Ivanildo Silveira administrador da Comunidade Lampião Grande Rei do Cangaço
De latas de querosene mãos negras de um soldado retiram cabeças humanas. O espetáculo é de arrepiar. Mas a multidão, inquieta, sôfrega, num delírio paredes-meias com a inconsciência, procura apenas alimento à curiosidade. O indivíduo se anula. Um desejo único, um único pensamento, impulsa o bando autômato. Não há lugar para a reflexão. Naquele meio deve de haver almas sensíveis, espíritos profundamente religiosos, que a ânsia de contemplar a cena macabra leva, entretanto, a esquecer que essas cabeças de gente repousam, deformadas e fétidas, nos degraus da calçada de uma igreja.
Cinco e meia da tarde. Baixa um crepúsculo temporão sobre Santana do Ipanema, e a lua crescente, acompanhada da primeira estrela, surge, como espectador das torrinhas, para testemunhar o episódio: a ruidosa agitação de massas que se comprimem, se espremem, quase se trituram, ofegando, suando, praguejando, para obter localidade cômica, próximo do palco.
Desenrola-se o drama. O trágico de confunde com o grotesco. Quase nos espanta que não haja palmas. Em todo caso, a satisfação da assistência traduz-se por alguns risos mal abafados e comentários algo picantes, em face do grotesco. O trágico, porém não arranca lágrimas. Os lenços são levados ao nariz: nenhum aos olhos. A multidão agita-se, freme, sofre, goza, delira. E as cabeças vão saindo, fétidas, deformadas, das latas de querosene - as urnas funerárias -, onde o álcool e o sal as conservam, e conservam mal. Saem suspensas pelos cabelos, que, de enormes, nem sempre permitem, ao primeiro relance, distinguir bem os sexos. Lampião, Maria Bonita, Enedina, Luiz Pedro, Quinta-Feira, Cajarana, Diferente, Caixa-de-Fósforo, Elétrico Mergulhão...
No entanto é Lampião que se acha ali, ao lado de Maria Bonita, junto de companheiros seus, unidos todos, numa solidariedade que ultrapassou as fronteiras da vida. É Lampião, microcéfalo, barba rala, e semblante quase doce, que parece haver se transformado para uma reconciliação póstuma com as populações que vivo flagelara.
AMIGO SEVERO,
ResponderExcluirGOSTARIA QUE EXPLICASSE QUE ESSE ARTIGO NÃO É DE MINHA AUTORIA, E SIM DE " AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA "...
E QUE A MATÉRIA FOI PUBLICADA NO DIÁRIO DE PERNAMBUCO, EM 1995, E QUE O KYDELMIR, A CEDEU AO MENDES QUE A PUBLICOU EM SEU BLOG..
APENAS, INSERI AS FOTOS,PARA DAR UM MAIOR ESCLARECIMENTO AOS LEITORES, E, TAMBÉM, PUBLICAMOS A MATÉRIA EM NOSSA PÁGINA DO ORKUT " LAMPIÃO GRANDE REI DO CANGAÇO ""..
ABRAÇO
IVANILDO SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Membro do Cariri-cangaço
Natal/RN
Olá amigos.
ResponderExcluirMuito interessante e esclarecedora essa matéria do Aurélio. Ela revela detalhes importantes acontecidos em Santana.Fica provado que a caravana não passou naquela cidade na "correria". Houve tempo para muita coisa que até agora não havia sido divulgado.
A idéia da divulgação foi do mestre Ivanildo. Então podemos dizer. "Se o Ivanildo não deu, ninguém sabe o que aconteceu..."
Abraço a todos.
Sabino Bassetti