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Matriarcas do Sertão: Marica e Fideralina no Cariri Cangaço Por:Jose Cícero

Kiko Monteiro ao lado de José Cícero


"Foram elas matriarcas semi-lendárias, proprietárias de terra e gado no interior do sertão longe das pretensões fidalgas das Casas Grandes da zona açucareira. Levavam uma vida rústica relativamente distante dos padrões culturais europeus que, na época, moldavam as sociedades do litoral nordestino. No sertão, exerciam grande poder de liderança, tendo controle total de seus feudos regionais".   
In Rachel de Queiroz e Heloisa Buarque de Hollanda
Num tempo em que a figura da mulher invariavelmente era sinônimo de submissão, dado um regime patriarcal que praticamente a relegava a uma posição inferior não apenas nos sertões nordestinos. Porquanto, seu papel social era, por assim dizer, quase que exclusivamente familiar, ou seja, apenas o de gerar filhos aos seus varões e dá conta dos afazeres domésticos. Mas eis que, contrariando esta regra, nos sertões do Cariri cearense surgiram duas mulheres que logo passariam à história como personagens que desafiariam os padrões, assim como a arrogância dos chamados coronéis. Mas  também os imitariam em seus modus operandi trazendo para si o status quo de toda uma época no que tange ao seguimento à risca da velha cartilha atinente a lida sertaneja. Duas mulheres ousadas e valentes. Duas matriarcas, cuja coragem e determinação as fizeram poderosas, temidas e respeitadas, inclusive  pelos potentados de então. Tanto que suas ordens, palpites e conselhos tinham em seus territórios,  verdadeira força de lei. 

Trata-se de Fideralina Augusto Lima  em Lavras da Mangabeira e Maria da Soledade Landim – ‘Marica Macedo’ do Tipi em Aurora. Tão famosas que até hoje, muitos ainda se admiram diante dos seus feitos e suas histórias, ao passo que alguns até as chamam de “os coronéis de saia” do Cariri. Mas, o certo é que, sem ranço de qualquer medo, ambas foram consideradas  mulheres  do seu tempo. De tão notórias e palpitantes  as história e estórias relacionadas a estas duas bravas sertanejas, ainda agora extrapolam as fronteiras do do Cariri e do Nordeste em geral. 


Dona Fideralina

E suas narrativas de fatos, casos e causos quase sempre se aproximam (dada a popularidade), as do próprio Lampião, Bárbara de Alencar, Conselheiro, Zé Lourenço e Padre Cícero, que, resguardadas as devidas proporções, têm conseguido projetar os nomes destes rincões, muito além das fronteiras do mundo. O que por sua vez, também remete, talvez pela ocorrência temporal da época, a própria história marcante do cangaço e dos jagunços que pulularam durante décadas por estas bandas do Cariri cearense. Histórias e estórias que igualmente fazem parte do imaginário popular sertanejo, assim como do próprio folclore da região. 

Acontecimentos espetaculares que definitivamente ocuparam com folga o seu lugar na história do Ceará. Mandonas e autoritárias, mesmo assim  alguns as tem como verdadeiras heroínas. Porém, o certo é que malgrado qualquer polêmica, cada uma delas ao seu tempo e ao seu jeito encarnaram a valentia e a altivez humana como mais um mecanismo de superação e sobrevivência num contexto de ingentes injustiças, opressão e  contrariedades de toda sorte. Num cenário em que todas as variantes lhes eram contrárias. Além das injunções sociopolíticas de então que tinham tudo para as colocarem ao rés do chão,  conquanto,  sem nenhuma chance real de liberdade e independência fazendo com que seus nomes se perdessem como tantas outras, nas brumas escuras do tempo e da história, no mais das vezes escrita pelos vencedores. Mas não foi exatamente isso que ocorreu. 


Sítio Mel no Tipi da Aurora e de Marica Macedo

Fideralina e Marica escreveriam sua própria história e de um jeito realmente inusitado e diferente. Rompendo assim os velhos padrões de toda uma época de supremacia machista. Ficaram eternizadas nas longas e inesquecíveis narrativas da boa verve sertaneja. Elas simplesmente fizeram história. E a história que fizeram com as próprias mãos até agora permanece quase  indelével na memória do Cariri.  Foram, portanto, como se percebe, mulheres que se situaram muito além do seu tempo.  De modo que, mesmo entre polêmicas, controvérsias, saias, anáguas, véus e bacamartes esta história sobreviveu, e a duras penas conseguiu chegar até nós. E, em nome das gerações futuras haveremos de preservá-la. 

Destarte, quem acaso desejar conhecer um pouco mais sobre a esta verdadeira odisséia sertaneja, protagonizada por duas 'amazonas dos sertões', que venham conferir de perto todas as discussões relativas ao Cariri Cangaço 2013 que acontecerá de  17 a 22 de setembro em várias cidades desta região.  Além da avant premier,  que será celebrada dias 18 e 19 de maio em Lavras da Mangabeira, cuja palestra será feita pelo Dr. Dimas Macedo, por sinal parente da matriarca lavrense. E dia 20 de setembro do 3º Seminário Cariri Cangaço, edição de Aurora; sobre a incrível história de Marica Macedo, proferido pelo Dr. Vicente Landim de Macedo – neto da brava aurorense do Tipi.  


Praça Central do Distrito do Tipi

E tem mais: As prévias do Cariri Cangaço ocorrerão ainda na Paraíba precisamente nas cidades de Sousa e Nazarezinho, assim como nas históricas Piranhas  e Canindé de São Francisco no Estado de Sergipe. É bom sabe. Razão porque eu participo e também recomendo. Venham todos dividir conosco mais um   Cariri Cangaço – O  grande momento de profundo reencontro de Aurora, Lavras, o Cariri e o Nordeste com a sua própria história. Por sinal, uma história que não quer calar... 

José Cícero  - Pesquisador do Cangaço 
Conselheiro do Cariri Cangaço
Secretário de Cultura e Turismo Aurora – CE.

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