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Império do Bacamarte: O Clássico de Joaryvar Macedo Por:Cristina Couto

Fátima Lemos, Manoel Severo, Cristina Couto e Batista de Lima

No dia 04 de março participei com muita honra do lançamento da 4ª Edição do livro Império do Bacamarte do nosso saudoso confrade e conterrâneo, Joaryvar Macedo. Orgulho da nossa terra e do Ceará. A tão esperada reedição foi o momento mais significado e ansiado no mundo da literatura cearense. A obra Império do Bacamarte traz a tona tempos dramáticos, e, difíceis para os habitantes do Vale do Salgado, Vale do Pajeú e Vale do Piancó.  A disputa de poder entre os coronéis em defesa da propriedade, dos cangaceiros em represália ao descaso do poder público e a utopia cega dos beatos proporcionaram riqueza e poder a uns e a sobrevivência miserável da grande maioria.

A sede de justiça, o anseio por uma vida melhor e o desprezo nas quais viviam as populações sertanejas do século XIX e nos três primeiros decênios do século XX, as tornaram extremamente atraídas para misticismo, o sobrenatural e o milagre. Ignorantes, vulneráveis, miseráveis e desprotegidas viviam debaixo das botinas dos coronéis, do terror dos cangaceiros e da fé cega do fanatismo religioso. 

Enquanto, no Sul do Brasil a República dava seus primeiros passos, aqui no Sul do Ceara, reinava absoluto um poderoso Império, onde o trono era a cadeira de balança dos coronéis, a coroa o chapéu dos cangaceiros e o cetro o rosário dos beatos. Nunca se presenciou tanto poder e tanto desmando. O poderio do Bacamarte acabou gerando o famigerado Império do Bacamarte, da força e das armas operando abertamente e prestigiosamente no mais amplo sentido da palavra.

Conhecedor da história regional, e assim como todos nós lavrenses, ouvíamos tais histórias de forma pejorativa, desagradável e com um certo ar de reprovação. Usando da sua genialidade e aguçando seu faro de pesquisador, Joaryvar Macedo, encontrou documentos e antigas publicações que mostraram a importância de tais acontecimentos para a história do Ceará, do Nordeste e do Brasil. A região do Cariri era de fato o berço da aristocracia cearense, as famílias abastadas que por estas terras residiam eram ricas, poderosas e prestigiosas. Num tempo onde o Estado de Direito não existia e as Leis eram ditadas por elas.

Joaryvar Macedo

Podemos afirmar que com O Império do Bacamarte, Joaryvar Macedo contribuiu efetivamente para um melhor conhecimento da nossa História e dos problemas sócios econômicos e políticos que afligiram a população caririense pelo o abandono forçado de estruturas arcaicas, dos desmandos dos coronéis, da crueldade dos cangaceiros e da credulidade dos beatos que juntos defenderam seus interesses, mataram e mandaram ao seu bel prazer.

Apoiado nas pesquisas e documentado, Joaryvar Macedo, trouxe para o centro da discussão sua terra natal, Lavras da Mangabeira, mostrou a importância daquele lugar desde os primórdios, até meados do Século XX, assim como em toda região, uma família era detentora da riqueza e do poder local. Em Lavras não foi diferente, por lá, reinou por quase dois séculos Os Augustos, família de grande prestigio, poder e riqueza, com uma pequena diferença, o coronel de lá usava saias em vez de calças, sandálias em vez de botinas, mas, montava, lutava e manuseava o Bacamarte como um varão.    

Cristina Couto e Manoel Severo na Mesa Solene da Lançamento em Crato

O poder de Dona Fideralina Augusto e do seu filho Gustavo era ilimitado, corajosos, valentes e ousados participaram ativamente do cenário político caririense no Ciclo das Deposições e da Sedição de Juazeiro. Acontecimentos que vieram à tona e revelaram a importância social e politica de Lavras da Mangabeira, através das pesquisas de Joaryvar Macedo, e foram registrados na sua obra O Império do Bacamarte.

No livro Joaryvar registra com tinta e caneta fatos ocorrido com pólvora e sangue que aconteceram naquelas terras há tempos atrás, nos mostrando que não havia nada de desagradável, nada pejorativo, ao contrário, a história foi assim em todo Nordeste brasileiro, e sua terra natal, Lavras da Mangabeira era tão importante e tão poderosa que disputava em pé de igualdade com todas as outras.

Como todo lavrense inteligente e sagaz, Joaryvar Macedo usou do poder da caneta e da inteligência para mostrar que Lavras da Mangabeira ao perder o poder do Bacamarte, continuou no centro do poder, agora, os intelectuais assumiram o poder deixados pelos coronéis de outrora. A pesquisa e as letras são superiores a ignorância e a força. Somos conhecidos lá fora como Celeiro de Intelectuais.

E, hoje, em 2022, Joaryvar  mais uma vez ressurge e brilha, através da sua família, que nos presenteou com a 4º Edição de tão importante obra para o mundo da Literatura e da História nordestina; uma promessa feita e cumprida pelo seu genro, Hélio Santos durante o Seminário Temático Cariri Cangaço/ Edição Fortaleza, 2018.   

Como se não bastasse à satisfação de participar do evento, ainda fui convocada pelo grande amigo lavrense, Dimas Macedo para representa-lo naquele grandioso momento. Dimas que é sobrinho e herdeiro literário de Joaryvar Macedo, sempre levou a sério e afinco o legado do tio, dando continuação às pesquisas e as publicações, enfatizando ainda, que a sociologia do trabuco que Joaryvar Macedo revela no seu livro plural e singular um clássico da Sociologia Política do Nordeste, e, um monumento literário também, pois Joaryvar já é, nos dias de hoje, o historiador maior, como será, de fato, saudado no futuro. O futuro e agora.

Cristina Couto, presidente da Academia de Letras de Lavras da Mangabeira e Conselheira Cariri Cangaço, 04 de Março de 2022

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