O título desse artigo diz bem com a imagem lembrada
do passado dela, pois o que se conserva na memória são lembranças vagas ou
incompletas fornecidas por parentes e escassas fontes da Igreja Católica,
material este carcomido por traças e descasos de conservação. Infelizmente as
autoridades religiosas não conservaram a tais, não por má fé, mas por talvez
faltarem a tais uma consciência histórica por não enxergarem o futuro, talvez
por não perceberem tais documentos como história de sua própria igreja, paróquia
e rebanho.
Os escritores da Saga Cangaço foram ao campo,
investindo seus recursos de tempo e dinheiro do próprio bolso pois
faltavam-lhes patrocínios de entidades de cultura, tanto as particulares
como as governamentais, como aliás aconteceu na história do homem sobre a face
da terra, sendo que apenas poucos destes pesquisadores foram amparados
oficialmente. Imaginem agora no nosso Brasil onde a cultura sempre foi posta em
patamar inferior.
Na página 79 sob o título "UMA ANÁLISE ACERCA
DO DIA 08 DE MARÇO DE 1911" data defendida sem comprovação documental
por alguns escritores, Voldi analisa em síntese crítica, os registros de tais,
que a partir do ano de 1997 passaram a defender esta data, isto sem comprovação
documental e que simplesmente se basearam em relatos verbais familiares que
também não foram comprovados.
Antes as datas defendidas por autores mais antigos,
variava de ano, desde 1906 a 1912.
Na análise Voldi apenas indica os autores e não
indica as obras.
Voldi traz o resultado de sua pesquisa com
documentos comprobatórios encontrados nas Paróquias de Santo Antônio da Glória
e São João Batista de Jeremoabo, em sua busca, juntamente com o Pesquisador,
Teólogo e Comunicador Social, Padre Celso Anunciação. Em conversa de mais de
uma hora por telefone, entrevistei o autor dias 26 e 28 de julho de 2020, que
me informou está sendo elaborada uma segunda edição, ampliada.
Estive com Voldi em diversos encontros do Cariri
Cangaço, onde ele compartilhava comigo o assunto e ano passado estivemos em
Juazeiro do Norte, onde o autor entregou-me em mão sua obra com uma dedicatória
amável que agradeço imensamente. Nesta obra, ele traz fotografias de tais
documentos, onde não pode existir mais dúvidas de data de nascimento de Maria
Bonita. Abaixo exponho as fotos e procuro fazer argumentações extra-livro.
Transcrição do trecho da página: "Aos
sete dias do mês de setembro de mil nove centos e dez, baptisei solenemente a
Maria, nascida a desessete de janeiro de mil nove centos e dez filha
natural de Maria Joaquina da Conceição. Foram padrinhos Agripino Gomes Baptista
e Maria Joaquina da Conceição. E para constar fiz este assento que me assigno.
Vigário Euthymio José de Carvalho”
Que dúvida pode persistir se a evidência maior é o
Batistério de Maria? E por que duvidar de um atestado de Batismo (conforme foto
abaixo) emitida pela Paróquia de São João Batista e assinada pelo Pároco e
Padre José Ramos Neves?
Alguém pode dizer: Por que os pesquisadores de renome não encontraram esse Batistério da mulher mais famosa do cangaço?
Respondo com um talvez: Talvez porque faltou-lhe um
amparo maior que o Pesquisador Voldi Moura obteve, ao aliar-se com um
Pesquisador entendido no assunto religioso dos batismos da Igreja Católica e
conhecedor dos meandros e aceito por seus pares de religião, onde pode
escarafunchar as documentações que estavam por assim dizer, aguardando o
momento propício para ser revelada ao público. O escolhido e abençoado foi
Voldi Moura Ribeiro.
Mas vamos além e foquemos nas demais documentações
que nunca tinham sido acessadas por pesquisadores mais afamados. Temos o
Batistério de uma das irmãs de Maria Bonita, que se chamava Antônia
O nome completo de Antônia era Antonia Maria da
Conceição. (foto aCIMA)
Essa certidão de Batismo traz também apenas o
primeiro nome, como era o costume da época, pois o batizando automaticamente
levaria o nome dos pais. Vejam que esta certidão traz o nome do pai. A de Maria
Bonita não. Por certo o pai não estava presente ou Maria Bonita “poderia” ser filha
de outro homem. Mas vou deixar essa tese para em outra ocasião dissertar sobre
ela.
Em vista desse “achado” os próximos livros que
forem escritos sobre o assunto com certeza irão trazer essa data de 17 de
janeiro de 1910 mesmo que não queiram dar o crédito ao autor da descoberta, Sr.
Voldi Moura Ribeiro.
Na internet existem diversos blogs e páginas com a
data não comprovada de 8 de março, seguindo escritores que não pesquisaram e
basearam suas afirmativas pelos livros lidos. Coincidentemente o Dia Internacional
da Mulher é 8 de março. Claro que gostaríamos de ter essa data internacional
como sendo a do nascimento de Maria Bonita, mas infelizmente não é.
Frederico Pernambucano de Melo, historiador e
membro da Academia Pernambucana de Letras, veio a reconhecer a descoberta de
Voldi Moura, quando em palestra no Museu do Estado de Pernambuco, Recife, em 14
de dezembro de 2011, transcrita no próprio livro LAMPIÃO E O NASCIMENTO DE
MARIA BONITA quando disse:
“... o Brasil, a quem a história acendeu uma vela
no dia 8 de marco útimo, julgando assinalar os cem anos de seu nascimento.
Acendeu por engano, ao que se constata no momento, a data festejada parecendo
não ser a verdadeira.
No vazio de registro escrito, que persistiu até
meses atrás, esse 8 de março teria prosperado com base no testemunho de
parentes, fonte reconhecidamente precária quando se trata de datas. Para
não falar do caráter confuso e pouco explicado desse testemunho. Contra o qual
se insurge agora o resultado de levantamento feito há pouco no arquivo da
Diocese de Jeremoabo, Bahia, pelo sociólogo Voldi Ribeiro, auxiliado pelo
padre Celso Anunciação, que deu como resultado a descoberta do batistério da
cangaceira-mor. Documento que a torna mais velha em pouco mais de um ano, vez
que nascida aos 17 de janeiro de 1910, ao que reza o papel da sacristia
amarelecido pelo tempo. Teria morrido, assim, com 28 anos e seis meses de
idade, naquele 28 de julho de 1938, para os que apreciam as exatidões. E conseguido
negar um pouquinho de idade para o marido famoso, como toda mulher que se
preza...”
Não sabemos como o grandioso pesquisador Antônio
Amaury Correia de Araújo veio a obter essa data refutada de 8 de março, mas se
corrige ao referenciar a descoberta do Sociólogo Voldi Moura, quando em seu
livro “Lampião - As Mulheres e o Cangaço” segunda edição, de 2012, página 162
faz constar uma devida correção:
"Maria veio ao mundo em 8 de março de 1911*
*Data invalidada após o amigo pesquisador Voldi de
Moura Ribeiro, haver encontrado uma carta enviada por mim em 16 de março de
1971, buscando informações sobre documentos de Maria Bonita. Essa carta foi
encontrada por Voldi em 22 de agosta de 2011. ”
Reconhece então o nobre Escritor e Pesquisador, a
declaração de Certidão de Nascimento feita pelo Padre José Ramos Neves em que
atesta o nascimento de Maria Bonita em 17 de janeiro de 2010. (veja foto acima)
Na
enciclopédia Wikipedia no link abaixo
( https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Bonita),
encontramos ainda a falsa data de 8 de março de
1911 onde foi posta uma pequena nota que pode ser aberta ao teclar nesse
um [1] que diz: “Segundo o Antônio Amaury, a
certidão de batismo em nome de Maria Bonita não pode ser localizada. Maria deve
ter nascido por volta do ano de 1908 (ARAÚJO 1984, fls. 168) e creio que os
administradores da página, já deveriam ter mudado a data para 17 de janeiro de
1910 o ano de seu nascimento.
Aqui encerro minhas considerações a respeito da data de nascimento de Maria Bonita.
Raul Meneleu , pesquisador e escritor - Conselheiro Cariri Cangaço.
Fonte:https://meneleu.blogspot.com - Caiçara do Rio dos Ventos
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