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O Milagre da Hóstia: Padre Cícero e a Beata Maria de Araújo nos Grandes Encontros Cariri Cangaço
Clementino Quelé e sua Ficha Militar na Polícia Paraibana Por:João de Sousa Costa
As Turbulências Politicas em Triunfo e o Assassinato do Cel Deodato Monteiro Por:José Tavares de Araujo Neto
Em 1919, parte da imprensa
pernambucana apontou o envolvimento do coronel José Pereira e do empresário
João Pessoa de Queiroz no assassinato do coronel Deodato Monteiro, chefe
político de Triunfo. No dia 24 de junho
daquele ano, Deodato Monteiro havia sido morto em emboscada nas proximidades da
cidade de Flores por um grupo composto por cerca de 15 homens, reconhecidamente
sob o comando do seu desafeto, o bandoleiro Luiz Leão.
Havia entre coronel Deodato
Monteiro e Luiz Leão uma desavença que perdurava desde os trágicos
acontecimentos ocorridos nos dias 22 e 23 janeiro de 1910, quando Triunfo foi
transformada em uma sangrenta praça-de-guerra, palco de confronto entre dois
grupos políticos, que também davam nomes a dois blocos carnavalescos, o “Fumos”
e o “Garras”, que protagonizaram horrendas cenas de selvagerias, tendo como
resultado diversas vítimas, entre mortos e feridos.
Neste triste episódio, dentre
outros, foram mortos Belarmino de Sousa Lima, delegado de Flores, mais
conhecido por seu Belo, irmão do delegado de Triunfo, o truculento Joaquim de
Sousa Lima, mais conhecido por Né da Barra. Seu Belo foi acertado por uma bala
alvejada por Luiz Leão; e, também foi a óbito, o médico dr. Agostinho de Araujo
Jorge, membro do grupo de oposição, que teve sua casa invadida por
correligionários do coronel Deodato Monteiro.
Dr. Agostinho Luiz era acusado de
ter fornecido uma arma ao alfaiate Manuel Antonio para se defender de agressão
do delegado Né da Barra, que já o havia agredido e ameaçado de prisão. Em torno
das 17 horas do dia 22, Né da Barra manda três homens surrar a cacete Manuel
Antonio, que reage disparando contra seus agressores, inclusive acertando um
deles. Né da Barra e seu irmão Belo vem ao ataque a Manuel Antonio, neste
momento Luiz Leão atira em Belo, que, baleado, é removido para a residência do
coronel Deodato Monteiro, onde vai a óbito pouca mais de uma hora depois. Após
uma rápida conferência, o grupo que estava no velório, fortemente armado e bem
municiado, decide atacar a casa do médico e de outas figuras importantes da
oposição.
Neste ínterim, outro grupo de
cidadãos, constituído por major Isaías Lima, Pedro Alves, José Vieira e outros
oito integrantes do “Garras”, se refugia na Casa de Caridade, lugar que acharam
ser mais seguro para se proteger da fúria dos componentes do Grupo “Fumos”, os
correligionários do coronel Deodato Monteiro.
O cerco à Casa de Caridade só foi encerrado na manhã do dia 23, graças à
intervenção do coronel José Pereira, que deslocando-se da cidade de Princesa,
e, juntando-se ao comerciante Manuel de Siqueira Campos (Dudu) e seu sócio
Carolino de Arruda de Campos, conseguiu, em conversação com os sitiantes
Deodato Monteiro, Né da Barra e Cândido Cajazeiras, negociar o cessar fogo.
À medida que o tempo foi passando
foi acentuando ainda mais a contenda entre o coronel Deodato Monteiro e Luiz
Leão. Notadamente após o assassinato de Arthur Leão, irmão de Luiz, cujo crime
ele atribuía ao chefe político de Triunfo. E, mais recentemente, em um dos dias
da festa de carnaval próximo passado, quando o delegado João Gomes, genro de
Deodato Monteiro, havia tentado efetuar a prisão de Luiz Leão, que
estrategicamente fugiu da cidade, e, à noite, retornou com um grupo, que abriu
fogo contra o destacamento policial local.
Naquela manhã do dia de São João
de 1919, quando o veículo que transportava o coronel Deodato Monteiro foi
abordado pelo grupo capitaneado por Luiz Leão, este, antes de executá-lo,
perguntou-o pelo delegado de Triunfo João Gomes, estranhando a ausência do
genro do coronel, que certamente também seria alvo da operação criminosa.
Aliás, é oportuno registrar, que o delegado João Gomes foi destaque na imprensa
nacional por dar proteção ao seu irmão José Gomes, um dos indiciados no
assassinato do industrial Delmiro Gouveia, crime ocorrido em 10 de outubro de 1917.
Parte da imprensa pernambucana
atribuiu motivação política no atentando contra o coronel Deodato Monteiro. Na
época, o Jornal do Comércio de Recife, propriedade João Pessoa de Queiroz vinha
publicando uma série de acusações contra o coronel Deodato Monteiro, que
pretendia ser candidato a prefeito de Triunfo, cargo que já havia ocupado. Por
outro lado, o coronel José Pereira tornou-se suspeita porque, segundo dizia-se,
após o crime o bando havia se homiziado em uma de suas propriedades no
município de Princesa, no vizinho Estado da Paraíba.
O promotor, dr. José Carlos
Cavalcante Borges, denunciou Luiz Leão como responsável material intelectual
pelo crime, alguns dos seus companheiros que foram identificados como
executores e o coronel José Pereira Lima como conivente moral do crime, por
haver facilitado a fuga e homiziado os criminosos em sua propriedade. Não
apurando absolutamente nada que incriminasse o empresário João Pessoa de
Queiroz.
O Juiz de Direito, dr. Joaquim
Correia de Oliveira Andrade Lyra, pronunciou como responsaveis pelo referido
crime os indivíduos de nome Luiz Leão, Cabral de tal, Cicero Manoel Romão,
vulgo Cícero Ventania, Salú Leovigildo, Nezinho Leovigildo e Jonas Gabriel,
sendo julgada improcedente a denúncia contra Odilon de tal, Dionísio e coronel
José Pereira Lima.
Segundo o Juiz, não ficou
comprovado que houvesse conveniência do coronel José Pereira, mesmo porque
todas as testemunhas ouvidas garantiram ou desconheciam que existisse qualquer
tipo de desentendimento entre os chefes políticos de Princesa e o de Triunfo. O
máximo que se comprovou durante as oitivas foi que Luiz Leão, após ser
indiciado em crimes praticados em Triunfo, Estado de Pernambuco, sob o pretexto
de ser vítima de perseguições políticas, teria ido residir no lado paraibano da
serra da Baixa Verde, em propriedade pertencente ao coronel José Pereira, na
região do povoado de Patos, município de Princesa.
José Tavares de Araujo Neto, pesquisador , Pombal-PB
Chico Heráclito, o Último dos Coronéis Por:Paulo Goethe
O coronel faleceu em 17 de dezembro de 1974. No dia 18, o Diario de Pernambuco trouxe em uma página um perfil do homem que era o chefe influente de mais de 30 municípios, elegendo prefeitos e deputados. Uma das histórias de Chico Heráclio era de que em dia de votação distribuía aos eleitores, em envelopes lacrados, as chapas de seus candidatos. Um mais afoito dirigiu-se a ele, depois de ter votado: “Fiz tudo certinho, coronel, como o senhor mandou. Agora me diga uma coisa: em quem eu votei?'”. A resposta veio rápido: “Nunca me pergunte uma coisa dessa. O voto é secreto, meu filho”.
Outro episódio engraçado foi o do pênalti que o coronel mandou o juiz cobrar a favor de seu time, o Colombo. Foi em um jogo com um clube do Recife. O empate sem gols permanecia quando, a poucos minutos do fim, o árbitro marca a penalidade máxima para os visitantes. A confusão foi armada, sem que Chico Heráclio soubesse o que estava ocorrendo. Ao ouvir as razões do juiz, decidiu dar a razão a ele. Um assessor disse-lhe no ouvido que o Colombo perderia o jogo. Então o coronel ordenou: “cobra, sim: mas contra a outra barra”.
Por trás de todo este folclore encerrava-se de vez o coronelismo em Pernambuco, pelo menos na forma dos homens que, de suas fazendas, decidiam pelos outros. Antes de Chico Heráclio haviam saído de cena Clementino Coelho, o Quelé (Petrolina), Chico Romão (Serrita), Zé Abílio (Bom Conselho) e Veremundo Soares (Salgueiro).
Chico Heráclio ainda estava “dando suas pancadas no eixo e na roda” quando foi lançado, em 1965, o livro “Coronel, Coronéis – apogeu e declínio do coronelismo no Nordeste”, de Marcos Vinícios Vilaça e Roberto Cavalcanti de Albuquerque. É leitura obrigatória para quem pretende mergulhar mais nesta história.
Paulo Goethe
Fonte:http://blogs.diariodepernambuco.com.br/diretodaredacao/2016/01/07/o-ultimo-dos-coroneis/
Grandes Encontros OPINIÃO - Coronéis e o Cangaço: Relações Perigosas !
O mandatário principal tornar-se-ia coronel, esse era o cargo e posto mais elevado da Guarda Nacional, depois por ordem de hierarquia o poder passava pelo tenente-coronel, a seguir o major e e assim por diante. A Guarda que havia nascido para compor um poder ligado à segurança acabou produzindo na verdade chefes e chefetes políticos com amplo poder diante das esferas estaduais e federais, dai a ligação com os destinos do sertão e com tudo que lhes dizia respeito passou a ser uma constante, inclusive diante da mais polêmica e perigosa de todas as ligações: Coronéis e o Cangaço.
Nomes como Coronel Santana, da Serra do Mato, no cariri cearense; Antônio da Piçarra, também do sul cearense; Zé Pereira, de Princesa e Marcolino Diniz de Patos de Irerê na Paraíba e Veramundo Soares de Salgueiro em Pernambuco são os nomes dos personagens principais dos Grandes Encontros Cariri Cangaço OPINIÃO e para entendermos melhor essa relação supostamente simbiótica, Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço recebe os pesquisadores: Vilson da Piçarra, do Ceará; José Tavares de Araújo Neto, da Paraíba e Cícero Aguiar de Pernambuco nesta próxima quarta-feira, dia 15 de setembro de 2021, AO VIVO, ÁS 19H30 no canal do YouTube do Cariri Cangaço.
'Hecatombe de Garanhuns': Chacina Política com 18 Mortos faz 100 anos Por: Joalline Nascimento e Lafaete Vaz - G1
Dezoito pessoas mortas em uma cadeia pública. Este foi o resultado da tragédia que ficou conhecida como "Hecatombe de Garanhuns". Neste domingo (15), a chacina que vitimou políticos e comerciantes do município do Agreste de Pernambuco completa 100 anos. Ao G1, o coordenador da Comissão do Memorial Centenário da Hecatombe de Garanhuns, o professor Cláudio Gonçalves, afirma que o episódio foi uma das maiores tragédias políticas da história local. Tudo começou em julho de 1916, quando houve eleição para prefeito de Garanhuns. O tenente-coronel Júlio Brasileiro e José da Rocha Carvalho disputavam a gestão municipal. "Júlio era deputado e Dr. Rocha era apoiado pelos antigos políticos que dominavam o município, que eram os Jardins. Essa eleição foi bastante tumultuada, com ameaças de surra de cipó de boi, listas negras ameaçando os adversários políticos, cruzes negras nas portas destes adversários", detalha o professor Cláudio.
http://g1.globo.com/pe/caruaru-regiao/noticia/2017/01/hecatombe-de-garanhuns-chacina-politica-com-18-mortos-faz-100-anos.html Postado em 15/01/2017
A Hecatombe de Garanhuns chega aos Grandes Encontros Cariri Cangaço
Garanhuns, o acolhedor município do agreste pernambucano; distante 230 quilômetros da capital Recife, iria escrever com letras de tragédia, sangue e morte no distante janeiro de 1917 um capitulo nefasto desse recorte perverso da luta pelo poder envolvendo as elites governantes de nosso sertão da velha república.
Era 14 de janeiro de 1917. No Recife o recém eleito prefeito de Garanhuns, coronel Júlio Brasileiro; deputado estadual; é assassinado pelo capitão Sales Vila Nova, em retaliação a um "surra" de cipó de boi, supostamente a mando do coronel e que teve como vítima o algoz. Os acontecimentos que se seguem imediatamente iriam chocar não só Pernambuco, mas todo o Brasil. A viúva de Brasileiro; Ana Duperron Brasileiro; iria afirmar:
"Não derramarei nenhuma lágrima, se as outras não derramarem. E só vestirei luto depois que as outras vestirem"
Ao final do dia seguinte, 15 de janeiro de 1917, dezoito pessoas mortas na cadeia pública de Garanhuns; o local para onde se deslocaram para sua própria segurança, acabou se tornando o cenário trágico de suas mortes. Sob o comando de parentes e correligionários do coronel Júlio Brasileiro uma malta de mais 100 homens, entre jagunços, pistoleiros e cangaceiros, invadiriam a cidade e cercariam a cadeia pública para perpetuar a dita vingança....
Para entender esse trágico episódio, aprofundarmos sobre sua gênese, causas e repercussões, Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço recebe nesta quarta-feira, 08 de setembro de 2021 nos Grandes Encontros Cariri Cangaço os pesquisadores e escritores; Claudio Gonçalves, autor de "A Cobertura Jornalística da Hecatombe de Garanhuns"; além de Geraldo Ferraz e Junior Almeida, Conselheiros do Cariri Cangaço para uma noite muito especial num programa ao vivo incomparável.
"O episódio da Hecatombe de Garanhuns em 1917 mostra a mais cruel feição do coronelismo nordestino de inicio do século, a brutalidade e violência ali verificadas marcariam para sempre o povo de Garanhuns, dessa forma é imperioso trazermos esse tema neste grande programa dos Grandes Encontros Cariri Cangaço", revela o Conselheiro Cariri Cangaço, pesquisador e escritor Geraldo Ferraz; neto de um dos grandes protagonistas do episódio, tenente Teophanes Torres.
"O programa Grandes Encontros Cariri Cangaço desta quarta promete pois traz um recorte importante da história de Pernambuco, além do tema eletrizante, ainda teremos a participação de duas autoridades no assunto, Claudio Gonçalves e Geraldo Ferraz, que venha o debate sobre a Hecatombe de Garanhuns" afirma o Conselheiro Cariri Cangaço, Junior Almeida.
"A avaliação que faço do Impacto causado desse trágico acontecimento na evolução da nossa cidade, é que na época Garanhuns despontava como uma das mais prospera economia do estado e com forte representação política, depois da Hecatombe muitas das famílias envolvidas no trágico episódio deixaram a cidade e a política e, Garanhuns perdeu um pouco o curso da História, reiniciando nas décadas seguintes a retomada de suas vocações econômicas" indica o pesquisador Cláudio Gonçalves.
GRANDES ENCONTROS CARIRI CANGAÇO
HECATOMBE DE GARANHUNS - Tragédia, Sangue e Morte
Dia 08 de Setembro de 2021, AO VIVO
Canal do YouTube do Cariri Cangaço
Euclides da Cunha e sua Segunda Morte Por:Gabriela Potti
O episódio acima, que passaria a ser conhecido como a ‘tragédia de Piedade’, aconteceu em 15 de agosto de 1909. Mas a história não terminou com a morte de Euclides. Em 4 de julho de 1916, ‘Quidinho’, como era chamado um dos filhos do escritor, então com 19 anos, procurando quem sabe restaurar a honra da família, também tenta matar Dilermando e até consegue alvejá-lo pelas costas. Entretanto, ele acaba morto pelo militar, que reage prontamente contra o agressor.
Absolvido pelo júri nos dois casos, Dilermando não escapou ao julgamento da imprensa da época e carregou até sua morte, em 1951, o rótulo de vilão. Não faltaram artigos recheados de adjetivos negativos – “asqueroso”, “desprezível”, “cínico” – cristalizando na opinião pública a alcunha de culpado. Essa campanha da elite cultural contra o militar é reproduzida na biografia “A vida dramática de Euclides da Cunha” (1938), de Elói Pontes. Para promover o livro, a editora José Olympio causou polêmica ao exibir na loja que mantinha à rua do Ouvidor a carteira trespassada por balas e uma foto do escritor no necrotério.
Em resposta à biografia de Elói Pontes, Dilermando, que também era escritor, publica “A tragédia de Piedade”, livro parcialmente baseado em documento que havia redigido 40 anos antes, originalmente para complementar sua defesa perante o júri, em 1911. Nessa obra, analisa detalhadamente as provas periciais dos autos da acusação nos dois homicídios pelos quais havia sido julgado. Tece ainda uma minuciosa crítica de “Os sertões”, obra em que Euclides da Cunha narra a guerra de Canudos, conflito que foi cobrir como correspondente do jornal O Estado de São Paulo.
Narrativa carregada de significado épico e trágico, “Os sertões” é um autêntico casamento entre a ciência e a arte. Munido das teorias deterministas, positivistas e sociológicas da época, Euclides da Cunha contou o que presenciou no sertão da Bahia, que resultou no massacre da população do arraial liderado por Antônio Conselheiro. Questionando a versão oficial disseminada pela República, o escritor apresentou aos leitores o contexto que havia por trás dos fatos, numa obra marcada pela inovação em termos de linguagem, estrutura e temática.
Em “A tragédia de Piedade”, Dilermando contesta “Os sertões” apontando erros e chegando até a citar supostos exemplos de plágio no clássico de seu rival. Nesse sentido, dois questionamentos ficam no ar. Seria essa uma tentativa de Dilermando, ainda que tardiamente, de conquistar a absolvição da opinião pública? Ou estaria embutida nessa crítica a pretensão de matar aquilo que restou de Euclides da Cunha, ou seja, a legitimidade e o valor de sua obra?
A possibilidade de uma leitura mais profunda, porém ainda não decisiva sobre o caso, veio recentemente, pela historiadora Mary Del Priore. Em ‘Matar Para Não Morrer’, ela analisa o pano de fundo em que se deu o triângulo amoroso entre Euclides, Anna e Dilermando. Valendo-se de uma robusta pesquisa, Mary relata os meses que antecederam a tragédia, aponta como a imprensa ignorou os fatos e crucificou Dilermando. Revela ainda que Euclides não agiu como exceção quando achou que era a hora de ‘matar ou morrer’. Nesse duelo em que não há vencedores, apenas vítimas, o escritor foi mais um que recorreu a um ato extremo na tentativa de limpar seu nome. Dilermando, por sua vez, nos remete à figura trágica daquele que diante do inexorável não tem muito a fazer.
Nesse duelo que parece continuar após quase 110 anos completos da morte do autor de “Os sertões” (a efeméride será em agosto de 2019), as especulações seguem. Em artigo publicado ano passado no jornal “O Globo”, o poeta e membro da Academia Brasileira de Letras Antonio Carlos Secchin comenta as anotações que encontrou em uma terceira edição, de 1905, de “Os sertões”. Não haveria novidade alguma não fosse o antigo proprietário, Dilermando de Assis, e o teor das muitas anotações feitas ao longo da edição.
O conflito entre os dois homens espelha, quem sabe, um embate que se projeta para além de suas biografias. Dilermando era militar; Euclides, escritor. Dilermando cumpria ordens. Euclides, por sua natureza intelectual e artística, ao chegar a Canudos não hesitou em despir-se das convicções prontas para escrever sua obra-prima. Faz sentido que um militar por excelência contestasse um livro que é justamente uma crítica à ação do exército. Simbolicamente, a oposição pode ser também entendida entre o intelectual que enxerga as nuances, as áreas cinzas, de uma situação como Canudos, e o militar para quem tudo é preto ou branco.
Dilermando foi fatalmente eficaz ao executar Euclides da Cunha. Até foi absolvido pela morte, considerada autodefesa. Não foi tão eficiente ao tentar desqualificar a obra máxima do escritor, “Os sertões”, hoje considerada um clássico obrigatório para aqueles que desejam entender o país, suas raízes. Mais uma prova da perenidade e relevância de Euclides é que o escritor será o grande homenageado este ano na Flip – Festa Literária Internacional de Paraty -, que acontece de 10 a 14 de julho.
Gabriela Potti -Fonte:http://balaiopop.com.br/euclides-da-cunha-e-sua-segunda-morte/