"O tenente Arlindo Rocha, anteontem chamado ao Recife, pelo senhor chefe de polícia, é atualmente o comandante das forças pernambucanas no sertão. Vimo-lo ontem a noite na Chefatura, conferenciando demoradamente com o Dr. Eurico de Souza Leão. As indicações que prestava, no mapa todo assinalado da Repartição Central da Polícia, e o justo renome que usufrui aquele oficial em todo sertão nordestino, levaram-nos a procurá-lo no intuito de conseguirmos um testemunho seguro da situação do cangaceirismo, afora o prazer natural de ouvir um homem que, anos a fio, dia e noite, tem batido cerrados e caatingas numa luta de vida ou morte contra os mais ferozes bandoleiros. O tenente Arlindo Rocha é um homem moreno, alto e magro, muito tímido e que não fala nunca; tem que ser provocado para responder então. Na face esquerda ostenta um gilvaz profundo: uma bala de rifle em pleno rosto, às duas e meia da tarde, no dia 26 de novembro de 1926, no combate de Serra Grande.
- Onde foi esse combate? Perguntamos logo com nossa curiosidade despertada!
- Serra Grande fica perto de Custódia. Comandava as forças o bravo tenente Hygino José Bellarmino. Foi o início da campanha do atual governo estando no poder o saudoso Dr. Júlio de Mello contra Lampião. Este tinha, ao tempo, sob seu comando 125 homens. Estavam todos entrincheirados no alto da serra. A brigada começou às 8 e meia da manhã e terminou as 6 horas da tarde. Nós tínhamos duas metralhadoras, que Antônio Ferreira, irmão de Lampião, procurou cercar três vezes pela retaguarda. E gritava: - Hoje tomo uma costureira dessas.
- E tomou?
- Não. Parece que tomou foi uma bala, pois parece que morreu três dias depois do tiroteio. Os bandidos fugiram e desde então começou a debandada. O grupo fragmentou-se em quadrilhas que operavam em zonas diferentes. Ferido nessa luta, acrescentou o tenente Arlindo só escapei devido a meu irmão que me amparou. Os cangaceiros me alvejaram a poucos passos de distância, no momento em que eu chamava por Manoel Netto, ocupado em botar uma retaguarda.”
Esse é uma parte do depoimento que prestou o tenente Arlindo Rocha ao “Jornal Pequeno” (PE) e que foi publicado na edição de n.241 de 20/10/1928, p.1
De acordo com o inquérito procedido foram mortos os seguintes policiais da Força Pública durante o Combate da Serra Grande em 26 de novembro de 1926:Luiz Torres Barros, Severino Pereira da Silva, Pedro Aureliano da Silva, Targino Ferreira Primo, Octávio de Sá Araújo, João Terto, José dias dos Santos, Ângelo Inácio da Silva, José Arcôncio dos Santos e Antônio Braz de Lima.
Da mesma Força Pública, policiais que saíram feridos:Arlindo da Rocha, Sargento José Olinda de Siqueira Ramos, Manoel de Souza Netto (cabo), Vicente Ferreira da Silva, Eduardo Pinheiro de Souza, Cícero Aistides Pereira, José Francisco Bezerra, José Caetano de Souza, Antônio Basílio de Souza, João Antônio de Souza, Luiz José de Souza, Antônio Alves de Lima.
CANGACEIROS QUE PARTICIPARAM DO COMBATE:Virgulino Ferreira da Silva (Lampião chefe do grupo), Antônio Ferreira da Silva (irmão de Lampião), Vicente Feliciano, Antônio José da Silva (Beija-Flor), Antônio Frazão (Pai Velho), Luiz Pedro, Hermínio Xavier da Silva (Chumbinho), José de Souza (Tenente), João Soares (Juriti), João Mariano (Andorinha), Joaquim Mariano, Manoel Mariano, Severino da Silva (Nevoeiro), Sabino Gomes, Isaias Vieira, Manoel Nogueira, Manoel Marcelino (Bom de Vera), Ignácio de Medeiros (Jurema), Felix Preto, Caetano da Silva (Moreno), João Donato (Gavião), Pedro Gomes, João Henrique, Antônio Rosa, José Lopes da Silva (Mormaço), João Cesário (Coqueiro), Manoel Antônio, Francisco Antônio, José Marinheiro, André Marinheiro, Antônio MarinheiroAntônio Caboclo (Sabiá), José Benedicto, José Angélica, José Generosa, Josias Vieira (Gato), José Luiz (José Procópio), José Preto, Cipriano da Pedra, Antônio Coelho, José Pedro da Silva (Barba Dura), José dos Santos (Seu Chico), Jorge Salu (Maçarico), Raimundo da Silva (Aragão), Antônio Francisco, João José da Silva Nunes, Marcelino Antônio dos Santos (Cobra Verde), Antônio da Silva (Noite Braba), Antônio Mancinho (Curise), Marcelino Nunes da Cruz, Luiz Pedro do Retiro, José dos Santos (Três Pancadas), Nunes Magalhães (Pensamento), João de Brito, Euclides Bezerra (Criança), Manoel Vieira da Silva (Coça Bomba), Antônio Maneca
João Felix (Gasolina), Urbano Pinto, Antônio de Tal (Antônio Romeiro), Justo de Tal (Lua Branca), Genésio de Tal (Genésio Vaqueiro), Vicente de Tal (Vicente Preto), Antônio de Tal (Antônio Caboclo), Pedro de Tal (Pedro de Quelé), José de Tal (José Vaqueiro).
O Combate da Serra Grande travado no dia 26 de novembro de 1926, no município de Calumbi, bem próximo a Vila Bela deixou sua marca dolorosa gravada nos anais da guerra cangaceira, oportunidade em que as forças comandadas por nada menos que seis experientes comandantes, os temidos Gino, Mané Neto, Arlindo Rocha, Zé Olinda, Domingos e Euclides Flor foram espetacularmente derrotados pelo terrível cangaceiro Lampião. Para assinalar os 95 anos do ocorrido na última sexta-feira (26), um grupo de amigos liderados pelos historiadores Luiz Ferraz Filho (Serra Talhada) e Lourinaldo Teles (Louro Teles) de Calumbi, visitou o local do respectivo combate. Além destes dois historiadores o evento contou também com a participação dos pesquisadores Clênio Novaes (São José do Belmonte), Marrael Siqueira (Nazaré do Pico, em Floresta), Criscélio e Cristiano Carvalho (Tupanaci, em Mirandiba), Valdir Nogueira (São José do Belmonte), Wilton Santana (Jati-CE), Luiz Emanuel Nogueira (Nazaré do Pico, em Floresta), Amélia Araújo (Floresta), entre outros que colaboraram na visita. Uma cruz foi afixada para demarcar o local de sepultamento dos soldados mortos no triste combate, em seguida foi rezada uma oração em sufrágio de suas almas.
Valdir José Nogueira de Moura,
Pesquisador e Escritor
Conselheiro Cariri Cangaço, São José de Belmonte
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