Páginas

Câmara Cascudo, Frederico Pernambucano de Mello, e o "Escudo Ético" Por:Honório de Medeiros


Como sabemos, a famosa “Teoria do Escudo Ético” de Frederico Pernambucano de Mello está exposta em três parágrafos do capítulo 4 do clássico "Guerreiros do Sol", abaixo transcritos a partir de sua segunda edição:
"Muito se tem falado nos paradoxos da chamada moral sertaneja. No Nordeste, talvez melhor que em qualquer outra região, sente-se a existência desse quadro de valores - inconfundível em muitos dos seus aspectos. Chega a ser quase impossível, por exemplo, explicar ao homem do sertão do Nordeste as razões por que a lei penal do país - informada por valores urbanos e litorâneos que não são os seus - atribui penas mais graves à criminalidade de sangue, em paralelo com as que comina punitivamente para os crimes contra o patrimônio. Não se perdoa o roubo no sertão, havendo, em contraste, grande compreensão para com o homicídio. O cangaceiro - vai aqui o conteúdo mental do próprio agente - não roubava, "tomava pelas armas"."
"Dentro desse quadro todo próprio, a vingança tende a revestir a forma de um legítimo direito do ofendido. "No sertão, quem se não vinga está moralmente morto", repitamos mais uma vez a frase tão verdadeira de Gustavo Barroso, conhecedor profundo desse paralelismo ético sertanejo."
"Ao invocar tais razões de vingança, o bandido, numa interpretação absurdamente extensiva e nem por isso pouco eficaz, punha toda a sua vida de crime a coberto de interpretações que lhe negassem um sentido ético essencial. A necessidade de justificar-se aos próprios olhos e aos de terceiros levava o cangaceiro a assoalhar o seu desejo de vingança, a sua missão pretensamente ética, a verdadeira obrigação de fazer correr o sangue dos seus ofensores. O folclore heroico, em suas variadas formas de expressão, imortalizava-o, omitindo eventuais covardias ou perversidades e enaltecendo um ou outro gesto de bravura. Concretizada a vingança, por um imperativo de coerência estaria aberta para o cangaceiro a obrigatoriedade de abandonar as armas, deixar o cangaço. Já não teria mais a socorrer-lhe a imagem o escudo ético por esta representado. Como então realizar tal vingança, se o cangaço era um bom meio de vida?"


Já tive oportunidade de observar que o “escudo ético” não é propriamente um epifenômeno da cultura moral sertaneja nordestina, muito menos apenas do cangaço. Essa opinião é corroborada, como se pode depreender, a partir da entrevista de Anthony Daniels à revista "Veja" de 17 de agosto de 2011 - edição 2230, ano 44, nº 33 -, na qual o psiquiatra e escritor inglês, ao analisar a influência da tese do suíço Jean Jacques Rousseau de que o ser humano é fundamentalmente bom, e que a sociedade o corrompe, afirma que esta prejudicou profundamente sua noção de responsabilidade: "Por influência de Rosseau, nossas sociedades relativizaram a responsabilidade dos indivíduos."

Como digo sempre: a realidade está na mente, antes de estar na realidade. Trocando em miúdos: o racional antecede, em última instância, o real.
E continua: "O pensamento intelectual dominante procura explicar o comportamento das pessoas como uma consequência de seu passado, de suas circunstâncias psicológicas e de suas condições econômicas. Infelizmente, essas teses são absorvidas pela população de todos os estratos sociais. Quando trabalhava como médico em prisões inglesas, com frequência ouvia detentos sem uma boa educação formal repetindo teorias sociológicas e psicológicas difundidas pelas universidades. Com isso, não apenas se sentiam menos culpados por seus atos criminosos, como de fato eram tratados dessa maneira."

Frederico Pernambucano de Mello
Exemplifiquei, em texto anterior, citando o exemplo ocorrido neste começo de século XXI, aqui no Rio Grande do Norte, e que já virou lenda, no qual se atribui a injustos mal tratos físicos da Polícia, o ingresso do célebre Valdetário Benevides Carneiro, líder do bando dos Carneiros, no crime. "Como não há justiça" teria dito em outras palavras Valdetário, "vou fazer a minha."
Ou seja: há o escudo ético, mas ele não é específico da moral sertaneja nordestina. Parece ser um epifenômeno decorrente da criminalidade, seja rural, seja urbana, não sendo suporte, portanto, para uma teoria que caracterize o epifenômeno do cangaço.
Por outro lado, especificamente no que concerne a essa famosa “teoria do escudo ético” de Frederico Pernambucano de Mello, é certo lembrar que Câmara Cascudo, em 1937, no seu “Vaqueiros e Cantadores”, já o expunha, no que diz respeito ao cangaço, quando no Capítulo denominado “Ciclo Social”, trata do “Cangaceiro”.
Para Cascudo, ao explicar por que a valentia, quanto aos cangaceiros, originava a “aura popular na poética” dos cantadores, necessário se fazia a existência, como pressuposto, do fator moral, que nada mais era que o “escudo ético”. Disse Cascudo:
“Para que a valentia justifique ainda melhor a aura popular na poética é preciso a existência do fator moral. Todos os cangaceiros são dados inicialmente como vítimas da injustiça. Seus pais foram mortos e a Justiça não puniu os responsáveis.
Teria lido Pernambucano de Mello “Vaqueiros e Cantadores”? Na bibliografia de “Guerreiros do Sol” o grande teórico do cangaço arrola, de Câmara Cascudo, “Tradições Populares da Pecuária Nordestina” e “Viajando pelo Sertão”. O mais provável é que ambos souberam perceber, com quase cinquenta anos de diferença, na história da violência rural sertaneja nordestina do final do século XIX e início do século XX, esse fato específico, qual seja, a justificativa moral para a entrada dos cangaceiros na vida bandida.
A diferença é que Pernambucano de Mello transforma esse fato em algo determinante para explicar o cangaço, enquanto Cascudo propõe que o mesmo fato é fundamental para a existência da poética sertaneja nordestina de mitificação do cangaceiro
Honório de Medeiros - www.honoriodemedeirosblogspot.com.br
Conselheiro Cariri Cangaço

O Paraíso de Dona Fideralina: Sítio Tatu Por:Manoel Severo

 
 O Sítio Tatu de dona Fideralina Augusto Lima

Lavras da Mangabeira é um município encantador. Encravado na região sul do estado do Ceará, um dos grandes do Vale do Rio Salgado, acolheu a  primeira Avant-Premiére do Cariri Cangaço 2013, nos últimos dias 18 e 19 de maio, promovendo uma grande festa onde imperaram as fortes tradições da família Lavrense, tendo como personagem principal Fideralina Augusto Lima.

Entre o final do século XIX e início do século XX, Dona Fideralina comandava a partir de Lavras, os destinos de toda região. Possuía dois verdadeiros quartéis generais: Sua casa no centro de Lavras e seu amado Sítio Tatu. 

  A Emblemática Casa Grande do Sítio Tatu, berço dos Augustos. Abaixo, ao lado de Manoel Severo, um dos descendentes:Emerson Monteiro.

A Caravana Cariri Cangaço tendo como anfitrião o prefeito Tavinho e a secretária de cultura Cristina Couto partiu da visita à Casa de Dona Fideralina no centro de Lavras rumo ao emblemático Sítio Tatu. Percorremos cerca de 8 km, primeiro pela CE e depois em estrada carroçável  até nos surpreendermos com um verdadeiro paraíso: Tatu.

A primeira imagem, na entrada da fazenda: A Capela em ruínas, como podemos acompanhar na postagem imediatamente abaixo. Mantendo-se firme ainda a fachada, guardava no alto de sua pequena torre o velho sino de cobre. Neste momento me confidenciava um dos trinetos de Fidera, Emerson Monteiro: "Severo nasci aqui e passei boa parte de minha infância brincando nesta capelinha, momentos inesquecíveis". 

 O Tatu encanta pelos detalhes: O sertão de nosso chão é cheio de magia e beleza como a testemunha muda da pequena vela no crucifixo do "terreiro da Casa Grande"
 

Realmente momentos inesquecíveis; daqueles que povoam as mentes e os corações dos muitos meninos sertanejos de nosso torrão nordestino, mas momentos inesquecíveis também para cada um de nós que estávamos tendo o prazer de pisar aquelas terras que guardavam tanta história, memória e tradição.

Só não esperávamos tanta beleza ! O Sítio Tatu com sua Casa Grande, Capela, Estábulo, Casa de Apoio, o Velho Engenho, o Açude, as Árvores frondosas, enfim; as imagens desta postagem mostram aos nossos leitores a razão de termos usado letras maiúsculas à cada item citado...

Clã dos Augusto do século XXI. Memória e tradição em Lavras da Mangabeira
Ângelo Osmiro na varanda de Fideralina

Nos surpreendeu também sobremaneira a grande mobilização feita em toda a cidade por conta do Cariri Cangaço; nessa visita ao Sítio Tatu chegamos a ter nos acompanhando cerca de 250 pessoas, o que em muito confirmou o grande compromisso da organização local do evento sob os cuidados da equipe de Cristina Couto.

Ponto alto da visita foi a fotografia histórica dos descendentes de dona Fideralina Augusto Lima, presentes ao evento, diante da Casa Grande do Sítio Tatu. Ali estavam cerca de 40 familiares do tronco legítimo dos Augusto, fato que nos deixou verdadeiramente honrados.

Ana Paula Monteiro e o velho engenho da fazenda
 Abaixo, Alberto Teixeira e o carro de boi do Tatu

Ao final ficou a certeza da grande força e do grande simbolismo daquele lugar e daquela brava gente. Lavras da Mangabeira como todo o Vale do Salgado e do nosso Cariri dignificam com sobra, a história de nosso sertão; desse povo forte e de alma pujante; do amado Ceará. Valew Lavras da Mangabeira, que venha agora o Cariri Cangaço Parayba !

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço  


Capela do Sítio Tatu Por:Manoel Severo

Capela do Sítio Tatu em Lavras da Mangabeira

Euclides da Cunha autor de “Os Sertões”, já vaticinava:"O sertanejo é antes de tudo um forte..." Na verdade, quem anda por entre as trilhas do sertão e das terras áridas da mata branca - caatinga, vendo de perto o habitat desses homens e mulheres de pele queimada pelo sol, sabe que boa dose dessa fortaleza nasce da fé. 

Falar do povo do sertão é olhar a sua fé. O zelo, o respeito em sua devoção faz o homem nordestino encontrar forças para a lida diária de uma terra que muitas vezes lhe parece ingrata, mas que ele ama e ama, acima de qualquer coisa, daí o poeta cantar: "Só deixo o meu cariri no último páu de arara". Essa é a mesma fé que move montanhas, é a fé manifestada nos arraiais das fazendas e nas belas e singelas capelas de nosso sertão, como no Sítio Tatu.

Prefeito de Barbalha, José Leite e esposa, presentes ao Cariri Cangaço Lavras da Mangabeira

A história do nosso nordeste, do nosso Ceará e do nosso sertão tem laços indissociáveis com essa magnânima fé. A religiosidade sertaneja traduzida no cotidiano das fazendas e sítios do sertão construiam passo a passo o destino de todo um povo. Ao chegar no Sítio Tatu, a bela Capelinha no alto de um pequeno elevado nos dava as boas vindas como que reverenciando essa mesma fé.

O Brasil é esta nação inigualável marcada pela imensa e maravilhosa colcha de retalhos culturais onde pontua de forma sagrada o sincretismo religioso. Convivem por essas terras os cultos cristãos, as manifestações dos povos africanos e dos irmãos indígenas, aqui na Capela do Sítio Tatu, quase conseguíamos ouvir os cantos gregorianos das santas missas e o agudo surdo contido na oração dos escravos, de um tempo não muito distante, de magia e encantamento, onde novamente a fé ia palmilhando os caminhos de todos...

Múcio Procópio e o Prefeito de Lavras, Gustavo Augusto Bisneto na visita ao Tatu

Emerson Monteiro e Capela de sua infância

A chegada ao Sítio Tatu e à sua capela não marcava apenas o inicio de mais um domingo de festa ou de mais um evento do Cariri Cangaço em Lavras da Mangabeira; na verdade marcava sobretudo o encontro de cada um de nós com a fé misteriosa e forte desse mesmo sertanejo de Lavras, do Cariri, do Ceará, do Nordeste...do Brasil.

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço

Casa do Clã Augusto: Ícone da história e memória de Lavras

Emblemático Casarão dos Augusto no centro de Lavras

Bem no centro de Lavras da Mangabeira; geograficamente onde deveria está, e onde se localizam todas as Casas dos grandes potentados locais dos mais diversos rincões de nosso sertão do final do século XIX e inicio do século XX. Estrategicamente encravada em uma das principais ruas do centro da cidade, a pouco metros da Igreja matriz e dos principais prédios públicos do lugar, se ergue o cenário onde foram definidos boa parte dos atos que determinariam a vida e a morte no sul do estado do do Ceará por muitos e muitos anos: A Casa de dona Fideralina, do Clã dos Augusto.

Manoel Severo e prefeito Gustavo Augusto Bisneto

Alberto Teixeira, Manoel Severo e o prefeito d Barbalha, José Leite na visita à Casa de Dona Fideralina

De equina e sob uma leve inclinação de relevo, a Casa do Clã Augusto no centro de Lavras, guarda memórias de um tempo em que a lei e a ordem eram definidas pelo humor e a força do bacamarte. Por ali e também  no sítio Tatu, dona Fideralina decidia os destinos de Lavras com mão de ferro, fazendo se perpetuar no poder sua prole, seus parentes e afilhados políticos.
 
O prefeito Tavinho, trineto de dona Fideralina , Bismarck Oliveira e o Bacamarte que pertenceu à matriarca de Lavras da Mangabeira.

Nós que estudamos a temática do coronelismo e nos aprofundamos nas maravilhosas e intrigantes histórias do sertão de nosso Ceará e do nordeste, não poderíamos deixar de sentir o forte magnetismo contido por entre aquelas paredes, móveis e utensílios seculares. Cada recanto e cada canto da casa dos Augusto parecia nos trazer cenas irretocáveis da tradicional história lavrense tão bem delineadas pelo poeta maior Dimas Macedo em sua conferência da tarde anterior.

E o grande Dimas Macedo nos provocava  a imaginação: "Severo desta janela os homens do Coronel Gustavo rechaçaram os jagunços de Quinco Vasques na invação de Lavras no começo do século passado..." E me veio a memória um embate de Titãs; de um lado a força inegável e a valentia de um clã como o dos Augusto, do outro lado a coragem, beirando a loucura de um outro personagem emblemátcio de nosso Cariri: Quinco Vasques do Clã dos Terésios de Santa Terteza. Novamente tínhamos nas mãos a oportunidade de reviver momentos heróicos de homens e mulheres que escreveram, muitas vezes com sangue, a história do Cariri do Ceará.

Presidente do GECC -Ângelo Osmiro, o escritor mirim, Ezequiel e o poeta maior Dimas Macedo
Afrânio Mesquita e escada que leva aos aposentos superiores da Casa
João Lemos, Dimas Macedo e Bismarck Oliveira

Visitar a casa dos Augusto, no centro de Lavras, é voltar ao passado. A Casa recem adquirida por um de seus trinetos; o deputado Heitor Ferrer; mantem-se com o um Museu, onde nas paredes vamos encontrar magnifico material iconográfico de toda a família, desde o casal Ildefonso e Fideralina, passando pelos filhos, netos, bisnetos até as gerações atuais. Muitos móveis são de época, e ainda tivemos a oportunidade de ver um bacamarte pertencente à família e os brincos que foram de dona Fideralina.

 Manoel Severo e Dimas Macedo em vista a Casa de Fideralina
Destas janelas homens da família Augusto rechaçaram homens de Quinco Vasques
Prefeito de Barbalha, José Leite, descendente dos Terésios , visita à Casa dos Ancestrais de sua esposa, os Augustos.
Emerson Monteiro, outro trineto de dona Fideralina e os brincos da Matriarca sob a guarda da secretária Cristina Couto.

Sem dúvidas a visita a tão importante cenário histórico nos encheu de satisfação, honra e entusiasmo, nos dando a certeza de que vale a pena desenvolver esforços na direção do fortalecimento da memória e tradições de nosso terra e de nossa gente. O Cariri Cangaço Lavras da Mangabeira em sua primeira Avant Premier, sente o dever cumprido. Só nos resta louvar o espetacular trabalho do prefeito Tavinho e da inigualável Secretária de Cultura Cristina Couto, verdadeiros gigantes  na defesa do que temos de mais precioso: Nossa história.

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço

Domingo de Festa em Lavras da Mangabeira para o segundo dia de Cariri Cangaço 2013

 
Manoel Severo passa às mãos do Prefeito Gustavo Augusto Bisneto o Título de "Amigo do Cariri Cangaço" 

O domingo, dia 19 de maio amanheceu ainda mais festivo em Lavras da Mangabeira. O segundo dia da Avant Premier "Entre Canetas e Bacamartes" marcou a visita histórica ao Sítio Tatu e à casa do Clã Augusto, emblemáticas propriedade de dona Fideralina e cenário de todos os mais importantes acontecimentos e decisões do vale do Salgado entre o final do século XIX e o início do século XX.

Ainda no começo da manha a caravana Cariri Cangaço  foi recepcionada pelo prefeito Gustavo Augusto Bisneto no Paço da prefeitura municipal, quando foi passado às sua mãos o Diploma de Amigo do Cariri Cangaço pelo Curador do evento, Manoel Severo Barbosa.

 Aguiar Caçula e Aurineide Aguiar, anfitriões Cariri Cangaço em 2014, e o prefeito Gustavo Bisneto
 Manoel Severo, Ângelo Osmiro, Casal Gustavo Augusto e Haroldo Felinto

Dali os participantes e convidados da municipalidade seguiram para os principais pontos de visitação histórica da cidade.

Cariri Cangaço

Rever minha terra Por:Emerson Monteiro


Em visita à casa dos meus avós, em Lavras da Mangabeira, ao Sítio Tatu, onde um dia vim ao mundo. Nas movimentações típicas de festas coletivas bem conduzidas, participamos do Cariri Cangaço, capítulo de promoção periódica da Sociedade Brasileira do Cangaço, entidade de pesquisa antropológica que, no corrente ano de 2013, envolve estudos da força marcante de Dona Fideralina Augusto Lima, a matriarca da família Augusto, à qual pertenço, nos capítulos da ancestralidade cearense.
Logo cedo, neste domingo 19 de maio, juntamente com Igor, meu filho, e Antônio Nirson Segundo, meu primo, chegávamos, através da Rodovia Padre Cícero, à luz da manhã na Praça, que convidava a fotografar o monumento da Igreja de São Vicente Ferrer, beleza de construção católica.


Emerson Monteiro e Múcio Procópio em visita a Casa de Fideralina

Depois, já no prédio da Prefeitura, encontrávamos Gustavo (Tavinho) Augusto, Cristina Couto, Manoel Severo, Dimas Macedo, João Lemos, José Leite, outros mais, parentes, amigos lavrenses, prenúncio das intensas emoções que viveria durante as horas dessa caminhada.
Em seguida, faríamos visita à casa de Bahia (Maria Correia), sobrado de esquina sede antiga do clã na cidade aos tempos de antanho, lugar mantido com qualidade pelos responsáveis pelo patrimônio histórico do município. Sobrado de esquina ao estilo característico da aristocracia interiorana do Sertão, herança da arquitetura portuguesa colonial.
Havia boas dezenas de visitantes à atividade cultural da promoção do Cariri Cangaço, que visa sobremodo preservar valores antropológicos do feudalismo nordestino do século XIX e primeira metade do século XX.


Ruínas da Capela do Sítio Tatu
Emerson Monteiro em visita ao Sítio Tatu no Cariri Cangaço 2013
O andamento das atividades, que haviam iniciado no dia anterior com palestra do escritor e membro da Academia Lavrense de Letras Dimas Macedo, além de outros eventos, rumou ao Tatu, fazenda onde vivera Fideralina, local do meu nascimento.
As marcas da história persistem em cada detalhe da consistente paisagem sertaneja. Ao lado de onde fora a casa dos meus pais, as ruínas da reconstrução da capelinha. Entre os presentes que circulavam os cômodos da casa grande, morada dos meus avós Amâncio e Lidia durante mais de 50 anos, encontrei Ismária Batista, a esposa de Tio Gustavo, meu padrinho de crisma, e meus primos Tales e Gláuber Leite, acompanhados de filhos e dos remanescentes humanos de quem fizera a rotina do sítio ao tempo quando lá vivi, familiares de Compadre Hipólito Sousa: Altina, Manoel e Zuca. Uma festa de boas emoções próprias da amizade que dedico às primeiras paragens neste chão. Por isso tudo de hoje, ora consigno estas avaliações rápidas dos momentos culturais dignos de abençoada terra mãe.
Emerson Monteiro 

O espetacular Boqueirão do Rio Salgado


O primeiro compromisso da Caravana Cariri Cangaço no segundo dia em Lavras da Mangabeira foi visitar o famoso Boqueirão do Rio Salgado; um cenário realmente espetacular encravado em uma pequena chapada formado um canyon sensacional por onde passam "todas as água do cariri". O boqueirão do Rio Salgado encanta pela beleza e pelas suas lendas. Uma visita imperdível.

 Juliana Ischiara
 Imagens do majestoso Canyon no rio Salgado
Chegada da caravana Cariri Cangaço

Boqueirão do Rio Salgado, também chamado Boqueirão de Lavras ou simplesmente Boqueirão é uma pequena chapada dividida por um  boqueirão em meio à depressão sertaneja localizada no município de Lavras da Mangabeira, no nosso estado do Ceará. Possui uma gruta homônima em sua parte alta, que é cercada de curiosas lendas. O nome provêm do fato de esse relevo sedimentar encravado no sertão ser uma chapada residual, formada há milhares de anos, e que foi sendo erodida pela ação das águas do Rio Salgado, deixando uma fenda por onde corre o leito deste, numa espécie de canyon, lembrando uma "grande boca" na linguagem popular. 

 
 O professor Istvan Major, levando as experiências vividas no Cariri Cangaço para a Europa

O termo boqueirão, por sua vez, também designa, na Geografia do Brasil, qualquer espaço de divisão num acidente geográfico (serras, chapadas, depressões ou planícies).O Boqueirão se localiza numa área de ecótono entre dois biomas: caatinga e cerrado. Logo, tanto nele quanto em áreas adjacentes existem plantas comuns aos dois ecossistemas. 

 Boqueirão do Rio Salgado em Lavras da Mangabeira


Vamos recorrer ao amigo Calixto Junior para remontar a primeira registro histórico escrito sobre esse espetacular cebário em nossa Lavras da Mangabeira: 

"O Poeta Gonçalves Dias, alcandorado, assim descreve conjuntamente a passagem: "(...) demoramo-nos no Boqueirão, ponto notável por ter ali o Rio Salgado solapado um travessão de rocha silicosa, que corria perpendicular ao rio e servia de dique; com o tempo foram desabando aos poucos os fragmentos desagregados por numerosas fendas verticais com coisa de 120 palmos de altura; e em meia altura na direção das camadas desapegaram-se lascas, que pela decomposição eram esbroadas e despeadas no rio pelas águas infiltradas na rocha, do que resultou uma caverna que se vai estreitando para dentro com 300 palmos de profundidade; nos dois terços do seu comprimento, apagam-se as luzes; para poder penetrar até o fundo ascendeu-se uma fogueira com capim seco (...)"

Por: João Tavares Calixto Jr em: http://lavrasce.blogspot.com.br

Manoel Severo

Galpão das Artes em noite de Festa para o Cariri Cangaço em Lavras

Antiga Estação Ferroviária de Lavras, onde hoje funciona o Galpão das Artes e Secretaria de Cultura, anfitriã do Cariri Cangaço.

O Galpão das Artes; equipamento cultural que tem sede na antiga Estação Ferroviária de Lavras da Mangabeira e hoje é sede da Secretaria da Cultura, recepcionou a noite festiva do Cariri Cangaço em sua Avant Premier. Sob o comando de Cristina Couto se apresentaram grupos de Orquestra de Flautas, Capoeira e Forró Pé de Serra. Durante toda a noite os convidados do Cariri Cangaço e as famílias Lavrenses vivenciaram uma festa genuinamente nordestina.

Aguiar Caçula, Aurineide e família Professor Pereira
Dimas Macedo entre José Cícero e dona Cláudia

O ponto alto da noite foi o lançamento da Coleção Cariri Cangaço por Grupo de Artesãos locais com o apoio do SEBRAE. A coleção consta de camisas, camisetas, bornais e sacolas, todas bordadas a mão, tendo um produto final simplesmente maravilhoso e cheio de charme com a marca Cariri Cangaço.


Para o Curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo "chegar a Lavras e encontrar esta verdadeira obra de arte por parte dos artesãos locais com o apoio do SEBRAE foi um grande presente; cada peça tão cheia de detalhes e riqueza, sinceramente foi uma grande surpresa, o Cariri Cangaço agradece e parabeniza a todos os artesãos pelo trabalho de incomum beleza".

 Messias lima, Prof Pereira, dona Fátima, Sousa Neto e Múcio Procópio
 Orquestra de Flautas
Caravana Cariri Cangaço

Já Cristina Couto, secretária de cultura de Lavras, comentou: "Não tenho palavras para agradecer aos amigos o empenho e disponibilidade no evento Cariri Cangaço - Entre Canetas e Bacamartes. Toda a equipe da Economia Criativa não mediu esforços, cada um ajudou dentro da sua capacidade e conhecimento, e da forma que pode. Como disse Ivaneida Torquato quase que deixou ela doida e ela quase enlouqueceu Zé de Pedro Oliveira e as artesãs. Parabens!!! "