Quem melhor descreve a vida do povoado de Juazeiro a partir da
construção da Capela de Nossa Senhora das Dores é Amália Xavier de
Oliveira. Mas para a organização deste capítulo recorremos também a
outros autores, como padre Neri Feitosa e padre Azarias Sobreira, pois
eles têm também boas informações. Consta que o padre Pedro Ribeiro de
Carvalho, primeiro capelão de Juazeiro, era muito zeloso; cuidava da
pequenina população do lugarejo, formada principalmente de pessoas do
campo, ensinando-lhes a rezar e a trabalhar. Na época invernosa a
população entregava-se aos trabalhos agrícolas; homens e mulheres iam
para a roça ocupando-se no cultivo do arroz, milho, feijão, mandioca e
algodão.
Após a colheita, as mulheres ficavam em casa desenvolvendo trabalhos domésticos e fiando algodão para tecer a roupa dos maridos e dos filhos que elas mesmas costuravam, pois não havia máquina. Os homens se dedicavam aos trabalhos da Fazenda, alimentação do gado, solta das rezes nos pastos, ordenha, vaquejada, desmancha de mandioca, caça, pesca, etc. Todos ali aprendiam o Catecismo, rezavam e trabalhavam sob a orientação do padre que não permitia a promiscuidade e fazia tudo para evitar a discórdia entre os habitantes. Foi assim, nesta atmosfera de paz e tranquilidade, que viveram os primeiros habitantes de Juazeiro de 1827 a 1833, quando faleceu o padre Pedro cercado do respeito e amor de todos que o conheceram.
Após a colheita, as mulheres ficavam em casa desenvolvendo trabalhos domésticos e fiando algodão para tecer a roupa dos maridos e dos filhos que elas mesmas costuravam, pois não havia máquina. Os homens se dedicavam aos trabalhos da Fazenda, alimentação do gado, solta das rezes nos pastos, ordenha, vaquejada, desmancha de mandioca, caça, pesca, etc. Todos ali aprendiam o Catecismo, rezavam e trabalhavam sob a orientação do padre que não permitia a promiscuidade e fazia tudo para evitar a discórdia entre os habitantes. Foi assim, nesta atmosfera de paz e tranquilidade, que viveram os primeiros habitantes de Juazeiro de 1827 a 1833, quando faleceu o padre Pedro cercado do respeito e amor de todos que o conheceram.
Amália Xavier de Oliveira
As festas mais concorridas, além das religiosas, eram os casamentos.
Eram feitos com grande animação: três dias de festa antes do casamento
na casa do pai da noiva ou de outra pessoa que o representasse e três
dias na casa da família do noivo, após o casamento; depois destes
festejos todos, o noivo tinha o direito de levar a noiva para casa.
Os padres que o substituíram na Capelinha eram também zelosos e
piedosos. O povoado ia crescendo; novas casas foram construídas, sempre
localizadas em torno da Capela e ao longo das proximidades da margem do
rio Salgadinho. Surgiram, então, os primeiros aglomerados: Cacimba do
Povo, Rua do Brejo, Feira do Capim, Mercado Velho, Boca das Cobras,
Volta, Salgadinho, Mochila, Comboeiro (Malvas).
Com a chegada do Padre Cícero (em 11.04.1872) como capelão e graças a
sua dinâmica atuação, já tão difundida nos livros que tratam de sua
vida, o pequeno lugarejo sofreu profundas transformações até chegar ao
estado em que se encontra hoje. O escritor J. G. Dias Sobreira, em seu livro Curiosidades e factos
notáveis do Ceará, informa que quando visitou Juazeiro em 1856, o
povoado tinha o seguinte aspecto:
"O povoado, nesse tempo, compunha-se de umas sessenta casas de taipa,
umas cobertas de telhas e outras de palha de carnaúba ou de palmeira. A
disposição delas não obedecia à regra natural de arruamento. Logo na
entrada do povoado, começavam duas fileiras de casas, sem guardar a
eqüidistância, no seu prolongamento. Ao seguir iam elas afastando-se, de
modo que, tendo no começo uns vinte metros de largura, terminavam com
mais de cem metros ao chegar à igreja. Não havia estética nem nexo,
naquela formação de arruamento”.
Juazeiro do inicio do século passado
Porém, em 1909, um documento apresentado à Assembleia Legislativa do
Ceará, em apoio ao pedido de autonomia municipal para Juazeiro,
encontrado por Ralph della Cava nos Arquivos do Colégio Salesiano,
informa que antes de se tornar independente do Crato o povoado de
Juazeiro já se encontrava em acelerado ritmo de desenvolvimento, graças à
ação do Padre Cícero. Já possuía uma farmácia, um médico residente, um
jornal, várias instituições religiosas, como o Apostolado da Oração,
fundado pelo Padre Cícero, um escritório de intercâmbio comercial com a
capital e uma instituição civil para cuidar do engrandecimento do lugar.
A zona rural de Juazeiro possuía 22 engenhos de açúcar empenhados na
produção de rapadura e subprodutos alcoólicos e cerca de 60 locais
equipados para preparar farinha de mandioca. Além do cultivo de arroz,
feijão e milho, Juazeiro já se destacava na produção de borracha de
maniçoba e algodão. Foi Padre Cícero quem introduziu a borracha no
Cariri, na primeira década do século XX. E graças ao seu empenho, o
algodão, cuja cultura havia sido quase totalmente abandonada, reapareceu
entre 1908 e 1911. Ele chegou a comprar uma máquina de beneficiamento
de algodão, movida a vapor. A borracha e o algodão foram os principais
responsáveis pelo intercâmbio econômico de Juazeiro com o comércio
exportador das grandes casas comerciais da capital cearense,
especialmente com a firma francesa Boris Frères e a companhia brasileira
de Adolfo Barroso.
Mas o crescimento urbano do povoado foi ainda maior do que sua expansão
agrícola. O comércio pulsava com a realização de uma feira semanal,
realizada aos domingos em frente à Igreja de Nossa Senhora das Dores.
Muitos dos comerciantes tinham imigrado para Juazeiro provenientes de
pequenas cidades vizinhas e de outros Estados. Mas a atividade econômica
principal do povoado provinha de suas indústrias artesanais de onde
saíam uma grande e diversificada produção de produtos utilitários e
decorativos, além de produtos religiosos. Tudo se desenvolveu tendo em
vista atender às demandas de consumo em ascensão e como uma resposta
oportuna à incapacidade das limitadas áreas rurais de Juazeiro para
absorver os imigrantes nas atividades agrícolas, de imediato após a
chegada.
Chegando ao povoado, os romeiros, orientados pelo Padre Cícero, trabalhavam na manufatura de vários artigos de uso doméstico confeccionados com matéria-prima local: louças de barro, vasos, panelas, cutelaria, sapatos, objetos de couro, chapéus, esteiras de fibras vegetais, corda, barbante, sacos e outros receptáculos para estocar e expedir gêneros alimentícios. As habilidades manuais do povo e as necessidades do sertão levaram, eventualmente, à fabricação e exportação de instrumentos rurais típicos, tais como, enxadas, pás, facas, punhais, rifles, revólveres, balas e pólvora.
Dr. Floro Bartolomeu da Costa
Chegando ao povoado, os romeiros, orientados pelo Padre Cícero, trabalhavam na manufatura de vários artigos de uso doméstico confeccionados com matéria-prima local: louças de barro, vasos, panelas, cutelaria, sapatos, objetos de couro, chapéus, esteiras de fibras vegetais, corda, barbante, sacos e outros receptáculos para estocar e expedir gêneros alimentícios. As habilidades manuais do povo e as necessidades do sertão levaram, eventualmente, à fabricação e exportação de instrumentos rurais típicos, tais como, enxadas, pás, facas, punhais, rifles, revólveres, balas e pólvora.
Logo cedo, devido à grande procura de seus produtos, muitos artesãos
saíram de suas casas e passaram a produzir em maior escala em oficinas
amplas e equipadas de máquinas, localizando-se no centro da cidade para
ficarem mais ao alcance dos clientes. Os reflexos do desenvolvimento do
povoado estavam bem evidentes nos impostos arrecadados... principalmente
para o Crato. Por isso, o desejo de se tornar independente nasceu.
Segundo o documento apresentado à Assembleia Legislativa do Ceará,
provavelmente organizado por Dr. Floro Bartholomeu da Costa, em 1º de
janeiro de 1909, cuja cópia transcrevemos abaixo: A povoação de Joaseiro, estado do Ceará, tem na presente data: 18 ruas, 4
travessas, etc., com a população de 15.050 habitantes, como se vê
abaixo:
Rua Padre Cícero: 2.000 habitantes,
Rua S. Luzia: 1.538 habitantes,
Rua S. Jose: 1.100 habitantes,
Rua S. Francisco: 1.000 habitantes,
Rua S. Antônio: 557 habitantes,
Rua S. João: 603 habitantes,
Rua de S. Sebastião: 552 habitantes,
Rua de S. Pedro: 227 habitantes,
Rua do Rosário: 578 habitantes,
Rua do Perpétuo Socorro: 523 habitantes,
Rua do Cruzeiro: 540 habitantes,
Rua dos Passos: 1.040 habitantes,
Rua da Conceição: 800 habitantes,
Rua das Malvas: 175 habitantes,
Rua Grande do Salgadinho: 1.136 habitantes,
Rua da Cacimba Nova: 480 habitantes,
Praça da Capella de N. S. das Dores: 734 habitantes,
Praça da Liberdade: 345 habitantes,
Travessa de S. José: 287 habitantes,
Travessa de S. Francisco: 250 habitantes,
Travessa da Conceição: 209 habitantes,
Travessa da Rua Nova: 37 habitantes,
Beco do Cemitério Velho: 30 habitantes.
Na relação de profissionais, comércio e pequena indústria, destacamos:
Oficinas de Sapateiros: 20,
Carpintaria: 35,
Marcenaria: 5,
Pedreiros: 40,
Fogueteiros: 15,
Funileiros: 7,
Ferreiros: 8,
Ourives: 2,
Pintores desenhistas: 2,
Fundição: 1,
Barbeiros: 3,
Alfaiates: 3,
Alfaiates Modistas: 10,
Padarias: 2,
Farmácias: 2,
Lojas (Molhados-Mercadorias): 10,
Lojas (Fazendas-Miudezas): 10,
Bodegas (Molhados-Bebidas): 20,
Armazéns (Géneros Alimentícios): 10,
Escolas (particulares, sexo feminino): 12,
Escolas (particulares, sexo masculino): 6,
Escolas (públicas, sexo feminino): 1,
Escolas (públicas, sexo masculino): 1,
Tipografia: 1,
Igrejas: 2 (uma em construção),
Cemitérios: 2,
Bolandeiras Algodão: 1,
Engenho de ferro para cana: 18,
Idem, madeira: 4,
Estação telegráfica, Agência do Correio, Coletoria Estadual, Cartório do Registro Civil, e Serviço de iluminação pública.
Quem poderia imaginar que depois de cem anos Juazeiro seria o que é hoje! Este é o verdadeiro milagre do Padre Cícero!
Daniel Walker
FONTE:http://historiadejuazeiro.blogspot.com.br
Severo, obrigado pela publicação do meu texto.
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