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Um dia, em um passado ainda próximo, falei de momentos tão belos que meus olhos viram. Desejei ver tudo novamente; O destino brincou de ironizar com minha visão: Tive graves momentos visuais, lutei, superei, sem antes, homem rude como sou, ajoelhar-me aos pés do Cristo Piedoso; Implorei mais uma chance, o Misericordioso Homem de Deus atendeu meu pedido: Avistei velhos amigos, abracei todos, como se fossem meus últimos dias, senti a vida acarinhando meu coração ainda assustado.
Nas colinas verdejantes avistei distantes paisagens, respirei os ares vindos das terras dos Cariris, ventos circundantes nas Serras do Araripe. Senti frio, ouvi o assovio dos redemoinhos enquanto fitava aquela imensidão bela. Nos chalés acolhi-me cansado e feliz por jornadas diárias, todos os dias. Pisei solo sagrado do Beato Zé Lourenço. Visitei cruzes aonde a morte chegou sem avisar e sem perdão, senti os remorsos dos dias passados, cruzes erguidas em solo seco e pedregoso, o silencioso Alto do Leitão. A história ainda latente em um casarão de tantos anos atrás. Nas paredes marcas de uma defesa talvez inexistente, nas torneiras, paredes furadas, sangrias no barro, defesa de homem polêmico, Cícero Romão Batista, adorado por tantos fiéis, ignorado por leis católicas.
Homenagem em vida, ao grande Mestre, meu Mestre Amaury, emoção, tímidas lágrimas, merecedor do pouco que se fez, merecedor do muito que se faça, Mito das Letras, da História Oral, perseguidor Incansável das tantas histórias, maior conhecedor delas. Uma simples placa e um coração de amigo junto.
Vi um menino ligeiro, correndo sem parar, sorriso sempre presente, como se não houvesse falhas, cansaço ou qualquer pingo de desânimo. Menino grandioso, sorriso farto, abraço verdadeiro: Menino Severo, Severo amigo, Severo Presente, presente da vida; Severo: Digno de ser amado por todos.
Aprendi muito, com palavras de tantos, com as vozes de todos; Sonhei nas imagens do tempo, no tempo do Luiz Lua Gonzaga, sonhos do passado esbranquiçado em películas; Sorvi a semente plantada por Seraine, no canto e no aboio do Rei do Baião.
Meus olhos viram tudo de novo, visualizei amigos, abracei tantos; Beijei faces, amei pessoas reais. Vi o belo, como desejei, como pedi novamente; na solicitude de homem rude descobri misericórdia. A vida bela sorriu-me e ingenuamente pedi a Deus para permitisse ver tudo de novo e quando chegar um novo Cariri Cangaço, eu quero estar lá, quero ver as paisagens belas do Cariri, quero abraçar amigos, subir nos tablados, fazer homenagens, ouvir cantos, me encantar com palavras, saber mais das histórias, aprender com tantos, ouvir o canto do vento, no redemoinho do tempo...
Permita-me Deus, ainda ver outros Cariris Cangaço, entrego-vos meus olhos, em ti descanso, me regojizo, espero; Pagarei com amor ao próximo, amando os amigos, apreciando tuas obras, a natureza fecunda que circunda os Vales Cearenses.
João de Sousa Lima
Poeta, pesquisador e escritor
Paulo Afonso BA
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