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Uma Imensa Encruzilhada de Encontros Por:Luciana Nabuco

Ane Ranzan, Luciana Nabuco e Célia Maria no Cariri Cangaço Piranhas 2022

Na linda canção de Luiz Gonzaga “Vida de Viajante” ele diz que 

“Minha vida é andar,

Por este país

Prá ver se um dia

Descanso feliz

Guardando as recordações

Das terras onde passei

Andando pelos sertões

E dos amigos que lá deixei...”

Estive novamente nas beiras do Velho Chico, em Piranhas sentindo e absorvendo as memórias, pisando nas velhas ruas, ouvindo o piar dos pássaros o vento refrescando as árvores, vislumbrando o que vivi e imaginando o que ainda terei a experenciar nessa vida. Nessa minha vida de viajante. 

Dizemos muitas vezes que o que mais importa, é de fato significativo é o caminho. Nele aprendemos, acertamos, erramos, curamos dores, lavamos as tristezas, celebramos os encontros. E os encontros nesse evento Cariri Cangaço , conduzido pelo querido amigo Manoel Severo é o que dá “sentido e direção ao tempo”, como diria Vinícius de Moraes no seu belo poema “Canção de Orfeu”.

Manoel Severo, Luciana Nabuco e Ricardo Beliel em noite de Cariri Cangaço Piranhas 2022

Sou uma viajante e curiosa de gente, de histórias. Sinto no peito as despedidas e algo que sempre me comoveu nas andanças durante as pesquisas do livro “Memórias Sangradas “ de Ricardo Beliel, foi que cada casa que se abria para nós era um coração que também se adentrava. Dou muito valor em cada passo que faço em direção ao outro. O outro é meu espelho igualmente, aprendo sempre. E cada pessoa, cada família que nos recebia, contava uma história, um relato, partilhava sua memória mais íntima ao final nos dizia “Mas vocês voltam logo?”.

Esse retorno, essa imensa encruzilhada de encontros se deu de forma tão afetuosa no Cariri Cangaço. São pessoas de diversas regiões do Brasil, gente de idades diversas, cruzos diversos, e abraços. Ah, os abraços. São como águas mornas do rio, são a mais genuína troca de energias de renovação, acalanto da alma.

Ricardo Beliel, Lisbela e Luciana Nabuco
Lisbela, Ricardo Beliel, Jorge Figueiredo, Luciana Nabuco e Rita Pinheiro

E mesmo de tudo o que não pude ver, percebi nos olhares dos que estiveram presentes. Essa edição do Cariri Cangaço teve uma cerimônia de entrega das cinzas do pesquisador Antônio  Amaury. Infelizmente eu não pude estar presente no momento. Porém no dia seguinte ao conversar com seu filho Carlo Elydio Araújo, pude ver em seus olhos a memória e a força do amor dessa entrega ao rio. Os olhos úmidos de Carlo foram igualmente meus olhos, da saudade paterna, do meu velho pai que se encantou há 25 anos. E nós que aqui continuamos precisamos justamente abrir mais caminhos, “guardando as recordações”. 

Cada pessoa, cada pesquisador, cada um que ouve e troca ideias, cada abraço, cada riso ou choro é o que de mais lindo existe nesse evento. É uma celebração de vida, de memória, de escuta. E somos carentes de memórias.

Luciana Nabuco, Manoel Severo e Rita Pinheiro

Que eu possa ter uma vida longa para estar presente em muitas edições futuras do Cariri Cangaço, porque a acolhida é como daquelas imensas mesas sertanejas. Mesas plenas de histórias, generosas, onde se senta a criança e se senta o velho. Um grande abraço meu amigo Manoel Severo e todos dessa família que me acolheram. "Dizemos muitas vezes que o que mais importa e que é de fato significativo é o caminho ".

Luciana Nabuco, pesquisadora, escritora, poeta, jornalista, ilustradora,  Rio de Janeiro, 12 de agosto de 2022 

O Cariri Cangaço Piranhas aconteceu entre os dias 28 e 30 de julho de 2022 na cidade ribeirinha de Piranhas, baixo São Francisco, no estado de Alagoas, nordeste do Brasil.

Um comentário:

  1. São nesses abraços que entrelaçados as vidas de velhas e novas amizades. Que nos reencontremos em breve, caríssimos Luciana e Ricardo.

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