Luiz Ruben
Nesses últimos dezoito anos venho exaustivamente pesquisando o combate ao banditismo, particularmente o cangaço do mais destacado bandido das caatingas, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Dediquei-me a pesquisar principalmente a divulgação na imprensa pelos jornais de todo país e outros documentos da época, seja nos boletins militar, relatórios, revistas, enfim tudo que era divulgado ao tempo dos acontecimentos. A exemplo do Jornal do Recife, A Noite, Jornal Pequeno, A Província, O Jornal, Jornal do Brasil, A Gazeta, Gazeta de Notícias, dentre outros.
Embora a imprensa não fizesse investigação local, não deixava de receber e publicar telegramas e cartas enviadas por vítimas e autoridades locais informando os desmandos dos cangaceiros nas suas localidades e descrevendo os fatos ocorridos. Esse trabalho tem sido apresentado em livros, até agora numa sequencia fora da cronologia dos acontecimentos, mostrando períodos distintos da atuação de Lampião e seu bando.
No livro Lampião e os Governadores, lançado em 2005, apresento a transcrição de documentos oficiais: relatórios, mensagens, falas e exposições, para mostrar como os estados tratavam a luta contra o banditismo, também abrange a década de 20, alcançando já a atuação de Lampião. No livro Lampião Conquista a Bahia, lançado em 2011, apresento o período da entrada do rei do cangaço nas terras de Castro Alves, em 21 de agosto de 1928 até final de 1929.
O livro Lampeão Antes de ser Capitão, lançado em 2016 aborda o período do início de suas atividades como cangaceiro, de 1920 até fevereiro de 1926.
Logo após, no mesmo ano de 2016, lancei o livro Lampião em 1926, que apresenta a atuação de seu bando até final de dezembro daquele ano.
Já o período que apresento neste livro, Lampião em 1927 – A Marcha dos Bandidos tem início em janeiro de 1927 e vai até setembro de 1928, aqui mostrado mês a mês, quando Lampião e mais cinco cabras atravessam o Rio São Francisco na altura da cidade baiana de Rodelas, portanto, um mês após sua entrada na Bahia.
Coloco numa cronologia mês a mês dos anos de 1927 e 1928. Apresento uma iconografia com objetivo de colocar os personagens citados no seu tempo e espaço. Assim, nesse livro, concluo a década de 20 sobre a epopeia que foi o cangaço, mostrando mais uma vez que Lampião era sempre manchete com o acompanhamento de suas façanhas quase que semanalmente, em alguns períodos diariamente, nos principais jornais do Brasil, sempre grafando a palavra Lampião com “e”. Como curiosidade para o leitor, essa década de 20 resulta em mais de 1800 páginas com textos e fotos sobre o assunto, distribuídos nos 5 livros acima já citados.
Mostro no presente livro a divulgação de alguns jornais, pois outros repetiam as matérias, cartas e telegramas publicados nos jornais da capital do país, o Rio de Janeiro, alertando o leitor que a iconografia tem como objetivo colocar os personagens citados no seu tempo e espaço. O que mais chama a atenção deste pesquisador é o número de cangaceiros que a imprensa publica no ano de 1928 em suas páginas. Varia de forma a confundir seus leitores, pois alguns jornais informavam a quantidade que variava de seis (6), até trinta e seis (36), afirmando alguns periódicos que Lampião chegou a contar até com cento e setenta (170) cabras.
O leitor vai encontrar várias análises sobre o fenômeno cangaço nesse trabalho. Posso aqui destacar o texto de Anísio Galvão, nessa época deputado estadual por Pernambuco; do ilustre baiano Otávio Mangabeira; artigos assinado por Assis Chateaubriand e Rodrigues de Carvalho, entre outros. Mostro a posição do governo Artur Bernardes com as alianças feitas com os governadores e os coronéis da política nordestina para combater a Coluna Prestes e a participação do padre Cícero na convocação de Lampião para integrar o Batalhão Patriótico do Juazeiro, como também artigos sobre o padre Cícero Romão Batista, entre outros, são aqui transcritos.
Jornais do Ceará cobrem as fugas de Lampião nesse território e a briga interna dos oficiais cearenses que lutavam contra os cangaceiros, para justificar o fato de não haverem prendido Lampião. Apresento o sensacional interrogatório que a justiça do Crato fez com o cangaceiro preso, Mormaço, publicado nos principais órgãos da imprensa cearense e pernambucana. Mormaço delata seus companheiros e faz revelações contra as autoridades constituídas que os combatiam.
A grande importância dada pela imprensa à tentativa de invasão a cidade de Mossoró no Rio Grande do Norte em meados de junho de 1927, coloca Lampião no centro das manchetes na ampla cobertura jornalística. Nesse momento seu grupo era constituído por 53 cabras, a imprensa ampliou em várias vezes o número de cangaceiros envolvidos no acontecimento. No percurso que os cangaceiros fizeram do sul do Ceará até a cidade de Mossoró os jornais do estado divulgavam com o atraso normal dos fatos que aconteciam nas correrias dos bandos entre uma localidade e a próxima que seria atacada pelo bando de Lampião em maio, junho e julho de 1927. Essas notícias eram depois divulgadas em outros órgãos da imprensa nordestina.
A imprensa informa o fracasso das polícias coligadas do Ceará, Paraíba e Pernambuco para prender os chefes de grupo: Lampião, Jararaca e Massilon na tentativa de extorquir a cidade potiguar de Mossoró. O ataque de Lampião à cidade de Mossoró, a repercussão é tanta que a imprensa, mais uma vez, procura o antecessor do Rei do Cangaço, preso na Casa de Detenção do Recife, o não menos famoso Antônio Silvino, o Rifle de Ouro, no seu décimo terceiro ano de cumprimento de pena para uma exclusiva entrevista.
A imprensa pernambucana continuava com o assunto “Lampião” sempre em pauta, de forma constante, quase como uma cobrança do leitor e publica dessa vez a entrada de Lampião na Bahia, com apenas um dia de diferença, após o Rei do Cangaço atravessar o Rio São Francisco, em 21 de agosto de 1928 seguido de apenas cinco cangaceiros. A quantidade reduzida de cangaceiros sob sua chefia, não fez diminuir o interesse da população e a importância da cobertura dada pela imprensa.
Paulo Afonso e Recife, 02 de maio de 2019
Luiz Ruben F. de A. Bonfim
Economista e Turismólogo - Pesquisador de Cangaço e Ferrovia
Conselheiro do Cariri Cangaço
Membro da ALPA - Academia de Letras de Paulo Afonso
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