Lampeão, Ponto-Fino, Moderno, Salamanta, Antonio de Engracia, Jurema, Mergulhão e Corisco na vila de Pombal, Bahia. 1928.
O grupo de cangaceiros entrou na modesta vila nas primeiras horas da manhã e, desembestado, o chefe Lampeão pergunta aos que os recebem, um aglomerado de curiosos, se havia algum fotógrafo entre os locais. Por volta das oito horas da manhã o alfaiate, fotógrafo e maestro da Philarmonica XV de Outubro, Alcides Fraga de Mendonça, é levado ao encontro do cangaceiro com sua câmera de tirar retratos. Feita a foto, Alcides pede paciência ao capitão Virgolino e se compromete a entregar o serviço assim que recebesse os químicos necessários para revela-lo, então já encomendados em Salvador. Passados alguns dias, Fraga recebe a visita de um estranho em seu ateliê, que confessa ao alfaiate estar ali a mando do cangaceiro para buscar a encomenda. Lampeão havia deixado Pombal em paz, sem provocar qualquer peleja, para alívio dos vizinhos de Alcides, mesmo assim, o apreciado fotógrafo passou a sofrer acusações de cumplicidade com seus improváveis clientes por membros das policias baianas que passavam pela região. Alcides Fraga, por via das dúvidas, caso a cabroeira voltasse a procura-lo, mudou-se com a família para Piranji, na distante zona cacaueira, e somente após a morte de Corisco pode regressar ao seu saudoso sertão. Da fotografia que poderia tê-lo deixado famoso, herdou apenas um amargo exílio e o afastamento de suas atividades de maestro e alfaiate. Morreu deprimido, solitário, separado da família que amava, na vila de Cipó, distante apenas sete léguas da Pombal que o rejeitara por ter sido o autor de um histórico retrato do temido Lampeão.
trecho do livro "Memórias Sangradas",
de Ricardo Beliel
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