O segundo dia de Cariri Cangaço São José de Belmonte iniciou com a visita técnica à fazenda Cristovão, emblemático cenário e terra dos Pereiras. Aqui morou Crispim Pereira de Araujo, famoso Ioiô Maroto, personagem principal da trama e do ataque dos cangaceiros a Casa de Gonzaga em 1922, desta fazenda partiu o bando que levaria terror a Belmonte no amanhecer de 20 de outubro de 1922, o anfitrião e Presidente da Comissão Local do Cariri Cangaço; pesquisador e escritor Valdir Nogueira; foi o responsável pela apresentação do local e pela apresentação da trama da morte de Gonzaga que teve seu ápice na sede da fazenda Cristovão.
É Valdir Nogueira que nos conta: "São José do Belmonte,
hoje a próspera cidade do sertão central de Pernambuco, sendo uma região de
fronteira, despontava como um verdadeiro arraial nas hostes do cangaço, por
aqui Lampião, o rei do cangaço, deixou também seu rastro de sangue, morte e
destruição, quando junto a um numeroso grupo de cangaceiros no dia 20 de
outubro de 1922, invadiu a cidade para eliminar o próspero comerciante Luiz
Gonzaga Gomes Ferraz. Durante o ataque, os cangaceiros também sofreram a
heroica resistência do destacamento de polícia local sob o comando do bravo
sargento Sinhozinho Alencar (José Alencar de Carvalho Pires) que contou naquela
difícil situação apenas com oito praças e dentre esses soldados lutou
bravamente o jovem belmontense Luiz Mariano da Cruz, na ocasião com 22 dois
anos de idade."
Coronel Gonzaga
A Caravana Cariri Cangaço São José de Belmonte que lotou cinco pousadas na cidade, marcou o encontro defronte a Matriz de Belmonte e a manhã já ia alta quando os quatro ônibus e mais uma dezena de veículos saíram da sede do município conduzindo os mais de 200 pesquisadores que prestigiavam o Cariri Cangaço São José de Belmonte rumo as ruínas da antiga casa sede da fazenda Cristovão; coito seguro do grupo cangaceiro de Sinhô Pereira e pouso do mais forte personagem da trama da morte do comerciante Luiz Gonzaga Ferraz; Ioiô Maroto. É Valdir Nogueira que conclui: "No assalto à cidade naquele 20 de outubro de 1922, o grupo invasor tendo saído da Fazenda Cristovão às 21h do dia anterior, entrou na cidade pela Rua de São José, no meio da cabroeira invasora fazia parte um rapaz jovem de chapéu desabado e alvacento, identificado como sendo o cangaceiro Lampião.”
Valdir Nogueira, anfitrião na fazenda Cristovão
E voltemos a Valdir com um capítulo especial sobre a participação do padre José Kehrle nesse episodio: "Durante
o seu paroquiato aconteceu o “massacre de outubro de 1922”. Como ordenava a
tradição, a festa de outubro, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, era
realizada anualmente na cidade de Belmonte. As comemorações se iniciavam com a
tradicional alvorada, os sinos da Matriz repicavam, fogos explodiam no ar,
banda de música e pífanos alegravam as ruas...Aquela animada noite de 19 de
outubro de 1922 teve como patrono o coronel Luiz Gonzaga Gomes Ferraz. Este
senhor, ao deixar a Matriz de São José juntamente com o padre José Kehrle,
seguiu para a Casa Paroquial. Lá o reverendo então o interpelou sobre a sua
situação com Ioiô Maroto. Respondeu o mesmo que a malquerença entre ambos havia
terminado, pois que um irmão de Ioiô entrara com ele em negociações, tendo
emprestado ao mesmo a quantia de três contos de réis e cedido o vapor para
serviços de Maroto, e que também havia dispensado o seu pessoal que, por
prevenção trazia armado. Nesse momento uma chuva começou a cair, o reverendo
insistentemente, mais de uma vez, pediu para o coronel pernoitar na Casa
Paroquial. Recusando, então, o convite do padre, às onze horas o coronel
deixava aquela casa e retornava ao seu lar. Lá chegando, deu de cara com seu
vaqueiro, Manoel Pilé, que espantado relatou que ficara sabendo que Ioiô Maroto
estava juntando um considerável número de gente em armas na sua fazenda
Cristovão.
Não dando crédito às desconfianças de seu vaqueiro, Gonzaga tranquilizou-o dizendo que não havia mais questão entre ele e seu compadre Ioiô. O certo é que pelas nove horas dessa mesma noite, Ioiô Maroto havia saído de sua fazenda com os seus companheiros e cangaceiros, parentes e moradores, em número superior a 45 homens, com rumo certo para a cidade de Belmonte, onde realizaria a empreitada na forma pretendida: matar o coronel Luiz Gonzaga Gomes Ferraz.Em decorrência da Hecatombe de outubro de 1922 na cidade de São José do Belmonte, de acordo com o longo inquérito que procedeu a comissão judiciária, de todos os elementos que constituem as provas da ação penal ficou apurado que foi o cangaceiro Francisco Vereda quem atirou no coronel Gonzaga e no padre José Kehrle"conclui Valdir Nogueira.o
Não dando crédito às desconfianças de seu vaqueiro, Gonzaga tranquilizou-o dizendo que não havia mais questão entre ele e seu compadre Ioiô. O certo é que pelas nove horas dessa mesma noite, Ioiô Maroto havia saído de sua fazenda com os seus companheiros e cangaceiros, parentes e moradores, em número superior a 45 homens, com rumo certo para a cidade de Belmonte, onde realizaria a empreitada na forma pretendida: matar o coronel Luiz Gonzaga Gomes Ferraz.Em decorrência da Hecatombe de outubro de 1922 na cidade de São José do Belmonte, de acordo com o longo inquérito que procedeu a comissão judiciária, de todos os elementos que constituem as provas da ação penal ficou apurado que foi o cangaceiro Francisco Vereda quem atirou no coronel Gonzaga e no padre José Kehrle"conclui Valdir Nogueira.o
Recorreremos agora ao pesquisador e escritor Sousa Neto, Conselheiro do Cariri Cangaço que nos conta:"Ouvindo amiudadas
vezes as gravações feitas pelo amigo Amaury Correa de Araújo com Sinhô Pereira
e Cajueiro no final dos anos sessenta sobre esse episódio tão marcante na
historia daquela cidade, fui algumas vezes averiguar “in loco” e extrair por
mim mesmo determinadas conclusões. É certo que os
homens ricos do inicio do século passado, na ausência de estruturas financeiras
formais com suficiente segurança, tinham que guardar o seu dinheiro e objetos
de valor em suas próprias residências, despertando assim o interesse de todos
os ripários. Por essa época grupos de cangaceiros
e salteadores infestavam os sertões nordestino roubando, assaltando ,
extorquindo e muitas vezes até sequestrando. A ausência do estado e o diminuto
contingente de agentes da lei favoreciam essas ações.Luiz Gonzaga Gomes Ferraz havia se
destacado na região do Pajeú como próspero comerciante. Era alheio a guerra
travada entre as influentes famílias Pereira e Carvalho por questões politicas
naquela e em outras províncias da região. Até comentavam o interesse de Gonzaga
de ingressar na politica por anseio de algumas outras famílias amigas, mas
Gonzaga Ferraz era mesmo um grande empreendedor.
Ivanildo Silveira na visita a fazenda Cristovão |
Débora Cavalcantes e a visita a fazenda Cristovão |
Dr Ernando Carvalho e a trama da fazenda Cristóvão |
E continua Sousa Neto, "em março de 1922 o principal protetor
de Sebastião Pereira e Luiz Padre, “major” Zé Inácio do Barro devido à austera
perseguição do Governador do Ceará Justiniano de Serpa, seguiu os mesmos passos
de Luiz Padre rumo ao estado de Goiás onde se homiziaram. Ficara ainda
Sebastião Pereira (Sinhô Pereira) com os mesmos planos já frustrado uma vez.
"Sem o auxilio do major Zé Inácio e do
coronel Antônio Pereira em declínio financeiro, mantenedores do bando, Sinhô
Pereira se obriga a pedir ajuda a outros parentes mais abastados, fazendeiros
amigos e comerciantes afortunados. Manter um grupo armado naqueles tempos não
era tarefa das mais fáceis. No mês de maio daquele mesmo ano um comboio
conduzindo mercadorias para Luiz Gonzaga foi interceptado pelo bando de Sinhô
que saqueou todos os artigos. Sinhô Pereira já era avesso a Gonzaga
por esse lhe negar ajuda financeira por varias vezes, inclusive recebeu certo
dia como resposta da esposa de Gonzaga, Dona Martina, “que se quisesse
dinheiro, que fosse trabalhar
como o seu esposo”.
Ingrid Rebouças
Carlos Alberto e Kydelmir Dantas
Geraldo e Rosane Ferraz e Juliana Pereira
Havia, entretanto um destacamento do
Ceará sob o comando do Tenente Peregrino Montenegro, homem versado pelas
barbáries cometidas em busca de arrancar qualquer informação a cerca do major
Zé Inácio e seus asseclas, ultrapassando inclusive as fronteiras de seu estado
para saciar o seu desejo e alcançar os seus intentos. Nas cercanias do vilarejo de Belmonte
havia a fazenda Cristóvão, pertencente a Crispim Pereira de Araújo, conhecido
como Yoio Maroto, casado no seu primeiro matrimonio com Maria Océlia Pereira,
irmã de Luiz Padre. Ao ficar viúvo casa-se com a prima da primeira esposa por
nome Francisca Pereira Neves e por ocasião do falecimento de Francisca, casa-se
pela terceira vez com a cunhada de nome Generosa. Yoio Maroto era amigo e duas
vezes compadre de Gonzaga aonde o respeito era reciproco.
o
Por ocasião da passagem do tenente
Montenegro a vila de Belmonte ficou sabendo por Gonzaga Ferraz das tropelias do
bando de Sinhô Pereira naquela região e da amizade e parentesco entre o chefe
cangaceiro e Yoio Maroto e rumou sem demora a fazenda Cristóvão. Ao chegar, ao
finalzinho da tarde o perverso oficial já mostra a que veio e começa o seu
interrogatório, como de costume a base de boas chicotadas nos criados da
fazenda que acudiam pelo nome de Zé Maniçoba e Zé Preto. Foi uma noite de
terror para a honrada família que ouviam palavrões dos mais alarmantes por
parte da soldadesca embriagada que humilharam Yoio Maroto por algumas vezes. O
ex- cangaceiro Cajueiro disse a Dr. Amaury que a sua mãe só não morreu por um
milagre de Deus.
Ainda Sousa Neto: "Logo de manhã cedo
sem as informações almejadas a volante cearense tratou de sair da fazenda
Cristóvão e talvez pela falta de caráter que lhe era peculiar,
Montenegro afirmou que estava ali por informação e solicitação de Luiz
Gonzaga. Para alguns uma justificativa herética e totalmente sem crédito.O fato é que dali por diante a
semente da desavença foi cultivada, Luiz Gonzaga jurando inocência e Yoio
Maroto fingindo acreditar. Sedento de vingança sempre triste e
acabrunhado Yoio Maroto mandou avisar a Sinhô Pereira o ultraje sofrido
juntamente com a família. Sinhô já decidido a seguir para Goiás pede então a
Lampião que resolvesse essa questão de Belmonte. Sinhô Pereira tinha enorme
gratidão e apreço a Yoio, que além de ser seu primo era casado com Maria, irmã
de Luiz Padre.
o
Luiz Gonzaga Gomes Ferraz avisado de
um possível ataque por parte de cangaceiros parentes de seu compadre contratou
um efetivo armado para lhe garantir proteção. Semanas após resolveu deixar
Belmonte retirando-se para a Bahia e depois Sergipe buscando se estabelecer
quando foi convencido a voltar ao Pernambuco com todas as garantias, inclusive
do governo do estado. Esse fato provocou ainda mais a ira de Yoio Maroto que
começou a ponderar ser Belmonte pequeno demais para os dois, vez por outra
murmurava: aqui ou um ou outro!
o
o
Entra em cena Antônio Maroto, irmão
de Yoio que para conseguir um empréstimo de três contos de reis, convenceu
Gonzaga a não acreditar na boataria de uma possível vingança por parte de Yoio
e que se empenharia no sentido de convencer o seu irmão de sua inocência. O
avisa da saída de Sinhô Pereira do sertão nordestino o que deixa Gonzaga
exultante, e em uma demonstração de placidez despensa a sua guarda pessoal
recolhendo as armas e munições. Acreditou que tudo havia acabado. Mero
engodo. Ainda alertado pelos habitantes de
Belmonte para não dar crédito a Antônio Maroto, alguns amigos diziam: “Gonzaga
em cangaceiro não se pode confiar, Yoio está preparando o bote”! É certo que todos tinham razão. Yoio
Maroto ia pouco a pouco arregimentando homens para o ataque. Entre outros
contou com Tiburtino Inácio (Gavião), filho do major Zé Inácio do Barro que
tinha uma irmã casada com um primo de Yoio. Depois Cicero Costa e mais alguns
familiares."
Voldi Ribeiro, Manoel Severo e Robério Santos
Ivanildo Silveira e Bosco André
Aderbal Nogueira e Jorge Remígio, ao fundo: Arthuzinhoo
"Em recente entrevista que fiz com o
Sr. Vilar Araújo, filho de Luiz Padre no estado de Tocantins, esse afirmou que
José Terto (Cajueiro) já se encontrava na região central do país há mais de
dois anos ao lado de seu pai, quando da chegada de Sinhô Pereira lhe ordenando
a voltar ao sertão nordestino comandar essa ação. Vilar conta que o seu tio
Quinzão (Cajueiro) quando tomava umas doses de aguardente, sempre narrava esse
episódio. É certo que a mãe de Cajueiro, D.
Antônia Pereira da Silva foi ultrajada pela força volante de Peregrino
Montenegro como ele mesmo narra. O que me causou mais curiosidade foi o fato do
cangaceiro tão distante ser enviado para comandar uma ação já designada a
outro. Questionei com o senhor Vilar essa
motivação de Sinhô Pereira e Luiz Padre. A resposta veio sem pestanejar: “Tio
Chico (Sinhô Pereira) acreditava que Lampião pudesse não atender ao seu
pedido”. Cajueiro chega e se integra ao
pequeno grupo liderado por Lampião e principia os preparativos para o ataque."
Sousa Neto, pesquisador e escritor.
Cariri Cangaço São José de Belmonte
Fazenda Cristovão e Casa de Gonzaga
12 de Outubro de 2018
Fotos de Ingrid Rebouças e Louro Teles
Imagens Imorredouras da Visita do
Cariri Cangaço a Fazenda Cristovão...
Fotos de Ingrid Rebouças e Louro Teles
Imagens Imorredouras da Visita do
Cariri Cangaço a Fazenda Cristovão...
A Grande Chegada da Caravana Cariri Cangaço à Fazenda de Ioiô Maroto, palco da trama da invasão e morte de Gonzaga em 1922...
De todos os rincões brasileiros; de norte a sul e de leste a oeste; vieram os mais de 200 pesquisadores das temáticas nordestinas, consolidando uma das maiores participações em todas as edições do Cariri Cangaço. Eram representantes de 15 estados da federação, todos imbuídos de um mesmo propósito: Amor à verdadeira história nordestina...
o
As fotos acime testemunham a integração da verdadeira alma nordestina: Robério Santos de Itabaiana, Cris Silva de Natal,Vera Lucia de Poço Redondo, Luiz Antônio de Cajazeiras, Sousa Neto de Barro, Ivanildo Silveira de Natal, Nininho de Itabaiana, José Irari de São José de Piranhas ,Espedito Sobreira de Crato, Divanildo de Recife, Antônio Edson de Alagoinhas, Manoel Serafim de Floresta, João Andrade de João Pessoa, Wescley Rodrigues de Sousa, Arthur Holanda de Sousa, Thiago Gontijo de Belo Horizonte, Lili Conceição de Belo Horizonte, Tereza Raquel de Juazeiro do Norte, Edvaldo Feitosa de Água Branca, Narciso Dias de João Pessoa, Cristina Couto de Lavras da Mangabeira, Luiz Forró de Natal e Amélia Cardoso de Fortaleza...
Mais um pouco da grande construção coletiva chamada Cariri Cangaço: Geraldo Ferraz de Recife, Célia Maria de João Pessoa, Jorge Remígio de Custódia, Luiz Ruben e Ângela de Paulo Afonso, Nivaldo Carvalho de Natal, Getúlio Bezerra de Brasilia, Junior Almeida de Capoeiras, Juliana Pereira de Quixadá, Cícero Aguiar de Salgueiro, Débora Cavalcantes de Recife, Rangel Alves da Costa e Milla Ferreira de Poço Redondo, Valdir Nogueira de São José de Belmonte, Camilo Lemos de Piranhas, Rita Pinheiro de Salvador, Rossi Magne de Propriá, Augusto Martins de Afogados da Ingazeira, Divonildo Sobreira de Lavras da Mangabeira, Jose Carlos de Santana de Ipanema, Wilton Silva de Crato, Quirino Silva de João Pessoa, Manoel Belarmino, Rose e Maria Oliveira de Poço Redondo e Manuel Dantas Suassuna... A isso chamo Cariri Cangaço !
Cariri Cangaço,
mais que um evento, um sentimento...
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