É Hoje !! Debate e Apresentação do Cariri Cangaço na Espanha em Noite do GECC nesta terça-feira.


O presidente do GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, Ângelo Osmiro; e o presidente do Conselho Alcino Alves Costa do Cariri Cangaço, Manoel Severo, convidam a todos os confrades e amigos para participar na noite desta próxima terça-feira, de mais uma Noite GECC-Cariri Cangaço, a se realizar no Auditório da ABO, em Fortaleza.



Ângelo Osmiro, presidente do GECC, ressalta a importância do encontro para a apresentação da Conferencia sobre; Cangaço, Lampião e Cariri Cangaço; acontecida no último mês de Fevereiro na Região de Castilla La Mancha, em Toledo - Espanha pelo Curador Manoel Severo; "quando se deu os primeiros passos para fomentar a realização do evento nordestino de berço cearense, no continente europeu."

Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço ressaltou a satisfação em voltar a participar de forma ordinária das noites do GECC - Cariri Cangaço, depois de um tempo fora do país. Para Manoel Severo, o "conjunto de experiências vividas a partir do que pude perceber da leitura que fazem do cangaço, fora do país, foi muito importante, daí ser preponderante debatermos um pouco sobre esses aspectos."


Ângelo Osmiro, Manoel Severo e Juliana Ischiara

Além da apresentação das experiências Cariri Cangaço na Europa, a noite GECC-Cariri Cangaço também terá em sua pauta o inicio de um ciclo de debates dirigidos sobre o tema. Todos estão convidados.

Noite GECC-Cariri Cangaço
Terça-Feira - Dia 01 de Abril de 2014
Auditório da ABO
Rua Gonçalves Ledo, 1630
Fortaleza-Ceará

O Trágico Massacre de São José do Belmonte Parte 1 Por:Sousa Neto

Antônio Amaury e Sousa Neto

Ouvindo amiudadas vezes as gravações feitas pelo amigo Amaury Correa de Araújo com Sinhô Pereira e Cajueiro no final dos anos sessenta sobre esse episódio tão marcante na historia daquela cidade, fui algumas vezes averiguar “in loco” e extrair por mim mesmo determinadas conclusões.


É certo que os homens ricos do inicio do século passado, na ausência de estruturas financeiras formais com suficiente segurança, tinham que guardar o seu dinheiro e objetos de valor em suas próprias residências, despertando assim o interesse de todos os ripários. Por essa época grupos de cangaceiros e salteadores infestavam os sertões nordestino roubando, assaltando , extorquindo e muitas vezes até sequestrando. A ausência do estado e o diminuto contingente de agentes da lei favoreciam essas ações.

Casa de Gonzaga em São José de Belmonte

Luiz Gonzaga Gomes Ferraz havia se destacado na região do Pajeú como próspero comerciante. Era alheio a guerra travada entre as influentes famílias Pereira e Carvalho por questões politicas naquela e em outras províncias da região. Até comentavam o interesse de Gonzaga de ingressar na politica por anseio de algumas outras famílias amigas, mas Gonzaga Ferraz era mesmo um grande empreendedor. 

Em março de 1922 o principal protetor de Sebastião Pereira e Luiz Padre, “major” Zé Inácio do Barro devido à austera perseguição do Governador do Ceará Justiniano de Serpa, seguiu os mesmos passos de Luiz Padre rumo ao estado de Goiás onde se homiziaram. Ficara ainda Sebastião Pereira (Sinhô Pereira) com os mesmos planos já frustrado uma vez.

Antônio Vilela, Sousa Neto, Leandro Cardoso, Jorge Remígio, Manoel Severo e Ivanildo Silveira no Cariri Cangaço 2013

Sem o auxilio do major Zé Inácio e do coronel Antônio Pereira em declínio financeiro, mantenedores do bando, Sinhô Pereira se obriga a pedir ajuda a outros parentes mais abastados, fazendeiros amigos e comerciantes afortunados. Manter um grupo armado naqueles tempos não era tarefa das mais fáceis. No mês de maio daquele mesmo ano um comboio conduzindo mercadorias para Luiz Gonzaga foi interceptado pelo bando de Sinhô que saqueou todos os artigos. 

Sinhô Pereira já era avesso a Gonzaga por esse lhe negar ajuda financeira por varias vezes, inclusive recebeu certo dia como resposta da esposa de Gonzaga, Dona Martina, “que se quisesse dinheiro, que fosse trabalhar como o seu esposo”.

Sinho Pereira e Luiz Padre

Havia, entretanto um destacamento do Ceará sob o comando do Tenente Peregrino Montenegro, homem versado pelas barbáries cometidas em busca de arrancar qualquer informação a cerca do major Zé Inácio e seus asseclas, ultrapassando inclusive as fronteiras de seu estado para saciar o seu desejo e alcançar os seus intentos. 

Nas cercanias do vilarejo de Belmonte havia a fazenda Cristóvão, pertencente a Crispim Pereira de Araújo, conhecido como Yoio Maroto, casado no seu primeiro matrimonio com Maria Océlia Pereira, irmã de Luiz Padre. Ao ficar viúvo casa-se com a prima da primeira esposa por nome Francisca Pereira Neves e por ocasião do falecimento de Francisca, casa-se pela terceira vez com a cunhada de nome Generosa. Yoio Maroto era amigo e duas vezes compadre de Gonzaga aonde o respeito era reciproco.

Por ocasião da passagem do tenente Montenegro a vila de Belmonte ficou sabendo por Gonzaga Ferraz das tropelias do bando de Sinhô Pereira naquela região e da amizade e parentesco entre o chefe cangaceiro e Yoio Maroto e rumou sem demora a fazenda Cristóvão. Ao chegar, ao finalzinho da tarde o perverso oficial já mostra a que veio e começa o seu interrogatório, como de costume a base de boas chicotadas nos criados da fazenda que acudiam pelo nome de Zé Maniçoba e Zé Preto. Foi uma noite de terror para a honrada família que ouviam palavrões dos mais alarmantes por parte da soldadesca embriagada que humilharam Yoio Maroto por algumas vezes. O ex- cangaceiro Cajueiro disse a Dr. Amaury que a sua mãe só não morreu por um milagre de Deus. 



Continua...



Sousa Neto, Barro - Ceará
Pesquisador, escritor
Conselheiro Cariri Cangaço

Fazenda Ipueiras,Cenário de Histórias e Decisões Cangaceiras Por:Maria Thereza e Aristides Camargo

Maria Thereza Camargo e Neli Conceição no Cariri Cangaço 2013

Inspirados nos relatos apresentados por expositores, durante o Cariri cangaço 4 –,  em Setembro de 2013, evento sediado em Juazeiro do Norte CE, reunindo eminentes estudiosos de assuntos ligados à história do cangaço, procuramos desenvolver um texto relacionado aos episódios, os quais colocaram em evidência, nos idos de 1927, historicamente, a Fazenda Ipueiras. Localizada no município de Aurora, compreende área em pleno Cariri, num cenário de caatinga, este, um bioma tipicamente brasileiro. Todavia, colocamos em destaque Ipueiras, simplesmente, por ter sido ali, palco de inusitadas e históricas decisões vivenciadas num período efervescente do “coronelato”, com seus mandos e desmandos e as atividades do cangaço aterrorizante, protagonizado, em sua maioria, por sertanejos  injustiçados, jurando vingança.

Embora já conhecendo bastante do que já vem sendo escrito sobre os bandos de cangaceiros agindo por todo o sertão nordestino, imaginamos o quanto, ainda, se tem para ser elucidado, já passado quase um século dos acontecimentos, tendo como principal protagonista, Lampião, o rei cangaço e seu bando.


Conselheiro José Cícero e a primeira visita do Cariri Cangaço a Ipueiras

É natural que feitos históricos, com o passar do tempo, venham a inspirar obras literárias de cunho ficcional da realidade histórica, sobretudo, por cordelistas em seu dom inato de versejar. Todos, porém, com o mérito de manterem viva uma história real, de um passado que já vai longe e que o tempo vem mitifiando.

Porém, temos consciência de que, desvendar a realidade histórica de fatos que ocorreram em tempos passados, dos quais restam poucas fontes testemunhais, é tarefa, sem dúvida, difícil.  Neste sentido, sabemos que as fontes mais corretas a serem consultadas estejam em testemunhas da época que, direta ou indiretamente participaram ou tomaram conhecimento dos fatos em foco ou em documentos impressos – jornais, revistas, etc. – os quais passavam a circular, noticiando as ocorrências de interesse histórico.   Todavia, sabemos que tais meios de divulgação e depoimentos pessoais, representam fontes sujeitas a incorreções. Porém, esta, passíveis de comprovações a partir de novos documentos de época ou de novos depoimentos com remanescentes dos períodos vivenciados pelos fatos investigados, a fim de se chegar o mais próximo possível da realidade histórica.


Cel. Izaias Arruda

O presente texto não tem a pretensão de trazer à luz documentos mais esclarecedores, das ocorrências históricas, ainda por serem esclarecidas, se é que, ainda, as há, sobre os episódios ocorridos, por exemplo, na fazenda Ipueiras. Este, o local onde teria sido elaborado o fracassado plano para atacar Mossoró e, o mesmo local, de retorno de  Lampião e seu bando, onde os aguardava,  o fracassado plano visando o extermínio do rei do cangaço e seu bando. Plano de extermínio, arquitetado pelo mesmo coronel Izaias Arruda, aquele que os municiou, através para aquele frustrado ataque e que, naqueles primeiros dias do mês de Junho, tenta eliminá-los (Mello, 2011:82, 240).

O que nos inspirou a elaborar este texto foram os seguintes  quesitos:

1. Buscar em fontes documentais impressas – jornais e revistas – as notícias referentes à fazenda Ipueiras e seu envolvimento com o histórico assalto a Mossoró, no Rio Grande do Norte, ocorrido no mês de Junho de 1927. Para a pesquisa em jornais, optamos pelo Jornal O Estado de São  Paulo, visando conhecer como foram as notícias sobre aqueles fatos históricos, as quais via telégrafo, em tempo real, iam chegando à redação do mesmo.  Tais noticiários eram divulgados, ora  na coluna Notícias dos Estados, ora em local mais destacado, com o título O banditismo no Nordeste. Tal pesquisa visa, ainda, disponibilizar tais notícias para fins comparativos com outras fontes impressas – jornais e revistas – ou outras fontes apontadas por pesquisadores, conforme vão por eles mencionados em suas obras e, por nós, relacionadas no final do presente texto.

2. Cientes da possibilidade de que tais noticiários, já sejam do conhecimento dos experientes pesquisadores do cangaço, mas, possivelmente, não, de todos, sua apresentação aqui, visa, sobretudo,  despertar discussões, as mais abrangentes possíveis, em torno dos vibrantes temas relacionados ao fracassado assalto a Mossoró, no mês de Junho e ao retorno de Lampião e seu bando a Ipueiras, naqueles tumultuados primeiros dias de Julho de 1927.

3. Dar ênfase à posição geográfica em foco, abrangendo a região do Cariri cearense  envolvida pela caatinga, esse bioma exclusivamente brasileiros, encerrando  características próprias, importantes de serem preservadas o que, ainda, resta dela.

Além do jornal O Estado de São Paulo, o presente artigo recorreu a outras fontes, cujas referências vão destacadas no texto, na medida em que vão sendo citadas. Chamamos a atenção para as reticências, entre parênteses, substituindo trechos apagados devido ao envelhecimento do papel impresso, assim como substituem trechos das notícias que foram eliminados, por não focarem, exatamente, o que nos interessava transcrever.

Continua...

Maria Thereza Camargo,Etnofarmacobotânica, especialista em plantas medicinais na medicina popular no Brasil. ,
Aristides Camargo, Arquivista, especialista em patrimônio cultural brasileiro.

Festival RioMar de Literatura em sua segunda edição acontece em Pernambuco

Festival RioMar de Literatura Pernambucana anuncia programação

Na sua segunda edição, o festival homenageia o autor pernambucano Carneiro Vilela e traz palestras, debates, atrações musicais e teatrais gratuitos para o Teatro Eva Herz.

Nesta edição teremos as participações dos confrades Geraldo Ferraz e Frederico Pernambucano de Melo.


Alguns dos grandes nomes que fazem a cultura pernambucana estarão reunidos nos dias 25, 26 e 27 de março no Teatro Eva Herz da Livraria Cultura do RioMar com um propósito: celebrar a literatura e os escritores do nosso Estado. O II Festival RioMar de Literatura Pernambucana anuncia sua intensa programação com debates, palestras, música, e fecha os três dias de atividades com o espetáculo “O Amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas”, adaptação do livro “A Emparedada da Rua Nova”, obra-prima de Carneiro Vilela, o homenageado deste ano.

Além de ser conhecido por seu romance folhetinesco sobre a lenda urbana da mulher emparedada, o autor, foi fundador da Academia Pernambucana de Letras (APL), polêmico cronista, e tem uma relação quase mítica com o Recife. Ele será alvo de debates e palestras durante a programação do festival. Um dos destaques será a palestra da atual presidente da APL, Fátima Quintas, sobre Vilela, narrando curiosidades sobre a vida e obra deste que foi o primeiro presidente da casa, há mais de cem anos.


A abertura do festival fica por conta da Orquestra Criança Cidadã Meninos do Coque, com repertório de músicas regionais. Ao longo dos três dias, nomes como Antônio Campos, Frederico Pernambucano de Mello, Raimundo Carrero, Luzilá Gonçalves, Nelly Carvalho, entre outros expoentes marcarão presença. “Romances”, “Cordão de histórias: A literatura de cordel”, “A presença da Mulher na Literatura Pernambucana” são alguns dos painéis e debates em pauta.

O “new journalism” e a crítica literária também serão discutidos na mesa-redonda Jornalismo Literário: Para além do lead, com a participação dos jornalistas Marcelo Pereira, editor do Caderno C (JC), Schneider Carpeggiani (Jornal Pernambuco e Revista Cesárea), Talles Colatino, editor do caderno Programa (FP) e Felipe Torres, setorista literário do Diário de Pernambuco.

Geraldo Ferraz presença confirmada no II Festival RioMar

Integrando a programação do Festival, o espetáculo “O Amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas” já circulou por todo o País, através do Prêmio Myriam Muniz. A peça é inspirada no folhetim de Carneiro Vilela, “A emparedada da Rua Nova”. Na versão teatral da Trupe os elementos que renderiam um melodrama de circo ganham contorno paródico.  A peça já foi convidada por importantes festivais de teatro do país – Festival Recife do Teatro Nacional, Cena Contemporânea de Brasília, Porto Alegre em Cena, Festival Internacional de Artes Cênicas, em Caxias do Sul, dentre outros.

Serviço:

Festival RioMar de Literatura

Quando: 25 a 27 de março de 2014
Horário: a partir das 15h
Local: Teatro Eva Herz – Livraria Cultura do RioMar
Entrada gratuita

A Espanha de Toledo, Templários, Quixote e Cariri Cangaço Parte 2 Por:Manoel Severo

Universidade de Castilla La Mancha em Toledo 

Hoje trazemos a segunda parte de entrevista concedida pelo curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo, por ocasião de Conferencia na cidade de Toledo, em Castilla La Mancha, na Espanha, no último dia 26 de Fevereiro do corrente, concedida ao jornalista Pirro de Nijon.

Dom Quixote de La Mancha, de Castlla e de Cervantes

PN: Dr Severo, o Cariri Cangaço acontece na região nordeste do Brasil, tens desejo de levar as conferencias para fora do pais?

S: Certamente. O cangaço foi um dos fenômenos mais fortes acontecidos no nordeste do Brasil, é pura história, é um recorte que vale a pena não apenas ser contado, mas acima de tudo ser compreendido em toda a sua dimensão, capilaridade e repercussão; sem desejar fazer apologia ao banditismo ou à violência, mas acima de tudo, saber a verdadeira natureza de tão abrangente acontecimento. Então o Cariri Cangaço nasceu com o desejo de dá essa contribuição ao aprofundamento desse debate e levar para outros países, notadamente da América Latina e Península Ibérica, seria muito importante. Quem sabe não iniciamos pela Espanha, por Toledo? Os Cangaceiros invadiriam as terras do Cavaleiros Templários (risos).

 Pirro de Nijon, Manoel Severo, Dom Marciano Silva e Dom Adalberto

PN: Vamos torcer para ter o Cariri Cangaço na Europa (risos) . Dr Severo o senhor em uma resposta passada falava de Mito. Aqui mesmo em Castilla de La Mancha temos um personagem mundialmente conhecido e consagrado que é Dom Quixote,  Lampião também poderíamos dizer que viria a ser considerado um mito?

S: Dom Quixote de La Mancha. Encontrei inúmeros e maravilhosos monumentos em vários lugares aqui na região de Castilla, simplesmente sensacional; fruto do talento incomum deste que é um dos maiores escritores da historia da Espanha e do mundo: Miguel de Cervantes. Nem sei se vou conseguir responder sua pergunta sem me ater ao seu complemento. Lampião tornou-se um mito sim. Sem dúvidas perpetuado por todo o nordeste e Brasil; um personagem real que acabou povoando a mente e a imaginação de um cem numero de pessoas, inicialmente no sertão, principalmente a partir dos cantadores;uma espécie de menestrel ;e dos poetas de cordel, que eram poetas populares que se apresentavam em pequenas feiras das cidades e vilarejos, e depois a partir da vasta literatura sobre o mesmo; para você ter uma ideia, Lampião certamente está entre os três sul-americanos mais biografados do planeta, é algo realmente incrível. Então poderia concluir minha resposta dizendo que Dom Quixote sem dúvidas sai das paginas dos livros para encantar o mundo através da arte de Cervantes; já Lampião faz o trajeto inverso; de existência real, de uma vida cruel e violenta passa a personagem mítico da história.

PN: Voltando aos acontecimentos sobre a vida de Lampião que o senhor tão bem discorreu em sua conferência nessa tarde: Como se dava a relação desses cangaceiros com as mulheres, e o que dizer de Maria Bonita, sua companheira ?

Maria Bonita

S: As mulheres sempre estiveram presentes na vida dos cangaceiros. Na verdade esses homens pertenciam ao mesmo estrato social da maioria esmagadora dos jovens daquela vasta área rural brasileira; então esses cangaceiros eram os mesmos jovens que labutavam na agricultura, que cuidavam dos rebanhos de gados, que trabalhavam nos pequenos comercios, enfim. Depois de entrarem no cangaço, apesar da contínua vida de combates e fugas, mantinha ainda laços, embora esporádicos, com essas mesmas pessoas, e aí se encontravam os relacionamentos com as mocinhas do sertão. As mulheres entraram no cangaço em 1930, com a chegada de Maria Bonita ao bando, como companheira do líder maior, mas antes disso, haviam cangaceiros com namoradas, amantes, e as andanças nos bordéis de então... rsrsrs. Enfim...E Maria Bonita, a primeira dama do cangaço, encantou Lampião que acabou cedendo e a levando consigo, abrindo o espaço para que outros líderes de bando também pudessem acolher suas companheiras no grupo. Fala-se de quase quarenta mulheres que devem ter passado pelos vários bandos cangaceiros daquela época.  

Dom Marciano, Pedro e Gabriel Barbosa em Toledo, Universidade Castilla La Mancha 

PN: Maria Bonita era realmente digna desse cognome ?

S: As fotografias mostram uma morena de traços firmes , corpo bem desenhado, sorriso farto e bonito, a meu ver uma sertaneja como muitas outras sem encantos que chamem a atenção, mas sem dúvidas uma mulher de forte personalidade, basta ater-nos ao fato de ter "dominado" a fera que era Lampião.

PN: Dr. Severo, e o fim de Lampião e o fim do cangaço, como poderíamos analisar ?

S: As duas coisas estão intimamente ligadas; o fim do cangaço se consolidava a partir do fim de Lampião. O cangaço mantinha fortes ligações com as elites rurais nordestinas; não é difícil notar e comprovar a iminente ligação, preponderantemente de Lampião, com os coronéis de barranco do sertão nordestino. Essa ligações variavam de acordo com os interesses mútuos envolvidos, ou seja:Comercio de armas, gados, propriedades, perseguições a adversários políticos, proteção, etc etc etc; por muito tempo essa ligação rendeu frutos a ambas as partes, com advento da revolução de 1930 no Brasil , muita coisa começava a mudar no alto escalão poder central com o líder Getúlio Vargas e que sem dúvidas iriam repercutir em todo o Brasil, ali se delineou o ponto fundamental para o final do cangaço: O cangaço não era mais conveniente para os chefes politicos e à elite governante do sertão, então teria que ser extirpado do seio sertanejo e assim o foi.


Grota do Angico em Sergipe, nordeste do Brasil: local onde morreu Lampião

PN: Morreu Lampião na Gruta do Angico no rio São Francisco ?

S: É. Na verdade o correto seria na "grota do Angico" e não "gruta", Angico é o nome de um afluente do Rio São Francisco, e que também dava nome à fazenda onde Lampião e seu bando estavam "acoitados" no final do mês de julho de 1938, às margens do Rio São Francisco, no estado de Sergipe, hoje município de Poço Redondo, onde se deu o último ato do Rei do Cangaço e sua companheira Maria Bonita. Na madrugada do dia 28 de julho de 1938, as volantes comandadas pelo tenente João Bezerra haveriam de cercar boa parte do bando e ao nascer do dia o tiroteio intenso de 49 homens das volantes dariam fim a vida de Lampião, Maria Bonita e mais 9 componentes de seu bando, como também perderia a vida nesse episódio um soldado das forças públicas de nome Adrião. Ali havia sido dado o golpe fatal para o fim do cangaço; depois desse fatídico dia muitos outros líderes e membros de outros bandos acabaram se entregando até que em 1940 com a morte do segundo homem na hierarquia cangaceira; Corisco, o cangaço deu-se como findo.


PN: 20 anos de luta numa região tão árida e sob intensa pressão, pode se ter uma idéia do que pode ter sido o cangaço.


S: É verdade. Temos um grande pesquisador e documentarista brasileiro, Aderbal Nogueira que nunca perde a oportunidade de com muita lucidez nos lembrar que existem dois cangaços: Um muitas vezes exageradamente explorado de forma romântica pela literatura e um outro; real, duro, penoso e perverso, que muito sofrimento acabou trazendo para todos os envolvidos e principalmente para o povo ordeiro daquela região. O cangaço foi um fenômeno verdadeiramente marcante, pela sua longevidade, por suas origens, por suas repercussões e ainda por sua grande capilaridade, para você ver, atravessei o atlântico, chegamos até o velho mundo, e aqui estamos a falar sobre ele, sem dúvidas o cangaço é impressionante.



Manoel Severo e a Catedral de Toledo

PN: Já estamos chegando às 23 horas, o senhor deve estar cansado, agradecemos imensamente a entrevista, a gentileza , a forma cordata como realizou a conferência e depois aceitou em nos atender, enfim, sua mensagem final.

S: O tempo passou rápido, estamos falando de cangaço desde as 16 horas, (risos), primeiro na conferencia e depois nessa nossa conversa, mas nenhum cansaço, parece que quanto mais dissecamos o tema, mais temos a falar, e isso você pôde comprovar hoje. Quero agradecer a você, a todos os nossos anfitriões, aos estudantes, aos professores, ao público que com muita atenção; apesar de algumas dificuldades na tradução; nos acompanharam desde o inicio, enfim, e dizer de nossa grande satisfação em estar aqui e reforçar o que disse no inicio de nossa conferencia: Não sou um pesquisador nem tão pouco um historiador, sou um "curioso de carteirinha" que ao lado de uma grande família de amigos conseguimos construir esse Seminário chamado Cariri Cangaço. A você Pirro, o meu abraço e reconfirmo o convite a todos para estarmos juntos numa grande expedição Cariri Cangaço pelo sertão de Lampião.


PN: Dr Severo, o prazer foi nosso e vamos ver se conseguimos receber a liberação para ir ao Brasil conhecer de perto as terras de Lampião. Boa noite ao senhor e retorne sempre a Espanha.

Manoel Severo - Cariri Cangaço
Castilla de La Mancha, Toledo, Espanha

O "X" da Questão do Ataque de Lampião a Mossoró Por: Honório de Medeiros

Paulo Gastão, Honorio de Medeiros, Luitgarde, Carlos Santos e Franklin Jorge no Cariri Cangaço 2013

Aparentemente apenas dois personagens são protagonistas tanto da invasão de Apodi, por cangaceiros, em 10 de maio de 1927, quanto de Mossoró, em 13 de junho de 1927. Trinta e três dias separam uma da outra.Eles são o Coronel Isaías Arruda, Intendente de Missão Velha, no Cariri cearense, e o cangaceiro Massilon.

Qual a natureza da relação entre o Coronel e o Cangaceiro? Circunstancial ou decorrente de um planejamento? No que diz respeito ao Coronel sabemos que a invasão de Apodi somente lhe surgiu na mente quando foi procurado por Décio Hollanda para ajuda-lo nesse propósito. Não há qualquer registro de interesse seu quanto ao Rio Grande do Norte anterior a esse contato.

E quanto à invasão de Mossoró, sabemos que essa idéia lhe foi apresentada após o retorno de Massilon da invasão de Apodi, apesar da opinião de Sérgio Dantas, calcado em Raul Fernandes, no sentido de que o Coronel tinha seus olhos voltados para a riqueza da segunda maior cidade do Rio Grande do Norte.E o sabemos em primeiro lugar porque o Coronel não chamara Lampião às suas terras. Lampião lá apareceu inesperadamente, conforme nos demonstra, com precisão, o próprio Sérgio Dantas. E o sabemos também porque não há registro de qualquer atividade anterior do Coronel em promover essa “indústria” da invasão de cidades em busca de lucro.

Massilon

Por fim, podemos inferir essa hipótese com base na seguinte cadeia de raciocínio: se ele não tivesse sido procurado para ajudar na invasão de Apodi, não teria conhecido Massilon; se não tivesse conhecido Massilon não haveria o ataque a Mossoró. Então tudo leva a crer, em uma primeira análise, ao se observar a balança na qual estão postados os argumentos, no fator circunstancial, quanto ao Coronel, enquanto não encontramos qualquer indício que aponte para um planejamento anterior no sentido de atacar Mossoró.

Se circunstancial, então o papel do Coronel nas duas invasões foi de somenos importância, limitando-se a arranjar jagunços, armas, munição e, talvez, animais para as duas invasões, e a convencer Lampião a participar do ataque a Mossoró. Coube, aqui, para empreender esse raciocínio, usar a Navalha de Ockham. Entretanto se essa participação do Coronel foi circunstancial cabe, agora, perguntar o seguinte: o ataque a Apodi e Mossoró, no espaço de trinta e três dias, foi, também, circunstancial ou havia um nexo entre eles, anterior ao próprio ataque?

Izaias Arruda

Quanto à existência do nexo existem os seguintes fortes indícios:
(i) a correspondência de Argemiro Liberato avisando previamente do ataque;
(ii) o aviso do Coronel Chico Pinto ao Coronel Rodolpho Fernandes após a invasão de Apodi e antes de Mossoró;
(iii) a menção ao projeto do ataque a Mossoró feito por jornal da cidade;
(iv) a presença, tendo em vista seu passado, nos dois ataques, enquanto protagonista, de Massilon.

Se assim o é, então a idéia de atacar Apodi e Mossoró já existia antes dos ataques serem realizados. Quanto à invasão de Apodi, não existem dúvidas em relação a sua natureza política. Teria o ataque a Mossoró também a mesma finalidade? Mais: se o ataque a Apodi tinha natureza política, e o ataque a Mossoró também o tinha, o que se conclui quando sabemos que no primeiro caso o objetivo era o Coronel Chico Pinto? Obviamente que o ataque a Mossoró queria atingir, por sua vez, o Coronel Rodolpho Fernandes.

Se decorrente de um planejamento, então como explicar esse liame entre as invasões? Se o há, necessariamente passa pelo único personagem cuja presença nos dois ataques não foi circunstancial: Massilon. Nesse caso somente a história de Massilon anterior aos fatos pode explicar o ataque a Mossoró. Suas relações, seus antecedentes, sua geografia.

Esse é o “x” da questão.

Honório de Medeiros
Pesquisador, escritor, sócio da SBEC
Conselheiro Cariri Cangaço

www.honoriodemedeiros.com

A Guerra de Princesa Por:Mardson Medeiros.

Grupo de revoltosos, em Princesa, com o coronel
José Pereira (ele é o 3º da esquerda para a direita, com um boné à mão)."

No dia 22 de outubro de 1928, na qualidade de presidente (governador) do estado da Paraíba, assumiu o governo Dr. João Pessoa Cavalcante de Albuquerque.Com data de 11 de outubro de 1929, o presidente João Pessoa declarava ao jornal "A União" da capital paraibana:

"Logo que assumi o governo, verifiquei que tudo estava enfeudado às chefias políticas. O chefe político arrecadava e dispunha, como bem entendia, das receitas públicas. Tributava e não era tributado. Fazia justiça, mas não se deixava justiçar. Tornava-se, como se vê, um elemento pernicioso".



Com referido depoimento, pretendia* "implementar mudanças 'modernas' (...). A bandeira de seu governo era passar 'uma vassoura nova' para limpar o Estado. E com este pensamento, implementou uma política sistemática de desprestígio dos chefes políticos (ou coronéis) dos municípios, que eram, segundo o presidente de estado, os principais responsáveis pelos abusos e, consequentemente, pelo atraso do estado".

Combatentes da guerra de Princesa

No dia 19 de fevereiro de 1930, o presidente do estado da Paraíba, João Pessoa, na tentativa de contornar uma crise política provocada pela divergência na composição da chapa para deputado federal, viaja à Princesa. A chapa para deputado federal fora publicada a 18 de fevereiro de 1930, no jornal "A União". O presidente é recebido com festa. Por falta de habilidade política, o presidente João Pessoa e o "coronel" José Pereira, chefe político princesense, não encontraram um denominador comum. O "coronel" José Pereira rompe com o presidente da Paraíba. E com o apoio dos Pessoa de Queirós ( os irmãos José e João Pessoa de Queirós), primos do presidente João Pessoa e donos de um grande empório industrial, jornalístico (Jornal do Commércio) e mercantil (João Pessoa de Queirós e Cia.), no Recife, rebelou-se contra o governo estadual.

Com data de 22 de fevereiro de 1930, o "coronel" José Pereira rompe oficialmente com o governo do Estado, através do telegrama n.º 52.

"Dr. João Pessoa - Acabo de reunir amigos e correligionários aos quais informei do lançamento da chapa federal. Todos acordaram mesmo que V. Excia., escolhendo candidatos à revelia Comissão Executiva, caracteriza palpável desrespeito aos respectivos membros. A indisciplina partidária que ressumbra do ato de V. Excia, inspirador de desconfianças no seio do epitacismo, ameaça de esquecimento os mais relevantes serviços dos devotados à causa do partido. Semelhante conduta aberra dos princípios do partido, cuja orientação muito diferia da atual, adotada singularmente por V. Excia. Esse divórcio afasta os compromissos velhos baluartes da vitória de 1915 para com os princípios deste partido que V. Excia. Acaba de falsear. Por isso tudo delibero adotar a chapa nacional, concedendo liberdade a meus amigos para usarem direito voto consoante lhes ditar opinião, comprometendo-me ainda defendê-los se qualquer ato de violência do governo atentar contra direito assegurado Constituição. Saudações (a) José Pereira".

José Pereira Lima, nasceu na Vila de Princesa, em 04 de dezembro de 1884, e faleceu em 13 de novembro de 1949, com 65 anos de idade, na capital pernambucana. Filho de Marcolino Pereira Lima e Águida de Andrade Lima. Iniciou seus estudos em Princesa, transferiu-se para o Colégio Diocesano da Paraíba, e, já na Faculdade de Direito, em Recife, teve que abandonar os estudos, em 1905, para assumir, em substituição ao seu pai, que morrera, a chefia política da região.


No dia 24 de fevereiro de 1930, o presidente João Pessoa, visando desestabilizar o poder de mando do "coronel", retira os funcionários do Estado, lotados em Princesa; quase todos os parentes do "coronel", e exonera o prefeito José Frazão de Medeiros Lima, o vice-prefeito Glicério Florentino Diniz e o adjunto de promotor Manoel Medeiros Lima, indicados pelo oligarca princesense. O juiz Clímaco Xavier abandonou a cidade por falta de garantias. O jornal "A União" de 28 de fevereiro de 1930, trazia decretos de exoneração do sub-delegado de Tavares, Belém, Alagoa Nova (Manaíra) e São José, distritos de Princesa na época.


A respeito da retirada dos funcionários estaduais de Princesa no dia 24 de fevereiro de 1930, o presidente do Estado da Paraíba, João Pessoa, enviou telegrama ao presidente da República, Sr. Washington Luiz:

"Assim procedi, primeiro porque a polícia não podia assistir inactiva a invasão da cidade por faccínoras armados..." (publicado no jornal "A União" de 7 de março de 1930).

No dia 27 de fevereiro de 1930, o "coronel" José Pereira dirigiu ao Sr. Odilon Nicolau a seguinte carta:

"Amigo Odilon Nicolau, o meu abraço. O governo tem feito grande pressão aos eleitores e sei agora que têm sido espancados vários correligionários da Causa Nacional. Como você já deve saber, rompi com o governo de João Pessoa e estou disposto a garantir os nossos amigos, para o que envio vários contingentes.
O meu pessoal não tocará em ninguém, salve se for agredido. Havendo de provocar a intervenção, pois estou disposto a ocupar todos os municípios do Sul do Estado. O mesmo se fará no Norte com outra força comandada por pessoa em evidência no Estado.

Penso ter direito e bem razão em lhe convidar para esta luta, porque as minhas relações com você e sua família, me animam a assim proceder. Não me engane porque a luta está amparada pelos próceres da política nacional. João Pessoa está ilegalmente no governo, logo depois da eleição, dado o movimento, o Governo Federal tomará conhecimento dos atos absurdos e inconstitucionais praticados por ele. 
Venha e não se receie. Do velho amigo, 
José Pereira Lima. Princesa, 27 de fevereiro de 1930".


Casa do Cel José Pereira em Princesa na década de 30

A polícia do Estado ocupa Texeira-Pb., sob o comando dos capitães João da Costa e Irineu Rangel. No mesmo dia parte das tropas do "coronel" José Pereira segue para Teixeira e trava o primeiro combate da chamada guerra de Princesa. 
O "coronel" José Pereira tinha armas em quantidade recebidas do próprio governo estadual, em gestões anteriores, para enfrentar o bando de Lampião e mais tarde a Coluna Prestes. 

O Governo do Estado não conseguiu invadir Princesa, apesar do Quartel General da Polícia Militar, em Piancó-Pb, ter planejado e executado o cerco na região.

No dia 24 de março de 1930, 150 homens enviados pelo chefe princesense lutaram 10 horas e conseguiram expulsar os invasores e libertar os prisioneiros. 
Com o rompimento oficial do "coronel" José Pereira em 22 de fevereiro de 1930 no município de Princesa, a justiça deixou de funcionar, as aulas foram interrompidas e foi suspensa a arrecadação de impostos. 
No dia 14 de março de 1930, o "Jornal do Commércio" do Recife publicava o manifesto do "coronel" José Pereira ao povo brasileiro. 
O presidente João Pessoa, com a finalidade de municiar a política do Estado, pede ao Ministro da Guerra, Nestor Passos, "autorização para importar da França, cem mil cartuchos, para fuzil Mauzer", em 8 de abril de 1930. A autorização foi negada.


João Pessoa

O Governo do Estado prepara o golpe que supunha fatal e envia à Princesa duzentos e vinte homens em doze caminhões e farta munição sob o comando do tenente Francisco Genésio, e, pasmem, para espanto dos leigos e estrategistas, um feiticeiro que "benzia a estrada, a cada parada, dizendo: 

'Vamos pegar Zé Pereira à unha!'. 

Os soldados sentiam-se mais protegidos e aplaudiam com entusiasmo o novo protetor, pois com ele estariam imunes às balas. Não foi o que aconteceu. Ao chegarem ao povoado de Água Branca, no dia 5 de junho de 1930*, foram recebidos à bala, numa emboscada fulminante (...). O primeiro a ser atingido, com um tiro na testa, foi o feiticeiro"**. Os caminhões foram queimados; quem não conseguiu fugir, morreu; inclusive o tenente Francisco Genésio(...). Mais de cem mortos e quarenta feridos.

Com a assinatura do deputado estadual e chefe dos revoltosos, "coronel" José Pereira, do Prefeito Municipal, José Frazão de Medeiros Lima, do presidente da câmara dos vereadores, Manoel Rodrigues Sinhô e do vereador Antônio Cordeiro Florentino, foi publicada na primeira página do "JORNAL DE PRINCEZA", do dia 21 de junho de 1930, o Decreto n.º 01, proclamando autonomia político-administrativa em relação ao governo Estadual, porém subordinado politicamente ao poder político federal, cujo texto transcrevemos a seguir:

"Decreta e proclama provisoriamente a independência do município de Princesa, separada do Estado da Paraíba, e estabelece a forma pela qual deve ele se reger. A administração provisória do Território de Princesa, instituída por aclamação popular, decreta e proclama a Resolução seguinte:

ART. I - Fica decretada e proclamada provisoriamente a independência do município de Princesa, deixando o mesmo de fazer parte do Estado da Paraíba, do qual está separado desde 28 de fevereiro do corrente ano.

ART. II - Passa o município de Princesa, constituir com seus limites atuais, um território livre que terá a denominação de Território de Princesa.

ART. III - O Território de Princesa assim constituído permanece subordinado politicamente ao poder público federal, conforme se acha estabelecido na Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil.

ART. IV - Enquanto pelos meios populares não se fizer a sua organização legal, será o Território regido pela administração provisória do mesmo território. Cidade de Princesa, em 09 de junho de 1930".




O texto, na íntegra, foi lido no expediente do Senado, no dia 13 de junho do mesmo ano, pelo Senador Melo Viana, e na Câmara Federal o Dep. paraibano Flávio Ribeiro Coutinho exibia um exemplar 
do "JORNAL DE PRINCEZA". 
No dia 18 de junho de 1930, o jornal da capital paraibana 

"A União", publicava:
"... Para Clovis Bevilcqua, como para Paulo Lacerda, como para todos os jurisconsultos pátrios que se hão manifestado sobre o caso, o desmembramento de um território ou parte de um Estado é contrário ao texto da Constituição Federal, por isso que esta, em seu artigo 4º, se refere a Estados e ao modo porque podem subdividir-se, annexar-se, a outros ou formar novos Estados, desmembramento que, além disso, só se pode admitir por acto administrativo. 
Donde se infere, pela licção dos dois insignes mestres, que a constituição de Princesa em território livre ou autônomo não passa, como disse Paulo de Lacerda, em tom faceto, de uma verdadeira patusca".

Princesa ganhou projeção nacional e internacional. Tinha suas próprias leis, seu hino, sua bandeira, seu jornal, seus ministros e seu exército. Até Lampião, foi convidado pelo delegado de polícia de Piancó, para lutar contra os revoltosos de Princesa, e, o conceituado órgão da imprensa norte-americana, TIME, dedicou uma longa matéria a respeito do Território Livre de Princesa. 
No dia 6 de junho de 1930 o Governo do Estado tentou nova investida contra a cidade rebelde. Enviou do Quartel General da Polícia Militar, em Piancó, um avião pilotado pelo italiano Peroni, com a missão de lançar panfletos, concitando o povo a abandonar a luta, senão a cidade seria bombardeada dentro de 24 horas. O panfleto trazia a seguinte mensagem:

"O governo da Paraíba intima-vos a entregar as vossas armas. Vossas vidas serão garantidas, dando o governo liberdade aos que não respondem por outros crimes. Convém ouvir a palavra do governo. Deveis apresentar-vos aos nossos oficiais. Dentro de 24 horas Princesa será bombardeada pelos aeroplanos da polícia e tudo será arrasado. Evitai o vosso sacrifício inútil. Ainda é tempo de salvar-vos. Não vos enganeis; vossos chefes estão inteiramente perdidos".
O bombardeio não veio. A missão falhou.

Marcolino Diniz e tropa por ocasião da Revolta de Princesa

Com data de 22 de maio de 1930, o jornal do governo 
"A União" publicava:
"As deserções entre os ladrões e assassinos do traidor José Pereira aumentam diariamente, principalmente agora que elles já sabem que o reducto central do seu chefe poderá ser transformado em um montão de ruínas, dentro de poucos minutos pela esquadrilha aérea da Força Pública" .

E como resposta a ameaça de Princesa ser bombardeada, veio a reação do "coronel" José Pereira, que continuava dono da situação, e, com suas colunas de guerrilheiros fustigava várias cidades do Estado da Paraíba, na tentativa de atemorizar as tropas da polícia.

Mas a luta perde sua razão de ser. O "coronel" José Pereira queria afastar o presidente João Pessoa do governo, porém, o advogado João Duarte Dantas, por motivos pessoais/políticos, assassinou o presidente do Estado da Paraíba, na confeitaria Glória, no Recife, às 17 horas do dia 26 de julho de 1930.

Com a morte do presidente João Pessoa, o movimento armado de Princesa tomou novo rumo. "(...) os homens de José Pereira comemoraram a vitória, mas o 'coronel', pensativo, disse: 'Perdemos...! Perdi o gosto da luta'. Já prevendo os acontecimentos futuros, decorrentes da morte do governador, falou: 'Os ânimos agora vão se acirrar contra mim'. Os paraibanos ficaram chocados com o assassinato de João Pessoa (a partir daí criou-se todo um mito), e, em retaliação, perseguiram e incendiaram as casas dos perrepistas na capital".

O Presidente da República, Washington Luiz, decidiu terminar com a Revolta de Princesa e o "coronel" José Pereira não ofereceu resistência, conforme acordo prévio, quando seiscentos soldados do 19º e 21º Batalhão de Caçadores do Exército, comandados pelo Capitão João Facó, ocuparam a cidade em 11 de agosto de 1930.

José Pereira deixa a cidade no dia 5 de outubro de 1930. Depois de anistiado, em 1934, foi residir na fazenda "Abóboras" em Serra Talhada.

No dia 29 de outubro de 1930, a Polícia Estadual, que não conseguira vencer a insurreição durante a luta, ocupa a cidade de Princesa com trezentos e sessenta soldados comandados pelo Capitão Emerson Benjamim, passando a perseguir os que lutaram para defender a cidade ameaçada, humilhando e torturando os que foram presos sem direito a defesa. Uma triste condecoração para os rudes sertanejos que com bravura participaram de uma luta improvisada, e que teve um balanço final, aproximadamente, de seiscentos mortos.* grifos meus (do autor)
** inserções feitas a partir de "Signos em confronto: o arcaico e o moderno na Princesa (PB) dos anos vinte", Serioja Rodrigues C. Mariano

Texto adaptado de "Princesa Antes e Depois de 30", Paulo Mariano, por Mardson Medeiros.
Fonte: http://www.princesapb.com/revoluc1.htm