Dona Francisca, Herton Cabral e Manoel Severo
Afora a superioridade numérica, a possibilidade de vitória se mostraria ainda mais plausível com a corja já esfacelada e desmoralizada pela fragorosa derrota imposta por Rodolfo Fernandes e seus patriotas. O que acontece então? Lampião entra lépido em Limoeiro, passeia, visita igreja, é bem fotografado, toma café e janta, vai ao telégrafo onde conversa e telegrafa. Apresenta-se despreocupado. Tudo isso ocorrendo só dois dias depois de ter tentado matar, violar e roubar e depredar uma cidade inteira. Em singular depoimento, conta o sr. Custódio Saraiva, então Secretário da Prefeitura e juiz municipal limoeirense, que Lampião parecia tranquilo a ponto de até pretender se demorar na cidade, para aguardar a chegada do resgate exigido pela vida do coronel Antônio Gurgel e esposa. Só desistiu do intento ao tomar conhecimento da aproximação, célere, de volantes da Polícia do Rio Grande do Norte e da Paraíba já seguindo em seu encalço.
Destaque-se que policiais riograndenses e paraibanos chegaram a vizinha Russas, antes das forças cearenses. O fato é que governo cearense sequer podia alegar surpresa com a presença de Lampião em Limoeiro, pois tivera conhecimento antecipado, através do correto prefeito Rodolfo Fernandes, que os cangaçeiros se aproximavam para atacar Mossoró, o que colocava em grande perigo direto todo o médio Jaguaribe. Um governante precavido certamente teria se antecipado ao provável movimento de fuga lampeonica, deslocando de tropas volantes para fechamento das vias de acesso e combate ao grupo de bandoleiros, agindo em coordenação com as demais polícias. Sem esquecer de reforçar as defesas das principais cidades da região. Mas, para quem havia se negado a prestar a ajuda solicitada pelo destacado cel. Rodolfo Fernandes, nada de bom se podia esperar, mesmo que tivesse de renegar a validade das cláusulas de ajuda recíproca assumidas no vigente convênio interestadual de combate ao cangaceirismo.
Portanto, quando se examina a sequência de fatos, antecedentes e consequentes, percebe-se que um enredo havia sido traçado para facilitar a escapulida do capitão facinoroso. E nessa trama diabólica envolveram-se insignes chefes políticos, destacados oficiais da briosa polícia e, pasme-se, o próprio presidente do estado, alcunhado ‘Moreirinha’, se enredou, ou foi enredado, no imbróglio montado pelos seus apaniguados, de que resultou na fuga sensacional de Lampião do Ceará. Faltou a esse dirigente vontade política, pulso e determinação, pois agiu marcando a história política do Ceará com um indelével sinal de nefasto compadrio político. Então, quando tudo confluía para o vesgo ser desbaratado e exterminado em solo cearense, eis que ressurta Lampião, após marchar por mais de oitenta léguas tiranas em lutas e atropelos, para dar continuidade da vida do crime por mais longos onze anos, deixando atrás de si um rastro de centenas de crimes e famílias enlutadas, até ser pego na ratoeira final de Angico.
Fonte: YouTube Canal: Alex Chaves Monteiro
Herton Cabral, pesquisador
Fortaleza, Ceara
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