Padre Agostinho, capelão do Cariri Cangaço, por Ricardo Beliel
A coluna de hoje é para falar de um clérigo católico: padre Agostinho Justino dos Santos, ex-capelão da Marinha do Brasil e atual do Cariri Cangaço, um sacerdote que recorrentemente se faz presente em eventos culturais e religiosos focados na pujante cultura nordestina e na persistência da fé que os peregrinos devotam aos seus santos.
O conheci padre Agostinho recentemente em Piranhas(AL), à beira do rio São Francisco, quando ele conduzia uma cerimônia fúnebre em que se jogava as cinzas do escritor Antônio Amaury (falecido em fevereiro de 2021)no leito do rio, um desejo manifestado à família pelo escritor, um paulista que dedicou parte de sua vida à pesquisa sobre o cangaço e as coisas do Nordeste; amigo e protetor de ex-cangaceiros, cujo legado vai além da literatura por ele produzida.
Na noite anterior, quando da abertura do Cariri Cangaço, um senhor baixinho, de roupa preta, uma aura mística, identificado rapidamente pela clérgima e um imponente chapéu de cangaceiro, se aproximou e me ofertou uma daquelas fitinhas usadas por romeiros.
- De onde sai à caminhada pelo sítio histórico, rota do cangaço?
Ao me abaixar para falar com o motorista, vi no banco ao lado, de novo, o padre.
Eu não soube informar, pois também estava procurando o ponto de partida da caminhada, mas me veio à mente a célebre frase do pensador e dramaturgo Nelson Rodrigues. “Deus está nas coincidências”.
Numa rápida pesquisa no Google, fico sabendo que o padre Agostinho mora no Rio de Janeiro, mas recorrentemente é visto em celebrações em igrejas do Crato e do Juazeiro e a partir dessas prelazias, costuma acompanhar visitas aos locais icônicos para a Historiografia do cangaço e da cultura nordestino, realizadas por escritores, pesquisadores, descendentes de volantes, cangaceiros e coiteiros, além de uma legião cada vez maior de estudiosos do cangaço.
Mas o que leva um padre, em pleno século XXI, percorrer e se interessar por lugares onde pessoas foram assassinadas, chacinadas; visitar cidadelas de resistência armada, territórios de combates de extrema violência e selvageria entre cangaceiros e volantes? Cumprir a missão do Cristo.
Se a missão do Cristo Jesus foi à expiação, então o padre Agostinho dos Santos faz a sua parte. No Talmude, a expiação começava pelo sacerdote e sua casa e é citada poucas vezes no Tanakh; embora os católicos brasileiros tenham abandonado a expiação como rito de fé, conforta encontrar um sacerdote que transmita tal mensagem, mesmo de maneira subliminar ao tempo quão poderosa possa ser a mensagem do catolicismo nordestino.
João Costa, jornalista, pesquisador
Campina Grande Paraíba
O Cariri Cangaço Piranhas aconteceu entre os dias 28 e 30 de julho de 2022 na cidade ribeirinha de Piranhas, baixo São Francisco, no estado de Alagoas, nordeste do Brasil.
Gratidão por tudo o quanto a importância do Padre Agostinho em nossa família Carri Cangaço.
ResponderExcluirBelo texto. E ainda afirmo: Encontrar com Padre Agostinho nessas andanças, é um refrigério à alma.
ResponderExcluirPor motivos diversos, entre eles, uma artrose que dificulta caminhadas longas e em terrenos acidentados, passei a acompanhar a distância a Caravana Cariri Cangaço. Nessa oportunidade quero prestar minha homenagem a um dos pioneiros das investigações sobre a história do cangaço, Antônio Amaury, que tive a satisfação de conhecer pessoalmente e trocar impressões sobre Lampião e seu bando. Seu trabalho foi admirável, em recolher depoimentos dos personagens da história, abrir caminhos para gerações seguintes de investigadores, auxiliar e estimular os iniciantes no tema, divulgar o resultado de seus estudos em vários livros ricos de informações dos acontecimentos, nomes dos envolvidos, lugares, datas. Gastou uma boa parte do seu tempo, recursos financeiros próprios e sola de sapato, para montar um acervo valioso para os que pretendem seguir montando o mosaico sem fim do mito Lampíão. Tinha um entendimento próprio sobre as causas e consequências do Cangaço Lampiônico, o que desencadeou debates enriquecedores para quem gosta da história e teve a sorte de presenciar as contendas. Amaury se foi, o Velho Chico levou suas cinzas, mas seu importante trabalho fica para todo o tempo. Espero que seu valioso acervo, em especial para a história regional, seja muito bem preservado e que continue servindo de fundamento para os estudos históricos/sociológicos.
ResponderExcluirAntônio Amaury merece o respeito de todos os diletantes da história do Cangaço Lampiônico.
Que as bênçãos do Padre Agostinho deem conforto ao espirito do tarilblazer são paulino (tricolor) de coração.