A Odisseia de José Américo de Almeida na Revolta de Princesa Por: José Tavares de Araujo Neto


No livro *"A Odisseia de José Américo de Almeida na Revolta de Princesa"*, os municípios de *Catolé do Rocha e *Brejo do Cruz*, bem como as famílias Maia e Saldanha, especialmente Joaquim (Quinca) Saldanha, desempenham papéis importantes no contexto político e militar da revolta. Eis um resumo do que a obra relata:

Catolé do Rocha; Sérgio Maia, coronel e chefe político de Catolé do Rocha, foi um dos principais apoiadores do governo de João Pessoa. Junto com seu filho João Maia, declarou apoio total à restauração da ordem, representando também os Maia de Brejo do Cruz e a família Saldanha. O município passou por grande instabilidade política, com exonerações em massa nos cargos de subprefeitura, suplência de subdelegado e escrivão, refletindo a reorganização promovida por João Pessoa. Foi citado em telegramas enviados por opositores como local onde a população estava sem garantias de direitos, o que gerou sarcasmos por parte de Sérgio Maia, especialmente dirigidos aos irmãos Suassuna.

Brejo do Cruz; Foi cenário de ataques por parte das forças princesenses. A casa do deputado João Agripino Maia foi invadida e houve intenso tiroteio. O médico Américo Maia foi levemente ferido durante a resistência ao ataque. O local também serviu de prisão para o cangaceiro Moita Brava, capturado com objetos roubados, o que indicava a rota e os delitos do bando envolvido.

Família Maia; Representada principalmente por João Agripino Maia, deputado e liderança de Brejo do Cruz, e por Sérgio Maia, de Catolé. Os Maia foram aliados de João Pessoa na repressão à Revolta de Princesa e enfrentaram diretamente ataques armados. Tinham prestígio político e poder local significativo.

Joaquim (Quinca) Saldanha; Coronel e fazendeiro influente, inicialmente radicado em Brejo do Cruz e Apodi. Era primo de Duarte Dantas, mas recusou qualquer aproximação política por seu ódio à família Suassuna, especialmente a João Suassuna. Organizou uma milícia de homens armados para apoiar o governo de João Pessoa. Seu grupo, sem experiência militar, foi integrado ao destacamento do tenente Manuel Arruda para missão perigosa em Tavares. Mostrou coragem e compromisso com a causa legalista, sendo peça-chave entre os sertanejos que se mobilizaram contra o levante de Princesa.

Esses trechos mostram como Catolé do Rocha e Brejo do Cruz foram palcos de conflitos diretos e estratégicos na Revolta de Princesa, e como os Maia e os Saldanha foram protagonistas na defesa do governo estadual.

José Tavares de Araujo Neto, Conselheiro Cariri Cangaço
Pombal, 18 de maio de 2025

Os Egipcienses da Rua de Casa Por: Gilmar Teixeira

Na minha infância e adolescência, a rua onde cresci ganhou novos personagens, vindos lá do alto sertão de Pernambuco. Chegaram com suas caçambas barulhentas, poeira no para-brisa e coragem nos olhos — uma família inteira de cacanbeiros, que viera trabalhar na construção da Usina PA-4, especialmente na escavação do canal. E foram se instalar bem em frente à nossa casa.

Foi aí que nossa amizade começou. Zezé, o brabo (mas de coração mole), Manézinho, que depois virou professor do CIEPA, Bernadete, que se tornou gerente da M.O. Lira, e o caçula, Joãozinho — que, ao crescer, virou escritor famoso e agora exige ser chamado apenas de João de Sousa Lima, como quem diz: "respeite minha importância na cidade".

Na rua, porém, não havia formalidade. Aquela família inteira virou “os Egipcienses”. Era só eles passarem e alguém logo gritava:
— Fala aí, Egipciense!
E pronto, a rua toda ria.

Eu, curioso desde menino e apaixonado por história universal, ouvia aquilo com olhos brilhando. Egipcienses? Ora, será que descendiam mesmo de egípcios? Seria João parente de algum faraó? Aquilo aguçava minha imaginação: pensava nas pirâmides, em sarcófagos, no Nilo serpenteando o deserto, e nas histórias de Moisés abrindo o Mar Vermelho. Morar em frente a uma família do Egito era, para mim, o auge da aventura histórica.

Pesquisador João de Sousa Lima, Conselheiro Cariri Cangaço, filho de São José do Egito e hoje radicado em Paulo Afonso

Mas a dúvida só se desfez muitos anos depois, numa conversa com o próprio João de Sousa Lima, já escritor consagrado. Tomei coragem e perguntei: — João, de qual parte do Egito tua família veio mesmo?

Ele olhou pra mim... e caiu na gargalhada. Literalmente. Foi ao chão de tanto rir. Achei estranho: — Que foi, homem? Falei alguma besteira?

E aí ele me explicou, entre uma risada e outra:
— Rapaz, a gente é de São José do Egito, no sertão pernambucano! Nada de pirâmides nem faraó. E parte da família é de Itapetim, ali pertinho. Aquela região é berço dos maiores poetas populares do Brasil. Lá, se respira poesia 24 horas por dia. E eu também sou um deles, viu? — disse, cheio de orgulho e vaidade sertaneja.

Quase caí pra trás. Passei a vida sonhando em bater papo com egípcios de verdade, e estava diante do “Egipciense” mais fajuto do planeta — mais falso que nota de três reais. Mas, verdade seja dita, ele era um nobre do sertão, o faraó das letras populares. Até hoje, João ainda se apresenta assim: — Eu sou Egipciense!

E você, como eu, talvez se pegue pensando a mesma coisa: que João tem algum parentesco com o Faraó Queóps, e que, se tivesse nascido na Antiguidade, Cleópatra seria sua amante. Não duvide. João de Sousa Lima tem mesmo esse poder de nos fazer viajar — nem que seja do sertão ao
Egito, com uma parada obrigatória em São José do Egito.

Gilmar Teixeira, Conselheiro Cariri Cangaço
Feira de Santana BA
17 de maio de 2025

Lampião e Mossoró - Autonomia de uma Derrota, Obra de Sergio Dantas

LAMPIÃO E MOSSORÓ: ANATOMIA DE UMA DERROTA é o novo trabalho do pesquisador Sérgio Dantas e será publicado em breve. A previsão é início do mês de julho de 2025.

Trata-se do aperfeiçoamento do seu primeiro livro, lançado há exatos vinte anos. Não é, porém, uma continuação deste e também não é uma nova edição. Trata-se de um livro inteiramente novo.

Como o leitor perceberá, as duas obras se complementam; se harmonizam. Na primeira se conta uma história; na segunda, são analisados alguns aspectos desta mesma história, porém cotejados com pontos que foram reputados pelo autor como curiosos, ou até mesmo questionáveis, ou ainda, pitorescos e que foram colocados no enredo de algumas interpretações surgidas em períodos posteriores ao LAMPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE – A HISTÓRA DA GRANDE JORNADA.

Este novo livro faz uma análise crítica do que aconteceu no Estado do Rio Grande do Norte naqueles idos de 1927. Tudo bem fundamentado, referenciado e submetido à crítica histórica. Tudo escrito às claras - sem se recorrer a indagações sem fim, a malabarismos históricos, a suposições sem lastro fático, a ‘verdades’ criadas. Trata-se de um texto que é resultado da comparação e análise sistemática das provas disponíveis, além de um estudo profundo da bibliografia pertinente, da tradição oral (muitas vezes questionável), documentos públicos e de centenas de notícias de jornal sobre os episódios ocorridos aqui no Rio Grande do Norte entre os meses de maio e junho de 1927.

Algumas lacunas históricas são supridas neste trabalho. É ele, em grande parte, o resultado de novas pesquisas feitas pelo autor - estas já iniciadas nos meses seguintes à publicação do primeiro livro em 2005 (Em “campo” foram repetidas algumas entrevistas e colhidos mais de uma dezena de depoimentos de outras pessoas às quais não estavam acessíveis em outras ocasiões).

O texto é racional, direito e revela o equilíbrio de quem não tem qualquer interesse político, familiar ou pessoal no enredo. 
O livro será publicado sem "pré-vendas" e oportunamente será informado o valor do exemplar e onde adquirir.

A Emboscada Fatal Por :José Tavares de Araujo Neto

José Tavares de Araujo Neto

Emboscada de Água Branca: Um Marco da Revolta de Princesa

Em 5 de junho de 1930, o povoado de Água Branca, na Paraíba, foi palco de um dos episódios mais sangrentos da Revolta de Princesa, um movimento que desafiou o governo de João Pessoa e marcou a história do sertão. A Emboscada de Água Branca, narrada no livro *A Odisseia de José Américo de Almeida na Revolta de Princesa* (Araújo Neto, 2025), revelou a força dos revoltosos e a fragilidade das forças estaduais, com consequências trágicas, incluindo as mortes do *tenente Francisco Genésio e do misterioso Feiticeiro*.

*O Comboio do Governo:*
Sob o comando do tenente Francisco Genésio, um contingente de 220 homens partiu do Quartel General da Polícia Militar na capital paraibana, transportado em 12 caminhões carregados de munição. A missão era clara: atacar Princesa, capturar o líder rebelde José Pereira Lima e esmagar o “Território Livre de Princesa”. Confiantes, as tropas contavam com a proteção mística do Feiticeiro, uma figura lendária que benzia os soldados, prometendo imunidade às balas e a vitória certa.

Ao chegarem a Água Branca, os revoltosos, liderados por *João Paulino e Luiz do Triângulo*, executaram uma emboscada fulminante. Aproveitando o terreno sertanejo, abriram fogo contra o comboio, destruindo os caminhões e dizimando as forças do governo. As baixas foram devastadoras: mais de 100 mortos e 40 feridos, segundo relatos históricos. O tenente Francisco Genésio, comandante da operação, foi morto no confronto, simbolizando o fracasso da investida estatal.

*A Queda do Feiticeiro:*
O Feiticeiro, que acompanhava o comboio benzendo a estrada e prometendo proteção, foi o primeiro a cair, atingido por um tiro na testa. Sua morte, descrita como trágica no livro (pp. 185-187), desmoralizou as tropas e virou notícia nos jornais da época, como A União. A queda do Feiticeiro, que misturava misticismo e cangaço, marcou o colapso da confiança do governo em estratégias improvisadas.


*Triunfo dos Revoltosos:*
O sucesso da emboscada consolidou a liderança de João Paulino, promovido a capitão, e Luiz do Triângulo, elevado a major (p. 270).

*Um Chamado à Memória:*
A Emboscada de Água Branca não é apenas uma página de violência, mas um reflexo das tensões políticas e sociais que moldaram a Paraíba na Primeira República. As mortes de Genésio e do Feiticeiro simbolizam o choque entre a modernização estatal e a resistência sertaneja. Vamos manter viva essa história, debatendo e aprendendo com o passado!

José Tavares de Araujo Neto
Conselheiro Cariri Cangaço, Pombal PB