Ao sopé da Serra do Reino, no meio da caatinga, na zona rural, paralela a estrada velha do Carmo adormece um pedaço da história de São José do Belmonte. Entre marmeleiros e canafístulas frondosas ergue-se um paredão e o esqueleto de pedra de uma casa. Estima-se que a famosa Casa de Pedra, bastante referenciada em documentos antigos, tenha sido construída no ocaso do século XVIII. Pertenceu ao Coronel Simplício Pereira da Silva. Foi ele quem deixou a propriedade de herança para sua neta Antônia Pereira da Silva (falecida a 17/05/1907 aos 53 anos de idade), casada com o coronel José Sebastião Pereira da Silva (Cazuzinha da Cachoeira), 1º Prefeito de São José do Belmonte e segundo dono da fazenda. Sede patriarcal, construção em alvenaria de pedra e barro, essa casa foi edificada por escravos e vaqueiros. Fazenda sede das mais antigas da região, localizada no latifúndio da Fazenda Coroas, e uma das 7 fazendas que originou o município de São José do Belmonte, a fazenda Cachoeira no princípio, foi propriedade dos Viscondes da Casa da Torre de Garcia D’Ávila da Bahia, e onde também se fixou um dos principais núcleos da família Pereira do Sertão do Pajeú.
Grande vulto da história sertaneja, Simplício Pereira da Silva nasceu em 1784 e faleceu na fazenda Cachoeira a 10 de janeiro de 1859, este senhor tornou-se uma lenda em sua época, os seus feitos são extensos, participou ativamente no sertão de várias convulsões políticas que se sucederam após a abdicação de D. Pedro I, tendo recebido a aprovação a tenente-coronel da "Guarda Nacional" no dia 19 de novembro de 1842, quando prendeu os implicados na "Revolta de Exu" que denominamos de "Pré-Praieira".
Além da fazenda Cachoeira onde residia, o coronel foi também proprietário em Belmonte da fazenda Olho d'Água da Boa Vista, cuja fazenda foi ofertada como dote de casamento a sua filha Generosa Pereira da Silva. Por sua pequena estatura, foi apelidado de "peinha de mão". Simplício meteu-se em muitas aventuras. Ao que relatam, gostava de matar índios. Entre batizados e pagãos, matou até perder a conta. Não satisfeito, o "peinha de mão" entrou de rijo na rude política do tempo, lutando com um bando de cabras do Pajeú contra o coronel-de-milícias Joaquim Pinto Madeira, o homem da coluna do Trono e do Altar, que sonhou um dia restaurar Pedro Primeiro. Simplício foi um dos principais "desencantadores" das Pedras do Reino Encantado del-rei dom Sebastião. Da fazenda Cachoeira, em maio de 1838 marchou ao encontro dos seus irmãos para destruir o arraial sebastianista, massacrou o quanto pôde os fanáticos da inusitada monarquia, vingando a morte de dois irmãos, Alexandre e Cipriano.
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A Casa de Pedra da Fazenda Cachoeira por várias vezes acolheu Sinhô Pereira e Luiz Padre durante as suas incursões pelo cangaço. Em volta dela, contam-se que tempos depois foram desenterradas várias botijas.
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O coronel Simplício Pereira da Silva foi casado duas vezes, a primeira com Maria José Barbosa e a segunda com Ana Joaquina do Amor Divino (filha de Aniceto Nunes da Silva, e falecida em 12/6/1878 aos 74 anos de idade, na fazenda Baixa Grande, freguesia de Jardim-CE e sepultada no cemitério de Belmonte. Esta não deixou descendentes). Do primeiro casamento com Maria José Barbosa nasceram dois filhos: Antônio Simplício Pereira da Silva e Generosa Pereira da Silva, esta era mãe de Antônia Pereira da Silva, herdeira da fazenda Cachoeira e esposa de José Pereira da Silva (Cazuzinha da Cachoeira), 1º Prefeito de São José do Belmonte. Leal ao Império do Brasil e membro do Partido Conservador, José Sebastião Pereira da Silva recebeu a comenda imperial da Ordem de Cristo em 24 de janeiro de 1872, pela princesa Imperial Regente Dona Izabel de Bragança. Cazuzinha faleceu na Cachoeira no dia 25 de dezembro de 1892 em pleno mandato de prefeito.
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Ao contrário do que se pode imaginar, a vida na fazenda Cachoeira em tempos idos estava longe de ser tranqüila, principalmente nos períodos de seca. Algumas tribos indígenas da nação Cariri, que viviam na região da Serra do Catolé, julgando de sua propriedade tudo que a terra produzisse ou sobre ela vivesse, atacaram inúmeras vezes a fazenda Cachoeira, matando vaqueiros, gados, escravos e até incendiando-a. Durante décadas foram travadas diversas guerras pela região, em que os indígenas, incapazes de fazerem frente ao poderio bélico dos fazendeiros, eram severamente perseguidos.
Na velha fazenda também foram celebradas várias cerimônias de casamentos, dentre as quais o casamento de dona Generosa Pereira da Silva, com 19 anos de idade (filha do coronel Simplício Pereira), realizado no dia 21 de novembro de 1845, com José Nunes Pereira, seu primo legitimo, também com 19 anos de idade, filho do Comandante Superior Manoel Pereira da Silva. Foram testemunhas das bodas, Vitorino Pereira da Silva e Sebastião Pereira da Silva.
A Casa de Pedra da Fazenda Cachoeira por várias vezes acolheu Sinhô Pereira e Luiz Padre durante as suas incursões pelo cangaço. Em volta dela, contam-se que tempos depois foram desenterradas várias botijas.
Até ser devorada pela ação do tempo, os últimos moradores da Casa de Pedra foram os filhos do coronel Cazuzinha da Cachoeira: Sebastião (Baiãozinho), solteiro; Simplício, solteiro; Generosa (Sinhazinha), solteira; Arcôncio, casado com Januária filha de Lúcio Pereira e Francisca Pereira, e Antônio (Toinho da Cachoeira), solteiro, morto no dia 22 de outubro de 1922, durante o assalto à casa do coronel Luiz Gonzaga Gomes Ferraz .
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Machado de Assis deu o nome de Relíquias da Casa Velha a um livro de contos, mas bom seria que tivesse escrito um belo conto com esse nome, pois as casas velhas, e até as ruínas de uma casa velha como as ruínas da Casa de Pedra da Fazenda Cachoeira guardam histórias, lembranças, segredos, tristezas, alegrias e às vezes tragédias.
No passado, a Fazenda Cachoeira foi marcada por histórias de gerações da família Pereira, fundamental para a memória de São José do Belmonte.
Valdir José Nogueira de Moura
Pesquisador e Escritor
Presidente da Comissão Local
Cariri Cangaço São José de Belmonte
Pesquisador e Escritor
Presidente da Comissão Local
Cariri Cangaço São José de Belmonte
E vem ai...
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