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Grupo de Lampião em Sítio dos Nunes em 1927: O Caso da Cova Aberta de Nil

Sítio dos Nunes , Flores - Pernambuco

Um fato que ficou marcado na nascente povoação de Sítio dos Nunes foi  o memorável assassinato de Nilvásio Simplício Nunes da Silva filho de  Simplício Nunes e esposo de Maria Nunes da Silva Pereira (Maria Salviano), esta  filha de Salviano Nunes. Portanto, Maria e Nil eram primos legítimos, filhos de  dois irmãos (Simplício e Salviano) e netos do Capitão João Nunes. Nil foi  assassinado por José Leite de Santana - Jararaca, famoso cangaceiro de  Lampião que teve seu fim trágico em Mossoró. Jararaca matou Nil de forma  mórbida com golpes de machado e tiros de fuzil sem nenhum motivo aparente  no momento em que o mesmo estava extraindo mel na caatinga, próximo a sua  casa para fazer cachimbo visando comemorar o nascimento de sua filha Terezinha Nunes.  


Maria Nunes da Silva Pereira (Maria Salviano),esposa de Nil – Neta João Nunes, filho  de Aniceto Nunes  

Este episódio de Nil Nunes logrou uma estória carregada de misticismo e  superstições, mas que na crença dos habitantes do lugar tudo fora levado  muito a sério. Quando os cangaceiros mataram Nil Nunes, os próprios  assassinos o sepultaram em uma cova rasa nas proximidades do delito,  próximo a uma grota, embaixo de um angico. Durante três dias a família se  dividira em grupos para procurá-lo sem obtenção de êxito em suas caçadas.  No terceiro dia ainda, o mesmo grupo de cangaceiros que ainda se encontrava  pelas imediações de Sitio dos Nunes atacaram a casa de Juvenal Nunes  Duarte e lá estava João Simplício, irmão de Nil Nunes, que fora fortemente  agredido. Nesta ocasião os cangaceiros informaram que se não  providenciassem dinheiro fariam a mesma coisa que fizeram com um homem  que tinham enterrado embaixo de uma baraúna nas imediações da estrada das  Piabas a três dias. Com esta informação João Simplício imediatamente levou  ao conhecimento da esposa de Nil Nunes, Maria Salviano que providenciou a  busca do corpo. Acharam a cova onde o corpo de Nil estava enterrado com as  mãos expostas. Assim, a mãe de Nil, senhora de profunda fé religiosa, dona  Joaquina Vieira de Matos mandou desenterrar o filho sob fervorosas preces e  rezas e o enterrou novamente em outra cova, deixando a primeira aberta, pelo  que ordenou que a primeira não fosse soterrada.

Coincidência ou não, o fato é  que cerca de dois meses depois deste ocorrido das covas chegou a notícia que  o cangaceiro Jararaca fora assassinado em Mossoró no Estado do Rio Grande  do Norte. De fato, como Nil Nunes fora encontrado morto no dia 17 de abril de 1927, um domingo e o cangaceiro Jararaca que era natural de Buíque (PE) foi morto no  fracassado ataque a cidade de Mossoró, em 18 de junho de 1927, foi preso e  justiçado (morto sumariamente sem julgamento, após 4 dias de prisão) pelo  soldado João Arcanjo. Segundo Luiz Góes a mãe de Nil Dona Joaquina em sua  mística e fervorosa crença mandou que tirasse Nil de uma cova e o colocasse  em outra devendo deixar a originária aberta para que em pouco tempo o crime  fosse justiçado. E então assim procederam. Tanto foi que quando chegou a  notícia da morte de Jararaca Dona Joaquina mandou imediatamente fechar a primeira cova de Nil que fora aberta pelos cangaceiros. Este fato foi também confirmado por Didi Simplício, sobrinho de Nil Nunes e por Irene Duarte.  


Jararaca preso em Mossoró algumas
semanas 
após o assassinato de Nil Nunes.  

O FATO DA COVA DE NIL NARRADO POR QUEM VIVEU O SEU TEMPO  

Luiz Nunes de Góes, eterno historiador de Sítio dos Nunes e primo em 2º grau de NIl Nunes e também de sua  esposa Maria Nunes (Maria Salvi) narrou tal fato a Revista Visão Municipal, cuja versão já foi por diversas vezes  publicada em vários sites. O fato foi narrado e gravado em 18 de dezembro de 2015 nos termos seguintes: Uma das vezes que Virgulino Ferreira - Passou na " Propriedade Sítio ", e Deixou rasto ou a marca do vandalismo, foi em 1927, no dia 30 de abril. Nesse dia chegou inesperadamente e pernoitou nas imediações da região conhecida por "Piabas", nas terras de Antônio  Ferreira Venâncio-"Antônio Suiba" e Joventina Nunes da  Silva-"Jovita”. ( Irmã de Mariinha, cunhada de Juvenal).  

Neste mesmo dia o bando saqueou também as casas de Juvenal Nunes Duarte e Joaquim Nunes da Silva, foi uma devassa.  Chegaram pacificamente, por volta das 17 hs., com o sol  começando a se por. Formavam um grupo de vinte cangaceiros. 'A frente do casal "anfitrião", se aproxima e diz  Lampião:
_ só queremos uma boa comida e local para  passar a noite. Procuraram um local estratégico, com boa  visibilidade e se arrancharam. "Jovita"e " Antônio Suiba ", preocupados e nervosos com  aqueles " benditos hóspedes " conversaram entre si, e  decidiram fazer um fogo nas imediações da cozinha para  colocar um panelão de barro com feijão; outro com galinha gurizada e disponibilizar toda carne ( de bode e de boi ) que  se encontrava na despensa para assar na brasa. "Jovita" se  pegou
com todos os santos; rezava mais do que trabalhava,  Historiador Luiz Nunes de Góes  no sentido de que no final tudo corresse bem e desse certo.  A comida ainda não estava pronta e os " cabras " começaram a chegar, mexendo nas panelas e desorganizando a lenha que nutria o fogo. O casal ficou em polvorosa, de uma maneira tal, que não sabia o que fizesse. Finalmente apareceu "Lampião" que  com sua experiência de sentiu o descontrole dos " anfitriões e os acalmou. O rei do cangaço simplesmente pediu  aos seus comandados que se retirassem dali e ficassem observando de longe ( atentos a possibilidade de  envenenamento), que quando a comida estivesse pronta, seria servida. Quando a comida focou pronta, "Jovita" e "Antônio Suiba" anunciaram que iam servir a comida. Puro engano ! Eles  não tiveram condições de chegar nem perto. Os cangaceiros avançaram nas panelas, e animalescamente se  serviram (se é que aquilo é considerado " se servir ") e se saciaram.  Os donos da casa não dormiram; não conseguiram pregar os olhos. Sabiam que, logo mais na madrugada, " seus  hóspedes " estariam partindo; no entanto, não sabiam se continuariam com vida. O tormento tomou conta do casal  até quando o dia finalmente amanheceu. Por ironia do destino, Lampião se aproximou de "Antônio Suiba" e "Jovita", não se despede e só diz:- na família  ninguém mexe. (Não sabia Lampião que logo mais, há poucas horas dali, o seu cangaceiro "Jararaca" ia assassinar  o irmão de " Jovita "). Lampião era um estrategista. O plano para aquele dia e os dias seguintes, já estavam traçados na sua cabeça antes  de dormir. Sempre preferiu andar com o grupo dividido. Arquitetou e dividiu os cangaceiros ali presentes em dois bandos. Um ficaria sob seu comando; o outro seria conduzido e chefiado pelo cangaceiro "Jararaca”, um dos  maiores malfeitores de todo bando. Avançariam em sentido diferente, mas com o propósito de se encontrarem em um lugar comum. Dessa forma, madrugada, depois da conversa que Lampião teve com o casal "anfitrião", os dois  bandos seguiram o traçado. 
 
Enviado por Joaquim Pereira
Conselheiro Cariri Cangaço
LNG 28.12.2015

2 comentários:

  1. Ótimo texto. Informações interessantes e precisas.

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  2. Seu site é muito bom. Traz pra gente muita coisa da época do Cangaço que outras fontes deixam passar

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