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A Noite em Que Silenciaram Delmiro Gouveia Por:Gilmar Teixeira


O vento quente do sertão soprava nas ruas estreitas da Vila da Pedra naquela noite fatídica. O Coronel Delmiro Gouveia, visionário e obstinado, havia transformado aquela região árida em um polo de desenvolvimento. Sua fábrica de linhas, sua vila operária, o curtume, que curtia as peles de couros dos animais da região, e a ousadia de instalar a primeira hidrelétrica do Nordeste mexeram com interesses poderosos. No entanto, sua ascensão não passava despercebida. Políticos locais, sócios insatisfeitos e fazendeiros que viam nele uma ameaça se uniram em uma conspiração traiçoeira. A reunião decisiva aconteceu em Água Branca, onde se definiu o destino do homem que ousou desafiar os coronéis da região, e os políticos, donos do poder.

Capitão Firmino Pereira, um homem de sangue quente e honra ferida, trouxe de sua terra natal os temidos cangaceiros Sinhô Pereira e Luiz Padre, também seus parentes. A execução do crime foi meticulosamente planejada. O primo Zé Gomes de Jatobá, de Petrolândia, trouxe Antônio Félix, um pistoleiro experiente, enquanto os  vaqueiros de Água Branca, Herculano Borges e Luiz dos Angicos, garantiam a cobertura, a mando de uma familia influente de Água Branca. Naquela noite, a emboscada foi certeira. Delmiro Gouveia, que sempre acreditou que o progresso protegeria sua vida, tombou sob os disparos de três tiros de fuzil, que selaram o maior crime do Nordeste no início do século XX. Mas a história, como tantas vezes acontece, foi escrita pelos vencedores.

Dois inocentes foram apontados como culpados. Róseo Moraes e José Inácio Pia, o Jacaré, conhecidos apenas por sua labuta, foram arrancados de suas vidas e submetidos a torturas impiedosas até confessarem um crime que jamais cometeram. O julgamento foi uma farsa, alinhada com os interesses dos verdadeiros responsáveis: os sócios traidores, os coronéis gananciosos e um homem que buscava vingança em nome da honra de sua filha. Durante um século, a verdade permaneceu soterrada sob camadas de versões convenientes. O nome de Delmiro Gouveia virou lenda, seu assassinato, um mistério. Mas a poeira do tempo, que encobre e preserva, agora se levanta para revelar a trama que tirou a vida de um dos maiores empreendedores do sertão nordestino.

O silêncio que se impôs naquela noite foi enfim, revelado no livro escrito pelo historiador e pesquisador, Gilmar Teixeira. 

* Gilmar Teixeira , Conselheiro Cariri Cangaço 

* resumo do Livro, "Quem Matou Delmiro Gouveia?"

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