“Minha vida é andar,
Por este
país
Prá ver
se um dia
Descanso
feliz
Guardando
as recordações
Das
terras onde passei
Andando
pelos sertões
E dos
amigos que lá deixei...”
Estive novamente nas beiras do Velho Chico, em Piranhas sentindo e absorvendo as memórias, pisando nas velhas ruas, ouvindo o piar dos pássaros o vento refrescando as árvores, vislumbrando o que vivi e imaginando o que ainda terei a experenciar nessa vida. Nessa minha vida de viajante.
Dizemos
muitas vezes que o que mais importa, é de fato significativo é o caminho. Nele
aprendemos, acertamos, erramos, curamos dores, lavamos as tristezas, celebramos
os encontros. E os encontros nesse evento Cariri Cangaço , conduzido pelo
querido amigo Manoel Severo é o que dá “sentido e direção ao tempo”, como diria
Vinícius de Moraes no seu belo poema “Canção de Orfeu”.
Sou uma
viajante e curiosa de gente, de histórias. Sinto no peito as despedidas e algo
que sempre me comoveu nas andanças durante as pesquisas do livro “Memórias
Sangradas “ de Ricardo Beliel, foi que cada casa que se abria para nós era um
coração que também se adentrava. Dou muito valor em cada passo que faço em
direção ao outro. O outro é meu espelho igualmente, aprendo sempre. E cada
pessoa, cada família que nos recebia, contava uma história, um relato,
partilhava sua memória mais íntima ao final nos dizia “Mas vocês voltam logo?”.
Esse
retorno, essa imensa encruzilhada de encontros se deu de forma tão afetuosa no
Cariri Cangaço. São pessoas de diversas regiões do Brasil, gente de idades
diversas, cruzos diversos, e abraços. Ah, os abraços. São como águas mornas do
rio, são a mais genuína troca de energias de renovação, acalanto da alma.
E mesmo de tudo o que não pude ver, percebi nos olhares dos que estiveram presentes. Essa edição do Cariri Cangaço teve uma cerimônia de entrega das cinzas do pesquisador Antônio Amaury. Infelizmente eu não pude estar presente no momento. Porém no dia seguinte ao conversar com seu filho Carlo Elydio Araújo, pude ver em seus olhos a memória e a força do amor dessa entrega ao rio. Os olhos úmidos de Carlo foram igualmente meus olhos, da saudade paterna, do meu velho pai que se encantou há 25 anos. E nós que aqui continuamos precisamos justamente abrir mais caminhos, “guardando as recordações”.
Cada
pessoa, cada pesquisador, cada um que ouve e troca ideias, cada abraço,
cada riso ou choro é o que de mais lindo existe nesse evento. É uma celebração
de vida, de memória, de escuta. E somos carentes de memórias.
Luciana Nabuco, pesquisadora, escritora, poeta, jornalista, ilustradora, Rio de Janeiro, 12 de agosto de 2022
O Cariri Cangaço Piranhas aconteceu entre os dias 28 e 30 de julho de 2022 na cidade ribeirinha de Piranhas, baixo São Francisco, no estado de Alagoas, nordeste do Brasil.
São nesses abraços que entrelaçados as vidas de velhas e novas amizades. Que nos reencontremos em breve, caríssimos Luciana e Ricardo.
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