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A Cangaceira e a Escritora Por:Rangel Alves da Costa


O retrato não é dos melhores, a data incerta, mas a paisagem é inconfundível: os sertões de Poço Redondo, e talvez nos arredores do Alto de João Paulo. Quem são essas duas? Esta morena alta, de corpo esguio e cabelos cobertos com panos, outra não é senão a ex-cangaceira Adília. Sim, a companheira de Canário no Cangaço. A outra, com algo parecido com um jaleco branco e livros num dos braços, trata-se da pesquisadora e escritora Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros. As duas caminham, seguem pelos sertões, e certamente semeando e colhendo histórias cangaceiras que ainda hoje nos enchem de espantos e encantamentos.

Rangel Alves da Costa, Conselheiro Cariri Cangaço


Antônio Conselheiro: Olhares de Ontem e Hoje , nos Grandes Encontros Cariri Cangaço


No ano em que completamos uma década de Cariri Cangaço; em 2019; chegamos com muito orgulho ao berço de Antônio Conselheiro. No "Coração do Ceará", Quixeramobim recebeu o Brasil de alma nordestina em mais uma agenda ousada e inédita da marca Cariri Cangaço. Ali nas terras do semiárido cearense ; no ponto de equidistância geodésica do estado; tivemos a oportunidade de conhecer, viver e vibrar um dos personagens mais marcantes da história nordestina e do Brasil, num cenário espetacular, pleno de beleza e de magia, pleno de sertão.

Era o mês de março de 1830, o dia era 13 e na Nova Vila do Campo Maior; antigo Santo Antônio do Boqueirão de Quixeramobim, nascia o menino Antônio Vicente Mendes Maciel . Na época a atual Quixeramobim tratava-se de um pequeno povoado "perdido em meio à caatinga do sertão central da província do Siara Grande".  Desde o início da vida, seus pais queriam que Antônio seguisse a carreira sacerdotal, pois entrar para o clero era naquela época uma das poucas possibilidades que os sertanejos possuíam para vislumbrar um futuro minimamente promissor...O que ninguém poderia imaginar é que aquele menino da desconhecida Nova Vila de Campo Maior, depois Quixeramobim viesse a tornar-se um dos personagens mais marcantes e fortes de toda a historia do Brasil. 


"Um de meus maiores anseios era conhecer o verdadeiro 
Conselheiro; nascido Antônio Vicente Mendes Maciel há exatos 189 anos atrás nessa cidade de Quixeramobim; e que certamente permanecia como um ilustre desconhecido por muito tempo, para as novas gerações de pequenos quixeramobienses" confessava Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço, ainda em 2019 na construção do Cariri Cangaço Quixeramobim..

Para aprofundar essa reflexão e trazer luz ao presente debate, Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço, recebe os pesquisadores; Bruno Paulino, poeta e escritor; presidente da AQUILETRAS e a professora Goreth Pimentel, especialista em historia e autora do trabalho "O que ficou de Antônio Conselheiro e Canudos no imaginário popular de Quixeramobim", desenvolvido ainda na metade da década de 1990, para mais um espetacular programas Grandes Encontros Cariri Cangaço em nosso canal no You Tube.   

O Cariri Cangaço se une de forma maravilhosa ao sentimento e trabalho feito em Quixeramobim pela AQUILETRAS e o Movimento Conselheiro Vivo no resgate e consolidação da memória e história de um dos maiores brasileiros de todos os tempo; Herói Nacional, Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro.

GRANDES ENCOTROS CARIRI CANGAÇO 
QUARTA-FEIRA,DIA 28 DE ABRIL DE 2021
 ÀS 19H30 NO CANAL DO CARIRI CANGAÇO
YOU TUBE - AO VIVO

Audálio Tenório Conhece os Cangaceiros Por: Júnior Almeida

Audálio Tenório, o quinto da direita para a esquerda

Acoitado nas proximidades de Pau Ferro, atual Itaíba, no final de maio de 1921, Antônio Matilde mandou um bilhete para o coronel Chico Martins no Salgadinho, serra próxima a vila. Dizia o bilhete: "Coronel Francisco Martins, sabendo que o Senhor não gosta de gente armada em seu povoado, peço-lhe o favor de vir até aqui."

Chico Martins foi ver o cangaceiro chefe de grupo, Antônio Matilde, levando junto com ele seu filho Audálio Tenório. No local, além do grupo dos Matilde, estava também o bando dos Porcinos, comandado por Antônio Porcino, grupo de família que era composto por cinco irmãos. Audálio pôde observar que Virgulino, Antônio e Livino estavam sentados, afastados dos demais cangaceiros. Soube depois que os irmãos estavam de luto, pois fazia poucos dias que tinham perdido a mãe, Maria Lopes, que morrera de causas naturais, e o pai, José Ferreira, assassinado pela polícia de Alagoas. 

Conversando com Chico Martins, Antônio Matilde disse que ia para a proteção de José Inácio, na cidade do Barro, no Ceará, enquanto José Porcino disse que ia para Vila Nova da Rainha, na Bahia. Lampião estava calado, só ouvindo os companheiros, então Antônio Matilde perguntou ao cangaceiro: "E você Virgulino, pra onde vai?"

Virgulino e Antônio

Lampião respondeu que daquele dia em diante só queria a proteção “daquele” [apontando pro céu, se referindo a Deus] e “desse” [batendo com a mão em sua arma].

O cangaceiro foi apresentado a Chico Martins, que era o protetor de sua família em Águas Belas. Virgulino quis saber do fazendeiro notícias dos seus parentes e Chico Martins disse que estavam todos bem, que as moças viviam diariamente em sua casa, aprendendo a fazer flores, aprendendo a fazer doce, se nutrindo de tudo junto com sua família, e disse que sua senhora [responsável por ensinar os ofícios às irmãs de Lampião] era muito jeitosa, muito sabedora das coisas. Complementou dizendo ao cangaceiro, que suas irmãs viviam bem vestidas, ajeitadas, até usando meias e que seu irmão, João, respeitosamente vivia sempre o acatando.

Chico Martins combinou com Lampião para irem se encontrar com sua família. Foram a cavalo até o lugar Salgadinho, onde ocorreu o encontro. Quando chegaram ao local, um dos cangaceiros que acompanhou o grupo zombou fazendo o sinal característico da mão abanando o nariz, e dizendo que estava sentindo cheiro de macaco. Todos riram com a brincadeira do cabra.

Junior Almeida, Conselheiro Cariri Cangaço, Pesquisador e escritor, Membro da ABLAC

Cecília do Acordeom no Cariri Cangaço Personalidade


"A tardinha se aproximava e os últimos raios do sol teimavam em persistir refletindo na estrada que tomamos para conhecer uma personagem simplesmente sensacional... Era sábado, dia 27 de maio de 2017; Fortaleza havia amanhecido com um dia claro, mas denso de nuvens de chuva, um dia como dizemos por esses lados do Brasil: "Um dia lindo". Nosso destino, o município de Redenção, a cerca de 55 km da capital do Ceará; ali, no distrito de
Antônio Diogo deveríamos procurar uma localidade chamada "Currais 2"..." Assim o curador do Cariri Cangaço começou a narrar seu primeiro contato com a pequena sanfoneirinha Cecília do Acordeom, ainda em maio de 2017.

E segue o relato. "como todo bom rastejador das caatingas, no primeiro posto de gasolina em Antônio Diogo fomos logo perguntando: "Como chego em Currais 2?" o moço alertou: "Olhem vocês podem ir pela estrada nova, mas vai ser difícil de encontrar pois são várias veredas sem placa, é melhor ir aqui por dentro, etc etc etc..." Saímos do posto seguimos caminho como ele havia nos orientado e perguntamos mais umas... 6 vezes, por entre veredas e pequenas vilas para chegar enfim ao nosso destino, ali já perto das 18 horas...Mas valeu a pena e como valeu...



O local, um pequeno vilarejo tipicamente do sertão, chegamos a casa e de lá saiu uma simpática e jovem senhora; dona Neide; que já nos esperava e foi logo gritando: "menino chama ali a Cecília!!!" E de repente chega nossa principal anfitriã, a pequena Cecília Araújo Costa, de nove anos de idade, uma menina mais que linda e pra lá de especial, ou simplesmente: Cecília do Acordeom ! Cecilia  , uma pequena sanfoneira mirim que desde os seus sete anos de idade vem encantando a todos que encontra, não só por seu talento maravilhoso com sua "vermelhinha"; que é como chama sua querida sanfona; mas e principalmente por sua doçura e seu coração verdadeiramente preciosos, que logo no primeiro contato e no primeiro sorriso fica fácil de perceber...

"Tudo começou com meu avô, que é Mestre de Reisado, então eu ia acompanhar e ficava encantada daí vi seu Cícero, um sanfoneiro tocando, logo quis uma sanfona e vivia pedindo a meu pai, mas ele não tinha dinheiro... Um dia fomos a cidade de Canindé e aí a danada da sanfona parecia que estava me perseguindo... novamente meu pai não tinha como comprar, chorei o tempo todo...  pouco tempo depois meus pais conseguiram comprar minha primeira sanfona, nunca senti tanta alegria" Confessa a tímida menina Cecília.


Nos abraçamos, nos abancamos e aí a tímida menina saiu de cena e de forma simplesmente fantástica entrou em ação a "pimentinha do forró", não sabíamos se olhávamos o talento de Cecília ou os olhos brilhando, quase saltando da face, de sua mãezinha, a dona Neide, realmente um espetáculo emocionante. A primeira música ela fez questão de dizer:"Essa a musica que conta a minha historia..." Uma melodia forte e cheia de significado invadia a sala e mais que isso, invadia nossos corações... bacana demais...

Cariri Cangaço Personalidade é o mais novo programa com a marca Cariri Cangaço. Apresentado "ao vivo" todas as segundas-feiras, através da plataforma Instagram, trazendo personalidades do universo das artes, cultura, história, que fazem acontecer. Nesta próxima segunda-feira dia 26 de abril de 2021, o curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo ao lado do Conselheiro Rodrigo Honorato recebem a sanfoneira e cantora, Cecília do Acordeom, para contar sua história e sua paixão pela musica nordestina.

CARIRI CANGAÇO PERSONALIDADE
SEGUNDA,DIA 26 DE ABRIL DE 2021 ÀS 20H
INSTAGRAM DO CARIRI CANGAÇO
AO VIVO

Igreja e Casa Paroquial de São José de Botas

A Igreja de São José de Botas de Ouro; localizada no Sítio São José, 
no município de Tamandaré, em Pernambuco

O Acervo Histórico Cultural denominado "Igreja e Casa Paroquial de São José de Botas", erguido em homenagem a Devoção à São José de Botas, que possuía Botas e Cajado de Ouro (Tradição Religiosa do Final do Século XVIII, advindas de ideias Pré-Republicanas, Revolucionárias Francesa, que chegaram aos Postos do Recife no período do Brasil Colônia, onde a Coroa Portuguesa sustentava a Igreja em Troca de Obediência. Proibia a entrada de novos Cultos Religiosos, confirmava as Sentenças da Santa Inquisição e Executava as Penas...

O Estado concedia Licença para Construção das Igrejas as quais eram edificadas pelas Confrarias ou Irmandades; o chamado Padroado (Direito de concessão de benefícios pelo Protetor), -Os Ricos comerciantes; os Maçons!- A sua construção remonta ao final do Século XVIII, em área particular na praia de Tamandaré (Atual rua São José, no Sítio de mesmo nome), pertencente à família do "de cujos" Nestor de Medeiros Accioly que adquirio a propriedade por volta de 1902 (-Aos seus 21 anos de idade-, por ocasião do seu casamento com Maria Castanha Accioly que tinha 15 anos naquela época -O Sítio São José, onde encontra-se encravado o citado Acervo Histórico-Cultural-), dos "Nétos" do Padre José Rufino Gomes. Em estilo Colonial Barrôco, em seu frontispício encontra-se o Brasão de São José de Botas que destaca as "Ferramentas do Carpinteiro"; Régua, Serrote, Compasso, Esquadro, além do tradicional "Ramo de Lírios" que expressa a "Pureza de São José", Espôsa da Virgem Maria, Maria Santíssima a Mãe de Jesús (Patrôno da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romanda)...


Em 24 de Dezembro de 1999 foi tombada pela FUNDARPE em caráter de urgência. Espaço especialmente reservado para Cerimônias Religiosas, Eventos Sociais & Culturais, conforme "COMPROMISSO DE ZELADORIA & TUTELA COMPARTILHADA (Por Tempo Indeterminado!), firmado entre a sua Curadora, (A advogada OAB/PE 6909), a Dra. Ísis Castanha Accioly (Com a anuência de seus Filhos Varões: Húgo Cláudio & Luís Flávio), e a Cúria Diocesana dos Palmares-PE., sob a mediação do Mui Reverendíssimo Padre, José Marcos Gomes de Luna...

Em estado de pré-ruína, após recuperação parcial com recursos Próprios e da Comunidade, retomou as Atividades Religiosas, após um período de mais de quarenta anos de abandono, com a Celebração de Santa Missa em 18 de Março de 2001 às 10:00 horas, por ocasião das festividades para homenagear seu Padroeiro, São José (Patrono da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana), Espôso da Virgem Maria, Maria Santíssima a Mãe de Jesús! Curiosidades: -Em seu entorno, bem como na própria capela, funcionou o antigo Cemitério de Tamandaré até 1930, quando foi transferido para um terreno próximo ao Forte Santo Inácio de Loyola. Na sua entrada existiu um Átrio com Cruzeiro onde foi sepultado um membro da família Accioly. Ao lado esquerdo da igreja encontra-se um Antigo Casario que serviu como Casa do Padre José Rufino Gomes, que continua sendo a residência oficial da família Accioly.

Por: Receptivo São José

Naquela Mesa Estão Faltando Eles...

Manoel Severo, Alcino Alves Costa e Paulo Gastão no Cariri Cangaço 2010 no SESC da cidade Crato, Ceará.
 

A SAUDADE. E quando o querido Manoel Severo novamente olhar para o lado, e em qualquer mesa sentir a saudade dos eternos amigos Alcino e Paulo Gastão, então certamente dirá: “E nessa mesa tá faltando eles, e a saudade deles tá doendo em mim. E nessa mesa tá faltando eles, e a saudade deles tá doendo em mim...”.

Rangel Alves da Costa

Humberto Mesquita o "Caçador" de Cangaceiros nos Grandes Encontros Cariri Cangaço

Humberto Mesquita em seu programa ao lado de ex-cangaceiros e ex-volantes na Tv Tupi

Humberto Mesquita paraibano da gema; filho da querida  Campina Grande, começou sua jornada no radio e no jornalismo aos 16 anos de idade. Foi repórter esportivo, redator na Sport Press e da Rádio Tupi, do Rio de Janeiro. Depois vieram a Radio Bandeirantes e TV Excelsior em São Paulo. Escreveu para a revista Realidade e atuou nas TVs Bandeirantes e SBT. Apresentou o histórico programa "Pinga Fogo" na TV Tupi e realizou importantes pesquisas sobre Lampião, o Rei do Cangaço, e sobre figuras lideranças religiosas nordestinas, a partir de sua ligação com a historiadora Christina Matta Machado nos meados dos anos sessenta.


Humberto Mesquita apresentou programas, como o "Pinga Fogo", na Rede Tupi, "Xeque-Mate", na Bandeirantes, e "Isto é Brasil", no SBT. Por trás das câmeras, foi editor de jornalismo na Tupi e no SBT. Na imprensa escrita trabalhou nas revistas Cruzeiro e Realidade, dentre outras. É autor do livro "Tupi, a Greve da Fome", do romance "Santa Brígida", e de "Coisas que eu vi", sua obra mais recente. Atualmente escreve "No Rastro dos Cangaceiros”. Atualmente mora em Marselha, na França.

Programa Tv Tupi
Christina Matta Machado
Almoço promovido por Humberto Mesquita que reuniu ex-cangaceiros e ex-volantes em 1968.

Humberto Mesquita é o convidado especial dos Grandes Encontros Cariri Cangaço. A saga do jornalista que "descobriu" vários cangaceiros no asfalto de São Paulo; sua ligação com Christina Matta Machado, os encontros, as confidências, os testemunhos e muito mais nesta quarta, dia 21 de abril às 19h30.

Humberto Mesquita será entrevistado pelo curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo e pelo pesquisador e escritor, Ângelo Osmiro, Conselheiro Cariri Cangaço e presidente do GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará.


Serviço:
Grandes Encontros Cariri Cangaço
NO RASTRO DOS CANGACEIROS
Humberto Mesquita, Manoel Severo e Ângelo Osmiro
Dia 21 de Abril de 2021 às 19h30
Canal do You Tube do Cariri Cangaço



A Morte dos Cangaceiros Mané Moreno, sua Companheira Áurea e Cravo Roxo Por:Archimedes Marques

Mané Moreno

O grupo chefiado por Mané Moreno estava arranchado há três dias na fazenda Jaramataia, em Gararu, propriedade essa pertencente a Antônio Caixeiro, o maior coiteiro de Lampião em Sergipe. Nessa ocasião Antônio Caixeiro ali não estava presente, entretanto, os seus empregados tinham ordem expressa para receber os cangaceiros quando eles bem lhes conviessem, tanto é que a Jaramataia também era um dos portos seguros desses bandoleiros, além de outras tantas fazendas de um lado ou doutro lado do “Velho Chico”, então pertencentes a esse tão importante coiteiro. Assim, provavelmente por conta de informações de moradores circunvizinhos, Odilon Flor ali foi parar no encalço e rastro dos cangaceiros, oportunidade em que os mesmos já tinham “capado o gato”, ou seja, já tinham saído de Jaramataia. Diferente dos policiais sergipanos que não se atreviam a “apertar” os empregados de Antônio Caixeiro em virtude de ele ser o pai do governador Eronides Ferreira de Carvalho, logo, Odilon Flor “pressionou” um vaqueiro e este “vomitou” o trajeto tomado pelos cangaceiros que pararam na casa de Janjão, em Poço da Volta. Neste sentido o mestre Alcino Alves Costa nos ensina que o nome do vaqueiro que delatou a rota dos cangaceiros foi o Pedro Miguel. Tudo ocorreu da seguinte maneira:

Antônio Caixeiro

Era a tarde do dia 23 de junho de 1937, véspera de São João, e na fazenda vizinha, a Palestina, de propriedade de Nezinho Meia Lasca, fazenda essa situada à beira do rio Gararu, logo mais a noite haveria uma festança em homenagem ao santo mais comemorado do mês junino, entre nós, os nordestinos. Nezinho, além de ser um violeiro famoso era festeiro e assim o São João nas suas terras seria de primeira grandeza e o “arrasta-pé” prometia “pegar o sol com a mão”, ou seja, dança e muita animação até o raiar do dia.

A enorme fogueira acesa no meio do terreiro servia ao mesmo tempo para iluminar a para aquecer, pois o frio era intenso. O sanfoneiro não parava o fole, acompanhado de viola, surdo e pandeiro, um bom “Trio Pé de Serra”. Muita bebida, muitas jovens da redondeza e solteironas atiradas, foguetório, bombas, busca-pés. Mané Moreno dançava no alpendre da casa com a sua companheira Áurea.

Era por volta das nove horas da noite quando Odilon Flor guiado pelo exímio rastejador, o cabo Leonídio que também prestava serviços a tropa de Zé Rufino, ali chegou com os seus outros comandados que não se preocupavam em fazer silencio, vez que tudo era abafado pelo calor da festa, ademais a força policial estava em extrema vantagem, pois se encontrava na escuridão da noite enquanto os cangaceiros estavam no clareado da fogueira, alvos fáceis, além dos candeeiros postados na casa sede da fazenda, sem esquecer do fator surpresa, muito importante em qualquer combate, enfim, tudo estava a favor do bravo Odilon Flor naquela bela noite de São João. Assim, todos os policiais se postaram para o ataque surpresa, imprevisto para os animados festejadores, alvos bem visíveis. Alguns escolheram os seus alvos e com a ordem do comandante Odilon Flor “mandaram bala”, tiro que “só o diabo” e “pernas para que te quero” após o pandemônio da nova situação que quase não deu tempo de reação, apenas alguns tiros em revide contra o clarão que vinha da escuridão, enfim, o melhor era fugir e foi isso que o restante do bando fez, principalmente quando viram que o seu chefe já “alçava voo para se entender com São Pedro em pleno São João”, ou seja, o Mané Moreno havia sido atingido mortalmente. E o resultado desse tiroteio foi que ficaram estendidos sem vida cinco cadáveres: três cangaceiros e um casal de convidados que ali se divertia.

Mané Moreno e Áurea foram de logo reconhecidos. Quanto ao outro morto pensaram ser o Gorgulho. Depois o identificaram como sendo o Cravo Roxo. Além dos visitantes mortos, havia muita gente ferida, inclusive Nezinho Meia Lasca, dono da casa. Da força de Odilon Flor ficou ferido sem gravidade o soldado Luís Manoel Santos.


Dia seguinte o sargento Odilon Flor apresentou os seus “troféus”, as cabeças dos cangaceiros abatidos, na cidade de Gararu, onde foram fotografadas e de lá seguiu para Jeremoabo, na Bahia, onde esperava a devida promoção por bravura à patente de tenente.

Entretanto, ao invés de Odilon Flor ser promovido, fora severamente repreendido pelo capitão Manoel Campos de Menezes, comandante das F.O.N.E. (Forças em Operações no Nordeste) situada em território baiano. Odilon Flor fora repreendido por conta de interferência política do Estado de Sergipe com a Bahia, vez que além dos cangaceiros abatidos, sua tropa matara um casal de inocentes e ferira tantos outros que não tinham nada a ver com a bandidagem, apenas estavam em local errado, no horário errado, no dia errado, tão comum naquela época em que os cangaceiros intimavam as pessoas para as suas festas que se não fossem atendidos correriam risco de vingança. Vale ressaltar que o capitão Manoel Campos de Menezes nesse mesmo ano veio a falecer, aos 33 anos de idade, vítima de meningite que assolou aquela região baiana.

Aracaju, 03 de novembro de 2020
Archimedes Marques, Pesquisador
Presidente da ABLA e Conselheiro Cariri Cangaço

Estreia hoje no Instagram: CARIRI CANGAÇO PERSONALIDADE


IMPERDÍVEL HOJE , LÁ NO INSTAGRAM !!!
Impossível pensar a musica brasileira sem passar necessariamente pela musica nordestina. É impossível pensar a musica brasileira sem deitar o olhar para dois de seus principais ícones . Um o Rei, o Embaixador, o outro, um Anjo, o Sucessor... Um chamava Luiz outro José...Ou melhor, Luiz Gonzaga do Nascimento; o Gigante Rei do Baião Luiz Gonzaga, o outro, José Domingos de Morais; ou simplesmente Dominguinhos. "Paulo Vanderley um dos maiores pesquisadores do universo Gonzaguiano" no programa de estreia do Cariri Cangaço PERSONALIDADE no Instagram.
HOJE, DIA 19 DE ABRIL DE 2021 - AO VIVO AS 20H .

Segue lá: @cariricangaço

Manoel Severo, Paulo Vanderley e Waldonis

"Sempre comentamos e asseveramos que o Cariri Cangaço é uma construção de muitas mãos e muitos corações; sempre foi assim, desde sua gênese. Primeiro na realização dos grandes seminários, conferências, debates, extraordinárias visitas técnica, exposições, enfim, e já se vão doze anos; depois a consolidação desta mesma "revista eletrônica" que se tornou nosso blog, depois a expansão nas redes sociais: Facebook, You Tube, Whats App, Instagram, e mais recentemente com o sucesso que são os "Grandes Encontros Cariri Cangaço" programa semanal em nosso canal no YouTube. Agora ousamos mais uma vez, hoje estreia nosso Programa semanal na plataforma Instagram: PERSONALIDADE; vale a pena ver, grande abraço a todos e até lá", convida Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço.

A Fazenda Santa Cruz Por: Valdir José Nogueira

Fotografia de André Magalhães.

Numa madrugadinha friorenta de julho de 1927, as jovens mocinhas Belisarina Alves de Carvalho (Belisa) e Gertrudes Gomes de Carvalho (Tudinha), na companhia do vaqueiro Pedro Leôncio, em suas montarias seguiram da fazenda Malhada Grande com destino à fazenda Santa Cruz para realizar o pagamento de uma promessa, pois Belisa havia alcançado uma graça com o milagroso Bom Jesus dos Aflitos, padroeiro daquela fazenda. A devoção ao Senhor Bom Jesus dos Aflitos possui suas raízes em Portugal, de onde foi levada aos países de colonização portuguesa, como Brasil, Angola e Açores. A tradição conta que a imagem venerada na Fazenda Santa Cruz foi trazida de Portugal pelo Sr. Manoel Gomes dos Santos, casado com Maria Águida Diniz (de Panela D’Água), arrendatários e proprietários da Fazenda Inveja. A referida imagem foi benta pelo padre santo de Juazeiro Cícero Romão Batista, numa de suas inúmeras passagens pela Santa Cruz, sendo zelosamente segregada dentro de um antigo oratório de jacarandá que veio da Bahia, com outras imagens e relicários de santos também antigos e de raro valor, dentre os quais uma belíssima imagem de Santa Escolástica, hoje em poder de dona Maria José Primo de Carvalho Costa, esposa de seu Levino Costa, residente no Recife. Tradicionalmente se rezava naquela fazenda todos os anos a novena ao Bom Jesus dos Aflitos, por sinal, muito concorrida, onde afluía um grande número de devotos entre parentes moradores, agregados e vizinhos.

Ao chegarem a dita fazenda, depois dos costumeiros cumprimentos as mocinhas foram guiadas ao Quarto dos Santos onde ficava a imagem do Padroeiro da fazenda. Ora, frustrou-se a jovem Belisa porque as guardiãs do santo, dona Adelina e dona Abigail, estando as duas em seus dias de mau humor, não permitiram que o oratório fosse aberto. Tendo rezado apenas um mistério do rosário, voltaram as mocinhas para a Malhada Grande com muita raiva, sem soltar os fogos nem acender as velas que haviam levado.

A Santa Cruz era um “Condado”, conforme se falava na Ribeira de Belmonte. Foi uma das sedes da unidade familiar dos Carvalhos, da atividade produtiva do ciclo do gado além de ter sido também sede da vida política local, da grande autarquia sertaneja dessa poderosa família com poderes quase que absolutos e da rede de mandos e desmandos que pautou a própria organização do território belmontense. Além de que seu primitivo proprietário possuía ali uma grande escravaria.

Augusto Martin, Manoel Severo e Valdir Nogueira

A fazenda Santa Cruz foi arrendada à Casa da Torre da Bahia em 04 de novembro de 1829 por Gonçalo Gomes dos Santos. Este senhor era filho do português Manoel Gomes dos Santos e de Maria Águida Diniz, proprietários da Fazenda Inveja. Da fazenda Inveja originou-se o Patrimônio de Belmonte. “Tendo Ana Maria Diniz, recebido de herança de sua mãe Maria Águida Diniz uma propriedade na fazenda Campo Grande (Floresta), permutou essa fazenda pelo Sítio Santa Cruz de Cima (Belmonte), pertencente ao seu irmão Gonçalo Gomes dos Santos.” Este é o texto do documento cartorial datado de 24 de agosto de 1831, da Comarca de Floresta, conforme publicação do livro “Do Clã do Tapuio Os Primos”, da escritora belmontense Zélia Primo de Carvalho Leal. Dessa forma a referida fazenda Santa Cruz, pertencente a Ana Maria Diniz, passou por herança, para a sua filha Manoela Maria de Jesus, que casou com José Alves de Carvalho e Sá, que era filho de Manoel Goiana de Carvalho e de Maria Gomes de Sá.

Filhos de Manoela e José:
1 – Antônia Benedita de Carvalho. Casou em 28/08/1861 com Manoel de Sá e Araújo Neves, filho de Manoel de Sá e Araújo e Quitéria Maria da Cruz.
2 – Maria Teodora de Carvalho. Casou em 16/11/1859 com Manoel Lopes da Silva Barros, da fazenda Icós, filho de Martinho Lopes Diniz e Maria Águida Diniz. Esse casal deixou 8 filhos dentre os quais o tenente coronel José de Carvalho e Sá Moraes, grande vulto da história belmontense. Dentre os cargos públicos que ocupou foi prefeito em dois mandatos e grande líder político da família Carvalho no município. No tempo das questões com os Pereiras, foi embora para o Estado da Bahia, onde faleceu no ano de 1920.
3 – Gertrudes Maria de Carvalho. Casou em 28/05/1859 com Clementino Alves de Carvalho, natural da freguesia de Fazenda Grande, filho de Antônio Alves de Carvalho e Antônia Maria de Carvalho. Esse casal também deixou 8 filhos, dentre os quais Antônio Clementino de Carvalho e Sá, o famoso caudilho Antônio Quelé. Este se transformou no principal desafeto da família Pereira em decorrência de ter assassinado Manoel Pereira Maranhão seu parente. Quelé foi preso e inocentado. A sua absolvição demarcou o ressurgimento da secular questão entre Carvalho e Pereira na ribeira do Pajeú no século passado.
4 – Joaquim Ernesto de Carvalho. Solteiro, em 13/01/1874, aos 27 anos de idade faleceu de “bexigas”.
5 – João Alves de Carvalho e Sá. Nascido no dia 16/05/1838, época em que estava acontecendo as imolações no “Reino Encantado da Pedra do Reino”. Foi batizado solenemente pelo reverendo Frei Simão do Coração de Maria que lhe pôs os santos olhos na Capela de São Francisco a 22/06/1838, sendo padrinhos Manoel de Carvalho Alves (seu tio paterno) e Gertrudes Maria de Barros (sua tia-avó materna).
6 – Ana Maria Diniz – faleceu ainda criança.
José Alves de Carvalho e Sá, que era conhecido também como Zezinho ou Zé de Carvalho da Santa Cruz, seu antigo proprietário, depois da morte do seu cunhado José Pires Ribeiro, encabeçou a relação dos responsáveis para a conclusão da igrejinha de São José do Belmonte que havia ficado inacabada.
Há relatos de que Zé de Carvalho sempre dizia: - “Quando eu morrer me enterre na porta central da Igreja de São José para que o povo de Belmonte passe por cima, como forma de remir os meus pecados.” Ao falecer em 1897 seu desejo foi cumprido sendo então sepultado no local por ele indicado. Em 1927, trinta anos depois, o padre Renato de Menezes empreendeu uma reforma na Matriz de São José. Quando os mestres foram cavar os alicerces da base da torre, que logo após desabou, o mestre da construção encontrou as meias de seda e as botinas do velho Zé de Carvalho da Fazenda Santa Cruz ainda intactas.
Observem os sinais do caminho do tempo, a sede da Fazenda Santa Cruz, imóvel secular que abrigou tantas histórias se transformou hoje em assentamento do MST, onde o único sobrevivente do seu passado é um nobre, grande, belo e poderoso Baobá, que triste e saudoso vive ali a contemplar o passado glorioso daquela velha fazenda do torrão belmontense.
Valdir José Nogueira de Moura, Conselheiro Cariri Cangaço

Cariri Cangaço Personalidade, Novo Projeto para o Instagram


Você já conhece os GRANDES ENCONTROS CARIRI CANGAÇO;  programa semanal em nosso Canal do You Tube; e agora te convido para conhecer CARIRI CANGAÇO PERSONALIDADE, nosso novo projeto, criado especialmente para o Instagram.

Vem com a gente, entra lá no Instagram e segue @cariricangaço e se apaixone ainda mais por esse vasto e extraordinário universo do sertão.

PERSONALIDADE estreia nessa segunda,

dia 19 de abril, às 20h.

As Grandes Fugas da Cadeia Velha de Pombal Por:José Tavares de Araujo Neto


A cadeia de Pombal, cuja construção foi iniciada em 1841 e concluída em 1849, registrou sua primeira fuga em massa quatro anos após sua inauguração, precisamente em 24 de novembro de 1853. O fato chamou muito atenção e teve grande repercussão, tendo em vista ser ela considerada uma das mais seguras do império.

As paredes externas com 1 metro de largura e mais de 4,5 metros de altura; na parte frontal, um portão de grades em ferro maciço e quatro janelas reforçadas com grades duplas; na enxovia, cela escura que abrigava os presos de maior periculosidade, a altura de cerca de 3 metros, foi instalada uma espécie de forro em vigas de madeira de lei com cerca de 30 cm de espessura, o que dificultava ainda mais qualquer tentativa de fuga por via área.  O carcereiro era responsável pelo controle, enquanto um destacamento, constituído por policiais da guarda nacional, sob o comando de um delegado, incumbia-se de manter a ordem e a vigilância, tanto interna como externa.

A arquitetura e a vigilância faziam da cadeia de Pombal uma fortaleza inexpugnável. Pelo menos era isso que se imaginava. Porém, na prática a teoria nem sempre funciona.  Assim se pode constatar quando naquele 24 de novembro de 1853, à véspera da unidade prisional completar quatro anos de sua inauguração, aconteceu a primeira fuga em massa da até então inexpugnável fortaleza. A esse respeito, o jornal Diário de Pernambuco, edição de 24 de dezembro do mesmo ano, noticiou o fato de forma muito jocosa, sugerindo o óbvio:  que os dez presos, constituídos de quatro homicidas, cinco recrutas e um desertor, só obtiveram êxito porque contaram com providencial ajuda de autoridades responsáveis pela segurança da cadeia.

Segundo o jornal, no dia da ocorrência o destacamento responsável pela segurança havia saído a fim de efetuar a transferência de um preso, sendo substituído por paisanos. Estranhamento, os presos conseguiram fugir sem despertar nenhuma atenção dos guardas, os quais são comparados aos “setes dormentes de Éfeso”, a lenda milenar dos sete jovens que caem em uma sonolência secular. O mais incrível foi que o preso que era conduzido pelo destacamento também conseguiu evadir-se, mesmo sob a vigilância da força policial.

Eis a integra da nota veiculada no jornal:

“Na noite de 24 de novembro último, os presos da cadeia de Pombal tiveram a fortuna de encontrarem os guardas tocados de uma vara mágica, e com a sonolência dos sete dormentes, e puderam a seu salvo pôr fogo em que parte da cadeia, subir pelo rombo ao telhado, descer por cordas ao corpo das guardas e porem-se a andar, ou porém a andar alguns cavalos, que casualmente encontraram com tanto tento e prudência, que o mais leve ferimento, nem ainda uma esfoladela, ou arranhão no passar do buraco.

Assim suave e naturalmente esgueiraram-se quatro criminosos de morte, um desertor e cinco recrutas.Convém notar que a cadeia de Pombal, obra de prestante cidadão Bernardino José da Rocha, finda há quatro anos, é uma das mais sólidas e bem construídas cadeias do império; e que o rombo foi tal, que com a despesa de oito mil réis ficou reparado, e como se nada sofrera.

A guarda era de paisanos, porque o destacamento de polícia tinha ido conduzir um criminoso não sei para onde, o qual, também não se sabe como, saudou-se em caminho, ou fugido ou tomado pelos parentes, ou mesmo aderentes, o que não está verificado. Parece que um jubileu foi concedido pela fatalidade aos presos de Pombal para passarem a festa no olho da rua, e acrescentarem as fieiras thuggaes, que iam rareando com as últimas prisões.”


A cadeia de Pombal foi inaugurada em 1849 e desativada na década de 1970. Por todo esse tempo foi considerada a mais segura do sertão. Isso não impediu o registro de muitas fugas, sempre com a ajuda externa, sejam por conivência de autoridades, sejam por ataque de bandidos, ou até mesmo com o conluio das duas partes.

Na edição de 16 de outubro de 1856, o Correio de Mercantil, do Rio de Janeiro, veiculou matéria noticiando uma frustrada tentativa de fuga da cadeia da vila de Pombal. Adiantava o matutino da capital imperial que não era aquela a primeira vez que bandidos tiveram seu intento frustrado. Registra que o carcereiro ficou em estado agonizando após ser barbaramente espancado, e tece elogios a atuação da guarnição frente a repressão aos amotinados. “Pela terceira, quarta ou quinta vez, os presos da cadeia da vila de Pombal, em número de setenta e três, tentaram evadir-se, esbordoaram  cruelmente o carcereiro que ficou moribundo, e arrojaram-se ao portão para sair; encontraram porém a mais corajosa resistência da parte do alferes da guarda nacional Umbelino José de Almeida e de três soldados também da guarda nacional, que estavam também de guarnição, os quais sustentaram o primeiro ímpeto dos presos, e lucraram com eles ferindo a dois ou três, até que acudiram o delegado e mais cidadãos armados, repeliram os amotinados, e os obrigaram a recolher-se outra vez á enxovia sem ter escapado um só.”

Em 7 de outubro de 1857, o Diário de Pernambuco noticiou que aproximadamente às 16 horas, do dia 5 de abril daquele mesmo ano, dois guardas da cadeia de Pombal haviam rendido o carcereiro, quando este fazia a revista, dando fugas a 13 presos. “Os dois guardas fugiram com os presos. Houve luta, alguns tiros, mas nenhum morto ou ferimento”, concluía o jornal.

Em 1863, aconteceu o mais ousado ataque da história da cadeia de Pombal. Na ocasião, encontravam-se entre os presos os irmãos Andrelino de Araújo Lima e Antonio Thomaz da Fonseca, acusados de participação no assassinado do subdelegado de Piancó, Estanislau Lopes da Silva, crime ocorrido em 13 de novembro de 1852. Almejando a prescrição do crime, os irmãos, poucos meses antes, haviam se entregado em Misericórdia, atual Itaporanga, Paraíba, onde ficaram detidos. Ao tomar conhecimento, o chefe de polícia ordenou ao delegado de Misericórdia que transferisse com urgência os dois presos para a cadeia de Pombal, onde haveria maior segurança. Os irmãos ficaram bastante transtornados, achando que foram ludibriados.

Na madrugada do dia 5 junho, um grupo de bandoleiro, composto de mais de 30 cavalheiros, proveniente de Pajeú das Flores, província de Pernambuco, invadiram a vila de Pombal e tomaram de assalto a cadeia local. Após um acirrado tiroteio, um guarda que estava de sentinela foi atingido por um tiro fatal. Dois soltados e o alferes, comandante do destacamento, também foram atingidos por tiros certeiros, que os deixaram fora de combate. Em seguida, o grupo invadiu a cadeia e libertou onze presos, inclusive os dois irmãos, alvos principais da espetacular missão criminosa.

O mais conhecido ataque à cadeia de Pombal ocorreu em 1874. A história contada pela literatura vigente relata que na madrugada chuvosa de 19 de fevereiro, o cangaceiro Jesuíno Brilhante à frente de um grupo de cangaceiros, tomou-a de assalto, libertando 43 presos, inclusive seu irmão, que se encontrava aguardando julgamento por um crime de morte cometido na comarca de Catolé do Rocha. 

Pesquisadores, Junior Almeida e Zé Tavares

Analisando esta versão de forma superficial, e certo afirmar que ela é verdadeira.  O que foge da verdade é o modus operandi, a forma como deita operação nas narrativas dos escritores. As narrativas dos escritores Gustavo Barroso, em “Heróis e Bandidos”, e Rodolfo Teófilo, no romance “Os Brilhantes”, são recheadas de fantasias, buscando enaltecer a valentia e ousadia de Jesuíno Brilhante e seus asseclas, quando na verdade a operação foi um jogo de cartas marcadas.

O processo criminal que se encontra nos arquivos do Fórum Promotor Francisco Nelson da Nóbrega, da Comarca de Pombal/PB, é prova contundente de que os escritores pioneiros romancearam o episódio.  Consta que tudo foi facilitado pelo delegado, alferes Eustáquio Toscano de Oliveira, e principalmente pelo comandante superior da guarda nacional, o coronel João Dantas de Oliveira, que também tinha interesse em libertar um preso, que havia sido condenado por ter praticado um crime por ele encomendado. Trata-se de uma longa história que devido a sua importância, toda a trama será contada com riqueza de detalhes em outra oportunidade.

Em fevereiro de 1890, registra-se a fuga de 34 presos, com denúncias de que houve conivência da guarda da cadeia.  Por sugestão do Chefe de Polícia, João Coelho de Goncalves Lisboa, o governador Venâncio Neiva exonerou o delegado, o tenente-coronel Vicente José da Costa, nomeando para o seu lugar Francisco José de Assis, que recebeu a incumbência de abertura de um rigoroso inquérito policial a fim de apurar a efetiva participação dos denunciados.

O Governo do Estado providenciou um envio de uma força policial constituída de 30 praças, sob o comando de um oficial, tanto para garantir a segurança da cadeia como para efetuar diligências na busca dos fugitivos. Foram recapturados nove dos foragidos, em seguida foi preparado uma relação impressa dos 25 réus, com tiragem de 200 exemplares, os quais foram remetidos as div4ersas autoridade policiais do Estado, bem como aos chefes de polícias dos Estados circunvizinhos: Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará.

Em 3 de abril de 1917, o jornal O Norte, de João Pessoa – PB, noticiou que o tenente Sosthenes Barreto, delegado de Pombal, havia telegrafado ao presidente do Estado dando conta que, no primeiro do mês, quatro presos havia fugidos da cadeia usando uma chave falsa, levando algum armamento. O delegado diz ainda que já havia expedido diligências no encalço dos fugitivos e que os presos evadiram-se aproveitando o momento em que a sentinela havia ido ao aparelho sanitário. Um relato que mais parece um daqueles contos do 1° de abril.

Em fins de agosto de 1918, após um acirrado tiroteio, Eustáquio de Morais, subdelegado de Bonito, atual município de Bonito de Santa Fé/PB, então povoado de São José de Piranhas/PB, baleou e prendeu o famigerado cangaceiro Cícero Costa, um dos mais importantes líderes cangaceiros, com enorme lista de serviços prestados ao major Zé Inácio do Barro, de Milagres/CE, o mais destacado protetor de bandidos do cariri cearense.

A permanência de Cícero Costa na cadeia de Bonito trouxe um enorme clima de tensão ao lugar, principalmente devidos as informações que corriam dando conta de que um grupo de cangaceiros se organizavam em Milagres, no vizinho Estado do Ceara, com vistas a vir resgatá-lo da prisão. A vigilância da cadeia foi reforçada e logo que o preso estava em condições de viajar, em meados de setembro, foi conduzido para a cadeia da cidade de Patos, sob uma forte escolta comandada pelo experiente tenente Manoel Benicio.

Posteriormente, quando totalmente restabelecido, com igual esquema de segurança Cícero Costa foi conduzido para a cadeia de Pombal, o hipotético abrigo seguro para os fora-da-lei de maiores periculosidades. Porém, a estadia do bandido na cadeia não foi tão demorada como almejada pelas autoridades. No início de julho de 1920, o Jornal do Comércio veicula notícia dando conta que “Os cangaceiros Cícero Costa, José Coelho da Silva, Pedro Neco Fernandes e Melquíades Januário da Silva, que a muito custo haviam sido capturados e recolhidos a cadeia de Pombal, dali fugiram, auxiliados pelo soldado do destacamento policial Severino Alves de Oliveira”.

Esta foi a última grande fuga registrada na velha cadeia, que embora desativada na década de 1970, permaneceu elegantemente impávida, com sua imponente arquitetura imperial, a roubar a cena de tudo que representa a modernidade. Em 1989, passou a sediar a Casa da Cultura, um pequeno museu que ao longo de mais de três décadas infelizmente ainda não atingiu o seu verdadeiro objetivo, notadamente pela falta de uma gestão mais comprometida com a preservação de nossa memória.

José Tavares de Araujo Neto, pesquisador - Pombal-PB