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Grecianny Cordeiro é Gente que Faz no Cariri Cangaço Personalidade

Grecianny Cordeiro, um mulher cheia de talentos e desafios. Espetacular escritora, contista, poetisa, jornalista e ainda promotora de justiça, dedica seu tempo a tudo que lhe é importante; ao marido, aos filhos, a profissão e as letras; missões que abraça com dedicação, perseverança e talento, talento facilmente observado em Contos Escolhidos ou em qualquer de seus romances: Anjo Caído, os dois volumes de TroiaOperação Prometeu,  Cyberbullying e o precioso Siara - Uma lenda de amor.

Grecianny Cordeiro é Promotora de Justiça no Estado do Ceará desde 1997. Mestre em Direito Público pela Universidade Federal do Ceará e pela Universidade de Fortaleza. Escritora e Jornalista. Articulista do Jornal O Estado. Membro da Academia Cearense de Letras, da Academia Metropolitana de Letras e da Academia Fortalezense de Letras. Publicou diversos livros, dentre jurídicos, romances, poemas. Participou de diversas antologias publicadas nos salões do livro de Paris, Genebra, Lisboa, Turim e Guadalajara. Integra a Sociedade Amigas do Livro. É membro correspondente da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro - UBE, sócia benemérita da Academia Caramagibense de Letras (PE) e da Associação de Jornalistas Escritoras do Brasil - AJEB

GRECIANNY CORDEIRO É A CONVIDADA DESTA SEGUNDA-FEIRA DE MANOEL SEVERO NO CARIRI CANGAÇO PERSONALIDADE, AO VIVO NO INSTAGRAM DO CARIRI CANGAÇO, AO VIVO, 20 HORAS, SEGUE LÁ: @cariricangaço




A Casa de Lampião em Poço Redondo Por:Rangel Alves da Costa

Na esquina da atual Praça da Matriz com Rua Deoclides Lucas estava situada esta imponente moradia. Acima da porta, a insígnia com as iniciais do proprietário: “TA”. Tratava-se Teotônio Alves, ou Teotônio Alves China, ou ainda China do Poço, esposo de Marieta Alves de Sá, ou a tão recordada Mãeta. Eram meus avôs maternos. Foi nesta moradia que em 1929, na primeira vez que pisou em Poço Redondo, que Virgulino Lampião repousou em sua passagem sertões adentro. No seu interior se deu o lendário encontro com o Padre Arthur Passos. Para vexame dos proprietários, era o inesperado encontro da cruz e da espada, da religiosidade e do cangaceirismo. Inicialmente, o padre mostrou-se enraivecido perante a presença de Lampião, dizendo que era uma afronta um homem de Deus ser acordado por um cangaceiro batendo à porta, mas tudo acabou em brinde com vinho de jurubeba. Na mesa grande o vigário e o cangaceiro dividiram buchada de bode e outras paneladas sertanejas. Em seguida, naquele 19 de abril de 1929, a missa celebrada na igrejinha logo adiante e a presença da cangaceirama perante o sagrado altar. Atualmente, a igreja, completamente reformada, é a matriz de Poço Redondo, e a casa grande de China não existe mais. Infelizmente.

Rangel Alves da Costa
Pesquisador, escritor, poeta
Conselheiro Cariri Cangaço, Poço Redondo-SE

Tenente Arlindo Rocha, um dos Maiores Perseguidores de Lampião, nos Grandes Encontros Cariri Cangaço

Arlindo Rocha, de pé, entre Teophanes Torres e Eurico de Souza Leão

Sem dúvidas quem se debruça sobre a história do cangaço, pontualmente pesquisando o papel de seus grandes perseguidores, vai encontrar em Arlindo Rocha; o famoso tenente Arlindo Rocha; um dos maiores perseguidores dos bandos cangaceiros com marcantes presenças em muitos e importantes episódios ligados ao ciclo do cangaço lampeônico.

Antes um próspero pecuarista, um grande comerciante com atuação em todo o sertão, Arlindo Rocha com base na cidade de Salgueiro, subdelegado naquela urbe, começou a ter conflitos envolvidos com o cangaço pelos idos de 1924 quando capitaneou o combate do Fogo dos Pilões; onde foram mortos os cangaceiros Antônio Padre e Gavião. A partir dali Arlindo Rocha se incorpora às forças volantes de Pernambuco, tendo a oportunidade de reunir homens da sua mais inteira confiança, nascia ali as "Forças Auxiliares de Arlindo Rocha", era a primeira metade do ano de 1925.


Depois vieram grandes combates com a participação decisiva de Arlindo Rocha com destaque para o espetacular combate da Serra Grande, sob o comando do tenente Hygino; era novembro de 1926, nesse combate Arlindo Rocha seria baleado na face, episodio que lhe rendeu o apelido de "Queixo de Prata" para o resto da vida. Depois vieram os combates da Serra do Umã, Combate do Custódio e os emblemáticos combates de Guaribas; de Chico Chicote; além do cerco à Lampião na Piçarra com a morte de Sabino.

Tudo isso e muito mais nos Grandes Encontros Cariri Cangaço desta quarta-feira, dia 23 de junho de 2021, ao vivo, no canal do Cariri Cangaço no You Tube, quando Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço recebe o pesquisador Wilton Santana, mais conhecido como Vilson da Piçarra; neto e principal confidente de Antônio da Piçarra e profundo conhecedor da história de Arlindo Rocha, inclusive ligado por laços familiares com a familia de seu Antônio da Piçarra. 

GRANDES ENCONTROS CARIRI CANGAÇO

Montes x Feitosas no Cariri Cangaço Personalidade com Heitor Feitosa Macedo


"Há muito tempo a historiografia cearense busca explicar o conflito chamado de “Guerra entre Montes e Feitosas”. No entanto, a tradição, apesar de farta, peca por sua imprecisão, por outro lado, os documentos hodiernamente conhecidos apenas arranham o assunto, eivando de dúvidas qualquer afirmação categórica. A deflagração dessa “guerra de famílias” deu-se no ano de 1724, não se sabendo o mês e o dia, nem mesmo os motivos (incontestes) que levaram toda a Capitania do Ceará a um embate sangrento e quase interminável. Fato que só aumenta a curiosidade a respeito do assunto. 

Tudo isso não seria para menos, porque, talvez, inexista cearense que não descenda de um algum dos personagens envolvidos nessa contenda, pois, como é sabido, houve a participação tanto das elites agrárias quanto das classes mais desfavorecidas."

Heitor Feitosa Macedo é convidado especial do Cariri Cangaço Personalidade desta segunda-feira, 21 de junho de 2021, AO VIVO LA NO INSTAGRAM DO CARIRI CANGAÇO, vem com a gente, segue lá: @cariricangaço.

"O que os 257 anos do Crato têm a ver com a Guerra Civil de 1724, cujo palco principal foi o vale do Cariri, sul do Estado do Ceará? Hoje, por coincidência e, ainda, generosidade de Manoel Severo, poderemos debater esses episódios tecidos por Crônos. Adianto que o Crato, enquanto núcleo habitacional inventado por colonizadores portugueses, sanfranciscanos, baianos, sergipanos, pernambucanos, etc., e, sobremaneira, índios, não possui apenas 257 anos. Esse território já era motivo de disputas armadas entre os diversos povos indígenas que viviam pela região. A coisa se agravou com a invasão portuguesa, pois, se, no primeiro instante os índios eram o principal entrave para montar as fazendas de gado, no segundo instante, os próprios fazendeiros entraram em acirrados conflitos por terras, poder e riqueza.

José Flavio, Manoel Severo, Emerson Monteiro e Heitor Feitosa Macedo

A baiana Casa da Torre, dos d'Ávila, obteve terras em volta de toda a Chapada do Araripe, porém, nunca conseguiu tomar completa e efetiva posse do lado cearense, tanto pela resistência armada do povos originários quanto pela oposição oferecida por outros vassalos da Coroa portuguesa. Em 1702, Gil de Miranda e Antonio Mendes Lobato conseguiram subir o Rio Salgado além do Icó, alcançando terras acima do riacho Caiçara, no atual município de Aurora. Em 1703, oficialmente, Manoel Rodrigues Ariosa e Manoel Carneiro da Cunha são agraciados com uma data de sesmaria bem no que, hoje, corresponde, mais ou menos, aos municípios de Missão Velha, Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha. Contudo, a história, agora, é outra. Este Ariosa matou e usurpou, sendo que as consequências desses seus atos desembocaram em um dos maiores conflitos sangrentos do século XVIII, o qual entrou para a história sob a denominação de "Guerra entre Montes e Feitosas". A abordagem será essa, dentro de uma metodologia matuta, a partir da narrativa de um simples curioso. Sintam-se convidados!"

Cariri Cangaço Personalidade
Segunda-feira, 21 de junho de 2021
20 Horas AO VIVO Instagram do Cariri Cangaço

A Tragédia de Princesa chega aos Grandes Encontros Cariri Cangaço



A civilização do Médio Salgado, no sul do Ceará, deu ao Nordeste uma das suas maiores oligarquias, cujo apogeu efetivou-se com o domínio de Dona Fideralina Augusto, que sempre se manteve no poder utilizando os velhos bacamartes e os eflúvios da sua inteligência. 
A despeito dos conflitos e sobressaltos com os quais se envolveu, especialmente, no campo da política, nada foi maior, na sua vida, do que a decisão de invadir a vila de Princesa, no Estado da Paraíba, para vingar a morte do seu neto Ildefonso Augusto, em 1902.

Ildefonso Augusto Lacerda Leite, assim como o tio materno, Ildefonso Correia Lima, carregava um nome luminoso no seio da família. Ambos receberam o título de Doutor em Medicina, no Rio de Janeiro, e destacaram-se como intelectuais e cientistas. Nascido Vila de Lavras, em 1876, Ildefonso Augusto teve sólida formação. Estudou no Seminário do Crato e no Seminário da Prainha em Fortaleza e, no Rio de Janeiro, agitou a cena cultural como cientista e livre pensador, tornando-se, ao lado de Oswaldo Cruz, pioneiro no estudo das nossas doenças tropicais.

Com a missão que lhe foi confiada por Oswaldo Cruz, veio para o Nordeste pesquisar as endemias que, na época, assolavam esta região do País. Fixou-se na terra natal, mudando-se depois para Cajazeiras e, em seguida, para Princesa, na Paraíba, onde seria brutalmente assassinado, em janeiro de 1902. Os seus Ensaios de Filosofia Natural, publicados no Rio de Janeiro, em 1900, e resgatados, em 2016, pelo talento de Cristina Couto, constituem um marco na sua trajetória, agora, apresentada ao público, pelo trabalho de Cristina, intitulado "A Tragédia de Princesa" (Fortaleza: Expressão Gráfica, 2018).


Cristina Couto, autora; Jorge Emicles e Emmanuel Arruda, são os convidados de Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço neste Programa para falar do livro e do episodio marcante de a "Tragédia de Princesa".

Trata-se de livro no qual se assenta o contexto social de uma época, remarcado por uma tragédia e entrelaçado pelos poderes de uma oligarquia, tendo as cidades de Princesa, na Paraíba, e Lavras da Mangabeira, no Ceará, como epicentros de suas ações. Cristina rastreou a vida de Ildefonso desde o seu nascimento, passando pelos seus estudos em Fortaleza e no Rio de Janeiro, e pela sua vida de clínico, inicialmente, no Rio, e de clínico e farmacêutico, no interior da Paraíba, legando-nos com o seu talento, um livro há muito reclamado pela nossa história social.

Na referida vila de Princesa, vítima do ódio e da tirania dos seus adversários – que não aceitavam as suas convicções de livre pensador e de ateu –, foi assassinado, a golpes de punhal e a tiros de rifles, aos 6 de janeiro de 1902, sendo os seus restos mortais sepultados no cemitério de Princesa e depois transferidos para o cemitério de Lavras. O seu assassinato, feito de forma covarde e gravemente tirânica, desencadeou, em sua terra, uma reação tempestuosa, por parte da sua avó materna, Dona Fideralina Augusto, a qual determinou a invasão da vila de Princesa, constituindo, na época, um expressivo Batalhão comandado pelo coronel Zuza Lacerda. Os pormenores que envolveram o seu assassinato foram relatados pelo seu sogro, coronel Erasmo Alves Campos, no opúsculo Memorial, publicado em Fortaleza, pela Tipografia Econômica, em 1902, segundo do Barão de Studart.

Com a publicação desse livro "A Tragédia de Princesa", firma-se Cristina Couto como historiadora e amplia os horizontes da sua visão de ensaísta e de guardiã da história do Nordeste, em cujo coração está o Cariri, a mais bela de todas as regiões do Brasil.

Dimas Macedo, Poeta, jurista e crítico literário. Professor da UFC

Lampião o Eterno Fugitivo Por:Raul Meneleu Mascarenhas

Toda vez que tentamos enquadrar e definir Lampião, ele foge. Talvez até por conta de dificuldades que temos nos dias de hoje em estudar sua história, por conta de não termos mais referências vivas dos que andaram com ele ou o combateu, que possam tirar dúvidas surgidas por novas avaliações.

Herói ou bandido? Violento ou amoroso? Justiceiro ou generoso?  É isso. Toda vez que  procuramos definir Virgulino Ferreira da Silva, encontramos em sua história diversos caminhos que nos levam achá-lo bandido, herói violento, amoroso justiceiro e generoso.
Querem saber: ninguém está pondo em dúvida a existência de Lampião, assim como não podemos ver com cem por cento de garantia as histórias que se fala sobre ele e que cobrem a sua figura. E o que é pior, é que, com o passar dos tempos, vai ser cada vez maior o volume de versões a seu respeito,  cada vez fica mais longe da verdade em tal história. Não que duvidemos 100% da história dita oficial.

Se formos verificar, existem pelo menos dois "Lampiões". Um é aquele que cresceu em um ambiente violento onde a palavra do coronel, decidia sobre a vida e a morte daquelas pessoas que moravam ao seu redor e marcados por lutas sangrentas entre famílias de grandes proprietários de terra. O outro Lampião, é aquele jovem que trabalhava como tropeiro para seu pai, varando as veredas do sertão, levando mercadorias para as vendas das cidades, chamadas bodegas e também levar mercadorias para os comerciantes de ferramentas, tecidos, utilidades domésticas  e até mesmo para pequenos industriais com seus alambiques e engenhos de fabricar rapaduras e mel. Chegou até mesmo transportar mercadorias para o grande industrial Delmiro Gouveia em sua fábrica de linhas, no distrito de Pedras, atual Delmiro Gouveia, município brasileiro no estado de Alagoas.

Virgulino Ferreira da Silva em foto de 1926 em Juazeiro do Norte,CE

Lampião, aliás virgulino, era também um bom artesão. Ele fabricava celas, arreios, capas para facões, chicotes de couro e também era um bom domador de cavalos e burros Era bastante conhecido na região. Além disso ele era um ótimo versejador e tocava sanfona de 8 baixos que acompanhava os seus versos. Ora, era um rapaz que por ter seu trabalho, seu ganho e seu sustento, quando estava em casa principalmente nos fins de semana, onde ia para aquelas festinhas, aqueles arrasta-pés tão famosos no sertão, com dinheiro no bolso para consumir bebidas e gastar com os seus amigos, só podia ser famoso mesmo! Isso causava inveja a alguns rapazes e entre eles o Zé Saturnino, que era filho de um fazendeiro que possuia mais posses que o pai de Lampião, Zé Ferreira.
Virgulino foi poeta, foi amigo, foi valente, foi namorador. Tornou-se o homem que viveu à margem da lei depois que passou a ser perseguido pelos seus inimigos que tinham inveja de sua juventude e da sua capacidade em conquistar amigos.

A partir de 1922, quando assumiu o grupo de cangaceiros que participava, conseguiu criar a seu redor, um imaginário fabuloso. Quando se tornou uma pessoa bastante perseguida pelas volantes policiais, que constantemente estavam no seu encalço, foi criado então esse imaginário. Criado Por muitos repentistas que faziam os seus cordéis para serem vendidos nas feiras das cidades do nordeste, onde alguns deles chegavam a tocar sanfonas e violas, mostrando nos seus versos  versões imaginárias desse homem tão perseguido. Eram histórias mirabolantes nessa cultura que se escrevia e que explodia nos cantos da pobreza e da própria fome dos sertanejos.


Lampião nunca apresentou pra ninguém uma plataforma política ou um programa de reinvindicações sociais, mas traduziu como ninguém a  insatisfação popular contra um regime autoritário que já perdurava há muito tempo e que infelizmente até os dias de hoje persiste. Regime autoritário de nossa história, que ficou conhecido como República Velha, se bem que na República Nova, que já se iniciou corrupta, pois tinha os mesmos personagens corruptos da Velha, na sua linha de frente. Não é a toa que Jornais da época que recebiam benesses do governo, procurassem mostrar Lampião com imagem de criminoso de alto grau de delinquência, procurando com isso denegrir totalmente o lado humano e social vivido por lampião e seus cangaceiros.

Contrário a isso,  de Lampião traduzir como ninguém a insatisfação popular, os poetas de cordel que estavam constantemente nas feiras das cidades do nordeste, mostraram um Lampião valente, com alto grau de capacidade libertadora dos pobres, suas lutas contra os poderosos e que até hoje é lembrado e cantado pelos poetas e repentistas. É Por isso que, tão impressionante figura lendária de Lampião seja um pretexto para acabar com as injustiças sofridas pelos mais pobres.

Aqueles que persistem em falar mal de Lampião, não vêem ou fazem que não ver, que em um ambiente seco do sertão, na catinga nordestina, outras crianças, com suas famílias, sofrem o descaso das autoridades até os dias de hoje. Lampião tem de ser examinado pelos olhos da sociologia e não pelo olhar policial, pois já fazem mais de 80 anos de sua morte. Foram muitas histórias de ódio, mas também teve muitas histórias de amor e de generosidade, pois Lampião também foi capaz de amar. Realmente meus amigos, falarmos desse personagem histórico, desse mito, nunca é, colocar um ponto final nessa história. Porque Muitas ainda estão escondidas e à medida que o tempo passa,  se refaz cada versão dessa história.

Raul Meneleu Mascarenhas, pesquisador e escritor
Aracaju-Se ; Conselheiro do Cariri Cangaço
Fonte:http://meneleu.blogspot.com/

Joquinha Gonzaga é o Convidado Especial do Cariri Cangaço Personalidade da noite de hoje.


João Januário Maciel Gonzaga, nasceu  no dia  01 de abril de 1952, no Rio de Janeiro, filho de Raimunda Januário (Dona Muniz, segunda irmã de Luiz Gonzaga) e João Francisco Maciel. Muito aproximado do tio famoso, ficou mais conhecido como Joquinha Gonzaga, sobrinho e herdeiro de Gonzagão. 

No final da década de 1940, o “Rei do Baião” formou o primeiro núcleo nordestino no Sul do país, trazendo sua família composta pelo seu pai Januário, sua mãe Santana, suas irmãs Muniz, Geni, Socorro e Chiquinha Gonzaga e seus irmãos Aluízio, Zé Gonzaga e Severino Gonzaga para o Rio de Janeiro. Eles se instalaram em um Sítio em Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias-RJ, mais conhecido como Sítio dos Gonzagas, onde eram realizadas grandes festas como casamentos, batizados, aniversários, novenas etc, sempre com muitos convidados, músicas, comidas típicas nordestinas e a presença de grandes artistas famosos como Marinês, Abdias, Trio Nordestino, Dominguinhos, entre outros. Cantor. Compositor. Sanfoneiro.  Sobrinho de Luiz Gonzaga e, portanto, primo de Gonzaguinha, foi criado em uma família de músicos, como Januário, Chiquinha Gonzaga, Zé Gonzaga e Socorro.  Ganhou uma sanfona do “Rei do baião” aos 12 anos de idade.

Tio Gonzaga e Joquinha Gonzaga

Em 1986, gravou o seu primeiro disco, “Forró cheiro e chamego”, pela gravadora Top Tape.  Na sequência, foi convidado por seu tio, Luiz Gonzaga, a integrar uma turnê à França.  Em 1988, participou do disco “Aí Tem...”, de Luiz Gonzaga, na faixa “Dá licença pra mais um”.  Em 1989, gravou um disco com composições de seu tio, pela gravadora Copacabana.  Em 1990, lançou mais um álbum, “É só remexer”, novamente pela Copacabana.  No início dos anos 1990, atuou em shows e participou de eventos tradicionais como a Missa do Vaqueiro, preservando a memória de Luiz Gonzaga.  Em 1993, lançou o LP “Sobrinho de Gonzagão e neto de Januário”, pela Somari, obtendo divulgação nacional.  Em 1996, lançou o álbum “Raiz e tradição”, que trouxe participações de Alcimar Monteiro, Joãozinho do Exu e Maída.  

Cariri Cangaço Exu em 2017


Kydelmir Dantas, Joquinha Gonzaga e Juliana Pereira
Homenagem do Cariri Cangaço ao Rei do Baião, Personalidade Eterna do Sertão

Joquinha Gonzaga e o Cariri Cangaço !







A tarde do terceiro dia de Cariri Cangaço Exu começou com o mais autentico forró pé serra e baião, genuinamente da lavra do Rei do Baião. João Januário Maciel ou simplesmente Joquinha Gonzaga, e seu irmão, Fausto Luiz Maciel ou simplesmente Piloto, sobrinhos, herdeiros musicais e companheiros de palco do grande Luiz Gonzaga, subiram ao palco do Parque Aza Branca para ao lado do cantor e músico Tacyo Carvalho, proporcionarem um espetacular show a todos os presentes, interpretando sucessos próprios e do Rei do Baião. Joquinha que nasceu no dia da mentira; 01 de abril de 1952; acabou se tornando uma grande verdade; neto de peixe, peixinho é !!! Nasceu  no Rio de Janeiro e é filho de dona Raimunda Januário; Dona Muniz, segunda irmã de Luiz Gonzaga, herdou do avô Januário e do tio Luiz Gonzaga o talento e amor para a música e a sanfona. Atualmente casado com dona Nice, mora em Exu ao lado dos filhos; sarinha de 17 anos e Luiz Januário de 11. 

Em 1997No ano Joquinha lançou mais um disco, “Cara e coração”, pela Ingazeira Discos, e com produção de Alcimar Monteiro. O CD apresentou músicas de compositores como João Silva e Dijesus, além dele próprio.   No mesmo ano, realizou participação especial em um álbum de Dominguinhos, cantando a música “Tacacá”.  Em 1998, ao lado de Oswaldinho do Acordeon e Daniel Gonzaga, participou do evento “Tributo a Luiz Gonzaga”, realizado em Nova York, nos EUA, para um público de 10 mil pessoas. Em 2000, lançou mais um disco de carreira, dessa vez de forma independente, “Mala e cuia”, que teve participação especial de Daniel Gonzaga na faixa “Espelhos das Águas do Itamaragy”.  Em 2003, realizou participação especial no disco “Na varanda do Rei”, de Flavio Baião, na faixa “São João Tradição”.  Em 2004, lançou o CD “Sanfoneiro da serra do Araripe”, também de forma independente. O disco trouxe uma gravação de Luiz Gonzaga de 1988, em que o apresentou como herdeiro musical da família e perpetuador do baião.  Em 2005, realizou participação especial no disco “Forroboxote 4”, de Xico Bizerra, cantando a faixa “Toró de alegria”.  Em 2006, lançou o disco “Contos e causos do Gonzagão”, em que apresentou três causos que presenciou nas viagens que realizou ao lado de seu tio.  No mesmo ano, participou do disco de Chiquinha Gonzaga “Oito e oitenta”, interpretando a faixa “Sabino”.  

Em 2007, realizou participação especial no disco “Forroboxote 7”, de Xico Bizerra, cantando a música “Jorge da Lua”.  No mesmo ano, realizou participação especial no disco “Achando bom!!!”, de Targino Gondim, cantando a música “Começo de namoro”.  Em 2012, realizou participação na coleção tripla de CDs "Pernambuco forrozando para o mundo - Viva Dominguinhos!!!", produzida por Fábio Cabral, cantando, ao lado de Dominguinhos,  a música "Retrato do nordeste", de sua autoria com Zé Peixoto e Dijesus. A coletânea trouxe forrós diversos, interpretados por 48 artistas, e que fazem referência aos 50 anos de carreira do seu inspirador, Dominguinhos. Interpretando músicas de compositores em sua grande maioria pernambucanos, fizeram parte do projeto também artistas como Acioly Neto, Adelzon Viana, Dudu do Acordeon, Elba Ramalho, Jorge de Altinho, Irah Caldeira, Liv Moraes, Petrúcio Amorim, Geraldo Maia, Sandro Haick, Spok, Jefferson Gonçalves, Chambinho, Hebert Lucena, Maciel Melo, Luizinho Calixto, Silvério Pessoa, Walmir Silva, entre outros, além do próprio Dominguinhos.

Fonte: Cariri Cangaço Exu - https://forrozeirospe.com.br

Adília, a Simplicidade de uma ex-Cangaceira Por:Rangel Alves da Costa


. Eu a conheci. Adília era assim, bem assim, tão simples como uma casa de barro, tão humilde como uma roupa de chita, tão doce como uma cocada de frade, tão amiga como uma sertaneja. No Alto de João Paulo, ao lado da cidade de Poço Redondo, defronte sua singela moradia, um retrato para a saudosa posteridade. Morena trigueira, silenciosa como brisa do entardecer, palavras ditas como se as folhagens estivessem dialogando. Eu conheci Adília, fui seu amigo, e ela era assim mesmo. E quanta diferença daquela meninota que um dia havia se apaixonado por um cangaceiro e com ele bandeado por tão perigosos caminhos.

Mas ela foi, pois apaixonada por Canário, um dos mais feiosos e afamados do mundo do cangaço, geralmente servindo ao subgrupo de Zé Sereno. Ela foi por amor, mas logo depois desamou. Passou a não suportar as violências, as brutalidades e arrogâncias. Passou a não suportar o jardim das paixões transformado em dolorosos espinhos. Ainda assim teve dois filhos neste terrível mundo. Somente depois de 38, com o fim do cangaço e a morte de Canário, ela pôde retornar ao seio da família Mulatinho, seu seio familiar no Alto de João Paulo.

Adília e Sila

Em Adília uma imensa diferença de algumas ex-cangaceiras. Jamais procurou fama nem luxo, jamais contou inverdades ou acrescentou fatos que heroicizasse seu percurso no cangaço. Adília jamais colocou anéis dourados de fama nem cuspiu pétalas douradas no que dizia. Verdadeira, íntegra, apenas sendo o que era. Nada além disso. E nada mudou com o tempo. Já chegando à velhice, e a mesma Adília vivendo como uma sertaneja qualquer, como apenas mais uma moradora do Alto de João Paulo, logo após o riachinho Jacaré. Ali a ex-cangaceira, a ex-companheira de Canário, mas principalmente a mulher que além-cangaço travou luta renhida pela sobrevivência. A foto abaixo demonstra isso. Nela não se avista o dourado nem a riqueza, arma nem paramentos. Nela se avista Adília, a mulher sertaneja. Apenas.
Rangel Alves da Costa
Pesquisador e Escritor
Conselheiro Cariri Cangaço, Poço Redondo-SE

Serra Negra de Zé Rufino e Coronel João Maria Chega aos Grandes Encontros Cariri Cangaço


É inegável a força, a tradição e a história da Serra Negra; atual município baiano de Pedro Alexandre; como costumava citar o Caipira Alcino Alves Costa: Terra dos Carvalhos. Terra dos lendários coronel João Maria e seu irmão, Liberato Carvalho; base da valente e destemida volante de Zé Rufino, terra de homens de uma coragem incomum como Zé Serra Negra, João Doutor e Serra Negra... Aqui se fez história, aqui está fincada um pedaço dessa importante saga sertaneja ligada ao cangaço.

"De sua Serra Negra , João Maria, enviava ordens, dava instruções, recebia missivas de governantes. Servindo também como conselheiro, não era raro que as decisões políticas importantes somente fossem tomadas após o seu parecer ou aval. Mesmo sendo amigo do poder, de onde extraía seu mando, tinha predileção especial em manter amizade e ajudar o sertanejo, fosse o matuto mais simples ou o perigoso de sangue no olho. Daí que protegeu desde Lampião ao desvalido ex-cangaceiro perseguido pela polícia." Rangel Alves da Costa.

Zé Rufino, Corisco e Cel João Maria
Liberato de Carvalho 

Orlando Carvalho é quem ressalta: "a estratégica localização geográfica da Serra Negra; no nordeste baiano divisa aqui dessa região que englobava boa parte do sertão sergipano ainda Porto da Folha; a força da família Carvalho representada principalmente pelo coronel João Maria e por seu irmão Liberato de Carvalho e posteriormente pela inegável força das volantes ali sediadas principalmente a de Zé Rufino acabou fazendo da Serra Negra um protagonista mais que importante na história do cangaço, principalmente na época do segundo reinado de Lampião; entre 1929 e 1940, após a morte de Corisco".

A emblemática Serra Negra e sua intrigante ligação com o cangaço será o tema principal dos Grandes Encontros Cariri Cangaço desta quarta-feira, dia 09 de junho de 2021, as 19h30 ao vivo no canal do YouTube do Cariri Cangaço. Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço recebe para o programa, o pesquisador e escritor, Conselheiro Cariri Cangaço, Rangel Alves da Costa e o pesquisador, Orlando Carvalho, embaixador do Cariri Cangaço em Pedro Alexandre. O programa promete...

Orlando Carvalho

O pesquisador e professor Orlando Nascimento de Carvalho dissecou a forte presença e "interferência do coronel João Maria em quase todas as coisas que aconteciam não só em Serra Negra e região mas sua influência se estendia até terras sergipanas. Quando Lampião atravessou o São Francisco foi orientado que procurasse tres destacados potentados baianos: Cel Petronilo de Alcântara Reis, o Coronel Petro, chefe político de Santo Antônio da Glória, Cel João Gonçalves de Sá de Jeremoabo e nosso João Maria de Carvalho, aqui da Serra Negra; pelo incontestável poder desses tres coronéis baianos que comandavam a vida de toda essa região sertaneja".
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"Em abril de 1929 Lampião pela primeira vez encontra João Maria. Lampião esteve em Serra Negra por tres vezes, poucos lugares receberam a visita do rei do cangaço por tres vezes, aconteceu em abril de 1929, também no final de 1929 e a ultima em 1930. Apenas dois filhos de Serra Negra entraram para o Cangaço, aqui na Serra Negra notabilizamos justamente pelo contrário, aqui muitos filhos entraram e se destaram nas volantes", acentua Orlando Carvalho.

Rangel Alves da Costa

"...um quase poema drummondiano para Lampião: O Tenente Liberato de Carvalho amava seu irmão Coronel João Maria de Carvalho que amava seu compadre Zé Rufino, que amava os dois e que também amava matar cangaceiros. Liberato perseguia o cangaço, João Maria protegia cangaceiro e Zé Rufino ao compadre respeitava. Liberato nunca prendeu Lampião, Zé Rufino nunca arrancou sua cabeça e João Maria viveu seu coronelato sendo amigo de todo mundo."
 Rangel Alves da Costa.


AO VIVO NO CANAL DO YOUTUBE DO CARIRI CANGAÇO
QUARTA, 09 DE JUNHO DE 2021, 19H30


Bárbara de Medeiros, talento e inquietude no Cariri Cangaço Personalidade


Bárbara de Medeiros, é autora de "O Escritor de Sonhos", "O Sindicato das Bailarinas Circenses" e alguns artigos de direito, matéria sob a qual se dedicou em sua graduação. Hoje, foi aceita para realizar o mestrado na Universidade de Montréal e se prepara para tanto escrevendo ainda mais histórias, já que acredita que a ficção alimenta o coração. Essa maravilhosa "Menina" escritora , talentosa e inquieta, é a convidada especial para nosso Cariri Cangaço Personalidade, desta segunda, 07/06 , ao vivo, em nosso Instagram. Segue lá @cariricangaço e não perde de jeito nenhum...

BARBARA DE MEDEIROS
CONVIDADA ESPECIAL 
CARIRI CANGAÇO PERSONALIDADE
AO VIVO - INSTAGRAM
@cariricangaço

O Cangaço Macabro (Ou as Cabeças como Troféu de Sangue) Por:Rangel Alves da Costa

 

No percurso do cangaço, principalmente no reinado de Lampião, cabeças humanas simbolizaram os mais terríveis e bestiais troféus de conquistas. Um festim de morbidez e iniquidades. Cabeças de cangaceiros foram degoladas, cabeças de volantes foram decapitadas, cabeças de sertanejos foram decepadas. Tudo significando uma coisa só: ter o membro mutilado como prova da morte pela morte, sem importar muito que fosse de um inocente ou de um terrível inimigo.

Uma doentia satisfação em passar a lâmina afiada sobre o pescoço e depois regozijar-se daquele troféu macabro. Mórbido prazer em posar ao lado ou segurando aqueles restos mortos e tantas vezes desfigurados. Mas também uma desumanização tão aflorada que nem se respeitava o morto enquanto ser humano, senão como um resto imprestável ou um ser tão abjeto que precisasse ser esquartejado. Uma vez atingido, uma vez desfalecido, então não havia nem resquício de piedade nem qualquer senso de respeito aos defuntos. Um verme estirado ao chão, um reles corpo jazendo sem serventia sequer aos urubus ou outros carnicentos.

Então corta a cabeça! Coisa linda é uma cabeça apartada do corpo! Tronco de um lado e a cabeça de outro! Pra quê? Apenas para o comprazimento de egos insanos e doentios. Mesmo que a entrega da cabeça significasse salvo-conduto ou que uma pena fosse amenizada pelo terrível ato, ainda assim uma prática tão deplorável quanto a própria violência de cangaceiros e volantes contra inocentes sertanejos.

O restante do corpo não tinha nenhum valor, não servia como troféu algum, pois a alucinada satisfação estava apenas em ter respingando sangue a parte superior com olhos esbugalhados, boca troncha, cabelos desgrenhados e tez dos que tiveram um terrível fim. Ser fotografado segurando uma cabeça cortada era o máximo da perversa ostentação. Ser retratado ao lado de uma cabeça enfiada numa estaca era deleite maior para os íntimos mais perversos.

E que cena aquela onde as cabeças dos mortos em Angico foram colocadas numa calçada para os flashes fotográficos, para os olhares ávidos de terror e as íntimas e animalescas alacridades. Qual a finalidade em matar pelo degolamento? Qual o objetivo de separar a cabeça do corpo depois da morte? Qual motivação em cortar a cabeça e depois seguir com o membro sangrento e desfigurado pelas estradas?

Em muitas ocasiões, a cabeça cortada simbolizava a vitória frente ao inimigo. Era a prova inequívoca de ter ceifado uma vida. Noutras ocasiões, o membro decepado servia como passaporte de liberdade ou de amenização de penas mais duras. Acaso um cangaceiro arrependido chegasse perante um comandante de volante levando a cabeça de um ex-companheiro, então sua entrega seria sem grandes padecimentos e comemorada com se a própria soldadesca tivesse dado fim ao degolado.
Depois de fotografada, entraria para as estatísticas das baixas e das honrarias. Mas diferentemente do que ocorria com a volante, que se deleitava em tirar retratos com as cabeças expostas de cangaceiros, estes não eram tão recorrentes em tais práticas. Os registros fotográficos não deixam mentir. A grande maioria das cabeças cortadas é de cangaceiro morto pela volante.

Quando, no ano de 32, o grupo comandado pelo cangaceiro Gato empanturrou os sertões de Poço Redondo de sangue e o inocente Zé Bonitinho foi forçado a deitar sua cabeça num batente, o tronco ficou de um lado e o restante de outro. A cabeça não foi levada como comprovação da chacina. Quando Penedinho, em 38, matou Canário à traição, seu companheiro de cangaço, a cabeça deste só foi cortada depois, e por Zé Rufino. Foi este comandante da volante baiana que passou o punhal no corpo já putrefato e retornou a Serra Negra levando sua honraria apodrecida. Em 37, quando o comandante pernambucano Odilon Flor deu cabo ao subgrupo de Mané Moreno em Sergipe, na região de Porto da Folha, as cabeças deste, de sua companheira Áurea e de Cravo Roxo também foram cortadas e expostas.

O cangaceiro Zepelim (morto em 37 pela volante de Zé Rufino) não só teve a cabeça cortada como teve seu membro superior fotografado com apetrechos, armas e vestimentas do cangaço (e os olhos forçadamente abertos para serem melhor fotografados). Já o cangaceiro Barreira, numa das fotos mais famosas, posa ao lado da cabeça dependurada de seu ex-companheiro Atividade, por ele mesmo assassinado em 38. Barreira já havia se bandeado para a volante e cumpriu juramento às forças de perseguição matando e cortando a cabeça do cruel e famoso “capador”.
Muito mais cabeças foram cortadas, degoladas, extirpadas dos corpos. Um ritual macabro de um mundo não só macabro como aterrorizante. E as cabeças cortadas na Gruta do Angico em 38? Onze troféus de aniquilados que acabaram causando efeito contrário. O cangaço perdeu, mas saiu vencedor. A História assim confirma.
Rangel Alves da Costa, Pesquisador e Escritor
Conselheiro Cariri Cangaço, Poço Redondo-SE

A Extraordinária Saga do Cangaço em Piranhas , nos Grandes Encontros Cariri Cangaço desta quarta-feira.


Sem nenhuma dúvida todos sabemos que a cidade ribeirinha de Piranhas; no baixo São Francisco alagoano; é uma das cidades mais belas de todo o nordeste brasileiro, conhecida como a Lapinha do Sertão o que talvez muitos não saibam é que Piranhas também tem uma forte presença dentro da historiografia do cangaço notadamente no ciclo lampiônico. Foi ali que se perpetraram vários e emblemáticos episódios da história do cangaço com destaque para a invasão de Gato e o bando de Corisco em 1936 e a trama com o fatídico desfecho do Angico em julho de 1938.

Piranhas, sua memória e sua história, ligadas ao cangaço será o tema dos Grandes Encontros Cariri Cangaço, ao vivo, desta próxima quarta-feira, dia 02 de junho de 2021, as 19h30, no cabal do Cariri Cangaço no You Tube. Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço recebe para essa conversa, os pesquisadores; Inácio Loiola e Celsinho Rodrigues; em programa que promete.

"Particularmente para mim é uma grande alegria realizarmos um Programa dos Grandes Encontros Cariri Cangaço com o tema Piranhas, primeiro por trazermos recortes de alguns do mais espetaculares episódios da historiografia do cangaço, segundo por ter o privilégio de receber o titulo de cidadão de Piranhas, por proposição do querido amigo vereador Cacau, o que muito me honra; terceiro por Piranhas ser uma das  casas do Cariri Cangaço, para nosso grande orgulho e por ultimo, por reunir meus queridos amigos; deputado Inácio Loiola e o Cariri Cangaço, Celsinho Rodrigues; numa conversa que promete muita emoção e muitas revelações." Confirma Manoel Severo.

Recorremos ao pesquisador João de Sousa Lima, Conselheiro Cariri Cangaço para nos trazer um pouco de um desses episodios marcantes do Cangaço em Piranhas: A invasão e Morte de Gato: “Gato encontrou a morte depois desse ataque a Piranhas, depois da prisão de sua amada Inacinha, pelo tenente João Bezerra. Inacinha estava grávida e neste combate saiu ferida. O tiro entrando nas nádegas e saindo no abdômen. Por muita sorte a criança não foi ferida. Gato pede ajuda a Corisco e este organiza esse ataque . No trajeto, Gato sai disseminando a morte. A data se tornaria, para algumas famílias, uma lembrança dolorosa. 

Gato e Inacinha, Inacinha presa em Piranhas; João Bezerra e Dona Cyra.

E continua João: "Era 29 de outubro de 1936. Dentre os mortos feitos por Gato, estavam Abílio, Messias, Manuel Lelinho e Antônio Tirana. Sendo refém de Gato, o jovem João Seixas Brito, que seria sangrado alguns minutos depois, quando jurou que não havia policiais na cidade e ao romper o som dos primeiros disparos, ocasionados pelos poucos moradores que se negaram a fugir, abandonando a cidade, o rapazinho de 15 anos de idade foi barbaramente assassinado.” 

É Inácio Loiola que confirma: " É importante saber que Inacinha depois desse episódio viria a se casar justamente com um soldado da volante de Piranhas..." E continua João de Sousa Lima... “Assim que os cangaceiros entraram na cidade, o delegado Cipriano Pereira e mais oito soldados fugiram deixando os moradores desguarnecidos. Os populares tiveram que suprir a falta dos “Homens da Lei”. Formaram-se poucos grupos de resistência e entre alguns dos habitantes que lutaram estava Cira Brito, esposa do tenente João Bezerra."

Sonia Jaqueline, Cacau, Manoel Severo, Petrucio e Reginaldo Rodrigues, João de Sousa, Inácio Loiola e Paulo Britto e abaixo João de Sousa Lima no grande Cariri Cangaço 2015 em Piranhas : Nos rastro da invasão de Gato 
 
Paulo Britto
Paulo Britto, Ivanildo Silveira, Josué, Junior Almeida, José Tavares e Narciso Dias

Celso Rodrigues complementa:" Lá do cemitério o Joãozinho Carão defendia com outros homens aquela lado da cidade, já meu pai Chiquinho Rodrigues e Joãozinho Marcelino, se encontravam nos sobrados sustentando fogo contra os homens de Corisco e Gato.” Volta João de Sousa Lima: ”Chiquinho Rodrigues portava um rifle cruzeta e tinha um estoque de 260 cartuchos, dos quais deflagrou 170. Existe uma polêmica em razão do tiro que atingiu o cangaceiro Gato. Uns dizem que o autor do foi Chiquinho Rodrigues, outros creditam o certeiro disparo, a Joãozinho Carão. A verdade é que Gato saiu baleado e morreu três dias depois do confronto, acabando-se assim um dos mais cruéis homens que engrossaram as fileiras do cangaço.”

Paulo Britto filho do tenente Bezerra , teve também sua mãe, dona Cyra, como uma das protagonistas do marcante episodio, que afirmaria depois em um depoimento: "Eram duas da tarde quando eles chegaram a Piranhas. Eu pensei que fosse [o tenente] Bezerra de volta com a volante [proveniente de Delmiro Gouveia]. Então eu saí para a calçada, porém uma prima minha gritou: 'Cyra, entre são os cangaceiros'. Piranhas é uma cidade construída num vale cercado de serras. Quando eu olhei, vi que vinham descendo cangaceiros por todos os lados. Recuei e fui fechar a porta da casa, mas não consegui fechar a primeira janela e, um cangaceiro, escondido atrás de uma gameleira (uma árvore secular que havia em frente à casa) disse: 'Não feche que morre'. Eu me encostei na janela e olhei. Vi a um canto da parede um riflezinho. Peguei-o e atirei no cangaceiro. Fiquei trocando tiro. Ele tentava me alvejar pela janela e eu atirava nele. (...) Nós tínhamos armas em todos os cantos da casa."

 Do alto do Solar dos Rodrigues, Celso Rodrigues, João de Sousa Lima e Paulo Britto: A saga da invasão de Gato
Celso Rodrigues
João de Sousa Lima e Celso Rodrigues  

E continua dona Cyra: "Quando eu estava assim trocando tiros com esse homem, Corisco surgiu na esquina da avenida Tabira de Britto [próxima à Prefeitura Municipal], perseguindo meu tio João Correa de Britto, prefeito nessa época. Corisco estava quase pegando meu tio quando eu atirei nele, mas só consegui atingir os bornais. Ele rodopiou, entrincheirou-se na escada de uma casa e ficou atirando em mim. Eu deixei de atirar naquele que estava junto à gameleira e fiquei atirando para o outro. É quando surge na mesma esquina um grupo de cangaceiros trazendo uma rede com um corpo, uma rede toda ensanguentada. Era Gato, marido de Inacinha, que tinha morrido. Um tiro [dos muitos dados pelos defensores da cidade em duas horas de cerrado tiroteio] atingiu a cartucheira que ele trazia na cintura, atingiu o pente de onde explodiram cinco balas que esfacelaram seu intestino." (1985, p. 13) Os cangaceiros, diante do inesperado, bateram em retirada.”

Tudo isso e muito mais, nesta quarta-feira, 
dia 02 de junho de 2021