João Paulo, Manoel Severo e Manoel Moura
Desde então me preparo para a 4ª edição do evento, que eu
vislumbrava ser um momento ímpar para estar entre os especialistas no assunto
que tanto me fascina e do qual sou um pesquisador iniciante, bem como pela
possibilidade de conhecer lugares pelos quais passaram muitos personagens cujas
histórias retratadas nos livros me faziam viajar no tempo.
Eis que o grande dia do meu encontro com o Cariri Cangaço
chegou: 17 de setembro de 2013. Logo cedo eu estava na estrada: antes das 5 da
manhã. Para que este encontro acontecesse foi de fundamental importância a
presença do “velho” amigo de N. Sra. das Dores (SE), minha terra, Roberto
Pereira de Figueiredo, ele que sempre foi a ponte que eu tive com boa parte das
fontes históricas que já pesquisei sobre as dorensenidades, e que eu chamo de
“livro tombo” da cidade. Romeiro do Padre Cícero, com quase 20 viagens ao
Juazeiro do Norte, Robertinho foi meu guia e instrutor nos caminhos nunca antes
desbravados até o Crato (CE), onde ficamos hospedados.
Durante os sete dias nos quais o Cariri Cearense me recebeu
pude descobri quão gentil e amigo é povo do Ceará, pude rever amigos como
Archimedes Marques e sua sorridente esposa Elane, João de Sousa Lima, Manoel
Severo, dentre outros. Pude também conhecer novos e “velhos” amigos, como o
Prof. Pereira (com o qual me comunicava há tempos enquanto cliente, mas que não
conhecia pessoalmente) e sua simpática esposa Fátima. Com este casal,
certamente, nasceu um amizade duradoura. Amizade duradoura que também se
repetirá com o “cangaceiro” Aristides Camargo, o Ari, sempre disposto a ajudar
e com quem dialoguei muito durante estes dias. Ele foi o embaixador do Ceará,
nunca hesitando em dar-me informações quando eu desejava conhecer um pouco mais
a história e a cultura local.
Penintentes na noite Cariri Cangaço em Aurora
O Cariri Cangaço 2013 uniu num só objetivo mais de 163
pesquisadores de 18 estados brasileiros. Este objetivo ficou bem claro na
abertura do evento, não era fazer apologia ao crime e à violência, mas uma
louvação à cultura nordestina. Afinal, nem só de cangaço foi o evento... Não
faltou religiosidade (com a devoção ao Padre Cícero, a festa do Pau da Bandeira
de Santo Antônio em Barbalha, os Penitentes de Aurora, Antônio Conselheiro
etc), banda cabaçal (que aqui em Sergipe chamamos de banda de pífano), fanfarra
etc.
A preocupação que eu vi nos gestores das cidades visitadas
em preservar o patrimônio histórico e cultural das mesmas me deixou com um quê
de inveja. Afinal, esta é uma forma de gerar emprego e renda à população
através do turismo, o que já é uma realidade no sertão sanfranciscano de
Alagoas, Sergipe e Bahia, como deixaram bem claro João de Sousa de Lima e Jairo
Luiz em suas conferências ministradas durante o evento. Segundo dados
levantados por este último, em Angicos (Poço Redondo-SE), são 30 mil visitantes
por ano. Já em Piranhas-AL, o turismo histórico gera 725 empregos diretos e
2175 empregos indiretos.
Conhecer a Chapada do Araripe foi um capítulo à parte. A beleza das fontes de águas medicinais do Caldas, em Barbalha, a 780m de altitude, não sairá tão cedo de minha memória. Neste local, desfrutamos das conferências do Dr. Lamartine Lima (sobre a antropologia criminal das cabeças de vários cangaceiros, dentre eles Lampião) e da Dra. Maria Thereza Camargo (sobre plantas medicinais utilizadas na época do cangaço). Profa. Maria Thereza Camargo, que figura extraordinária! Tive a felicidade de ficar hospedado no mesmo hotel que ela e de partilhar momentos de muito aprendizado. Dialogamos bastante sobre história e sobre seu fascínio pela cultura nordestina. Para a gentil professora, vinda de São Paulo, frequentadora e estudiosa assídua do Nordeste, e do meu Sergipe, aqui está o Brasil autêntico. Eis mais uma amizade construída no Cariri Cangaço 2013.
Falando em pessoas fascinadas pela nordestinidade, o Cariri Cangaço me proporcionou ainda momentos de diálogo e aprendizado, nos intervalos das programações oficiais ou durante os deslocamentos para algumas das sete cidades-sede, com outros apaixonados pela minha região, sua história e sua cultura. Profa. Luitgarde Barros, estudiosa do cangaço e do Padre Cícero, para quem o Nordeste deu ao Brasil alguns dos seus grandes intelectuais (do quilate de José de Alencar, Gilberto Freyre, Josué de Castro etc) que puseram o Brasil no patamar de destaque no mundo, mas que precisa de um maior engajamento dos intelectuais da atualidade em prol da preservação das tradições culturais nordestinas. Antônio Amaury Correia de Araújo, o maior pesquisador do cangaço, com o qual pude conversar sobre suas vindas a Nossa Senhora das Dores e tirar dúvidas sobre o “Fogo do Salobro”, que envolveu o bando de Zé Sereno e a volante de Baltazar em 1937. Neli Maria da Conceição, a mineira Lili, filha dos ex-cangaceiros Moreno e Durvinha, foi outra apaixonada pelo Nordeste que o Cariri Cangaço me permitiu conhecer.
Não poderia deixar de ter sentido que faltava uma peça na engrenagem dos fascinados pelo cangaço e pelo Nordeste. Era o “Caipira de Poço Redondo”, meu conterrâneo Alcino Alves Costa, que tanto cantou nosso sertão e que há menos de um ano partiu para o encontro com o Pai Celestial. Justa, sincera e bonita foi a homenagem que lhe fizeram todos os participantes do Cariri Cangaço, representados por Ivanildo Silveira, Luitgarde Barros, Juliana Ischiara e Manoel Severo, no dia 19 de setembro, no Juazeiro. Foi emocionante conhecer melhor sua história de vida, sua obra (uma referência) e como este sergipano é querido por todos. Juliana e Severo, foi difícil conter as lágrimas!
Crato, Juazeiro, Barbalha, Missão Velha, Aurora, Porteiras e Barro cidades anfitriãs do evento mostraram como a parceria, a somação de esforços, é importante para o sucesso do Cariri Cangaço. Entenderam, também, a mensagem que ficou durante esses seis dias, a preservação pode ir além do “apenas” conhecer o passado, mas também pode mudar o presente, gerando emprego e renda para seus jovens, contribuindo para o exercício da cidadania e para a autonomia das pessoas. Que se faça logo a “Rota Turística Cariri Cangaço”!
Crato, anfitrião do últido dia de Cariri Cangaço
No último dia de programação do 4º Cariri Cangaço, após conhecer vários lugares de memória que marcaram a vida de cangaceiros (o “quartel general” de Sinhô Pereira no Ceará e o local dos fuzilamentos do Alto do Leitão, em Barbalha, só para citar alguns), coronéis (como Izaias Arruda de Missão Velha e Aurora) e “coronelas” (como Marica Macedo do Tipi), foi a vez do Crato encerrar a festa, com lançamento de livros, apresentações culturais e exibição da imperdível “Sedição do Juazeiro”, um filme genuinamente nordestino que em breve será transformado em minissérie e exibido para todo o Brasil.
Antes de me despedir do Ceará, entretanto, fui ao Horto (em Juazeiro do Norte) conhecer mais de perto a religiosidade do povo nordestino e sua profunda devoção ao “santo do Juazeiro”, a quem rezei em agradecimento por aqueles dias inesquecíveis. Aos 22 de setembro de 2013, às 10:30h terminava minha caminhada nos sertões do Cariri e, ao embalo de Luiz Gonzaga (um dos maiores nordestinos de todos os tempos), iniciava-se meu retorno ao agreste sergipano.
Viva ao Brasil de Alma Nordestina!
Viva ao Cariri Cangaço!
Que venha logo a 5ª edição!
Abraço de gratidão a
todos,
João Paulo Araújo de
Carvalho
Professor, Sergipano,
Estudante do Cangaço
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