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A Emoção de mais um Cariri Cangaço Por: Luitgarde Cavalcanti Barros


Tenho falado a alguns amigos de minha surpresa ao participar, pela segunda vez, do evento Cariri Cangaço em abril deste 2018, em Fortaleza. Na primeira vez estava muito abalada pela incumbência solicitada pela Organização, de  fazer a palestra de homenagem a meu grande amigo Alcino Alves Costa, recém falecido. A emoção se aprofundou quando chegamos em Brejo Santo, onde andara há tanto tempo, para um segundo encontro com Antônio da Piçarra, em 12 de março de 1994,  sendo generosamente hospedada por sua filha Ivanilda, então minha aluna num curso de pós-graduação lato sensu, que ministrei na cidade de Barbalha.  

Lamartine Lima, Luitgarde Barros, Leandro Cardoso, Ivanilda Leite e Manoel Severo no Cariri Cangaço 2013 nas terras de Antônio da Piçarra

No reencontro com o chamado "maior coiteiro de Lampião no Ceará" se dera uma nova imersão no mundo do cangaço, com toda a carga de reflexões e emoções que a violência no Nordeste desencadeia em minha alma sertaneja, agudizando a determinação  de entendimento e explicação de um fenômeno tão forte que marca a História Regional, dando-lhe identidade própria na História da Nação. Mais uma vez os depoimentos do velho e lúcido sertanejo iluminaram sendas de entendimento do mundo de fé e de luta do povo do sertão do Nordeste.

Neste evento em Fortaleza minha grande emoção foi ver novas gerações de sertanejos, citadinos e até jovens do interior paulista, reunidos entusiasticamente  pelo interesse de conhecer muito mais do que o mundo do cangaço, as manifestações culturais do povo nordestino, extraindo da violência e da fé dos sertanejos um legado para as futuras gerações de brasileiros, constituídas pelo mais acelerado processo de expulsão do sertanejo de sua terra natal, que foi o desenvolvimentismo dos anos 50 até hoje. Por determinação da racionalidade econômica, de norte a sul e de leste a oeste do país,  ali se encontram os nordestinos, em dimensões  populacionais muito maiores do que no "sertão tão rarefeito de sertanejos em suas  acanhadas concentrações rurais - pequenas vilas e pouco habitadas cidades".

Francine Maria e Luitgarde Barros, Cariri Cangaço na Casa José de Alencar

Em Fortaleza, o Cariri Cangaço se espalhou pela Assembleia Legislativa, a Universidade Federal do Ceará (Casa de José de Alencar) e a Academia Cearense de Letras. As pequenas e grandes cidades reivindicaram seus ícones intelectuais com significativo número de lançamentos de livros sobre diferentes aspectos da História Regional, para muito além da antiga e propalada "heroicidade do cangaço". O mais estimulante foi ver a verve poética de várias gerações, além dos maduros e já consagrados vates da literatura de cordel cantando a História do Nordeste. 

Crianças e estudantes do fundamental participaram das seções, assistindo professores da Rede Pública de Ensino, como os expositores de Quixeramobim, mostrando seu trabalho para atrair o interesse da juventude no conhecimento do mais importante personagem de seu município, Antonio Vicente Mendes Maciel, O Conselheiro, protagonista da mais famosa tragédia brasileira, a Guerra de Canudos em 1897! 

Mais do que de valentia, se falou do esforço do nordestino construindo seu mundo de trabalho e arte, na busca de superação pela fé, estudo e muita esperança de melhoria do "mundo sertanejo" em qualquer lugar onde "vive um ser nascido no sertão do Nordeste". Abraço, Luitgarde.

Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros
Rio de Janeiro, RJ  
Sobre o Cariri Cangaço Fortaleza 2018
Em, 13 de maio de 2018

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