“Deve existir no Céu um protetor
dos pesquisadores em geral e dos pesquisadores de História em particular.Ignoro
seu santo nome, mas posso dar testemunho público de sua generosa proteção aos
mariscadores das coisas do passado. Nas investigações que venho fazendo,há
muitos anos, a respeito do episódio histórico de Canudos,o anônimo patrono da
pesquisa não me tem abandonado.De quando em vez, inesperadamente, dele recebo um
régio documento, cuja existência jamais suspeitei”.
José Calasans
"Durante a Guerra de Canudos
(1896-1897), a vida do povo canudense e o arraial do Belo Monte despertaram
grande curiosidade no Brasil inteiro. No final do terrível episódio, em outubro
de 1897, inúmeros objetos foram encontrados nos escombros da cidadela e levados
para as principais capitais Do país como trofeús de guerra. Com o passar dos
anos, muitos desses achados foram doados à instituições e coleções particulares
e hoje são importantes fontes de estudos para historiadores e pesquisadores do
tema". Claude Santos
O corpo de Antônio Conselheiro. Fotografia de Augusto Flávio de Barros, 6 de outubro de 1897.
Encontrado no Santuário na
manhã de 6 de outubro de 1897,o corpo do líder espiritual do Belo Monte foi
exposto à curiosidade da soldadesca republicana na Latada, local de suas
prédicas e orações. Depois de fotografado por Augusto Flávio de Barrros, teve a
cabeça decepada e levada para a Escola de Medicina da Bahia onde foi estudada
pelo professor Nina Rodrigues, especialista em estudos frenológicos.Até 1905, a
cabeça de Antônio Conselheiro ficou exposta no Museu de Medicina Legal da
instituição quando foi queimada durante Um incêndio.
Durante o desentulho do
Santuário,casa de morada de Antônio Conselheiro, foram encontrados dois manuscritos
do líder espiritual de Canudos, ou Belo Monte.O primeiro foi oferecido à gazeta
baiana Jornal de Notícias por Eugênio Carolino de Sayão Carvalho, brigada do 25º
batalhão de infantaria, e muitos anos depois foi dado ao Professor José
Calasans pelo amigo Paulo Maciel. Hoje pertence ao Núcleo Sertão da
Universidade Federal da Bahia, principal acervo dos estudos canudenses. O
segundo, encontrado dentro de uma velha caixa de madeira por João Pondé,
acadêmico da Escola de Medicina da Bahia, depois pertenceu ao escritor Afrânio
Peixoto que o presenteou a Euclydes da Cunha na esperança de lhe informar alguma
nota dos seu miríficos “Sertões”. Durante muitos anos esse manuscrito ficou
desaparecido até ser encontrado em um sebo pelo escritor Aristeu Seixas. Em 1973,estava
em poder de Ataliba Nogueira que publicou trechos no seu livro “Antônio Conselheiro
e Canudos”. Hoje, não sabemos do seu paradeiro.
A Igreja de Santo Antônio,
conhecida como Igreja Velha, foi o primeiro templo construído por Antônio
Conselheiro no antigo Povoado de Santo Antônio dos Canudos.Quando se
estabeleceu o arraial, em junho de 1893, o pregador cearense recebeu a chave da
Igreja, discursou e fez rédicas. Pouco tempo antes, tinha escrito aobeato Paulo
José da Rosa pedindo que não levasse As imagens para a nova igreja porque ela
ainda não tinha sido abençoada.A chave e a carta hoje estão no acervo do
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. O discurso de recebimento da chave
da Igreja de Santo Antônio pode ser consultado no manuscrito de 1897,publicado
por Ataliba Nogueira no seu livro “Antônio Conselheiro e Canudos”.
A primeira ilustração do antigo
arraial de Santo Antônio dos Canudos foi feita por Demétrio Urpia, então juiz
preparador de Tucano, vila sertaneja baiana. Para fazer o seu desenho,
intitulado “Arraial dos Canudos, Visto pela Estrada do Rosário”, o magistrado
baseou-se em informações de oficiais da expedição Moreira César, derrotada pelos
conselheiristas no início de março de 1897. Na época da Guerra, o desenho de
Demétrio Urpia foi comercializado e hoje ma das cópias pode ser consultada no
acervo do Núcleo Sertão da Universidade Federal da Bahia.
Durante o desentulho do
Santuário, morada do líder espiritual do Belo Monte e das imagens levadas pelos
fiéis que iam em romarias para o “arraial sagrado”, Alvim Martins Horcades, acadêmico
da Escola de Medicina da Bahia, encontrou uma imagem de Santo Antônio. Depois da
Guerra, Horcades gentilmente presenteou-a à Maria Francisca Tourinho, esposa de
Adolfo Frederico Tourinho, diretor do Colégio São Salvador. Localizada pelo
professor José Calasans em 1997, ano do centenário de destruição do povoado
conselheirista, essa imagem hoje pertence aos descendentes de Maria Francisca e
Adolfo Tourinho.
Fonte: www.josecalasans.com
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