Um dos mais admirados e respeitados pesquisadores do folclore, da cultura, da arte, da etnografia e porque não dizer, da alma do Brasil, Luís da Câmara Cascudo, o "Cascudinho", nasceu em Natal , onde viveu quase toda a sua vida, tornando-se a partir de seu trabalho e inegáveis e intermináveis talentos, um dos intelectuais mais festejados de todos os tempos. Câmara Cascudo foi o ilustre convidado para inaugurar mais um empreendimento com a marca Cariri Cangaço: Grandes Encontros Personalidade.
Câmara Cascudo
"O Cariri Cangaço ao longo de seus 14 anos de existência e realizações, se notabilizou pelo conjunto de encontros presenciais, dinâmicos, inter setoriais e acima de tudo grandes realizações que enaltecem a integração da alma nordestina, e assim, já realizou mais de 40 grandes eventos, com cerca de 280 conferencias e debates, mais de 300 visitas técnicas e lançamento e relançamento de 95 obras literárias. Presente em 32 municípios de sete estados nordestinos, inaugura aqui em Natal, mais um empreendimento, o Cariri Cangaço Personalidade, que tem como grande convidado o extraordinário Luís da Câmara Cascudo; para nós esta sendo uma honra sem tamanho mergulhar nesse oceano chamado Cascudo" confessa Manoel Severo , curador do Cariri Cangaço.
A noite de quinta-feira, 21 de setembro de 2023, no auditório central da UNI-RN - Centro Universitário de Natal, foi realizada a solenidade de abertura do Cariri Cangaço Personalidade - Câmara Cascudo, com o tema: "O Homem, a Obra, o Mito"; reunindo pesquisadores e admiradores da obra do grande intelectual potiguar, de todo o Brasil. "Para nós que fazemos o Cariri Cangaço, é uma enorme satisfação testemunhar o lançamento do Cariri Cangaço Câmara Cascudo aqui em Natal e ver o auditório da UNI-RN com um público tão qualificado de pesquisadores, instituições culturais, grupos de estudo, enfim, uma festa digna da grandeza de Cascudo" ressalta o pesquisador Bismarck Martins, Conselheiro Cariri Cangaço e Vice-Presidente do GPEC.
O Cariri Cangaço Personalidade Câmara Cascudo é uma realização do Conselho Alcino Alves Costa, do Cariri Cangaço; do Ludovicus-Instituto Câmara Cascudo; do Instituto Histórico e Cultural do Rio Grande do Norte com o apoio da UNI-RN e ainda da SBEC, da ABLAC, do GPEC, do GECAPE e do GECC, numa grande integração entre as instituições.
A Mesa foi formada pelo Curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo, pela Presidente do Ludovicus, Daliana Cascudo , pelo representante do IHG-RN, Conselheiro Cariri Cangaço Honório de Medeiros e pelo representante da UNI-RN, professor Márcio Brito, Pró-Reitor Administrativo-financeiro. Tradicionalmente os convidados acompanharam a entrada do Estandarte do Cariri Cangaço, conduzido pelos Conselheiros Quirino Silva e Célia Maria, para logo em seguida ouvirem a apresentação do Cariri Cangaço pelos Conselheiros Luma Holanda e Bismarck Martins. "A cada nova edição o Cariri Cangaço surpreende a todos, esse evento tendo como principal tema a figura e a obra de Câmara Cascudo, pela grandeza do personagem e pela riqueza das conferências e debates , já é um marco na historia do Cariri Cangaço" ressalta a pesquisadora e escritora Luma Holanda.
Ato contínuo foram concedidas Comendas de "Mérito Cultural Cariri Cangaço" às instituições parceiras na realização do encontro. Receberam a comenda a
O momento alto da noite se deu no encerramento da solenidade, quando da concessão da Comenda "Personalidade Eterna do Sertão" a Luís da Câmara Cascudo, in memoriam, representando toda a deferência, respeito e admiração e o pleno reconhecimento do Cariri Cangaço ao extraordinário trabalho e legado deixado para as atuais e futuras gerações, pelo intelectual potiguar. O Cariri Cangaço segue durante toda sexta-feira, dia 22, com doze conferências em quatro mesas temáticas, sobre o homem e a obra de Cascudo, evento também no auditório da UNI-RN em Natal, Rio Grande do Norte.
"Não temos nem palavras para dizer o tamanho de Luís da Câmara Cascudo, ele era gigante, imenso, então nós do Cariri Cangaço com muita honra prestamos essa humilde, mas muito significativa homenagem ao Cascudinho "Personalidade Eterna do Sertão" confirma Honório de Medeiros, Conselheiro Cariri Cangaço.
SAUDAÇÃO AOS PARTICIPANTES DO CARIRI CANGAÇO EM HOMENAGEM A LUÍS DA CÂMARA CASCUDO, Por Honório de Medeiros.
"Boa
noite! Historiador, jurista, antropólogo, etnólogo, folclorista, sociólogo,
memorialista, crítico literário, biógrafo, filósofo, cronista, romancista,
poeta, ensaísta, bastaria “Civilização e Cultura”, que completa 50 anos em
2023, para colocar Câmara Cascudo entre os grandes pensadores nordestinos. É
pouco, porém, para tão grande obra, ampla, profunda e complexa. Ele congrega
tudo isso e muito mais. Pela intensidade, quantidade e qualidade de sua
produção intelectual, ele é, sem sobra de dúvidas, um dos maiores pensadores
brasileiros.
Câmara
Cascudo é um oceano. Considero singular e apropriada esta homenagem, hoje, a Câmara
Cascudo, vez que, pela primeira vez presencialmente, até onde sei, conecta-se o
descortínio do pensador potiguar, com o fenômeno do cangaceirismo.
Cascudo,
permitam-me chama-lo assim, como o fazemos desde sempre, carinhosamente, foi o
primeiro norte-riograndense a escrever acerca desse tema, em Viajando o Sertão,
sua sexta obra, cuja primeira edição é de 1934. Nela tratou, pela primeira vez,
do tema “cangaceirismo!” , e escreveu não somente acerca de Jesuíno Brilhante,
mas, também, Virgolino Lampião, em dois capítulos distintos . Em Vaqueiros e
Cantadores, cuja primeira edição é de 1939, Câmara Cascudo avançou um pouco
mais no tema, tentando resolver a dicotomia entre o modo-de-vida de Jesuíno
Brilhante e o de Lampião. Tentou, pelo menos. É quando introduz a hipótese do
“fator moral” como elemento significativo e diferenciador entre os tipos de
cangaceiros, insight anterior de Felipe Guerra, mais tarde brilhantemente
desenvolvido por Frederico Pernambucano de Mello em sua obra canônica acerca do
cangaço, Guerreiros do Sol, por ele denominado de “escudo ético”. Uso o termo
“cangaceirismo”, mais preciso, no lugar de “cangaço”, para designar a conduta
ou modo de viver do cangaceiro.
Câmara
Cascudo voltou ao cangaceirismo em duas Actas Diurnas, escritas para o Jornal A
República de 31 de maio de 1942 e 7 de junho do mesmo ano, escrevendo acerca de
Jesuíno Brilhante. Curiosamente, em 1944, citou Jesuíno em um verbete, na primeira
edição do Dicionário do Folclore Brasileiro, quando, em rápidas pinceladas,
expôs o perfil do cangaceiro, tratou um pouco de sua história, e elencou quais
as fontes de sua pesquisa, sem acrescentar nada de novo ao que já havia escrito
anteriormente. Vinte e dois anos depois, em Flor de Romances Trágicos, cuja primeira
edição é de 1966, Cascudo inovou e apresentou Nota contendo a definição,
digamos assim, positivista, diferente acerca do que seria Cangaceiro e
Cangaceirismo. 5 Os tempos eram outros e ele, sempre atento, não ficou fora das
novas correntes filosóficas que grassavam a Europa. Obra notável, sob todos os
aspectos, seja como historiador, seja como estilista, apresenta aos seus
leitores Liberato, Antônio Silvino, Jararaca, Adolfo Rosa Meia-Noite, Jesuíno
Brilhante, Lucas da Feira, Cabeleira, entre outros, valentões, cabras, jagunços
e cangaceiros.
Ainda
encontra tempo e lugar para tratar, até onde sei, pela primeira vez no Brasil, intuitivamente,
exemplos de feminicídios que foram desdobramentos perversos do exercício do
Poder privado, através da morte de Ana Freire de Brito e Dona Ana de Faria
Souza. Registre-se, no livro, a notável informação, típica de Câmara Cascudo,
na qual aponta a definição mais antiga acerca do que seria “Cangaço”
(cangaceirismo): a do Tenente-General Visconde Henrique de Beaurepaire-Rohan,
explorador, geógrafo, soldado e político brasileiro, nascido em 1812 e falecido
em 1894, autor do Diccionario de Vocabulos Brazileiros, publicado em 1889 pela
Imprensa Nacional, no Rio de Janeiro, conjecturando que cangaço é o conjunto de
armas que costumam conduzir os valentões. Antes, em 1955, Raimundo Nonato tinha
visitado Câmara Cascudo para lhe entregar, antes mesmo de entrar em circulação,
seu Lampião em Mossoró, que foi o primeiro livro escrito por um potiguar acerca
do cangaço. Nonato conta, na parte que denominou de “Breve Notícia Antes do
Livro”, que Câmara Cascudo, ao receber o presente, o convocou para escrever “a
gesta do cangaço no Nordeste Brasileiro”. Cascudo lhe disse, na ocasião: No
itinerário a percorrer, varando caatingas e estradas iluminadas pelos clarões
dos tiros dos velhos bacamartes de pederneira, falará, de começo, sobre Jesuíno
Brilhante, o cangaceiro romântico, caudilho de batalhas incontáveis, que
respeitava as famílias e defendia os oprimidos. Tempos depois, precisamente
quinze anos, naquele que foi o primeiro livro dedicado exclusivamente a Jesuíno
Brilhante, Raimundo Nonato da Silva lançou, em 1970, Jesuíno Brilhante, O
Cangaceiro Romântico, sob instigação de Cascudo. O livro repetiu a fórmula que
Raimundo Nonato usou em Lampião em Mossoró, de 1955. Na trajetória tangencial,
embora muito relevante, de Câmara Cascudo no estudo do cangaceirismo, alguns
temas são muito importantes:
1)
Suas definições e hipóteses acerca do cangaceirismo;
2)
Sua teoria do “fator moral”;
3)
Os perfis de Jesuíno Brilhante e Lampião, antagônicos
entre
si, segundo sua perspectiva;
4)
Os perfis de cangaceiros menores, como Jararaca e Moita Brava;
5)
A hipótese do paralelismo entre coronelismo e feudalismo, nunca desenvolvida,
mas insinuada;
6)
O esboço acerca de uma taxonomia dos cangaceiros, precursora da tipologia de
Frederico Pernambucano de Mello.
7)
O esboço da presença do fator genético, assim como social na gênese do
cangaceirismo.
8)
O esboço histórico de casos de feminicídio.
O
cangaço é um fato social relevante: basta que o examinemos sob a ótica da nossa
cultura popular nordestina sertaneja ou da expressão mundial do banditismo
rural, fenômeno internacional. Os problemas para estuda-lo são complexos,
Cascudo percebeu isso quando escreveu acerca de Lampião, Jesuíno Brilhante, Antônio
Silvino e outros cangaceiros. Precisamos ir além da crença injustificadas de
que o cangaço é produto do meio, ou um movimento de resistência popular, uma
narrativa inócua. Quem pensa assim conduz os verdadeiros resistentes, aqueles
que não se entregaram ao crime, ao limbo da história. Por que não há uma
história desses homens comuns, os verdadeiros heróis? Ressalte-se, por fim, que
tudo isso é apenas o começo. O desafio, portanto, em estuda-lo, está lançado. Uma
vez dito isso, nós, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte,
saudamos todos os presentes e lhes damos as boas- vindas, colocando-nos à
disposição. Muito obrigado."
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