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Moreno e Durvinha nos Grandes Encontros Cariri Cangaço
Um Vaqueiro de Belmonte nas Forças Volantes no Encalço de Horácio Novas Por:Valdir José Nogueira
A tradicional e antiga fazenda Gameleira no município de São José do Belmonte pertenceu inicialmente ao major Antônio Alves da Luz, que foi casado a segunda vez com Maria Francisca de Barros (Maria da Gameleira), filha de Jacinto Gomes dos Santos, da “Lagoa”, também em Belmonte. O casal Antônio Alves da Luz e Maria da Gameleira, deixou seis filhos, dentre os quais o famoso major Pedro Alves da Luz, da fazenda Barrinha, em Belém do São Francisco, e Maria Francisca da Luz Barros (Cotinha), que fugiu para casar com seu primo Antônio Onias de Carvalho Barros. O major Antônio da Luz revoltado, e totalmente contrariado com o rapto de sua filha, resolveu vender a Gameleira cujo comprador foi o capitão Rufino Gomes Barbosa Leal.
Biografia de natalense desconstrói mito de cangaceiro romântico de Jesuíno Brilhante Por: Cinthia Lopes
Um cangaceiro será sempre anjo e capeta, bandido e herói, como cantou Gilberto Gil na música O Fim da História. O cangaceiro Jesuíno Brilhante (1824-1879), um dos primeiros bandoleiros do sertão nordestino de meados do século XIX, nunca foi pintado nesses tons de contraste. Antecessor de Virgulino Ferreira Lampião, o norte-rio-grandense nascido em Patu deixou em torno de sim um mito de generosidade, modelado aos olhos do povo e dos historiadores como um herói romântico bem apessoado, que saqueava dos coronéis para dar aos pobres.
Um legado corroborado por Luís da Câmara Cascudo em alguns de seus livros, como “Flor de Romances Trágicos” (1966), também ressaltado no filme de 1972 do diretor William Cobbett, “Jesuíno Brilhante, O Cangaceiro”. Mas que agora se descontrói na nova biografia escrita por Honório de Medeiros “Jesuíno Brilhante, o primeiro dos grandes cangaceiros” (8 Editora, 309 págs.).
A biografia sobre a trajetória do cangaceiro de olhos azuis acaba de ser lançada e compõe com outros dois livros, “Massilon, nas veredas do Cangaço” e “Histórias de Cangaceiros e Coroneis”, a trilogia do autor acerca do coronelismo e do cangaço no Rio Grande do Norte. Jesuíno Brilhante encontrou para fechar a trilogia e foi ao se aprofundar nas pesquisas que se revelou para o autor a imagem diferente da composição que se tinha dele de “cangaceiro romântico” e “Robin Hood” do sertão.
No livro, Honório de Medeiros mostra que assim como outros que vieram depois dele, Jesuíno aterrorizou, matou por desavença ou encomenda, assaltou e saqueou o sertão do Rio Grande do Norte à Paraíba. Algumas vezes, havia relato que saqueava comboios e doava parte aos pedintes para manter a fama de cangaceiro justo que já andava no boca a boca. Também se casou aos 19 anos com uma parente de afinidade, Maria Carolina de Castro Lira, filha do primeiro casamento da segunda mulher de seu pai.
Para encontrar sua composição “chiaroescuro”, Honório de Medeiros conta que primeiro se abasteceu de toda a bibliografia e depois trouxe novas fontes pesquisando em todos os jornais de época tanto liberais como conservadores brasileiros e até estrangeiros.
“A pesquisa durou cinco anos. Primeiro fiz a coleta de todo o material já escrito a respeito dele, depois fiz algo que até então não tinha sido feito, coletei jornais do Brasil inteiro até do exterior falando sobre Jesuíno. À medida que eu fui pesquisando, a lenda em torno de seu nome e seus feitos, foi sendo descontruída, mas não ao ponto de uma destruição do personagem, apenas situando-o no seu tempo histórico de forma real”, explicou.
Honório apresenta ao leitor uma biografia de narrativa leve mas em forma de ensaio, na qual confronta ideias registradas em livros e jornais, pontuando a vida de Jesuíno Brilhante, seu tempo, seus atos e como as ramificações familiares determinaram de alguma forma suas escolhas. A biografia é dividida em capítulos e temas: “A época de Jesuíno Brilhante”, “Vida e morte”, “O outro lado da moeda”, “À Propósito”, “Um esboço de conclusão”. Cada capítulo é aberto por uma ilustração que representa um cangaceiro, desenhado por Gustavo Sobral. Já a capa do livro é um óleo sobre tela do pintor Etelânio Figueiredo.
O jornalista Vicente Serejo, autor do prefácio, escreve que foi preciso “olhos sem medo, acesos pela dúvida” para ter a coragem de desmontar uma verdade que perdurou livre e inquestionada ao longo de décadas.
No sertão da metade do século XIX as questões políticas se misturavam à vida da sociedade e era comum a aproximação dos cangaceiros com os donos do poder. Havia as velhas questões de sobrevivência em jogo, ódio entre famílias, vinganças, fama e códigos honra. Retratar a figura e o contexto da época foi uma das preocupações do autor, assim como trazer ao leitor uma análise minuciosa de suas fontes de pesquisa.
Sob a costura de datas e registros dos jornais, o autor monta a história a partir de um tio materno de Jesuíno como fio do novelo que desenrolou na sua entrada no cangaço. José Brilhante de Alencar Souza, o Cabé, era cangaceiro. Com o casamento da irmã, Cabé veio da Paraíba para o Rio Grande do Norte e se instalou na fazenda Cajueiro, próximo ao “Tuiuiú”, a fazenda do pai de Jesuíno de quem agora era cunhado. O tio é peça dessa história de desavenças familiares dos Alves de Melo e os Limões a entrada de Jesuíno no cangaço com o assassinato de Honorato Limão, numa bodega em Patu.
Foi Cabé quem também descobriu na cidade de Maioridade (antiga Martins) a “Casa de Pedra”, local que veio a se tornar o refúgio famoso de Jesuíno Brilhante. Como tudo que diz respeito a Jesuíno Brilhante, também sua morte é controversa, explica o autor no capítulo “O Fim”:
Morreu no Riacho dos Porcos, município de Brejo do Cruz, Paraíba, em dezembro de 1879, quando viajava na companhia de seus dois irmãos e demais membros de seu bando, e foi surpreendido pela Polícia paraibana guiada pelo Cabo Pedro Limão. João Brilhante, seu irmão, o sepultou em um local chamado “Palha”. Os emboscadores, no entanto, não levaram o corpo e anos depois sua caveira é levada por um líder político mossoroense, doada a uma escola e depois levada pelo Interventor Rafael Fernandes Gurjão ao médico psiquiatra Juliano Moreira, no Rio de Janeiro. E não se sabe mais dela.
Explicando
No filme de William Cobbett, vemos que o diretor usou uma licença poética para explicar a entrada de Jesuíno no cangaço. “Não foi para vingar a morte do irmão, mas qualquer que tenha sido o motivo, podemos situar como consequência de uma época de um código de honra brutal típico do sertão arcaico e das relações políticas existentes naquele período”.
Já sobre Câmara Cascudo ter reforçado a lenda do gentil-homem cangaceiro, o autor explica que “existiam laços de amizades entre a sua família de Caraúbas e a família de Jesuíno Brilhante. Ele tinha um carinho pela história desse cangaceiro. Cascudo se apegou as histórias que chegavam aos seus ouvidos dizendo sobre as ações meritórias e heroicas do cangaceiro”.
Quanto à tentativa de criar um estado paralelo livre de coronéis, para o autor é “uma história infundada, pois não existe nenhum registro que possa sequer sugerir a existência desse estado paralelo sertanejo ou de uma sociedade livre de coronéis”, contou.
Honorio de Medeiros é escritor e advogado, bacharel em ciências jurídicas e sociais pela UFRN, Mestre em direito e tem outros livros publicados em áreas como filosofia e direito.
O livro pode ser encomendado por email:mariasenna1958@gmail.com
Cinthia Lopes - Típico Local
Muito Obrigado Antônio Amaury !
"Meu velho, Antônio Amaury Corrêa de Araújo, odontólogo de formação, fez aquilo que amou. Por isso ouso dizer que ele é muito mais historiador do que dentista. Assim acabou por produzir uma fonte rica e de suma importância para a compreensão da história do cangaço. Como brasileiro, agradeço por todo empenho que teve ao colher depoimentos de todos aqueles que participaram dessa saga nordestina e que teve a oportunidade de conhecer e entrevistar. Como filho, agradeço o exemplo que norteou minha vida e todo o apoio dado."
Carlo Araujo; filho, amigo e companheiro inseparável de Antônio Amaury Correa de Araujo,odontólogo, pesquisador e escritor do cangaço, Mestre.
Uma Noite de Celebração !
Sertão; floresta longe da costa... Não o Sertão interior do país, mas o Sertão interior de cada um de nós, onde tudo começa ! A força e a graça desse Sertão, a força e a graça das cores, dos sons, da gente desse chão... O maravilhoso Sertão que nos acolhe, que é nosso berço, que traduz nossa essência. O Cariri Cangaço traz até você nessa Live, "O Sertão como Patrimônio Cultural e Afetivo" ; numa conversa preciosa com dois sertanejos arretados de bons, um pouco da magia e do encantamento da Alma Sertaneja. E não poderíamos iniciar nossa conversa sem render homenagens ao nosso Grão Mestre da Cultura do Sertão; Patativa do Assaré:
"Sertão, argúem te cantô,
Eu sempre tenho cantado
E ainda cantando tô,
Pruquê, meu torrão amado,
Munto te prezo, te quero
E vejo qui os teus mistéro
Ninguém sabe decifrá.
A tua beleza é tanta,
Qui o poeta canta, canta,
E inda fica o qui cantá."
Com a extraordinária foto de Hélio Filho; que nos mostra o "menininho que levita na Casa Grande" nos trazendo toda a magia e encantamento da Alma Sertaneja; agradecemos e celebramos a extraordinária noite de ontem, dia 21 de agosto de 2020, com os Grandes Encontros Cariri Cangaço em nosso canal no YouTube - "O Sertão como Patrimônio Cultural e Afetivo". Muito obrigado a nossos convidados especiais; Fabiano dos Santos Piúba e Alemberg Quindins, a noite foi estupenda !!! A isso chamo sertão, a isso chamo paixão, a isso chamo Cariri Cangaço!
Quem não assistiu ao vivo, vai lá em nosso canal no YouTube e confere.
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100 Anos de Durval Rodrigues Rosa, do Angico à Prefeitura de Poço Redondo Por:Manoel Belarmino
A história do homem Durval Rodrigues Rosa começa no tempo do Cangaço. Nasceu naquele dia 18 de agosto de 1920, há exatamente 100 anos. Antes de completar a maior idade, ainda menino como tantos sertanejos na época, Durval "viu-se acercado" de cangaceiros e volantes. Era assim este sertão caatingueiro, e o sertão de caatinga e água das beiradas do São Francisco. O sertão do Angico. No "Fogo do Angico", naquele histórico 28 de julho, Durval estava presente; fora levado à força pelas volantes alagoanas de João Bezerra para mostrar o coito de Lampião. Esteve presente naquele grande combate que encerrou o Cangaço de Lampião, marcando a história do Nordeste e do Brasil.
Mais tarde, naquela primeira eleição, em 3 de outubro de 1954, e na segunda eleição, em 4 de outubro de 1958, depois da Emancipação Política de Poço Redondo ocorrida em 25 de novembro de 1953, Durval Rodrigues Rosa já estava presente na política no grupo político liberado por Zé de Julião (José Francisco do Nascimento), o ex-cangaceiro Cajazeira, e tantos outros poço-redondenses, como Abdias, Manoel Soares, João Torquato, Salu, João Emídio, Lourival Felix...
Naquela histórica eleição de 4 de outubro de 1958, quando as urnas eleitorais foram recolhidas por Zé de Julião, em protesto contra as "safadeza" de um juiz eleitoral, Durval Rodrigues Rosa estava presente e fazia parte daquele grande grupo político composto pelos filhos de Poço Redondo. Naqueles primeiros 8 anos, depois do 25 de novembro de 1953, Poço Redondo estava emancipado por direito, mas de fato e politicamente estava ainda dependente dos políticos de Porto da Folha. E Zé de Julião liderava essa luta para que os filhos de Poço Redondo tivessem, de fato e de direito, o domínio político e administrativo do Município de Poço Redondo.
Depois do assassinato do líder político Zé de Julião, Durval assume a liderança política e, na terceira eleição, ocorrida em 03 de outubro de 1962, foi eleito prefeito de Poço Redondo. O primeiro filho de Poço Redondo a ser eleito prefeito da jovem cidade depois de duas eleições, depois de muita luta.
Outro acontecimento marcante marcou a história política de Poço Redondo. Durval governava Poço Redondo tranquilamente, mas, de repente, um reboliço acontece em todo o Brasil. É a tomada do poder do país pelas Forças Militares em 31 de março e 1° de abril. O Exército derruba o presidente da republica João Goulart e assume o poder. E no dia 9 de abril de 1964 é instituído o Ato Institucional n° 1 (AI-1). A força bruta dos miliatres submete os prefeitos eleitos pelo povo às vontades das forças armadas. Quem não obedecesse ou se submetesse às vontades das Forças seria cassado. Durval preferiu não se submeter, preferiu ficar do lado do povo que democraticamente o elegeu e renunciou antes de ser arbitrariamente cassado.
Na eleição de 1970, indica o seu filho mais velho, João Rodrigues Sobrinho, como candidato a prefeito, e este é eleito. Na eleição de 1976, Durval é novamente eleito prefeito. Em 1992, Ivan Rodrigues Rosa, também filho de Durval, é eleito. É o quarto mandato de prefeito comandado pelos Rosa, liderados pelo grande lider político Durval Rodrigues Rosa.
E neste 18 de agosto, dia do Centenário de Durval Rodrigues Rosa, ficam aqui as minhas homenagens ao senhor Durval Rodrigues Rosa e a todos os seus familiares, nessas poucas linhas sobre a história de Durval e que também é um pouco da história de Poço Redondo.
Manoel Belarmino, Conselheiro Cariri Cangaço
Pesquisador, escritor - Poço Redondo-SE
"O Sertão como Patrimônio Cultural e Afetivo" nos Grandes Encontros Cariri Cangaço
Nesta próxima sexta-feira, dia 21 de agosto de 2020, pontualmente as 8 da noite teremos mais um espetacular encontro com a verdadeira alma nordestina. O Cariri Cangaço convida a todos para junto com os convidados especiais, Fabiano Piúba; Secretário de Estado da Cultura-Ceara e Alemberg Quindins, fundador da Casa Grande de Nova Olinda -Memorial do Homem Cariri, desbravar os segredos e os encantos do Sertão !!!
A Farsa do Presidente João Pessoa Por:Domingos Sávio
Seguindo a cronologia da Guerra de Princesa, o que faz parte das rememorações e comemorações do nonagésimo aniversário daquele importante conflito, trazemos hoje as ações retaliativas do presidente João Pessoa contra Princesa motivadas pelo rompimento político do coronel José Pereira com o chefe do Poder Executivo Estadual. Em 24 de fevereiro de 1930, portanto há 90 anos, João Pessoa, logo após a troca de telegramas com Zé Pereira, o que teve confirmado o rompimento político, demitiu todos os funcionários públicos estaduais que serviam em Princesa.
Exonerou as seguintes autoridades: o prefeito José Frazão de Medeiros Lima; o vice-prefeito Glycério Florentino Diniz; o adjunto de promotor Manoel Medeiros Lima e o diretor do Grupo Escolar “Gama e Melo”, professor Severino Loureiro. O delegado de polícia Manoel Arruda e mais oito soldados foram chamados de volta à Capital e os subdelegados de Tavares, Belém, Alagoa Nova (Manaíra) e São José (São José de Princesa) à época distritos, foram todos exonerados. O chefe da Mesa de Rendas do Estado, Manoel Carlos de Andrade, que era irmão do coronel Zé Pereira, já havia sido transferido para a cidade de Patos/PB.
Somente os funcionários federais continuaram no desempenho de suas funções no município, a exemplo do juiz de direito, doutor Clímaco Xavier; do coletor federal, Leônidas Wanderley; do escrivão da Coletoria Federal, Tiburtino Carlos de Andrade; do telegrafista, Richomer Góis de Campos Barros e do Oficial do Registro Civil, Silvino de Medeiros Lima. Logo que demitiu esses servidores, o presidente João Pessoa expediu telegrama ao presidente da República, Washington Luís, com o seguinte teor: “Assim procedi, primeiro porque a polícia não podia assistir inactiva a invasão da cidade por facínoras armados”.
O Sertão como Patrimônio Cultural e Afetivo nos Grandes Encontros Cariri Cangaço
Nesta próxima sexta-feira, dia 21 de agosto de 2020, pontualmente as 8 da noite teremos mais um espetacular encontro com a verdadeira alma nordestina. O Cariri Cangaço convida a todos para junto com os convidados especiais, Fabiano Piúba; Secretário de Estado da Cultura-Ceara e Alemberg Quindins, fundador da Casa Grande de Nova Olinda -Memorial do Homem Cariri, desbravar os segredos e os encantos do Sertão !!!
Como consultor da Unicef criou os programas de rádio de criança para criança em Angola e Moçambique. Foi gerente de cultura do SESC Rio de Janeiro (2018) e atualmente é assessor de relações institucionais do SESC Ceará. Foi professor do Curso de Pós-graduação em Gestão Cultural Contemporânea do Itaú Cultural e Instituto Singularidades (2017 – 2019) e é professor do Curso de Pós-graduação Latu Sensu em Arqueologia Social Inclusiva pela Universidade Regional do Cariri - URCA e Investigador do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Patrimônio – CEAACP da Universidade de Coimbra – Portugal.
Pão de Açúcar - Celeiro do Cangaço Por:Raul Meneleu
O livro "Lampião - A sua verdadeira morte" narra a história do Senhor João Novato, que chegou à cidade no início dos anos 60 e fixou residência. Vinha acompanhado de sua esposa, que se chamava Maria Rita. Mas fora desta história entrevistei algumas pessoas e existem outras que precisam ser expostas.
Fico imaginando por que essa região foi praticamente esquecida pela maioria dos pesquisadores da grande saga que desenrolou-se no Nordeste brasileiro e mais ainda nesta região. Podemos citar a Professora Luitgarde de Oliveira Cavalcanti Barros, nascida nessa região alagoana como um destaque em falar sobre a saga e o jornalista Melchiades da Rocha. Vamos elencar aqui alguns vultos representativos destas três vertentes: coronelismo, autoridades policiais e cangaceiros, e no bojo destas três vertentes, pistoleiros e capangas.
Coronéis:
A conversa do Coronel Joaquim Rezende com Lampião
No dia 30 de julho de 1938 em Santana do Ipanema, Alagoas, onde as cabeças iriam ser expostas, estava o prefeito recém-eleito de Pão de Açúcar, Joaquim Rezende, identificado por alguns como sendo coiteiro e amigo de Lampião. O Coronel Joaquim Rezende foi prefeito de Pão de Açúcar entre 1938 e 1941. Este Morreu assassinado em 1954, quando ocupava o cargo de delegado de Polícia. Os assassinos formam os irmãos Elísio e Luiz Maia. Elísio era então prefeito do município.
Melchiades da Rocha, em seu livro Bandoleiros das Catingas, lançado em 1942, recorda do encontro que teve com Joaquim Rezende em Santana do Ipanema.Ele se refere ao prefeito de Pão de Açúcar como sendo “um abastado proprietário em seu município” e que ele estava em Santana também “à espera da cabeça de Lampião, pois desejava certificar-se se de fato ele havia morrido”.
A condição de amigo de Lampião ostentada por Joaquim Rezende aguçou os instintos do repórter, que começou a se perguntar o que teria levado um rico cidadão a “se tornar um afeiçoado do Rei do Cangaço”, quando era prefeito de uma cidade que poderia ser alvo das ações do bandido. A narrativa a seguir é um valioso documento de como se davam as relações de Lampião com o poder político e econômico das regiões sertanejas vítimas do cangaço. Com a palavra Melchiades da Rocha:
“Sem quaisquer etiquetas, pois nós sertanejos não
somos, apenas, iguais perante a lei, apresentei-me ao Cel. Rezende e lhe disse
à moda da terra:
— “Seu” Rezende, eu queria uma palavrinha do
senhor!
— Pois não! — respondeu-me, amavelmente, o prefeito
de Pão de Açúcar.
Momentos depois o Sr. Rezende e eu nos achávamos na sede da Prefeitura de Santana. Em poucas palavras relatei os meus propósitos ao cavalheiro que me fora apontado como sendo grande amigo de Lampião. Após ter-me oferecido uma cadeira, o Sr. Rezende sentou-se e narrou, pormenorizadamente, como e por que se tornara amigo do Rei do Cangaço, amigo ocasional, bem entendido, pois não poderia ter sido de outro modo.” O Coronel Rezende então fala ao repórter:
"Conheci Lampião em 1935, época em que me
escreveu ele, pedindo mandasse-lhe a importância de quatro contos de réis,
prometendo-me, ao mesmo tempo, tornar-se meu amigo se fosse atendido.
Em resposta à carta do terrível bandoleiro, mandei dizer-lhe pelo mesmo portador que lhe daria de muito bom grado o dinheiro, mas que só o faria pessoalmente. Três dias depois Lampião mandou-me outro bilhete do seu próprio punho, dizendo-me que me esperava às 10 horas da noite na fazenda Floresta, município de Porto da Folha, em Sergipe, recomendando-me que fosse até ali, mas não deixasse de levar o dinheiro. Não obstante os naturais receios que tive, à hora aprazada cheguei ao local do encontro, onde permaneci até uma hora da manhã, quando surgiu um cangaceiro que, ao ver-me, perguntou-me se eu era o moço que desejava falar ao capitão. Respondi que sim.
Dentro de poucos minutos, então, o Rei do Cangaço ali se apresentava acompanhado de quatro homens, “Juriti”, “Zabelê”, “Passarinho” e “Nevoeiro”. Ao ver o grupo aproximar-se, identifiquei logo Virgulino e a ele me dirigi, cumprimentando-o. O famoso bandoleiro, ao contrário do que eu esperava, recebeu-me amavelmente e foi logo perguntando sobre o que lhe havia levado. Sabendo que o Rei do Cangaço gostava de beber, eu, que levava comigo três litros de conhaque, lhos ofereci.
A fim de que desaparecesse logo qualquer suspeita do bandoleiro, prontifiquei-me a ser o primeiro a provar a bebida. Encarando-me com olhar firme, Lampião me disse em tom natural: “Concordo em que o senhor beba primeiro, mas não é por suspeita e sim porque o senhor é um moço decente e eu sou apenas um cangaceiro”. Tomamos, então, o conhaque e, em seguida, abordei o Rei do Cangaço sobre o dinheiro que ele me havia pedido. Como resposta, disse-me ele: “O senhor dá o que quiser, pois eu dou mais por um amigo do que pelo dinheiro”.
— Esse fato — disse o conceituado comerciante de
Pão de Açúcar — teve lugar no mês de agosto de 1935, e a minha palestra com
Lampião durou três horas, tendo ele me falado de vários assuntos, entre os
quais o relativo à perseguição de que era alvo, acrescentando que, de todas as
forças que andavam em seu encalço, a que mais o procurava era a do então Major
Lucena, dada a velha inimizade que o separava desse oficial da polícia
alagoana, a quem reconhecia como homem de fato e dos mais corajosos.
Quanto às forças dos outros Estados, disse-me
Lampião que se arranjava “a seu gosto…”, fazendo nessa ocasião graves acusações
a vários oficiais dos que andavam em sua perseguição.
— Aí está como foi o meu primeiro encontro com o
Rei do Cangaço. — Depois — acrescentou o prefeito de Pão de Açúcar — Lampião
mandou pedir-me bebidas, charutos e também objetos de uso doméstico. Mais
tarde, porém, fui informado de que ele estava empregando esforços no sentido de
matar o Sr. José Alves Feitosa, ex-prefeito de minha terra que, como eu, o esperara
muitas vezes ali, a fim de fazer-lhe frente, pois foi das mais terríveis a ação
de Virgulino em nosso município.
Tratando-se de um amigo meu o homem que estava
destinado a morrer às mãos de Lampião, procurei um pretexto para me avistar com
este e não me foi difícil encontrá-lo. Todavia, após uma série de
considerações, em que fui até exigente demais, Lampião, dizendo ao mesmo tempo
que só fazia tal “sacrifício” para me satisfazer, prometeu-me sustar a
realização de sua sanguinária intenção, declarando-me naquele momento que já
tinha em campo dois homens para fazer o “serviço” lá mesmo na cidade de Pão de
Açúcar, já que o visado andava resguardado, não saindo para parte alguma.
Tal conhecimento com Lampião, deixou-me, aliás, em situação crítica, pois inimigos meus denunciaram ao Coronel Lucena que eu era um dos coiteiros do celerado cangaceiro. Ao ter ciência de tal acusação, dirigi-me ao referido oficial e lhe expus as razões que me levaram a ter contato com o Rei do Cangaço, após ter andado prevenido contra ele, longo tempo. Jamais faria isso se não fosse a situação em que, como muitos outros sertanejos, me encontrei durante longo tempo.
Intercedi, depois disso, em favor de várias firmas
comerciais de Maceió e Penedo, cujos representantes teriam caído às garras do
bando sinistro se não fora a minha intervenção junto a Lampião. Há dois meses
passados, fui forçado, do que não guardei reserva ao Coronel Lucena, a intervir
novamente em defesa de algumas vidas preciosas, no que fui feliz, conseguindo
que Virgulino desistisse dos seus sinistros propósitos.”
Após este depoimento, Joaquim Rezende continuou a
conversar informalmente com o repórter e revelou que Lampião confessara a ele
que tinha uma filha fruto da relação com Maria Bonita. A menina, então com 12 anos,
estava sob a guarda de um vaqueiro no município de Porto da Folha, que a
adotara.
Lampião também disse a ele que entrou para o cangaço aos 16 anos de idade, aderindo ao grupo do bandoleiro Antônio Porcino. Tinha a intenção de vingar a morte do pai e de um irmão, que tombaram num choque com a Polícia alagoana. Joaquim Rezende contou ainda que Lampião tinha vontade de abandonar o cangaço para se dedicar à pecuária, pois gostava da vida no campo. O cangaceiro disse ainda que havia adquirido duas fazendas no município de Porto da Folha pela quantia de nove contos de réis e comprado dois belos cavalos em Xorroxó, na Bahia, arreando-os luxuosamente.
Diante da possibilidade apresentada pelo prefeito
de Pão de Açúcar de negociar a sua rendição às autoridades de Alagoas,
poupando-lhe a vida, Lampião achou boa a ideia, mas argumentou que seria
impossível isso acontecer por considerar que os governos da Bahia e de
Pernambuco fariam tudo para eliminá-lo.
“Não tenho dúvidas de que Lampião, se tivesse
podido, havia mudado de meio de vida, pois sei que nestes últimos tempos ele
não atacava senão quando se via forçado a assim proceder”, concluiu Joaquim
Rezende.
A filha de Lampião citada por Joaquim Rezende era Expedita Ferreira Nunes, que foi criada em Porto da Folha pelo casal Manoel Severo e Aurora, que também tomavam conta de duas fazendas — provavelmente as que Lampião citou como suas, mas que são citadas como de Juca Tavares, padrinho de Expedita. Quando Lampião morreu, Expedita tinha cinco anos e nove meses. Isso indica que a informação de Joaquim Rezende sobre a idade da filha, 12 anos, estava errada. é possível que tenha Lampião tenha falado 2 anos e não 12. Expedita, depois dos 8 anos, foi viver com seu tio João Ferreira da Silva, o Joca Ferreira.
CANGACEIROS
Também entrevistei a Sra. Enalva Soares Pinto, filha do cangaceiro Cristino Cleto o Corisco e dona Maria Francisca e que foi entregue ao Padre Soares Pinto, que a deixou com seu tio, o fazendeiro Antônio Soares Pinto para cria-la.
A filha de Corisco que reside em Pão de açúcar/AL,
que foi criada pela tradicional família SOARES PINTO chama-se ENALVA SOARES
PINTO, é filha de um relacionamento amoroso que Corisco manteve com Francisca
Alves, natural de Águas Belas/PE. Está lúcida com 84 anos. No mês ter a criança
o próprio Corisco trouxe a jovem Francisca para Pão de açúcar, assim que a
criança nasceu foi entregue ao padre José Soares Pinto que no momento
encontrava-se em Maceió, foi chamado às pressas por Telegrama para vir a pão de
açúcar receber um presente. O padre José Soares Pinto (1884-1939) ainda faleceu
jovem no Rio de Janeiro, com a morte do padre , a criança ENALVA passa para os
cuidados do irmão do padre o fazendeiro totonho Soares Pinto.
João Novato e dona Maria Rita
A senhora Enalva, teve 12 filhos, inclusive um
deles é Padre em São Paulo, o Padre Enubio. Conheci desta prole apenas dois
deles, o senhor Antônio Pinto, Escritor e Artista Plástico, que nesta minha
visita a Pão de Açucar fez o lançamento do livro "Lampião - A sua
verdadeira morte" e que fez uma caminhada tipo procissão para instalar um
Cruzeiro no túmulo do Senhor João Novato, acreditado por parte da comunidade
como sendo Lampião. E o Senhor Heitor Pinto, proprietário de
uma Academia de Ginástica e de um Restaurante tipo Museu a Céu aberto que conta
a história da cidade com seus personagens mais importantes. Esse museu a céu aberto, está instalado na
periferia da cidade de Pão de Açúcar no Estado de Alagoas, banhada pelo Rio São
Francisco. Também é restaurante e tem um bar temático. Tudo rústico como era o
sertão no século 19. O proprietário é o Professor Heitor Soares Pinto, Neto do
famoso cangaceiro Corisco.
Desde menino conviveu com o Sr. João Novato, que
para algumas pessoas era o famoso cangaceiro Lampião, que depois de fugir
baleado do combate do Angico, depois de andar escondido por muitos anos,
aportou novamente na cidade de Pão de Açúcar-AL no início dos anos 60.
Por conta da pandemia do COVID-19 ainda não voltei a Pão de Açúcar para prosseguir com minhas pesquisas, que inclui a vida de Expedita Ferreira, a filha de Lampião quando menininha criada na região, as fazendas que provavelmente Lampião era proprietário, uma pesquisa de outro filho de Corisco, criado por um membro proeminente da cidade, o relato de um cangaceiro que fugiu baleado do Fogo do Angico e que foi tratado no hospital da cidade sergipana de Nossa Senhora da Glória, onde chegou a escrever na parede do ambulatório suas iniciais e também entrevistar alguns membros do bloco carnavalesco Os Cangaceiros, fundado por um filho de cangaceiro juntamente com João Novato.
Raul Meneleu, Conselheiro Cariri Cangaço
Blog: Caiçara dos Rios dos Ventos - http://meneleu.blogspot.com/