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Lie To Me Por:Juliana Ischiara

Ex-cangaceira Sila

Sempre que assisto uma entrevista da/com a ex-cangaceira Sila, tenho a impressão de que estou assistindo mais um episódio da série americana “ Lie to me”. Evidente que, assim posto, não estou dizendo que tenho a capacidade do Dr. Col Lightman de detectar mentiras ou invencionices só pela linguagem corporal.

Em um dos vídeos postados por nosso companheiro Aderbal Nogueira, aqui mesmo em nosso blog do Cariri Cangaço , Sila diz: “quando alguém lhe dizia que ela deveria se orgulhar por ser mulher de cangaceiro e ou ter sido cangaceira, ela respondia: Orgulho de que? Isso é um absurdo! Tudo que vivemos naquela vida. (...)”. Mais à frente, ela diz que “não se sentia uma mulher famosa, que não era famosa, que era uma mulher simples”, ou seja, em apenas duas falas, durante a entrevista, ela consegue tergiversar ou mesmo ser controversa. Como sempre suas falas nunca combinavam com sua conduta. Assim vejamos:  vamos refletir sobre estas duas frases:“ Orgulho de que?”, “ não sou famosa, sou simples”.

É estranho uma pessoa não se orgulhar de seu passado e ser uma pessoa simples, se chegou a adotar até um nome artístico para que soasse melhor na imprensa, lembrando que a mesma continuou usando o apelido que lhe deu a pretensa “fama”. Isso não me parece uma atitude de uma pessoa simples, humilde ou ingênua. Ainda numa rápida pesquisa sobre os remanescentes e ou celebridades do cangaço, percebe-se claramente dois grupos: O primeiro é formado pelos que adoravam falar sobre o assunto e aparecer, mesmo que inventando, mentindo, aumentando ou supervalorizando sua participação no cangaço. No outro grupo, estão os que não gostam de falar sobre o assunto, os que sentem vergonha de seu passado criminoso, os que dificultam, a todo custo, qualquer contato com os pesquisadores. Estes não gostam de se expor.

Escritor Vilela entrevista ex-cangaceiro Vinte e cinco

Não é difícil saber em qual grupo se enquadravam Sila, Volta Seca, Balão e muitos outros. Da mesma forma que não é difícil saber em que grupo está Vinte e Cinco, Maria de Juriti e alguns ex-volantes. É comum ao ser humano querer esquecer os acontecimentos ruins, esquecer aquilo que lhe causa vergonha. Geralmente tende-se a não falar sobre o assunto ou falar o mínimo possível. Ao ler as entrevistas de muitos pesquisadores, concedidas a Kiko Monteiro e postadas em seu Blog Lampião Aceso, em uma das perguntas feitas por Kiko, os pesquisadores responderam sobre a resistência e ou dificuldade de entrar em contato com alguns remanescentes do cangaço, vejamos alguns: Sergio Dantas diria menos fácil, (...), VINTE E CINCO; Alcino Costa diria ZÉ RUFINO; Sabino Bassetti, VINTE E CINCO e CRIANÇA; Paulo Gastão, VINTE E CINCO  e MARIA DE JURITI; Antonio Vilela, EXPEDITA FERREIRA; Aderbal Nogueira, LERO, filho de ZÉ SATURNINO; Leandro Cardoso, MARIA DE JURITI; João de Sousa Lima, PRETÃO (irmão de Maria bonita) BEM-TE-VI e MARIA DE JURITI;  Antonio Amaury, OS SOLDADOS (os ex-volantes não gostavam de falar) e MELCHIADES DA ROCHA.

Vale ressaltar que aqueles que faziam parte do grupo celebridade, o contato era facílimo, inclusive não se incomodavam de passar meses na casa dos amigos e admiradores, desde que isso lhes proporcionasse conforto, mídia e atenção. Não tenho conhecimento de que Dadá tenha passado dias na casa de sua irmã dona Joana, uma senhora simples, humilde. Sila na casa de seus parentes simples e humildes que ainda hoje moram em Poço Redondo e assim por diante...

Juliana Ischiara, Pesquisadora e Historiadora
Diretora do GECC, Conselheira Cariri Cangaço

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