eu escrevi sobre isso”.“Não havia lido, era pequeno e estava fora do Rio. Bem depois, ao se reunirem as crônicas de Viventes das Alagoas (título sugerido por Jorge Amado), afinal encontrei “Cabeças”. Ou reencontrei minha antiga visão, bárbara, mas transporta no sarcástico perfil do tenente Bezerra, que se reformou coronel, o falante matador de Lampião, versado em frases feitas, sua retórica elementar de glorificado primário.”

“Havia mais, bem mais. O Fator Econômico no cangaço, crônica da propriedade que se mantém e cresce pela força, com pequenos exércitos de senhores rurais, sedentários, enquanto os cangaceiros se distinguem dos outros facínoras apenas por serem nômades, no regime de produção agrícola da caatinga.” 

Honório de Medeiros, ao lado de Carlos Santos, Vilela e Lívio Ferraz em noite de Cariri Cangaço

"Corisco, uma crônica do diabo louro, seu conterrâneo de Viçosa, filho de decadente família de donos de engenho, forçado a decair, enlouquecido, o pequeno monstro baleado e decapitado, morto quase inédito porque havia a guerra na Europa, tantos crimes. Dois Cangaços, a crônica dos matutos indefesos diante de dois poderes, a volante e o cangaceiro, a primeira muitas vezes obrigando-os à segunda opção, ou o seu reverso, em todo o caso forçando-os a escolher, pela imposição sócia, ou pior ainda, pela econômica.”“E Lampião e Virgulino, que buscam o perfil. Necessariamente fincado no agreste.”

"Graciliano nunca idealizou Lampião. Desde 1926, ao escrever do assédio a Palmeira dos Índios, sem mencionar a sua participação pessoal. Chama-o ‘bicho montado’, ‘horrível’, ‘sanguinário’, diz dele o animal ‘cruel’, que ‘queima fazendas’, capaz ‘de violar mulheres na presença de maridos amarrados’, e ‘se conservara ruim, porque precisa conservar vivo o sentimento de terror que inspira’, enfim ‘vemos perfeitamente que o salteador cafuzo é um herói de arribação bastante chinfrim".

"Por outro lado, não desconhecem a sua projeção lendária. ‘Lampião nasceu há muitos anos, em todos os estados do Nordeste’. E se refere à nossa tradição bandoleira, do remoto Jesuíno Brilhante ao envelhecido Antônio Silvino, para concluir: ‘Resta-nos Lampião, que viverá longos anos e provavelmente vai ficar pior. De quando em quando, noticia-se a morte dele com espalhafato. Como se se noticiasse a morte da seca e da mséria. Ingenuidade." 

Obra citada: “Graciliano RETRATO FRAGMENTADO”; RAMOS, Ricardo; Globo; 2ª edição; 2011; São Paulo.

Honório de Medeiros
Sócio da SBEC - Conselheiro Cariri Cangaço
www.honoriodemedeiros.blogspot.com

Manoel Flor, O Guerreiro do Bem Parte I Por:Junior Vieira

Cel. Manoel Flor

Tem muita coisa que o tempo
Carrega, leva e não trás
Mas algumas sobrevivem,
Ninguém esquece jamais,
Falemos do Coronel
Manoel de Souza Ferraz.
              
Mil novecentos e hum,
A vinte de fevereiro,
Fazenda Campo da Ema
Nasce o nobre brasileiro
E Floresta perfumando
O berço desse guerreiro!

João de Souza Nogueira,
O seu genitor de fé
Era subdelegado
Da Vila de Nazaré
E Dona Angélica Teodora
Sua estimada mulher.
              
Para dar sorte ao menino,
Seu João Nogueira botou:
"Manoel de Souza Ferraz",
O mesmo nome do avô,
E Florência Felismina
de Sá, era a vovó "Flor"!

              
Vamos falar da criança,
Abençoado menino
Que cumprindo a profecia
Ou capricho do destino,
Começa o aprendizado
Onde estudou Virgolino!
             
Veja só como é a vida,
Como o destino é profano,
Dividiram brincadeiras,
Era um viver mano a mano,
Mesma escola e professor
Mestre Domingos Soriano.
              
Com certeza essas crianças
Nesses encontros frequentes,
Nem podiam imaginar
Que depois de independentes
Tornariam-se rivais
Por caminhos diferentes.

Manoel segue o caminho
Em defesa da moral,
Da honra do sertanejo;
Lampião compra punhal,
Bala, fuzil, mosquetão
E segue o caminho do mal!
              
Mas vamos voltar no tempo,
De jegue e de pangaré,
Era o transporte que havia
Pra ninguém andar a pé...
Manoel aos dezesseis anos
Já fundava Nazaré!
              
Aí Manoel Flor tornou-se,
Pelo seu idealismo,
Respeitado e conhecido
Pelo seu grande heroismo,
Por sua luta incansável
Pra acabar o banditismo.

Júnior Vieira

FGF Tv apresenta : Making off - Sedição de Juazeiro


Making Off da Minissérie Sedição de Juazeiro produzida pela Equipe da FGF Tv, sob o comando de Jonas Luis da Silva, de Icapuí  e co-produção da Laser Vídeo do confrade Aderbal Nogueira.

Ricardo Albuquerque lança Iconografia do Cangaço em Fortaleza Por:Manoel Severo

Ricardo Albuquerque autografa "Iconografia do Cangaço"

Foi uma daquelas noites que marcou; não só pelo grande lançamento da mais nova obra de Ricardo Albuquerque - "Iconografia do Cangaço" , sem dúvida um ponto alto dentro da literatura e iconografia sobre a temática; mas e acima de tudo pela oportunidade de abraçar um grande amigo, um grande carater, que é Ricardo Albuquerque.

O lançamento do Livro; acontecido na noite de ontem, 21 de junho, no Restaurante L'O na Praia de Iracema em Fortaleza; foi um presente para todos os que pesquisam, estudam e são afixionados pela história do Cangaço. Além do zêlo demonstrado pelo organizador, reunindo além de farto material, entre fotografias; muitas delas pertecente ao seu próprio acervo, resultado da ousadia de seu avô, Ademar Albuquerque juntamente com o árabe Benjamim Abrahão, também nos traz artigos que de forma lúcida e clara passam ao leitor um pouco do que representou o fenômeno do cangaço dentro da cultura de nosso nordeste.

A Obra
Ângelo Osmiro e Ricardo Albuquerque
Manoel Severo e Wilton Dedê
Afrânio Cisne e Antônio Tomaz
Casal Ezequias Aguiar

Ricardo Albuquerque é uma dessas pessoas que se guarda no lado esquerdo do peito; pela retirão, cordialidade e principalmente pela generosidade com a qual trata seus amigos. Por ocasião do lançamento de seu livro, reuniu uma infinidade de amigos, confrades que pesquisam o cangaço, admiradores das coisas nordestinas, fotógrafos, cineastas, escritores, pesquisadores, enfim, todos reunidos para abraçar mais uma grande iniciativa de sucesso. 

Ricardo Albuquerque autografa sua obra para Wolney Oliveira e Wilton Dedê

O evento contou ainda com a apresentação da obra e uma pequena amostra do que vamos encontrar no livro, sob a responsabilidade do Presidente do GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, Conselheiro Cariri Cangaço e colaborador da obra, escritor Ângelo Osmiro. Ao final ficou a certeza da chegada às livrarias de mais uma grande obra que veio para engrandecer o universo do estudo e pesquisa do tema, valeu amigo Ricardo, parabens.

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço

Dominique e Gonzagão Por:Assis Ângelo

Dominique Dreyfus

Do poeta e pesquisador da história do cordel Arievaldo Viana, eu acabo de receber cópia de entrevista da francesa Dominique Dreyfus dizendo que antes dela nenhum brasileiro havia escrito livro algum sobre o rei do baião, Luiz Gonzaga.Essa fala nos induz a crer que mais uma vez um estrangeiro descobre o Brasil.
 
De estranhar, não é? 
De estranhar inclusive porque a própria Dominique - que recebi na minha casa - leu e fez uso natural do livro Eu Vou Contar Pra Vocês, de minha autoria e que lancei em noite de festa no extinto teatro das Nações seis anos antes de ela publicar Vida do Viajante: A Saga de Luiz Gonzaga. 

Dita como foi, a declaração soa no mínimo como um desrespeito ao escritor Sinval Sá, que em 1966 escreveu e publicou O Sanfoneiro do Riacho da Brígida, Vida e Andanças de Luiz Gonzaga, essencial para se compreender cada vez mais e melhor o Rei do Baião. Desrespeito também ao poeta-vaqueiro Zepraxédi, o primeiro a contar a história de Gonzaga, em versos, em 1952. E ainda a José de Jesus Ferreira, que lançou Luiz Gonzaga Rei do Baião, Sua Vida, Seus Amigos, Suas Canções, pouco antes de mim.

De surpreender ainda é o fato de constar na bibliografia de A Vida do Viajante referência aos livros O Sanfoneiro do Riacho da Brígida, Luiz Gonzaga Rei do Baião, Sua Vida, Seus Amigos, Suas Canções e Eu Vou Contar Pra Vocês; e à pág. 13 o meu nome, à guisa de agradecimento e apoio. 

No link a seguir a entrevista. Clique:
http://www.acordacordel.blogspot.com/



Semana passada estive em Brasília, para somar falas com Arievaldo Viana e Sinval Sá num especial sobre o Rei do Baião, que está sendo feito por uma equipe de profissionais da TV e Rádio Câmara (parte da equipe no clic de Andrea Lago, acima). O especial deverá ir ao ar no próximo 2 de agosto, dia do seu desaparecimento em Recife.
 
Assis Ângelo
Fonte: http://assisangelo.blogspot.com.br/
Cortesia do Envio - Kydelmir Dantas

A Outra Face do Cangaço, de Vilela Por:Wescley Rodrigues

Wescley Rodrigues e Antônio Vilela

No último dia 12 de junho, na cidade de Mossoró – RN, durante o XIV Fórum do Cangaço, foi lançado o livro: “A outra face do cangaço: vida e morte de um praça”, escrito pelo pernambucano de Garanhuns, Antonio Vilela de Souza, um entusiasta dos estudos do cangaço e perseguidor dos relatos pertinentes a essa temática.

A obra versa sobre a vida do soldado da Força Volante alagoana, Adrião Pedro de Souza, nascido em 1 de março de 1915 e falecido no dia 28 de julho de 1938, na Grota do Angico. Adrião foi o único soldado morto por ocasião do ataque que resultou no extermínio do cangaceiro Lampião, sua companheira Maria Bonita e mais nove cangaceiros.

A princípio parece ser mais um livro sobre o cangaço, mas é interessante perguntarmos: “Qual o diferencial da obra?”. Vilela trouxe a tona à história desse soldado que simplesmente, por longos anos, foi esquecido por aqueles que contaram a história do cangaço. Fica a questão: “Mas por que isso aconteceu, haja vista a história ser quase sempre contada pela ótica dos vencedores?”. Aí está o ponto crucial do trabalho de Vilela. Partindo dessa interrogação pulsante, do por que do total extermínio do nome de Adrião dos “anais oficiais da história do cangaço”, ele levanta conjecturas e hipóteses interessantes e por vezes polêmicas. Mexe com feridas até hoje problemáticas quando se fala em cangaço.

Antônio Vilela, Múcio Procópio e Wescley Rodrigues no lançamento da noite

No bojo da obra o autor retoma a questão da amizade de João Bezerra, comandante da força de extermínio de 1938, e Lampião; trazendo depoimentos os quais corroboram na apresentação de João Bezerra como um “coiteiro” de Lampião e fornecedor afinco de munição. Para boa parte das afirmativas da sua obra Vilela baseou-se nos depoimentos dos ex-volantes Sargento Elias Marques e o Sargento Antonio Vieira.

O bombástico do trabalho gira em torno da questão de ter sido Adrião morto pelo tenente João Bezerra, o qual tinha uma divergência com o soldado por compartilharem o desejo pela mesma mulher, Maria Lyra. Além do mais, no depoimento do Sargento Elias Marques, ele afirmou ter ocorrido um desentendimento entre Adrião e Bezerra, devido o primeiro ter levantado suspeitas da amizade entre Bezerra e Lampião.

Placa em homenagem ao soldado Adrião, recentemente fixada na Grota do Angico

A obra de Vilela tem muitas minúcias que merecem maior questionamentos, uma maior reflexão, sendo um livro que serve de trampolim para um enveredar mais consistente nas questões propostas pelo autor. Tendo a obra um caráter narrativo biográfico, Vilela leva-nos a refletir, mediante a apresentação de sua documentação, se teria sido realmente João Bezerra o responsável pelo assassinato de Adrião. Fica a questão...

O livro é ousado. Uma crítica que levanto é a questão da perseguição do autor em tentar apresentar Adrião como um herói e os cangaceiros como bandidos. Acredito não ser esse o caminho. Adrião morreu cumprindo o seu trabalho, no entanto, isso não o qualificaria como herói no último patamar. Evidente ter sido o soldado injustiçado pela história, principalmente por João Bezerra que colocou em Angico uma cruz homenageando os cangaceiros mortos, mas esqueceu do seu colega de armas.

Tirando essa exacerbação da heroicidade de Adrião, fica a título de sugestão para a próxima edição, um maior aprofundamento sobre a relação de João Bezerra e Adrião e o primeiro e Lampião. Isso seria uma grande contribuição para os estudos do cangaço. Como conclui o autor: “O bravo soldado Adrião Pedro de Souza, teve duas mortes: a do fogo amigo – morto por um companheiro de farda; e a do esquecimento – pelo injustificável [...] esquecimento histórico” (SOUZA, 2012, p. 58).

O revisitar a história, por vezes, nos permite se redimir com esta, fazendo justiça aos silêncios, lacunas e esquecidos do tempo. Os novos olhares sobre Angico vêm como luzes profícuas e elucidações de um capítulo conturbado e mal entendido dos estudos do cangaço. Parabéns a Vilela, pela determinação e coragem.

Prof. Ms. Wescley Rodrigues
Sócio da SBEC
Sousa – PB

Sobre a morte do soldado Adrião, ver também artigo de Paulo Britto, neste mesmo blog:
http://cariricangaco.blogspot.com.br/2011/06/homenagem-ao-soldado-adriao-parte-i-por.html