Quando estava lendo a última obra do escritor e pesquisador Sérgio Dantas, "Lampião na Paraíba: Notas para a História", lembrei de certo professor de cinema, ao afirmar que o sucesso de um filme está nos primeiros 15 minutos, isto é, se o espectador não for capturado naqueles minutos iniciais, não o será jamais. Ao fazer esta relação, da produção literária de Sérgio Dantas com o exemplo das características de bom filme sugerido pelo especialista em cinema, não tenho dúvida, fui refém desde a introdução e somente posto em liberdade, ao final das 366 páginas, num voo direto de leitura, sem escalas e/ou conexões
Penso que ler, pesquisar e escrever, sobre a primeira fase do cangaço lampiônico, não seja tarefa fácil, na medida em que os acontecimentos abrangem períodos iniciais daquele cangaço, cujas noticias são esparsas e escassas, muito delas espraiadas em diversos textos clássicos, com diversas variações de entendimentos por seus autores, sem falar que as matérias jornalísticas, são raras e de difícil acesso.Entretanto, mesmo diante de tais contingências, Sérgio Dantas conseguiu estudar e produzir a história do cangaço de Lampião, que ocorreu no Estado da Paraíba, cujos eventos eram cheios de incertezas, duvidas e principalmente a falta de concatenamento entre eles.
Assim, gostaria de destacar alguns episódios ocorrido na Paraíba de suma importância, para os leitores deste "Mundo Estranho dos Cangaceiros", que recebeu considerada luz no texto de Sérgio Dantas, dentre outros, o ataque à cidade de Sousa (PB), que não restam dúvidas foi o divisor de águas, nas carreiras bandoleiras de Lampião e Chico Pereira, aliás, agora se pode ter noção da complicada e obscura relação do Coronel José Pereira Lima e o Capitão Virgolino, podemos até estabelecer marco histórico: antes e depois de Sousa (PB), confesso que fiquei atendido, como leitor, na perspectiva apresentada pelo autor.
Sérgio Dantas
Ainda, no campo de relações harmônicas ou desarmônicas de Lampião, com as autoridades da Paraíba, consegui fazer funcionar minhas sinapses, partindo do combate da Lagoa do Vieira, em que o chefe cangaceiro saiu lesionado no pé, até a região de Patos de Irerê, mais precisamente no Sítio Saco dos Caçulas, protegido por Marcolino Diniz e seus parentes, agora sim ficou fácil pensar desta amizade, que posteriormente chegou ao fim.
Outra perspectiva interessante que fez-me pensar, e livro bom faz o leitor pensar, foi a trajetória do cangaceiro Chico Pereira, a áurea de injustiçado muito propalado pelo filho escritor dele, foi descortinado, agora é possível deslocar-se e ver aquela trajetória de outro ponto de observação, que nem sempre apresenta o cangaceiro como perseguido pela policia.
Termino este comentário, declarando o óbvio, que os textos de Sérgio Dantas, como de costume, são encharcados do rigor científico, com vastíssimas referências (Jornais, Boletins da policia, Processos, livros, entrevista e revistas), isto não é novidade para os leitores dele, acrescento que desta vez ele superou, o que já era bom, no que tangencia a geografia do sertão, arrisco dizer que nunca li antes, quem cuidasse com tanto esmero e propriedade as localizações dos episódios pesquisados.
Aprendi com o autor, que mais importante que instituições, grupos de pesquisas e pareceristas é a pesquisa dura, daquelas que carecem sentir o ácaro dos arquivos públicos, a estrada de barro, o sol inclemente do sertão e também se apropriar de toda literatura disponível da área, até as medíocres, e o mais importante: A satisfação pessoal que vem do trabalho realizado. Agora temos uma referência sobre o cangaço na Paraíba, ainda bem.
Geziel Moura, pesquisador - Belem-PA
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