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O Império Imortal de Joaryvar Macedo...


O termo “Império” nascido do latim “imperium”, significa, poder, força e autoridade, naturalmente nos transporta para os alguns dos grandes e imortais acontecimentos da historia da humanidade: império romano, império bizantino, império otomano... Tem sido assim ao longo do tempo, entretanto, império para os apaixonados pela história de nosso torrão, de nosso sertão, das terras deste lado da nação, nos remete a bacamarte, nos remete a Joaryvar Macedo, nos remete ao Império do Bacamarte.

Uma das mais preciosas obras literárias sobre um recorte importante da historia do coronelismo nordestino; tendo o sul do estado do Ceará do final do século 19 e começo do século 20, mais precisamente a emblemática região do cariri; o Império do Bacamarte nos apresenta de maneira aprofundada, a partir da entrega e talento de seu autor; Joaryvar Macedo; sertanejo da “gema” nascido no Sítio Calabaço na emblemática cidade de Lavras da Mangabeira, centro sul do Ceará; um dos mais importantes e surpreendentes períodos do coronelismo de barranco, de todo o país. Fundamentada em vasta bibliografia, pesquisa em periódicos da época, entrevistas com remanescentes e acima de tudo, com a responsabilidade de um filho que fala de sua terra, de sua casa, de seu quintal e de sua gente, Joaryvar Macedo consolida o Império do Bacamarte como um marco no estudo do coronelismo nordestino.

Com a maestria e a sensibilidade que lhes são tão próprias, Joaryvar une mestres como João Brígido, Abelardo Montenegro, Otacílio Anselmo, Rodolfo Teófilo, Leonardo Mota, Nertan Macedo, Amália Xavier e tantos outros talentosos e obstinados garimpeiros da história sertaneja para nos ajudar a compreender esse que foi um dos períodos mais conturbados da historia recente de nosso nordeste. As áridas terras de nosso sertão aprenderam e sofreram desde os tempos da colonização, passando pelo império e desaguando nos tempos da velha república, com as intempéries do clima, a pobreza e desigualdade, a ausência do Estado e com a força e o poder do coronelismo, simbiose perfeita para outros flagelos no sertão nordestino: os “cabras”, os jagunços e os cangaceiros. Notadamente com o presidente Campos Sales; entre 1898 e 1902; e seu sucessor Rodrigues Alves; entre 1902 a 1906; consolidadores da famigerada “políticas dos governadores”, instituto que ensejou por todo o país a expansão e fortalecimento das oligarquias rurais, daí viríamos a conhecer um dos mais sombrios e violentos períodos da história de nosso sertão, destacando o cariri cearense, berço e palco de algumas das mais extraordinárias sagas de deposições, à força e à bala, de todo o Brasil daquela época.

Com clareza, responsabilidade e sua escrita firme, Joaryvar Macedo, nos permite viajar ao cariri dos primórdios do século 18, quando revela os principais e decisivos conflitos armados que teriam forte repercussão na formação da região; personagens como Bárbara de Alencar e seus filhos; Tristão Gonçalves e José Martiniano; sem esquecer ícones como Pereira Filgueiras e Pinto Madeira, dali, passo a passo a epopeia das deposições e mudanças de mando no cariri cearense, sob a égide do bacamarte e o beneplácito da oligarquia Acyolina de Nogueira Acyoli; vão sendo dissecadas com a crueza e violência dos próprios episódios, mas com a leveza das linhas esclarecedoras traçadas por Joaryvar.

1901 tem início a famosa e impressionante saga das deposições no cariri cearense: Antônio Joaquim de Santana; um dos mais proeminentes representantes do Clã dos Terésios; ou simplesmente Coronel Santana, da famosa Serra do Mato depõe Róseo Jamacaru em Missão Velha. Em 1904 no Crato, teremos o coronel Belém de Figueiredo sendo apeado do poder pelo coronel Antônio Luís Alves Pequeno, seguida da deposição em 1906 do coronel Manuel Ribeiro da Costa; o Neco Ribeiro; de Barbalha, por João Raimundo de Macedo, ou coronel Joca do Brejão, esse; irmão do coronel Santana que havia seis anos antes, tomado à bala o município de Missão Velha. No mesmo ano iríamos encontrar a deposição do coronel Marcolino Alves de Oliveira do município de Quixadá, atual Farias Brito, pelos “mandões” daqueles rincões: Joaquim Fernandes de Oliveira e José Alves Pimentel; além do curioso episódio de novembro de 1907 envolvendo dois destacados membros do Clã dos Augustos em Lavras da Mangabeira. Dona Fideralina, a matriarca mais famosa do sertão, patrocinaria a retirada do poder de um de seus filhos, coronel Honório Correia Lima em favor de outro filho, coronel Gustavo Augusto Lima, em um dos momentos mais sanguinários daquelas paragens no belo vale do rio Salgado.

Joaryvar Macedo ainda nos brinda com os episódios sangrentos de conflitos armados por todo o conturbado ano de 1908: em Santana do Cariri, Campos Sales, Aurora e ainda Araripe, quando os potentados locais engalfinhavam-se munidos do bacamarte e da sanha pelo poder perpetrando e consolidando a égide da violência. Nesse ano de 1908 vamos encontrar o destaque para a chegada ao cariri cearense do polêmico medico baiano Floro Bartolomeu; uma das mais emblemáticas e influentes personalidades da história destes lados do sertão nordestino, principalmente por sua estreita ligação com o santo do Juazeiro: Padre Cícero Romão Batista, como também o famoso “Fogo do Taveira”, conflito armado nas terras do Coxá, no município de Aurora, ate hoje cantado em prosa e verso como um dos mais emblemáticos embates da época. O tempo passa e chegamos ao ano de 1910 e a invasão de Lavras da Mangabeira pelo “Bravo Caririense”, Quinco Vasques desafiando a força e o poderio do coronel Gustavo Augusto Lima do Clã dos Augustos, intento logrado pela defesa do filho de Fideralina e seus cabras e a consequente prisão do destemido Quinco Vasques.

E assim Joaryvar Macedo sem esquecer o Pacto dos Coronéis de 1911 em Juazeiro do Norte ou mesmo a Sedição de 1913, dentre outros episódios, nos traz a partir de uma leitura envolvente os principais aspectos daquela conturbada época; com cheiro de chumbo e morte; que por muito tempo ainda viria a pontuar por esses rincões sertanejos. Traçando as principais causas, as principais características de seus protagonistas e ainda as repercussões politicas, o Império do Bacamarte é obra obrigatória a todos que pretendem conhecer um pouco mais dessa feição do coronelismo nordestino.



Família de Joaryvar Macedo, recebe em nome do homenageado, Título de "Personalidade Eterna do Sertão", pelo Cariri Cangaço.

Por ocasião de nosso Cariri Cangaço 2018 em Fortaleza, o Conselho Alcino Alves Costa em sessão solene dentro do evento que ocorreu na Casa José de Alencar; da Universidade Federal do Ceará; viria a prestar uma das mais justas homenagens da comunidade que pesquisa temas nordestinos; foi conferido ao pesquisador e escritor Joaquim Lobo de Macedo, Joaryvar Macedo, o Título de Personalidade Eterna do Sertão, honraria entregue pelos Conselheiros Bosco André e Cristina Couto. O nobre escritor cearense foi representando por sua esposa, dona Rosalba Macedo, o genro Hélio Santos e as netas Ana e Clara, num dos momentos mais importantes da agenda do evento. E hoje novamente temos a honra de reencontrar Joaryvar e seu imortal Império do Bacamarte; a partir do convite feito pela família a mim para participar, com esse texto, do lançamento da mais nova edição da obra que sem dúvidas é um clássico dentro dos clássicos. Joaryvar, você conseguiu a proeza de tornar imortal mais esse “Império” e o mesmo só consolida a sua imortalidade. Yokatane!

Manoel Severo, Fortaleza 21 de maio de 2021

Manoel Severo Gurgel Barbosa é fundador e curador do Cariri Cangaço; diretor da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço; Acadêmico Fundador da ABLAC - Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço; Membro da ACLA - Academia Columijubense de Ciências, Letras e Artes; Membro da Academia Lavrense de Letras; Membro da Academia Apodiense de Letras, Diretor do GECC – Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará e Membro Honorário do GPEC – Grupo Paraibano de Estudos do Cagaço e do GFEC-Grupo Florestano de Estudos do Cangaço. Recebeu os Títulos de Cidadão Honorário dos municípios de Maranguape, Quixeramobim, Crato e Missão Velha; no Ceará, Piranhas em Alagoas e Floresta em Pernambuco.

4 comentários:

  1. São textos como esse da lavra de Manoel Severo Barbosa que avaliamos a contribuição do Cariri Cangaço para História e a Cultura do Sertão Nordestino, especialmente para História do Cangaço e temas afins.Joaryvar deixou um legado literária extraordinário, temos o dever de manter vivo esses conteúdos que servem de luz para História do Cariri Cearense e do Nordeste. Parabéns Severo, viva o Cariri Cangaço.

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  2. Excelente texto que homenageia um grande escritor e sua digníssima família. Parabéns.

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