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O Cícero de Daniel Walker


Sem sombras de dúvidas uma das mais significativas e ao mesmo tempo polêmicas personalidades de nosso nordeste e porque não dizer do Brasil, foi o santo padre do Juazeiro do Norte, o cearense do século. O Cícero Romão Batista nascido no Crato, ordenado em Fortaleza e que realizando sua Missão sacerdotal no antigo "Tabuleiro Grande" viria a se tornar a figura mais estudada do clero brasileiro, com mais de cinco centenas de publicações a seu respeito, despertando amor e ódio entre todos aqueles que entraram em contato com sua controversa historia e legado.

Muitos e muitos episódios marcantes na vida de Padre Cícero vieram a se tornar emblemáticos para a história não só do Ceará, mas do nordeste como um todo, destacando-se dentre eles o mais polêmico de todos: O chamado "milagre da hóstia" ainda no século XIX, quando despertou ao mesmo tempo a desconfiança e perseguição da Igreja e a histeria de toda uma "nação romeira" que passaria a partir dali a se tornar uma das forças deste grande e mítico sertanejo.


Cícero, a polêmica força do homem que influenciou o nordeste por mais de 7 décadas...

Em "Padre Cícero, Lampião e coronéis", o grande pesquisador e escritor Daniel Walker, de Juazeiro do Norte; uma das maiores autoridades tratando-se de Padre Cícero, nos traz uma profunda reflexão e luz sobre dois desses episódios que tornaram marcos dentro da biografia do santo de Juazeiro: A visita e concessão da patente de capitão a Lampião, em Juazeiro em 1926 e o Pacto dos Coronéis ainda em 1911, duas páginas preciosas da história e da literatura nordestina, tendo como personagem principal Romão Batista, "meu Padim".

Daniel Walker com seu talento e determinação, faro de pesquisador nato e um apaixonado zeloso pela verdadeira historia de Padre Cícero, a partir dos dois episódios citados acima , buscou confrontando as mais acreditadas obras sobre o assunto; antigas e recentes; nos colocar como em "pratos limpos" fragmentos que nos permitissem fazer um juízo, o mais lúcido possível sobre essas passagens que ao longo dos tempos se consolidam realmente como algumas das mais polêmicas da vida do santo padre do Juazeiro. Até hoje no real e no imaginário muito se fala e fantasia sobre o longínquo outubro de 1911 e março de 1926 e como se deram a engenhosa e mal fadada iniciativa do Pacto dos Coronéis, reunindo a nata do coronelismo regional do Ceará, num autentico compromisso inusitado, engenhado pela dupla "Cícero/Floro" e o fatídico episódio em que Virgulino Ferreira entrou em Juazeiro como o mais temido cangaceiro do nordeste e de lá saiu "capitão".


Como o próprio Daniel Walker asserta:"Tratando-se de Padre Cícero e sua historia, vamos ter as mais diversas leituras, sua vida tão cheia de ambiguidades jamais deixara de ser dissecada por seus biógrafos", e não poderia ser diferente, uma vez que estamos falando de um dos personagens mais poderosos de sua época e que manteve grande influência em toda a região por mais de 70 anos. Walker nos traz recortes de consagrados pesquisadores; Rui Facó, Irineu Pinheiro, Amália Xavier, Luitgarde Barros, Joaryvar Macedo, Otacílio Anselmo, Nertan Macedo, Frederico Pernambucano de Melo e Lira Neto, dentre muitos outros; traçando paralelos e contradições, estabelecendo uma linha de raciocínio que possa aproxima-las um pouco que seja da verdade histórica.

Daniel Walker lançou neste último mês de março "Padre Cícero, Lampião e coronéis", uma obra que não pode faltar à nossa biblioteca, de leitura fácil e compreensível, o autor de maneira elegante e respeitosa desseca o muito do que já foi escrito sobre esses dois temas, vale a pena conhecer. Boa leitura.

Manoel Severo, Curador do Cariri Cangaço
31 de Março de 2017

NOTA:O livro está à venda ao preço de R$ 30,00 com frete grátis. Pedido diretamente ao autor pelo e-mail: professordaniel@hotmail.com.br ou celular/WhatsUpp (088) 98835 6303 Ou no Sebo Alan Poe - Solaris. Rua Av. Padre Cícero, 1227 - Centro, Juazeiro do Norte - CE E ainda: Coelhos Hotel. Rua do Cruzeiro/Praça Padre Cícero. Banca de Revistas de César. Praça Padre Cícero como também estará sendo lançado no Cariri Cangaço Exu,entre os dias 20 a 23 de Julho de 2017 em Exu e Serrita.

Canudos,Uma Utopia no Sertão Por:José Gonçalves do Nascimento


Entre os anos de 1896 e 1897, mais da metade do exército da República foi enviada ao interior da Bahia, com o fim de destruir o arraial de Canudos. Enquanto a guerra se desenrolava no sertão, alguns órgãos de imprensa e alguns círculos intelectuais procuravam uma definição para aquela “curiosa comunidade”, como chegou a escrever um jornal inglês.

Por muito tempo, acreditou-se no caráter monarquista do arraial. Mas não faltou quem também o distinguisse como um reduto comunista. Alguns depoimentos, pinçados aqui e ali, apontam nessa direção.A resenha do Hachette, de Paris, para o ano de 1897, apresentava Antônio Conselheiro como um profeta que pregava o “comunismo e ao mesmo tempo o restabelecimento da monarquia”.

O jornal O Paiz, do Rio, na edição de 30 de janeiro de 1897, informava que, entre os grupos que compunham o séquito conselheirista, havia aqueles que para ali se dirigiam “acreditando na ideia do comunismo tão apregoado pelo Conselheiro”.
José Gonçalves do Nascimento

Cícero Dantas Martins, o Barão de Geremoabo, escrevendo no Jornal de Notícias, da Bahia, em 5 de março de 1897, referia-se a Canudos como uma “seita, cuja doutrina é o comunismo”.

Em trabalho publicado na Revista Brasileira, um mês apôs o término do conflito, Nina Rodrigues também firmou sua posição: “Antônio Conselheiro anormaliza extraordinariamente a vida pacífica das populações agrícola e criadora da província, distraindo-as das suas ocupações habituais para uma vida errante e de comunismo em que os mais abastados cediam dos seus recursos em favor dos menos protegidos da fortuna”.
Todavia, a obra manuscrita de Antônio Conselheiro não faz a menor alusão à doutrina comunista. Desconhece-se qualquer referência do peregrino àquele modelo político e econômico, ainda mais nos termos propostos por Marx e Engels.

Marx

Isto não quer dizer que o qualificativo utilizado pela elite brasileira para definir Canudos (qualificativo cujo único objetivo era desabonar a experiência conselheirista) esteja de todo desprovido de sentido. Só que o comunismo experimentado em Canudos se insere noutro gênero, um tanto diferente do chamado materialismo histórico, sistematizado nos círculos acadêmicos da Europa.
Para Afonso Arinos, o socialismo e certas práticas do comunismo de Canudos “só têm analogia com o comunismo dos peruanos, sob a organização teocrática dos Incas. Ali não havia pobres; todos trabalhavam para a comunidade, à medida de suas forças. Não proibia o comércio, nem que o indivíduo também trabalhasse um pouco para si”.

Concordamos com o ilustre autor de Os Jagunços, tomando a liberdade de acrescentar outros elementos. 
A experiência social de Canudos tem raiz bíblica e foi inspirada nas primeiras comunidades cristãs, conforme referido no capítulo 2º dos Atos dos Apóstolos: Os irmãos eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos Apóstolos, na comunhão, na partilha do pão e nas orações. Todos os que acreditavam eram unidos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e bens, e repartiam entre todos, conforme a necessidade de cada um. 

Os Jagunços de Afonso Arinos, pseudônimo, Olivio Barros
O movimento de Canudos tem base também no ideal utópico, presente já em Platão, e pode ser comparado com a Icária, de Étienne Cabet, ou A Utopia, de Thomas Morus. Morus, por sinal, é citado nos manuscritos do Conselheiro, o que nos leva a supor que o peregrino tenha conhecido sua obra, ou pelo menos, parte dela. Publicada no início do século XVI, A Utopia constitui uma das primeiras referências no tocante ao chamado socialismo utópico.
É inegável a similaridade do movimento conselheirista com a obra e o pensamento de um Saint-Simon, de um Robert Owen ou de um Charles Fourier. Tidos como os pais do socialismo utópico, eles foram pioneiros na luta pela transformação do modelo de sociedade vigente naquela transição entre os séculos XVIII e XIX. Saint-Simon é conhecido por suas ideias em prol do cooperativismo e da liderança das classes trabalhadoras; Owen, por sua experiência com a chamada Nova Harmonia; Fourier, pela instalação dos seus formidáveis Falanstérios. Mesmo divergindo em certos aspectos, os três foram tenazes na defesa de uma sociedade que tinha como princípios elementares a cooperação, o sociativismo, a vida comunitária e o protagonismo das classes populares.


O ideal utópico alimentado ao longo dos séculos pelo povo sertanejo encontrou pouso nas margens do rio Vazabarris, sertão da Bahia, dando origem a um novo modelo de sociedade. Cimentado no trabalho cooperativo, na partilha dos bens e na solidariedade entre as pessoas, tal modelo de sociedade foi capaz de por fim às antigas relações sociais, libertando os homens e mulheres das garras da servidão secular.
Para um mestre da filosofia, Martin Buber, "utopia é o desenvolvimento das possibilidades latentes na comunidade humana, de se concretizar uma ordem justa". Isto quer dizer que a utopia é algo perfeitamente factível. Sua concretização depende apenas do esforço humano. 
Pode-se afirmar que Canudos foi uma utopia no sertão. Utopia concretizada, com lugar e endereço certos.
*PoetaCANUDOS: UMA UTOPIA NO SERTÃO
por José Gonçalves do Nascimento

Grota do Angico, Coito Seguro Por:Raul Meneleu Mascarenhas


Quem esteve lá poderá opinar se realmente era desvantajoso ou não. Mas para mim, a experiência que Lampião e os cangaceiros tinham, para escolher um local seguro era que esse local, oferecia garantias. O local estrategicamente não era ruim. Quantos cangaceiros escaparam?Consta que no local estavam "acoitados" cerca de 35 pessoas. Isso mostra que a maioria de 24 pessoas escaparam. Se fosse mesmo "uma tumba" será que teria escapado a maioria do bando e chefes de grupo? Naquela noite, será que não tinha vigia ou o vigia teria falhado na missão? O tempo "ruim" teria contribuído para que não houvesse vigia? Será que Lampião vacilou em não escalar vigias?

Sinceramente digo que o "coito" ali era seguro sim, e que essa história de Corisco ou outros acharem o local perigoso, só veio a ser levantado depois do acontecido. Se o local ofereceu saída para a maioria dos cangaceiros, em fuga mesmo desordenada por terem sido pegos de surpresa, podemos dizer que estrategicamente o coito era um bom local. O que falhou ali foi a vigilância e uma série de fatores, encandeados.

A exposição tétrica das cabeças em Piranhas depois de Angico

Sabemos por diversos fatos acontecidos, que mesmo quando pegos em emboscadas, Lampião e demais sub-chefes se saiam bem pois estavam sempre prevenidos. Naquela manhãzinha neblinosa, a sorte sorriu para as volantes conjuntas, ao ataque a Lampião, mas apenas conseguiram acabar com poucos naquele dia.  A sorte, se é que podemos dizer assim, pelo menos levando em conta que não era para quem morreu, os soldados abateram naquela emboscada, o chefe, a esposa do chefe, seu maioral Luiz Pedro e pequena parte do bando, que mesmo assim podemos dizer que fora a primeira vez em que houvera grande baixa.

Se Lampião tivesse escapado, mesmo com grande baixa, teria continuado a infernizar a população do nordeste, pois os que tinham sido abatidos, teriam seus nomes repetidos em novas aquisições de reforço a seu grupo. A sorte sorriu naquele dia para as Volantes e seus comandantes e podemos também dizer que sorriu para todos os sertanejos a quem o cangaço infernizava. Estava ali iniciando o fim do "Cangaço Tradicional", que ficou sem liderança, pois Lampião não preparara um sucessor, ensinando-lhe e apresentando-o aos coronéis da política. Os remanescentes, com o cerco policial e a vantagem policial imposta sobre eles, foram entregando-se aos poucos e essa "Saga Romântica" foi esvaindo-se e como final, tivemos a morte de Corisco, que já fugia por ter perdido a capacidade de aglutinar, abatido pelo Grande Caçador de Cangaceiros, o Tenente Zé Rufino.

Raul Meneleu Mascarenhas, Conselheiro Cariri Cangaço
Fonte:http://meneleu.blogspot.com.br/
Março de 2017

Nirez o Guardião de Nossa Memória

Nirez por Igor de Melo

Impossível pensar na memória de Fortaleza, capital cearense, sem citar o nome de seu mais fiel e significativo guardião:Miguel Ângelo de Azevedo, ou como todos conhecem: Nirez. Sua paixão por colecionar a memória de seu lugar vem desde os idos de 1950, são mais de meio século de trabalho árduo, porém prazeroso, para hoje se destacar como um verdadeiro Museu de nossa cidade, o Arquivo Nirez.

Na tarde deste último sábado, 25 de março, os salões da Caixa Cultural de Fortaleza recebeu para contar essa historia um descontraído e inspirado Nirez, que para uma platéia atenta que lotou todas as dependências do espaço cultural, puderam aprender e conhecer um pouco mais desse que já consideramos um mito da memória fortalezense.

 Ingrid Rebouças e a Exposição do Arquivo Nirez na Caixa Cultural
Manoel Severo e a lembrança do Cariri Cangaço a Nirez
Paulo Vanderley, Aderbal Nogueira e Manoel Severo

O Arquivo Nirez em exposição na Caixa Cultural tem sua sede na residencia do memorialista em Fortaleza. Ali décadas de historia se acotovelam por entre todos os cantos do local; temos uma das mais importantes discotecas especializadas sobre MPB do Brasil, discos de 78 rpm, literatura preciosa sobre a historia da música; autores, interpretes, grupos; e o maior e mais importante acervo fotografico da cidade de Fortaleza, além de rótulos e cartazes, caixas de fósforo e publicidades dos tempos do "ronca", um acervo espetacular de maos de 140 mil peças.

 Manoel Severo, Ingrid Rebouças e Nirez na Caixa Cultural

A exposição tem a curadoria do próprio Nirez e também de Weaver Lima, a exposição na CAIXA Cultural de Fortaleza traz peças que pela primeira vez estão sendo expostas fora da casa do colecionador. "É uma parte do meu sonho. Eu sempre quis levar toda a população de Fortaleza para conhecer o meu acervo. Como isso não é possível, eu criei várias formas de levar o acervo às pessoas. Pelo programa de rádio, as músicas, e pelas exposições, as imagens. Mantive por muito tempo uma página de jornal, mas aqui na exposição é muito melhor mesmo", deslumbra-se Nirez para o portal G1. Vale a pena visitar.

Manoel Severo, Curador do Cariri Cangaço
Fortaleza, 25 de março de 2017

A Gênese do Bantidismo Rural Por:Jorge Remígio


A gênese do banditismo rural, posteriormente rotulado de cangaço, está na própria estrutura, na formação do Sertão como identidade cultural. O seu povoamento foi forjado na violência, nas disputas e apropriação de um espaço ocupado pelos gentios, os quais já haviam sido tangidos do litoral. O banditismo rural não foi uma exclusividade brasileira. Na história de vários países existiu esse fenômeno. Porém, não específico como o nosso. 

Os primeiros registros sobre esse atavismo social se dá com notícias do salteador José Gomes, apelidado de Cabeleira, que atuou na zona da mata pernambucana. Preso e condenado à forca é executado em 1776 em Recife. Porém, é na região que compreende o Sertão de alguns estados do Nordeste, vale salientar que essa terminologia é recente, que vai proliferar esse tipo de banditismo. 

Em 1850, já se registrava uma inquietação na população rural em relação aos assaltos e violências físicas e patrimoniais de que eram vítimas desses bandos armados de malfeitores. Mas, a década que compreende os anos de 1870 a 1880, destaca-se pelo afloramento de vários bandos armados, agindo principalmente nos Sertões dos Estados de Pernambuco, Ceará e Paraíba. Destaque para os Viriatos, os Meireles, Jesuíno Brilhante, Adolfo Meia Noite, João Calango entre outros menos expressivos. 

Narciso Dias, Netinho Flor e Jorge Remígio em dia de Cariri Cangaço
  
O uso do termo CANGACEIRO, para definir os integrantes desses grupos armados, só ocorrerá no final do século XIX, com o início do cangaço de Antônio Silvino (1875-1944). Portanto, entendo que o cangaceiro foi uma mão de obra atrelada a terra que desgarrou das amarras do latifúndio e passa a exercer uma atividade bandoleira e lucrativa obviamente, porém, de alguma forma, ainda ligado à estrutura coronelística. Uma vez que dependem do apoio estratégico dos donos do poder nos ermos sertões, no suprimento de armas, munição principalmente, coito seguro, víveres etc... 

Os cangaceiros eram salteadores, bandidos rurais sem consciência política e nenhum pensamento de transformação daquela sociedade. Totalmente alheios às contradições sistemáticas. O ingresso de jovens nas hostes cangaceiras, se dava em sua grande maioria, visando uma melhora na vida. Faziam daquela nova atividade, uma “profissão”. No dizer de Maximiliano Campos: “ Viver sem lei e nem rei”


Jorge Remígio, pesquisador
Membro do GPEC, Conselheiro do Cariri Cangaço
João Pessoa, 20 de março de 2017

Serra Grande Desvendada... Lançamento por:Louro Teles


Serra Grande, pedaço de chão encravado no sertão pernambucano de Virgulino Ferreira, serra enigmática com seus mais de 900 metros de altitude situada entre os municípios de Calumbi, Flores e Serra Talhada, no famoso Vale do Pajeú. Serra Grande, palco do maior combate que o cangaço de Lampião protagonizou ao longo de seus 20 anos de reinado.

O pesquisador Lourinaldo Teles, unindo seu talento nato de farejador das caatingas a um senso de determinação impressionante nos traz sua primeira Obra, com um olhar totalmente diferenciado sobre esse que sem duvidas trata-se de um dos episódios mais importantes desta saga nordestina. Calumbi; seu berço e terra natal entra para a historiografia do cangaço como o cenário da maior batalha de todos os tempos, envolvendo cangaceiros e volantes. 

Louro Teles como é mais conhecido o autor, veio ao longo dos anos aprimorando sua capacidade de investigar. Inúmeras entrevistas, checagens, confrontos de informações, vasta documentação, visitas iminentemente técnicas ao cenário de “guerra” unido a uma pesquisa criteriosa à bibliografia sobre o tema, nos permitem agora receber essa obra realmente valiosa sobre Serra Grande, inclusive com o passo a passo da estratégia dos cangaceiros liderados por Virgulino Ferreira da Silva, que impuseram uma derrota impressionante às forças volantes.
Louro Teles nos leva e desvenda Serra Grande...

Os números são impressionantes até para aqueles que são afeitos ao estudo do fenômeno: 10 mortos, 14 feridos, quase 300 militares numa sanha desesperada em busca de dar fim a Virgulino com seus mais de 115 cangaceiros; foram cerca de 3 mil tiros em quase 10 horas de combate naquele longínquo 26 de novembro de 1926.

O combate de Serra Grande vem situar-se entre duas das mais polêmicas passagens da saga do filho de seu Zé Ferreira, vulgo Lampião, a saber; em Março do mesmo ano o rei dos cangaceiros visita Juazeiro do Norte para se integrar às forças dos Batalhões Patrióticos e receber fardamento e armas na Meca de padre Cícero Romão Batista e logo em seguida ao combate que ocorreu em novembro, escreveria a ousada carta ao governador de Pernambuco, Júlio de Melo, sugerindo a divisão do território pernambucano entre os dois.
Manoel Severo e Louro Teles

Outra polêmica acaba nos conduzindo ao grande combate; o que teria realmente acontecido em relação à morte do irmão do cangaceiro mais famoso da história? Antonio Ferreira; irmão de Virgulino e seu braço direito; teria tido sua vida ceifada a partir de um “sucesso” envolvendo Luiz Pedro na fazenda Poço do Ferro, de Ângelo da Gia, em meados de 1926 ou inicio de 1927, mas existem pesquisadores que defendem a hipótese que a morte estaria diretamente ligada a ferimentos recebidos pelo cangaceiro no sangrento combate de Serra Grande, onde está a verdade?

Louro Teles ainda nos traz outro foco na presente obra: A ligação de Lampião com Calumbi. Desde os tempos em que a família Ferreira dedicava-se ao oficio de almocreve. O autor nos apresenta a amizade do rei do cangaço com moradores do lugar, os coiteiros, os amigos, os inimigos, um surpreendente romance e até um suposto filho do rei cego com uma menina chamada Tatu. Estupro, a briga de Lampião com o primeiro prefeito, o processo movido pelo delegado da cidade e a invasão de Calumbi por Lampião e 50 cangaceiros, fazem da obra, o mais autentico registro da passagem de Virgulino Ferreira no antigo distrito de Flores: Calumbi.


Louro Teles, João de Sousa Lima, Manoel Severo e Afrânio Gomes

“A maior batalha de Lampião: Serra Grande e a Invasão de Calumbi” é uma dessas obras imprescindíveis não só para os amantes da temática, mas e principalmente para os pesquisadores, pelo conjunto responsável de informações e pela riqueza de detalhes que envolve um dos episódios mais comentados dos vinte anos de reinado de Lampião.

A leitura se torna fácil e extremamente atraente, a linguagem utilizada por Louro Teles nos envolve e nos transporta no tempo e ao lugar. Em determinadas passagens podemos ate crer que a qualquer momento seremos surpreendidos pelos cabras de Virgulino ou mesmo por homens de Quelé ou Mané Neto por entre a caatinga e o relevo de Serra Grande.

Uma obra que veio para ficar, dentre as centenas que já podem ser encontradas na bibliografia cangaceira, na verdade todos estamos de parabéns: O autor Louro Teles, a cidade de Calumbi, a história do cangaço e principalmente os leitores. Boa leitura em breve... 

Prefácio da Obra por:
Manoel Severo Barbosa, Curador do Cariri Cangaço
Diretor da SBEC – Sócio do GECC, GPEC e GFEC


GRANDE LANÇAMENTO
Dia 01 de Abril de 2017
Câmara Municipal de Calumbi
16 horas

Noite de Luxo para a Invasão de Lavras em Livro de Calixto Junior

Assembléia recebe lançamento da Obra de Calixto Junior

O Auditório Murilo Aguiar, na Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, recebeu na noite desta quinta-feira, dia 23, o Lançamento do mais novo livro do pesquisador e escritor, professor doutor João Tavares Calixto Junior; " Considerações sobre a Invasão de Lavras em 1910" , numa segunda edição, revisada e ampliada, que nos traz um dos recortes mais importantes e significativos da historiografia do ciclo da velha república e das deposições pela força, que imperavam no sul do estado do Ceará nos primeiros idos do século passado.

Com a brilhante apresentação do poeta e escritor, membro da Academia Cearense de Letras, Dimas Macedo, todos que estiveram presentes ao lançamento puderem perceber a grandiosidade da Obra do professor Calixto Junior, dentro do esforço de recontar de maneira magistral e a partir de um trabalho minucioso de pesquisa cientifica esse que se configura como um dos maiores episódios daquela época, onde despontava o "império do bacamarte": " Essa monarquia, essa república, esse império dos coronéis foi uma instituição constitucional no Ceará, legitimada pela força da politica e em Lavras esse ciclo acontece de uma forma diferente pois os figurões da politica do cariri tentavam depor o coronel Gustavo Augusto Lima  e Gustavo a despeito de ser um politico extraordinário, era filha de Fideralina Augusto Lima, e era o predileto;  e foi aí que a ousadia não conseguiu triunfar. Foi o primeiro episódio do ciclo de deposições pelas armas, no cariri, onde o mandatário não foi deposto pelo ousado e destemido Quinco Vasques...Um episódio extraordinário, que por si só daria um sensacional filme."Reforça Dimas Macedo e conclui:"O professor Calixto Junior rastreou desde os primeiros momentos e os bastidores do antes e as repercussões desse episódio, sem dúvidas, fantástico."


Mesa que presidiu a solenidade e a apresentação do escritor Dimas Macedo 

A mesa da solenidade foi presidida pelo deputado estadual Heitor Ferrer, descendente direto do clã dos Augusto de dona Fideralina de Lavras. "Quando menino pequeno me acostumei a ouvir meu pai contando todos esses episódios com riqueza de detalhes. O professor Calixto Junior está de parabéns e a Assembléia Legislativa do Ceara se sente honrada por acolher esse lançamento" reforça o deputado Heitor Ferrer. Para a Presidente da Academia de Letras de Lavras da Mangabeira, Conselheira Cariri Cangaço, poetisa e escritora Cristina Couto, "uma noite memorável quando novamente o Júnior nos presenteia a todos com um livro fenomenal".

 Manoel Severo, Desembargador Lincon, Calixto Junior e deputado Heitor Ferrer
Escritor Calixto Junior apresenta sua obra... 

"Nosso livro retrata um dos momentos mais marcantes do coronelismo do nordeste, talvez os mais importantes e significativos episódios desse ciclo. Começo trazendo desde a deposição do Coronel Honório Augusto Lima em 1907 em Lavras pela própria mãe, dona Fideralina e seu outro filho coronel Gustavo, passando pelo episodio da deposição do coronel Totonho do Monte Alegre em Aurora em 1908, por vários coronéis da região, episódios esses interligados e sem dúvidas configurando-se como os principais motivos da invasão a Lavras por Quinco Vasques dois anos depois, em 1910, aqui retratado." Revela o autor, João Tavares Calixto Junior.

 Antônio Tomaz, Cristina Couto, Calixto Junior, Manoel Severo, 
Professor Rui, Dimas Macedo
 Dimas Macedo e Manoel Severo
 Manoel Severo e Deputado Heitor Ferrer
 Malvinier Macedo e Manoel Severo
 Aderbal Nogueira, Manoel Severo e casal Dimas Macedo
Manoel Severo, Joao de Lemos e Angelo Osmiro
 Manoel Severo e poeta Vicente Furtado
Ingrid Rebouças, Tomaz e Afranio Gomes

"No amanhecer de sete de abril de 1910 o centro da cidade de Lavras da Mangabeira, no Centro-Sul cearense, era invadido por cangaceiros comandados por Joaquim Vasques Landim, o Quinco Vasques. Era político o intento, e como alvo, o mandão provisionado do feudo de Dona Fideralina – o Coronel Gustavo Lima. Não são muitos os relatos literários que atentem com riqueza de detalhes a este objeto, e ao presente trabalho, interessa uma tentativa de interpretação através do comparativo de duas versões díspares, principalmente. Nas páginas de O Rebate, periódico que circulou no Cariri entre julho de 1909 e setembro de 1911, nota-se uma destas versões, assegurada por seu redator principal, o Padre Joaquim de Alencar Peixoto. No jornal, uma série de cinco artigos atribui aos coronéis do Crato, inimigos declarados do Pe. Peixoto, participação crucial no evento. A outra versão apoia-se em autos de inquérito e em depoimentos do próprio Quinco Vasques, assim como de testemunhos e atenta à participação dos deportados de Aurora junto aos inimigos políticos lavrenses, próprios parentes do Cel. Gustavo, a fim de expulsarem-no, à bala, do poder municipal. Este episódio configurou-se como um dos de maior repercussão no cenário coronelístico do Nordeste do Brasil, à época, não só pela tentativa de deposição, propriamente, mas pela audácia na violação da predominância política estabelecida pela matrona Fideralina 
e o clã dos Augustos."   

Dentre os presentes, o Presidente do Instituto dos Advogados do Ceará, João Gonçalves de Lemos, o Presidente do GECC, Ângelo Osmiro, a Presidente da Academia Lavrense de Letras, escritora Cristina Couto, o curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo, os pesquisadores Aderbal Nogueira, Tomaz Cisne, Afrânio Gomes, Vicente Furtado, Malvinier Macedo, Professor Rui, Lucia Macedo, Fátima Lemos, dentro muitos outros.

 Antonio Tomaz e Calixto Junior
Ingrid Rebouças, Calixto Junior e Manoel Severo

Cariri Cangaço
Lançamento, Assembléia Legislativa do Ceara
23 de março de 2017

As Mandalas e a Arte do Chapéu de Couro Por:Geziel Moura


Recentemente, participei na qualidade de ouvinte, de palestra proferida na Universidade Federal do Pará, pelo Prof.Dr. Amilcar Martins, pesquisador da Universidade Aberta de Lisboa, e especialista em "Mandalas", assunto que foi tema principal de sua conferência. No final da fala do professor, mostrei a ele, algumas imagens dos florais que ornamentaram, as indumentárias dos cangaceiros, principalmente os chapéus, e perguntei se era possível considerar, tais elementos artísticos, como "Mandalas", no que de pronto me respondeu "Possui elementos de "Mandalas", mas não se caracterizam como elas".



Minha pergunta, não tinha como objetivo, encontrar pontos de semelhanças entre uma produção artística, proveniente da China e do Japão, para encontrar origem e/ou justificar aquelas que foram fabricadas pelos cangaceiros nordestino, tenho ciência, que o fenômeno do cangaço e suas formas estéticas, não segue uma continuidade de culturas, diferentes ou estranhas, daquelas que os próprios cangaceiros experimentaram e estavam inseridos, ou seja, a cultura nordestina, em última análise. Porém o que eu queria, com a pergunta, pensar pontos de "avizinhamentos", daquela cultura asiática com a cultura do cangaço, sem ter a pretensão, como disse anteriormente, de estabelecer condições, do aparecimento de uma, em função da outra, isto de fato, não existe.



As "Mandalas" assim como os símbolos florais dos cangaceiros, foram/são produzidos a partir de um circulo, e no interior deste aparecem a complexidade de diversas figuras geometricamente exatas, e há certo caráter de expressão artística e religiosa, no intuito de sua fabricação.Temos, portanto, dois elementos a pensar sobre as "Mandalas" e os elementos florais dos cangaceiros: O primeiro é a presença do círculo, em ambas expressões artísticas, que para a cultura asiática significa, concentração de energia e a segunda são as formas geométricas dentro daquele círculo, sendo que na arte dos cangaceiros, tais figuras são mais simples, que nas "Mandalas".

O pesquisador Frederico Pernambucano de Mello que grande contribuição deu para a historiografia do cangaço e a arte dos cangaceiros, manifestou em seu livro "Estrelas de Couros : A Estética do Cangaço, que os símbolos estilizados, nos equipamentos dos cangaceiros, tinham funções ornamentais e principalmente espirituais, que ajudavam na proteção, daí serem colocados na parte frontal e traseira do chapéu, defendendo os males que vem pela frente e pela retaguarda.
Parece-me razoável pensar, que tais símbolos, sempre existiram no cotidiano dos sertanejos, surgem nas fachadas das igrejas, casas e cemitérios, a novidade é que tais símbolos, deixaram a arquitetura e passaram a compor o vestuário do cangaceiro, produzindo a estética do cangaço e do nordeste.
Fotos: Estrela de Couro: A Estética do Cangaço 
Fotos: Geziel Moura
Geziel Moura, pesquisador.

Padre Cícero, Lampião e Coronéis, Novo Livro de Daniel Walker


A vida política de Padre Cícero é tão importante quanto a sua vida religiosa, pois ambas foram polêmicas. Como religioso ele esteve sempre às turras com as autoridades eclesiásticas, que o censuravam por causa da questão do milagre da hóstia; como político ele sempre procurou manter uma conduta de harmonia e paz, embora isso em alguns momentos não tenha sido possível. Na verdade, ele nunca quis ser político, como explicou no seu Testamento. 

Sua opção pelo caminho sinuoso da política se deu de forma circunstancial e isso foi explorado de várias maneiras pelos seus biógrafos, não havendo ainda consenso. Diante do que foi publicado até hoje, dá para perceber que ninguém acredita na explicação dada por ele mesmo. E não poderia ser diferente, pois em se tratando do Padre Cícero tudo é controverso. Sua vida, tão cheia de ambiguidade, jamais deixará de ser dissecada pela caneta dos seus biógrafos, cujos trabalhos já renderam uma bibliografia com mais de 500 títulos. 

Neste trabalho, minha análise da vida política do Padre Cícero está baseada em dois eventos significativos e polêmicos: a outorga da patente de Capitão a Lampião (1926) e o Pacto dos Coronéis (1911). Segundo os pesquisadores, a vida política do Padre Cícero só foi tumultuada porque colada a ela, como uma espécie de alter ego, esteve a figura emblemática do médico baiano adotado pelo Juazeiro, Dr. Floro Bartholomeu da Costa. Este estudo deixa evidente que a vida política de Padre Cícero está intrinsecamente ligada à de Floro, mas realmente era o médico baiano quem de fato articulava ou maquinava tudo com ou sem o consentimento do Padre Cícero. 


Manoel Severo e Daniel Walker

Foi ele, com habilidade e astúcia, quem colocou Padre Cícero no miolo da política cearense, despertando contra o ingênuo Padre novato em política todo o rancor dos adversários. E como Padre Cícero pagou caro por isso! A vida política do Santo dos Nordestinos é o retrato mais fiel da sua transição de reverendo a lutador, fato notório que se repetiu em mais dois fenômenos igualmente polêmicos: sua participação no movimento de emancipação política de Juazeiro (1911) e na Sedição de 1914. 

Daniel Walker, pesquisador e escritor 
Juazeiro do Norte, Ceará

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