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Curralinho e a Mística de Antônio Conselheiro no Cariri Cangaço Poço Redondo 2018


O sol alto no firmamento indicava o meio do dia e a caravana Cariri Cangaço chegava a Curralinho, às margens do majestoso Velho Chico, num final de manhã inesquecível de segundo dia de Cariri Cangaço Poço Redondo 2018. Já da estrada histórica chegando ao vilarejo avista-se de longe a pequena, mas incrivelmente majestosa igrejinha de Nossa Senhora da Conceição, por ali passou Antônio Conselheiro, por ali legou sua força e sua fé, ali, num dos lugares mais bonitos do sertão o Cariri Cangaço reverenciou toda uma nação de sertanejos.

Curralinho..."Até os inícios do século XVIII, os sertões sergipanos constituíam-se apenas em vastidões desconhecidas, hostis e tomadas de sua vegetação nativa: a caatinga e as cactáceas alargando-se de canto a outro. Resquícios de tribos indígenas habitantes na região e marcas deixadas pela presença do homem pré-histórico.Não havia caminho aberto entre os carrascais, estradas entremeando as distâncias, tão somente as veredas abertas pelos deslocamentos daqueles habitantes originários. Significa dizer que os sertões eram um mundo só, fechado em mataria e habitado somente por pequenos grupos humanos sem a intenção de desbravar para povoamento maior. Tanto assim que as tribos existentes acabaram se deslocando para outras regiões ou simplesmente desaparecendo pelo esgotamento dos seus.O que se tem hoje como Alto Sertão Sergipano, desde os municípios de Nossa Senhora da Glória aos últimos limites de Canindé de São Francisco, nada mais era que um labirinto de vegetação ora esverdeada ora esturricada perante as chuvas e as estiagens. Mata fechada, perigosa demais ante o desconhecido, sem qualquer percurso aberto que permitisse o deslocamento seguro de canto a outro. O único caminho era o Rio São Francisco. E mesmo quando as primeiras estradas começaram a ser abertas desde a Boca da Mata (primeiro nome de Nossa Senhora da Glória) até onde desse o caminhar sertanejo, ainda assim o Velho Chico continuou como único meio de transporte e passagem.Por ser o São Francisco o rio que permitia a entrada e a saída dos sertões, somente através de seu leito aquelas distâncias desconhecidas começaram a ser desbravadas e habitadas. Geralmente fugindo das revoluções litorâneas ou mesmo em busca de novas terras para o assentamento de seus rebanhos e famílias, as pessoas colocavam seus pertences essenciais em cima de embarcações e seguiam até onde o rio os levasse, aportando nas margens que lhes pareciam mais apropriadas e erguendo casebres e construindo currais para que seus rebanhos não se perdessem sertões adentro. Três destes famosos currais que deram origem a povoações foram o Curral das Pedras (Gararu), o Curral do Buraco (Porto da Folha) e Curralinho (em Poço Redondo)." Registro de Rangel Alves da Costa no livro Roteiro Histórico


 
 

O Prefeito de Poço Redondo Junior Chagas ao lado do curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo, e dos pesquisadores, Oleone Coelho Fontes, José Bezerra Lima Irmão, Manoel Belarmino, Louro Teles e Rossi Mágne descerraram a placa comemorativa à Igreja de Nossa Senhora da Conceição no sopé da ladeira mística da chegada a Curralinho, ali se resgatava a importância histórica da edificação santa e do lugar.


A Visita histórica ao Curralinho ainda guardava um dos momentos mais esperados da Programação do Cariri Cangaço Poço Redondo; no patamar da acolhedora igrejinha de Curralinho de Nossa Senhora da Conceição, no patamar pisado por Antônio Conselheiro, os pesquisadores Oleone Coelho Fontes, de Salvador; Carlos Alberto Silva de Natal e Wescley Rodrigues de Sousa, protagonizaram uma apresentação imperdível sobre a "Força e a Mística de Antônio Conselheiro" pelas veredas do sertão nordestino.

 
 
Manoel Severo, Wescley Rodrigues, Oleone Coelho Fontes e Carlos Alberto: 
A Força e a Mística de Antônio Conselheiro

E continua Rangel: "contudo, entre as margens e seus currais - até mesmo depois que foram tomando feição de povoamento - e os sertões mais além, após as serras e em meio à caatinga, não havia caminhos abertos que servissem de destino certo de lugar a outro. Aquelas pessoas que já haviam adentrado os sertões e buscado outros meios de subsistência em regiões mais afastadas das margens do rio, alcançaram seus destinos abrindo a mata com facões, facas, enxadecos e outros instrumentos cortantes. Deixaram apenas trilhas e veredas por onde passaram, sem dar a largueza suficiente para veredas seguras.Desse modo, o percurso da beira do rio de Curralinho até o Poço de Cima (primeira povoação de Poço Redondo), por exemplo, era feito apenas por veredas abertas no mato, sem estrada aberta nem caminho seguro. Um caminho aberto, mais definido e servindo como norteamento aos viajantes, surgiria apenas após a passagem de Antônio Conselheiro e seus seguidores, lá pelos idos de 1874. Daí que o que se tem hoje como Estrada de Curralinho, não obstante a existência de outras veredas abertas em meio ao mato, na verdade surgiu com a comitiva de fé e abnegação do Santo de Canudos."

 
Oleone Coelho Fontes, Manoel Severo e Robério Santos

"Em busca de sua Terra Prometida, o Conselheiro e seus fiéis chamaram a si o ofício de não apenas abrir estradas como de promover melhorias nas localidades de fé e religiosidade por onde passassem. Não gostava o Conselheiro de avistar cruzes despencadas pelo tempo ou destruídas ao acaso do abandono. Não gostava o pregador de encontrar igrejinhas caindo aos pedaços ou erguidas somente nos seus alicerces e bases. Não gostava o missionário de encontrar cemitérios tomados de mato, entristecidos demais pelos descasos e omissões dos homens para com os seus entes queridos. Acerca de tudo isso o Santo de Canudos se preocupou. Portanto, não era uma marchava apenas com um destino, mas uma caminhada construída também deixando para trás contribuições tão úteis e necessárias à religiosidade e à fé naqueles sertões.A importância da passagem do Antônio Conselheiro pelos sertões sergipanos ainda está bem viva em Poço Redondo. A estrada aberta e a igrejinha reconstruída dos escombros, diz muito bem dessa abnegação daqueles fiéis e proféticos dos tempos idos. A estrada é a mesma e com o mesmo percurso, a igrejinha e a mesma e com a mesma feição. Daí a sabedoria em alguns sertanejos ao homenagear o velho missionário ainda chamando aquela via de Estrada do Conselheiro, bem como sempre denominando a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no alto da entrada da povoação ribeirinha, de Igreja do Conselheiro"Registro de Rangel Alves da Costa no livro Roteiro Histórico

 
 
Oleone Coelho Fontes 
Carlos Alberto Silva
 
Wescley Rodrigues

Oleone Coelho Fontes: "Durante um quarto de século, Antônio Conselheiro palmilhou vasta área sertaneja pregando, aconselhando, convocando e mobilizando irmãos desassistidos, desarvorados, injustiçados. Irmana-se indiscriminadamente com marginalizados e oprimidos, numa sociedade pouco cristã e nada solidária. Dá nova identidade e consciência a sertanejos rejeitados, perseguidos e espoliados pelo Estado em conjura com a Igreja institucional. A igreja não aceita suas profecias, pregações, conselhos, doutrinação. Segundo ela, as prédicas do peregrino afetam sua ortodoxia, a pureza de seu credo. O Estado condena o projeto sociopolítico de Antônio Conselheiro, termina por declarar o extermínio do que considera um foco de agitação que subverte a ordem pública. Na década de 1880 cresce o prestígio de Antônio Conselheiro e agravam-se suas relações com alguns vultos da igreja interiorana. Dividem-se os sacerdotes no que dizia respeito ao procedimento do missionário andarilho."

E continua Oleone:"Alguns o aceitavam, permitiam seus sermões, mesmo no interior de templos sagrados, serviam-se de sua força de trabalho na construção ou reconstrução de igrejas e capelas, no levantamento de muros de cemitérios, no agenciamento de recursos destinados a paróquias, na sua grande maioria, em estado de penúria. A certa altura, o Conselheiro se torna mais poderoso do que os vigários. O povo prefere ouvi-lo. Sermões e advertências dos sacerdotes entram por um ouvido, saem pelo outro. Ameaças de excomunhão não são levadas a sério. Havia, porém, párocos decididos a enfrentar as investidas da horda conselheirista. Foi o caso de João Batista de Carvalho Daltro, vigário de Lagarto (Sergipe). À frente de uma centena de professos, em janeiro de 1886, o Conselheiro é expulso da cidade. O padre reunira paroquianos e resistira aos conselheiristas que insistiam em marchar sobre a cidade, rezar benditos, o ofício, pregar e aconselhar. De igual modo, comportam-se os sacerdotes de Patrocínio de Coité (hoje Paripiranga) e Simão Dias, respectivamente, na Bahia e Sergipe. 
Conselheiro por Liberati...

"O sacerdote Júlio Fiorrentini, italiano, coadjuvante do vigário de Inhambupe, era o mais exaltado. Sua correspondência enviada às autoridades eclesiásticas sobre o Conselheiro antevêem um homem de iracundo caráter. Para Fiorrentini o Conselheiro era “apóstolo de satanás, falso profeta, herege, furibundo, chefe de horrorosa quadrilha de ladrões e assassino”. Termina por excomungar o beato. O prestígio do Conselheiro se explica pela fraqueza e falta de zelo dos párocos. Se eles se empenhassem mais no múnus sacerdotal que lhes fora confiado, a pregação e a atuação do Conselheiro certamente seriam esvaziadas. Contrariamente, procede o cônego Agripino da Silva Borges, de Itapicuru, assim como o vigário colado de Inhambupe, Antônio Porfírio Ramos. Recebiam cordialmente Antônio dos Mares e seus satélites, desobedecendo resolução do Arcebispo Primaz, D. Luiz d’Amour. Queixas dos ministros de Deus são constantes e revelam a preocupação de seus autores face ao crescente enfraquecimento de sacerdotes que não transigiam com o Conselheiro, apontado como malcriado, agressivo, prepotente e desrespeitador do poder eclesiástico..."  Completa Oleone.

 
 
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A riqueza e a força da temática e seu principal personagem unidas ao talento dos conferencistas; Oleone Fontes, Carlos Alberto e Wescley Rodrigues; sem falar na beleza e singularidade da orla de Curralinho, suas cores contrastantes; dos vários tons de azul da pequena e enigmática capela junto com um céu maravilhoso e o azul escuro das águas do rio São Francisco tornou esse, um dos momentos mais marcantes e belos de todas as edições do Cariri Cangaço.
 
 
Ex-Secretário de Cultura de Propriá, poeta, pesquisador e escritor Rossi Mágne e o testemunho de quem esteve ha cerca de 30 a 40 anos atras em Curralinho em missão evangelizadora ao lado do padre Leon Gregori; "um missionário espetacularmente vocacionado, um homem de Deus, voltar aqui neste Cariri Cangaço, depois de tanto tempo enche meu coração de saudade e imensa gratidão."



Conselheiro por Mario Cravo Júnior

Nos surpreendemos a cada edição do Cariri Cangaço. A presença em Poço Redondo, além de nos permitir celebrar um município cheio de história e profundos laços com nossa temática principal que é o cangaço, pois aqui; para falar apenas em dois espetaculares cenários: A Grota do Angico e a fazenda Maranduba, emprestou mais de 30 de seus filhos para as hostes cangaceiras sob o comando de Virgulino Ferreira da Silva, Lampião; nos fez reencontrar com memória e o legado de um dos maiores entusiastas de nosso empreendimento, um dos maiores pesquisadores e escritores do cangaço, patrono de nosso Conselho Consultivo, Alcino Alves Costa; o Caipira de Poço Redondo, Viva !



Cariri Cangaço Poço Redondo
Igreja de Nossa Senhora da Conceição
Antônio Conselheiro, Curralinho - Poço Redondo
15 de junho de 2018

Sob as Benção de Antônio Conselheiro 
e o Testemunho do Velho Chico

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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