Sexta-feira; dia 15 de junho de 2018; Poço Redondo e todo o sertão nordestino se preparava para testemunhar dentro da Programação Oficial do Cariri Cangaço um conjunto significativo de inaugurações. A tradicional Estrada do Curralinho; ligando a sede do município ao espetacular e acolhedor distrito de Curralinho; foi cenário do resgate importante de Poço Redondo diante de sua memoria e historia.
O primeiro momento do segundo dia de Cariri Cangaço Poço Redondo 2018 foi a inauguração do Marco Oficial da denominação da estada de Curralinho como "Estrada Histórica Antônio Conselheiro", numa demonstração de reverência histórica e justa à forte presença de Antônio Conselheiro na região. A partir da iniciativa da Comissão Organizadora Local e a pronta sensibilidade da gestão pública, além desse marco seriam inaugurados mais 8 marcos semelhantes, resgatando personagens e momentos históricos ligados ao cangaço e aos filhos de Poço Redondo. Capitaneando todos os momentos estavam, o prefeito municipal e grande responsável pelo conjunto de inaugurações; Junior Chagas , o curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo, os presidentes da Comissão, Manoel Belarmino além de Rangel Alves da Costa, presidente do Memorial Alcino Alves Costa e grande comitiva de pesquisadores de todo o Brasil.
Renato Bandeira, Antônio Vilela, Junior Chagas,Camilo Lemos, Ivanildo Silveira, Manoel Belarmino, Manoel Severo, Rangel Alves da Costa e Louro Teles
Prefeito Junior Chagas e Manoel Severo na inauguração da Placa da
Estrada Histórica Antônio Conselheiro
Junior Chagas, Rangel Alves da Costa e Manoel Belarmino no descerramento da Placa
"Aí, neste percurso de
Curralinho, os caminhos missionários e de fé do Conselheiro, lá pelos idos de
1874, e a sua preocupação em fazer reparos nos alicerces religiosos que
encontrasse, assim como o fez ao encontrar as frágeis fundações daquela
igrejinha numa parte mais elevada da povoação ribeirinha. Do alto se avista os
portais que se abrem para o Rio São Francisco que mansamente passa pelas suas
ribeiras, primeiro porto e primeiro caminho para as entranhas dos sertões." Registro do livro Roteiro Histórico e Anotações para o
Cariri Cangaço Poço Redondo, de autoria de
Manoel Belarmino e Rangel Alves da Costa.
Cariri Cangaço Poço Redondo, de autoria de
Manoel Belarmino e Rangel Alves da Costa.
A segunda inauguração do dia foi em memória a um dos filhos de Poço Redondo que marcou fileira nas hostes cangaceiras de Virgulino Ferreira. O cangaceiro Canário era Bernardino; nome de
batismo; e apelidado de "Rocha de Cante" na sua infância e juventude era filho de
Cante e Maria das Virgens, nascido no Poço de Cima, um poço-redondense que
virou adubo na sua terra. Era casado com a também filha de Poço Redondo, Adília, e inicialmente homem do grupo de Zé Sereno, esposo de outra filha filha de Poço Redondo, Sila.
Cangaceiro Canário
"Neste trajeto, ladeando a
estrada, logo o marco da morte do cangaceiro Canário, em 1938, pouco tempo após
o fim do cangaço na chacina de Angico. Na Fazenda Cururipe, supostamente traído
pelo também cangaceiro Penedinho (primo de sua companheira Adília), tombou aquele
que se notabilizou como um dos mais valentes e mais perversos do mundo cangaço.
Por ali também um misto de lenda e história acerca de moedas de ouro e outras
riquezas escondidas por Canário e que atraíram muita cobiça." Registro do livro Roteiro Histórico e Anotações para o Cariri Cangaço Poço Redondo, de autoria de Manoel Belarmino e Rangel Alves da Costa.
Ivanildo Silveira, Junior Chagas, Manoel Severo, Archimedes e Elane Marques
Manoel Severo e Junior Chagas na inauguração do Marco de Canário
Ivanildo Silveira, Junior Chagas, Manoel Belarmino, Elane Marques, Rangel Alves da Costa, Renato Bandeira e Manoel Severo
"Penedinho
entrou no cangaço a pedido de seu patrão, o poderoso Antônio Caixeiro de
Canhoba e da Borba da Mata com a finalidade de matar Canário, pois este havia
extorquido dinheiro daquele coronel de Canhoba. Penedinho era um infiltrado no
cangaço. E foi o que aconteceu. Canário foi covarde e traiçoeiramente
assassinado na sombra de uma quixabeira com um tiro só disparado por Penedinho.
Não deu tempo de Canário se entregar à justiça como já havia planejado, pois o
fim do cangaço praticamente aconteceu em Angico naquela madrugada fúnebre e
gelada de 28 de julho de 1938.Assim aconteceu. Depois do tiro, o silêncio
fúnebre. Canário está ali estendido no chão. Apenas o seu cachorro está ali para
protegê-lo. O silêncio é, de instante em instante, quebrado pelo uivar do
cachorro. O único amigo fiel do finado Canário. Um silêncio e um uivar. Um
uivar para impedir que os urubus se aproximassem do cadáver do seu dono. E não
demorou, a volante da Serra Negra chega ao local em busca de ouro e joias do
cangaceiro. E o cachorro, fiel ao seu dono, rosna para tentar impedir que as
volantes se aproximem. Um soldado aponta uma arma e, com um tiro só, mata o
cachorrinho ali mesmo próximo ao cadáver de seu dono. Um cangaceiro traidor
matou Canário e um volante matou o seu cachorro." Registro do livro Roteiro Histórico e Anotações para o Cariri Cangaço Poço Redondo, de autoria de Manoel Belarmino
e Rangel Alves da Costa.
Penedinho, matador de Canário
O sol já estava alto quando a caravana Cariri Cangaço aportava na lendária Lagoa as Areias; também nas redondezas da estrada de Curralinho, recém denominada Estrada Histórica Antônio Conselheiro; cenário de um dos mais enigmáticos episódios da história de Poço Redondo, o assassinato do ex-cangaceiro e politico poço-redondense, Zé de Julião, o cangaceiro Cajazeiras, assassinado atá hoje envolto em polêmica e mistério.
Zé de Julião
"...Já na região denominada Lagoa das Areias, na Fazenda Bastiana, uma visita ao
local onde foi encontrado o corpo sem vida de Zé de Julião, o ex-cangaceiro Cajazeira,
já nos idos de 1961, e cuja saga, num emaranhado de lutas e perseguições,
tornaram-no reconhecido como um dos maiores vultos da história poço-redondense
e sertaneja. Com efeito, a vida de Zé de
Julião é um valioso livro de tenacidade sertaneja. Rapaz de boa vida, depois
cangaceiro (levando consigo sua esposa Enedina), ao fim do cangaço foi duramente
perseguido, principalmente pelo sanguinário sargento Deluz, porém resguardado
pela força do Coronel João Maria de Carvalho, da Serra Negra, transformando-se
depois em empreiteiro no Rio de Janeiro."Registro do livro Roteiro Histórico e Anotações para o Cariri Cangaço Poço Redondo, de autoria de Manoel Belarmino e Rangel Alves da Costa.
Antônio Vilela, Cristiano Ferraz, Manoel Severo, Robério Santos, Junior Chagas, Manoel Belarmino, Renato Bandeira, Rangel Alves da Costa,
Luiz Ruben e Archimedes Marques
Rangel Alves da Costa, Manoel Severo, Maria Oliveira e Junior Chagas
Caravana Cariri Cangaço Poço Redondo na Lagoa das Areias, na Fazenda Bastiana.
Louro Teles e Rangel Alves da Costa
"Zé de Julião retornou ao
sertão para levar adiante seus anseios políticos, tornando-se candidato a
prefeito após a emancipação política de Poço Redondo em 1953. Novas
perseguições, novas tentativas de desestabilizar o nome de um ex-cangaceiro.
Afirmava-se ser impossível um bandido querer tomar a frente dos destinos do
recém criado município. Mas o filho de Julião do Nascimento e Dona Constância
estava no coração do povo. Contudo, o poder não deixou que sua vitória fosse
confirmada nas urnas. Foram duas disputas. Na primeira, as tramas eleitoreiras
trabalharam para que o pleito fosse empatado em número de votos e assim o mais
velho sair vitorioso. Tal
derrota forjada não o esmoreceu, pois candidatou-se na eleição seguinte. Nesta,
as artimanhas do poder agiram ainda com mais força. Os títulos de seus
eleitores simplesmente não foram entregues. Fraudes e ilicitudes eram
praticadas abertamente pelos adversários e sob os auspícios da própria justiça
eleitoral. Sabedor que seria novamente derrotado não pelo voto, mas pelo ardil
governista, então decidiu roubar as urnas no dia da eleição, e assim o fez,
sendo acompanhado na empreitada por um séquito de vaqueiros, mais de cem, todos
montados em seus potentes cavalos. Daí em diante começaria um novo martírio em
sua vida. Foi preso e, quando solto, acabou sendo encontrado morto - de forma
misteriosa - nas terras de seu Poço Redondo, em fevereiro de 1961 E fato que
ainda hoje permanece como um enigma sertanejo."Registro do livro Roteiro Histórico e Anotações para o Cariri Cangaço Poço Redondo, de autoria de Manoel Belarmino e Rangel Alves da Costa.
Grande cobertura do Cariri Cangaço Poço Redondo
Vilela, Cristiano Ferraz, Robério Santos, Junior Chagas e Luiz Ruben
descerram a placa de Zé de Julião
"Seguindo estrada adiante, debaixo de um velho Bonome, uma inacreditável visão perante um misto de atrocidade e fé do sertanejo, pois ali situada as Cruzes dos Soldados (local da chacina que vitimou os soldados Tonho Vicente e Sisi, pelo grupo comandado por Corisco, com o envolvimento de outros cangaceiros da estirpe de Dadá, Mané Moreno, Mariano, Pancada e Criança), e ao redor das cruzes os ex-votos das promessas feitas em nome daqueles inocentemente vitimados pela emboscada cangaceira. Presencia-se, assim, um marco ao mesmo tempo histórico e de devoção e fé do povo sertanejo."Registro livro Roteiro Histórico e Anotações para o Cariri Cangaço Poço Redondo, de autoria de Manoel Belarmino e Rangel Alves da Costa.
Ivanildo Silveira, Leonardo Gominho, Rangel Alves da Costa, Junior Chagas,
Camilo Lemos, Maria Oliveira e Carlos Alberto no Marco Histórico das
Cruzes dos Soldados, Tonho Vicente e Sisi
Cruzes dos Soldados, Tonho Vicente e Sisi
Prefeito Junior Chagas e a "Cruz dos Soldados"
Manoel Severo e Antônio Vilela
A morte do
cangaceiro Pau-Ferro gerou uma vingança cangaceira tamanha que até hoje as
cruzes da estrada de Curralinho testemunham aquele troco de sangue, tendo por
vítima os solados Tonho Vicente e Sisi. Tudo começou na Fazenda Quiribas, em
Poço Redondo. Um grupo de cangaceiros, dentre os quais Corisco, Mariano e Zé
Sereno, repousa tranquilamente nos arredores de um riacho quando é avistado
pelo soldado Miguel Feitosa, ali apenas de passagem. Retornando imediatamente,
o militar avisa ao comando sobre o ocorrido.Um pequeno agrupamento militar é
formado e segue em direção ao coito. Ao chegar ao local, logo percebe que o
pequeno número de soldados sequer pode assustar aquele grande numero de
cangaceiros. Então decide recuar. Recuou, mas já distante - e fora do alcance
da cangaceirama - dois soldados resolvem atirar na direção dos cangaceiros. Um
tiro acaba acertando e matando o cangaceiro Pau-Ferro.Foi a motivação para que
a fogueira se tornasse em odiosa labareda. A cangaceirama correu no encalço da
soldadesca, porém sem alcançar. Mas a vingança estava jurada, não demoraria
muito para que os homens da caatinga farejassem os culpados pela morte do
companheiro e dessem o troco merecido.Mas a vingança foi feita em dois que
sequer haviam participado daquele episódio. Os soldados Tonho Vicente e Sisi
destacavam na povoação de Curralinho, naqueles idos de 1937 um lugarejo ribeirinho
próspero e porto principal da chegada e partida de todo tipo de mercadoria
daqueles sertões de Poço Redondo, então distrito de Porto da Folha, quando de
lá partiram na companhia de outro soldado, Miguel Feitosa, aquele mesmo que
havia informado sobre a presença do bando." Registro do livro Roteiro Histórico e Anotações para o Cariri Cangaço Poço Redondo, de autoria de Manoel Belarmino e Rangel Alves da Costa.
Caravana Cariri Cangaço na "Cruz dos Soldados"...
"Chegando de
canoa de Propriá, Miguel Feitosa certamente desembarcaria no porto de
Curralinho e logo tomaria a estrada normal, sempre utilizada por todos, para
chegar a Poço Redondo. Contudo, imediatamente foi avisado que daquela feita não
fosse de jeito nenhum pela conhecida estrada, pois a cangaceirama estava por
todo lugar. E foi por isso que buscou a companhia protetora dos soldados Tonho
Vicente e Sisi. Tomaram outros caminhos, recortaram veredas, e tudo para evitar
aproximação com o bando cangaceiro. Chegaram, enfim, a Poço Redondo. Chegado na
paz da proteção dos amigos soldados, Miguel Feitosa, contudo, cometeu a maior
das injustiças para com os dois, pois em nenhum momento comentou sobre o motivo
de não utilizar a conhecida estrada de Curralinho nem que os dois evitassem de
por ela retornar.Segundo relata Alcino Alves Costa (Lampião Além da Versão -
Mentiras e Mistérios de Angico, pág. 293 da 3ª edição), no capítulo intitulado
“Vingança dos Cangaceiros - Mortes de Tonho Vicente e Sisi”:“Em local ermo e
deserto a cabroeira faz as trincheiras. Não tem certeza se os ‘macacos’ irão
aparecer e nem tampouco quantos poderão estar vindo com os feirantes. Pelo sim
e pelo não estão prevenidos, preparados para vingar a morte de Pau-Ferro. Na
beira da estrada se encontram cinco perigosos e famosos chefes de bando,
cangaceiros de uma fama ilimitada. Ali estão: Corisco, Mariano, Mané Moreno,
Pancada e Criança. A emboscada está feita. Se aparecer algum policial o mesmo
será trucidado”. Registro do livro Roteiro Histórico e Anotações para o Cariri Cangaço Poço Redondo, de autoria de Manoel Belarmino
e Rangel Alves da Costa.
Corisco comandou a morte de Tonho Vicente e Sisi
Dando prosseguimento à epopeia de significativas inaugurações a caravana Cariri Cangaço chega aos arredores da fazenda Camarões onde foi covardemente assassinato pelos cangaceiros do grupo de Mané Moreno o vaqueiro Antônio Canela, vítima de uma urdida trama que o levaria a morte nos idos de 1937.
Manoel Severo, Manoel Belarmino, Fernandes Reis, Edson Araujo, Edvaldo Feitosa, Junior Chagas, Tassio Sereno, Padre Agostinho e Rangel Alves da Costa
Manoel Belarmino e a história da morte do vaqueiro Antônio Canela
"Um pouco mais acima, nos arredores da Fazenda Camarões, o marco sinalizando a morte de Antônio Canela, um humilde vaqueiro sertanejo, porém acusado de haver tocaiado o bando de Lampião. E por isso mesmo trucidado pelo subgrupo cangaceiro comandado por Mané Moreno. Ora, Canela havia pegado em armas para enfrentar os cangaceiros. Não conseguiu seu intento (o bando sequer passou pela localidade), porém continuou alardeando seu ódio contra os homens do sol. Chegando aos ouvidos da cangaceirama tal situação, seu fim se daria assim que houvesse o primeiro encontro. O que ocorreu nos arredores da Fazenda Camarões, lá pelos idos de 1937."Registro livro Roteiro Histórico e Anotações para o Cariri Cangaço Poço Redondo, de autoria de Manoel Belarmino e Rangel Alves da Costa.
"Um pouco mais acima, nos arredores da Fazenda Camarões, o marco sinalizando a morte de Antônio Canela, um humilde vaqueiro sertanejo, porém acusado de haver tocaiado o bando de Lampião. E por isso mesmo trucidado pelo subgrupo cangaceiro comandado por Mané Moreno. Ora, Canela havia pegado em armas para enfrentar os cangaceiros. Não conseguiu seu intento (o bando sequer passou pela localidade), porém continuou alardeando seu ódio contra os homens do sol. Chegando aos ouvidos da cangaceirama tal situação, seu fim se daria assim que houvesse o primeiro encontro. O que ocorreu nos arredores da Fazenda Camarões, lá pelos idos de 1937."Registro livro Roteiro Histórico e Anotações para o Cariri Cangaço Poço Redondo, de autoria de Manoel Belarmino e Rangel Alves da Costa.
Cariri Cangaço mais que um Evento, um Sentimento...
FOTOS: Ingrid Rebouças e Louro Teles
IMPORTANTE: Todos os texto "aspeados" são do espetacular livro Roteiro Histórico e Anotações para o Cariri Cangaço
Poço Redondo, de autoria de Manoel Belarmino e Rangel Alves da Costa. Cariri Cangaço Poço Redondo
Estrada Histórica Antônio Conselheiro
15 de junho de 2018 Curralinho, Poço Redondo-Sergipe
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Estrada Histórica Antônio Conselheiro...
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