Programação Cariri Cangaço Piranhas 2015

Cariri Cangaço Piranhas 2015

25 de Julho - Sábado

19:30hs Centro Cultural Miguel Arcanjo
Apresentação da Filarmônica Mestre Elísio
Formação da Mesa de Autoridades
Representantes de Sociedades e Grupos de Estudos
 Hino Nacional
Abertura Oficial Entrega de Diplomas Cariri Cangaço

20:00hs Palestra: Piranhas e sua Historia 
Deputado Estadual e Pesquisador
INÁCIO LOIOLA DAMASCENO FREITAS

21:00hs  Apresentação Cultural do GMAP
 Grupo Musical Armorial de Piranhas 

26 de Julho - Domingo

7:30hs Saída para Maranduba
Poço Redondo
9:00hs O Fogo da Maranduba
MANOEL SEVERO BARBOSA

11:00hs Inauguração
MEMORIAL ALCINO ALVES COSTA
Poço Redondo
Palestra: O Cangaço e o Legado de Alcino Alves Costa
ARCHIMEDES MARQUES

13:00hs Almoço em Poço Redondo
Apresentações Culturais
14:00hs Retorno para Piranhas.

15:00hs Palácio Dom Pedro II - Prefeitura Municipal 
Um Estudo Multidisciplinar sobre o Cangaceirismo
LAMARTINE ANDRADE LIMA
 LANÇAMENTO DO PROJETO DE RESTAURAÇÃO DAS ESCADARIAS
IPHAN 
Apresentação do Roteiro da Invasão dos Cangaceiros 
Trajeto pelas ruas de Piranhas
JOÃO DE SOUSA LIMA
INÁCIO DE LOIOLA

Centro Cultural Miguel Arcanjo

19:20hs Lançamento: - "Água Branca - Historia e Memoria"
EDVALDO FEITOSA
19:30hs Lançamento: - "Fim do Cangaço - As Entregas"
LUIZ RUBEN

19:40hs Painel: Corrupção na Época do Cangaço
JORGE REMIGIO
NARCISO DIAS
SOUSA NETO

20:30hs Palestra: Cinema e História do Cangaço
ANTONIO FERNANDO DE ARAUJO SÁ
VERA FERREIRA

21:30hs Centro Histórico
Teatro do Cordel da Rabeca
O Amor de Filipe e Maria e a Peleja de Zerramo e Lampião


27 de Julho - Segunda

8:00hs Fazenda Picos
Mapeamento da Rota dos Cangaceiros para Invasão de Piranhas 
8:30hs Fazenda Pau de Arara
  Contextualização Histórico-Geográfica da Invasão
INÁCIO DE LOIOLA DAMASCENO FREITAS
10:30hs Fazenda Cachoeirinha
Ataque a Cachoeirinha 

Instituto Federal de Alagoas - IFAL
11:45hs Palestra: Uma Viagem Fotografica pelo Cangaço 
IVANILDO SILVEIRA
KIKO MONTEIRO

12:30hs Almoço no IFAL
14:00hs Painel: A Vingança de Corisco no Palco dos Inocentes
CELSO RODRIGUES
ANTONIO AMAURY
SÍLVIO BULHÕES

15:00hs Homenagem a Família de Domingos Ventura
LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL DA RESTAURAÇÃO 
Fazenda Patos

15:30hs Rasga Bode
16:30hs Retorno à Piranhas

Centro Cultural Miguel Arcanjo

19:20hs Lançamento: - "Piranhas - No Tempo do Cangaço"
GILMAR TEIXEIRA

19:30hs Painel: Arqueologia do Cangaço
 Apresentação das Repercussões e Primeiros Resultados 
LEANDRO DOMINGUES DURAN

20:30hs Painel: A Sexualidade nos Tempos do Cangaço
WESCLEY RODRIGUES
JULIANA PEREIRA
ADERBAL NOGUEIRA


28 de Julho - Terça feira

9:00hs Missa do Cangaço
Sociedade do Cangaço
VERA FERREIRA
Grota do Angico - Poço Redondo

13:00hs Passeio pelos Canyons do São Francisco
Encerramento no Karrancas


Cariri Cangaço Piranhas 2015

Realização:
Prefeitura Municipal de Piranhas
Secretaria de Turismo e Cultura de Piranhas
Instituto Cariri do Brasil

Apoio:
SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
Sociedade do Cangaço
GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará
GPEC - Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço


Cariri Cangaço do Brasil

Poço Redondo o Verdadeiro Museu do Cangaço Por:Rangel Alves da Costa

A arte de Caribé

Lampião e seu bando percorreram quase o Nordeste inteiro. Em cada lugar a cangaceirama deixou marcas de sua passagem. Contudo, em estados como Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas, a presença foi mais constante, principalmente pela teia de protetores e apoiadores que Lampião teceu com maestria.
Do mesmo modo, alguns municípios e povoações receberam a visita do bando com mais constância. Os sertões dos referidos estados eram frequentemente percorridos pelo bando e, consequentemente, pela volante no encalço. Contudo, mesmo que as refregas e perseguições não permitissem que o bando se demorasse em determinado em local, certamente que Lampião tinha suas predileções.

Desde os testemunhos orais aos relatos dos historiadores, firmou-se o entendimento de que Lampião sempre gostou de bandear para o sertão sergipano. A verdade é que o Capitão se sentia bem na proximidade de amigos como o Coronel João Maria de Carvalho (da Serra Negra, município baiano vizinho a Poço Redondo) e Teotônio Alves China, o China do Poço. Certamente não acoitava aos pés dos serrotes baianos por causa de Zé Rufino e seu quartel-general também na Serra Negra. Então permanecia nas terras de Poço Redondo.


Lampião certamente gostava de se amoitar na região limítrofe entre o Velho Chico e as montanhas e carrascais sertanejos. Ficava, a um só tempo, perto do caminho das águas e das veredas espinhentas mais adiante. E a Gruta do Angico é assim, de um lado a então grandeza do rio e do outro e arredores a selva de catingueiras, facheiros, umburanas, mandacarus e xiquexiques. E a gruta ou grota fica, pois, entre serras dessa brutal e encantadora paisagem.

Outro fator de relevância para a predileção pelo sertão sergipano está também no grande número de coiteiros da região. Pedro de Cândido, suposto delator de Lampião, era coiteiro filho da dona da Fazenda Angico, Dona Guilhermina. Durval, então aprendiz na lide da serventia aos homens das caatingas, também era filho da proprietária. E pelos arredores os préstimos de outros sertanejos como Mané Félix e Messias Caduda, dentre muitos outros.

Arte de Caribé

Há relatos afirmando que Lampião se sentia em casa na região de Poço Redondo. Quando deixou as distâncias hostis e esturricantes do Raso da Catarina, no sertão baiano, o Capitão dizia abertamente que não via a hora de chegar logo ao Angico para um repouso mais demorado. Estava muito cansado, sem dúvidas, pois já chegando aos vinte anos de luta pisando em sangue, com quase toda uma vida vivida na mira do mundo.
Dizem até que houve premeditação na escolha do Angico. Além do cansaço da luta, também estava de alma cansada. Nesta última fase da vida, o Lampião já era outro homem buscando o seu destino. Já não era o feroz comandante, mas apenas o homem compreendendo a si mesmo. Estava mais apegado às coisas sagradas, mais tomado de fé, mais reflexivo. E também muito mais entristecido. Não suportava mais viver aquela desdita na vida.

O que aconteceria a 28 de Julho, quando os homens comandados por João Bezerra se fizeram de vaga-lumes no cerco ao bando para chaciná-lo, assemelha-se muito mais a uma consequência a uma fatalidade. Ora, o cangaço estava destinado a morrer ali. Lampião não queria mais combater, mas apenas sobreviver. Lampião não queria mais um fogo na sua vida, mas tão somente um destino de um homem qualquer. Mas também sabia que era impossível. Daí o sofrimento de Virgulino. O Virgulino triste pela alma sofrida de Lampião.


E todo o desfecho da saga se deu nas terras sertanejas do Poço Redondo. E não há outra localidade nordestina onde o cangaço se fez tão presente. Mais de duas dezenas de poço-redondenses se tornaram cangaceiros do bando do Capitão. Coiteiros, fazendeiros, pessoas influentes de então, todos indistintamente serviram à cangaceirama. Por fim, há o cenário maior de toda a história do cangaço: a Gruta do Angico.

Portanto, cada município ou estado nordestino tem o direito de chamar para si o reconhecimento e as homenagens ao Capitão e seu bando, mas o verdadeiro museu do cangaço está mesmo em Poço Redondo, não entre paredes e objetos cangaceiros, mas na história viva, nos cenários e paisagens que falam por si mesmos. Não só no Angico, mas também na Maranduba e outros arredores de fogo e sangue.

Rangel Alves da Costa
Poeta e cronista

E de 25 a 28 de Julho, Poço Redondo no
Cariri Cangaço Piranhas 2015

A Arte de Liara Leite Por Frederico Pernambucano de Mello


Conheço a produção de arte de Liara Leite não é de hoje. Os pés fincados nas melhores fontes da criação popular, levantada com apuro em pesquisas que conduz sem detença, anos a fio, atualizando-as em viagens por todo o Nordeste. Mas aí reside apenas o ponto de partida de que se serve como mulher situada: uma brasileira do Ceará, consciente do espaço de referências que a envolve. Ricas referências, diga-se de passagem, de que o Nordeste é pródigo. 

A cabeça segue sendo a de artista comprometida com as motivações do cotidiano, dispondo de universo íntimo, visitando sem disfarce a contemporaneidade, às voltas com tudo aquilo que confere individualidade à obra concebida. A marca da criação pessoal. Parte, assim, da melhor tradição popular regional, mas não se detém a copiar passivamente o que lhe chega da pesquisa, atitude que a converteria nesse monstrengo que é o falso artista popular, a sorrir com dentadura postiça.

Liara é, assim, de um modo muito seu e muito consciente, uma artista de hoje, que sabe - com Gilberto Freyre - que a modernidade não exclui a tradição, antes a orienta. E confere a densidade das coisas que ficam.É assim a arte de Liara. Foi dessa maneira que aprendi a apreciar o traço inconfundível que confere a quanta proposta estética sai das suas mãos e de seu universo íntimo, esteja ela onde estiver. 

Frederico Pernambucano de Mello
Pesquisador e Escritor
Recife-Pernambuco

A Morte de Antônio Ferreira chega ao Cariri Cangaço Floresta Por:João de Sousa Lima

João de Sousa Lima comanda a Caravana Cariri Cangaço no Poço do Ferro

Dia 19 de abril de 2015, saí de Paulo Afonso na companhia dos amigos Josué Santana e Leide Soares, para nos encontrarmos com o casal de amigos Marcos de Carmelita e a professora Silvana, residentes na cidade de Floresta, Pernambuco, onde iriamos realizar uma visita técnica para registrar mais um dos pontos históricos que farão parte dos roteiros apresentados durante o evento Cariri Cangaço, encabeçado por seu curador, Manoel Severo. A pesquisa de campo teve como objetivo o mapeamento geográfico e histórico de um dos mais importantes fatos que marcam as histórias do cangaço na região pernambucana.

Um dos pontos mais visitados por Lampião e seus cangaceiros foi a fazenda Poço do Ferro, de propriedade do coronel Ângelo da Gia. A fazenda, na época do cangaço, pertencia a cidade de Floresta e hoje pertence a Ibimirim. A fazenda não teria tanta importância para os pesquisadores do cangaço se lá tivesse sido apenas mais um dos inúmeros coitos dos cangaceiros. Nessa fazenda o Rei do Cangaço perdeu seu irmão Antônio Ferreira. Dirigimo-nos para Poço do Ferro, sendo guiado por Marcos de Carmelita, porém sem conhecermos ninguém da localidade, assim como parentes que ainda residem por lá.
Quando avistamos a pequena placa com o nome da fazenda, paramos em uma cancela, abrimos e seguimos a estreita estrada. Mais a frente encontramos um casebre onde reside o senhor João David da Silva, sua esposa Maria das Graças e os filhos Joaquim e Graziela. O João David nos recepcionou, serviu água e nos levou ao lugar onde foi enterrado o Antônio Ferreira.

 
Uma pequena formação de pedras e uma cruz marca o local da sepultura.
 Marcos de Carmelita, João de Sousa Lima e Josué sendo recebidos pelos descendentes de Angelo da Gia

Fizemos algumas fotos e fomos até a casa grande da fazenda, onde estavam  neta, bisnetos e trinetos de Ângelo Gomes de Lima, o Ângelo da Gia. Na casa grande fomos recebidos por Washington Gomes de Lima, bisneto do coronel. Um fato interessante é que disseram que não seriamos bem recebidos pela família e confesso que de todos esses anos de pesquisas e entrevistas, nunca tive uma receptividade tão calorosa como a que recebemos da família.

Travamos um diálogo em uma festiva roda de conversas, tendo por depoentes a neta do coronel e matriarca da família, a senhora Eunice Gomes  Lima e suas filhas Ruth Gomes Lima Laranjeira e Maria do Socorro Gomes Lima Cordeiro e ainda, do trineto João Vítor Gomes Lima. As histórias foram muitas mais sempre voltávamos ao episódio principal: a morte de Antônio Ferreira e a perseguição sofrida pela família e imposta pelas volantes policiais.

 Ângelo da Gia e a Caravana Cariri Cangaço na casa grande da fazenda...

Uma das informações importantes nos forneceu Washington que contou que dois dias depois da morte de Antônio, uma volante chegou na fazenda Poço do ferro, descobriu o túmulo do cangaceiro morto, desenterrou-o e cortou a cabeça e colocou em uma estaca da porteira do curral do casarão do coronel. Quando a polícia saiu o coronel mandou enterrar a cabeça no antigo cemitério da família. Antônio Ferreira tem, portanto dois túmulos, sendo um para o corpo e outro pra cabeça.

Virgulino e Antônio Ferrreira

Em janeiro de 1927, Antônio Ferreira, Jurema e mais alguns cangaceiros estavam jogando baralho na fazenda Poço do Ferro, enquanto Luiz Pedro descansava em uma rede. Antonio pediu pra ficar um pouco na rede pois Luiz já fazia tempo que estava deitado. Quando Luiz Pedro tentou levantar da rede apoiando a coronha do mosquetão no chão, apoiou com força e na batida a arma disparou atingindo mortalmente Antônio. Lampião estava na Serra Negra e quando foi avisado correu pra saber da verdadeira história. O próprio coronel Ângelo da Gia contou que a morte havia sido de “SUCESSO” (termo que servia para designar  um acidente). O cangaceiro Jararaca queria matar Luiz Pedro e os outros que estavam no lugar, Lampião não aceitou e por isso discutiram e Jararaca deixou a companhia de Lampião e seguiu outro rumo.

 Locais onde foi morto Antônio Ferreira e porteira onde sua cabeça foi exposta...
    
Fala-se que foi ai o juramento que Luiz Pedro fez dizendo que seguiria Lampião até sua morte. Se verdade ou não a promessa, eles morreram juntos na fria manhã do dia 28 de julho de 1938. Na fazenda Poço do Ferro ainda restam as velhas pedras escuras que circundam covas das pessoas de várias gerações da família e duas dessa simbolizam a passagem do cangaço em suas terras.

No final da conversa nos convidaram para um farto almoço regado a galinha cabidela, bode assado, arroz e feijão de corda. Porém o que mais me marcou nessa visita foram os sorrisos dos membros da família, que mesmo tendo sofrido os abusos e as injustiças de uma época tão marcada pela violência, não perderam suas essências de sertanejos valorosos e, sabem como poucos, receber calorosamente, aos que buscam os filetes de suas memórias históricas... Dona Eunice, Washington, Ruth, Maria Socorro e João Vítor, Deus proteja sempre vocês.

João de Sousa Lima, Historiador e escritor
Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso
Membro da SBEC- Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
Conselheiro Cariri Cangaço

E de 25 a 28 de Julho
Cariri Cangaço Piranhas 2015


Um Dedo a mais de Prosa sobre Lampião Por:José Cícero Silva

Arte de Carlão

Muito já se sabe sobre a história de Lampião em seus quase 20 anos de intensas estripulias pelos sertões de sete estados nordestinos. Porém, ao contrário daquilo que muitos ainda imaginam, inclusive bons pesquisadores e outros “escribas livrescos”,  há muito ainda a ser desvendado e escrito acerca da saga lampiônica pelos grotões sertanejos do Nordeste.

Informações fundamentais para que se consiga de uma vez por todas, compreender tal história e assim, fechar-se o imenso círculo do subjetivismo narrativo de toda esta complexa empreitada de quatro décadas chamada Cangaço.

De longe o mais importante fenômeno social já ocorrido nos sertões nordestinos  que teve na figura humana e singular de Virgulino Ferreira da Silva – o Lampião, o seu principal protagonista. Conquanto, quer seja como herói ou como bandido, o certo é que Lampião representa até os dias atuais um autêntico divisor de águas no que concerne à história sertaneja. Posto que, depois dele o sertão com sua gente nunca mais seria o mesmo.  


José Cícero Silva

E neste dualismo existencial, quer seja para o bem ou para o mal, os feitos produzidos pelo caatingueiro vilabelense, rei do cangaço entraram definitivamente para à história como algo imorredouro,  fornecendo ainda hoje  combustíveis inesgotáveis para grandes debates e discussões acaloradas. Algo só comum quando se trata de grandes personagens da história humana na sua dimensão universal.  

O cangaço, portanto, com sua escalada de feitos e violências, a partir de Lampião ocupou de vez grandes espaços na agenda sociopolítica do litoral, chamando assim as atenções da opinião pública não somente de dentro do Brasil. Fazendo com que a sociedade da época começasse a dá-se conta da péssima situação de miséria, violência, injustiça e abandono em que se encontravam submetida populações inteiras dos sertões do Nordeste por anos intermináveis de sofrimento e abandono. Só a partir de então, diria que efetivamente, o sertão dos esquecidos passou a fazer parte do país dos poderosos. Porém, a história dos oprimidos continuaria ainda a ser escrita/descrita sob a pena dos vencedores.

O fato é que, Lampião, a um só tempo, foi vítima e também responsável por parte importante deste verdadeiro estado de barbárie quase absoluta que se abatera sobre os rincões inóspitos e abandonados do interior do Nordeste pelos poderes da capital. Razão porque(hoje mais do que nunca) é preciso analisar de modo objetivo e distanciado de quaisquer ranços de ódio ou de paixões, as muitas faces e roupagens com que se vestiu o espectro  do cangaço em sua dimensão mais  realista e mais cruel. Assim como, todas as motivações que se impuseram sobre os povos dos sertões forçando muitas vezes a ingressarem na vida cangaceira, seja por vingança ou mesmo por pura necessidade de sobrevivência.  


José Cícero no Cariri Cangaço em Aurora

Muitos dos quais como jagunços à serviços dos coronéis seus patrões. Depois, como integrantes de grupos e subgrupos de temíveis cangaceiros que durante aqueles anos infestaram a região de uma ponta a outra. No mais das vezes indivíduos perigosos e sanguinolentos acostumados ao sofrimento de um mundo sem lei para os quais a única lei que realmente valia era a “lei do cão”, cujo roubo, a vingança, a morte e o uso da força  eram  no senso comum de sua maioria a expressão mais forte e mais sentida.

Neste aspecto, é possível muito bem se afirmar por exemplo, que a dinâmica do coronelismo da época que grassava pelos sertões muito pouco se diferenciava do cangaço em seu modus operandi corporificado por sua sanha absurda de criminalidade, opressão, pilhagem e injustiça de toda sorte.  De modo que, em ambos os casos, foram sempre os sertanejos mais pobres, suas vítimas em potencial. Todavia, no contexto em que se precipitaram todos aqueles acontecimentos dantescos, Lampião e sua gente, seriam apenas mais um, que por vingança, sobrevivência ou manutenção da honra acharam-se no ‘direito’ de tentar fazer justiça pelas próprias mãos.

Como se percebe, mais uma evidência de que quando o Estado não se impõe aos homens por um dever de justiça, os homens se voltam contra Ele como que pela justiça do dever que lhes negaram. E assim, ambos se fizeram criminosos, tanto pela indiferença quanto pela omissão de todos em relação ao bem comum. E nesta correlação de forças, o povo do sertão foi o grande derrotado. Por conseguinte, com ou sem a marcante presença de Lampião(um homem que se fez valente para não sucumbir), os sertões nordestinos nunca foram o tal ‘céu de brigadeiro’ como se fingia crer a maioria perante a manutenção do status quo dos poderosos em sua aparente tranquilidade bizantina.  
Assim, de modo um tanto quanto enviesado e incompreendido, eis que Lampião – o legítimo sertanejo, continua ainda hoje(quem sabe) na memória histórica e coletiva do povo a pagar sozinho o alto preço de uma injustiça institucionalizada que se fizera madrasta dos necessitados ao longo de todo este tempo sofrível de guerra, tragédia e de paz.

José Cícero
Professor, Pesquisador, Escritor
e Conselheiro do Cariri Cangaço.
Autor do livro 

"LAMPIÃO em Aurora: Antes e Depois de Mossoró"
Fonte:http://blogdaaurorajc.blogspot.com.br


E de 25 a 28 de Julho
Cariri Cangaço Piranhas 2015

João Gomes de Lira Por:José Bezerra Lima Irmão

João Gomes de Lira

Amigos do Cariri Cangaço, quando se fala em João Gomes de Lira, é preciso dizer quem foi ele, para que os novos "internautas" fiquem sabendo quem foi essa extraordinária figura humana. No último dia do encontro do Cariri Cangaço Princesa 2015, liderado pelo nosso abnegado Manoel Severo , em março passado, a caravana de estudiosos do fenômeno do cangaço esteve na gloriosa vila de Nazaré e tirou fotos na fazenda Jenipapo, do legendário Antônio Gomes Jurubeba (Seu Gomes), pai de João Gomes de Lira. Registre-se bem: João Gomes de Lira, filho de Nazaré, ex-soldado de volante, é autor do livro "Lampião: Memórias de um Soldado de Volante", uma obra indispensável para quem estuda e leva a sério os assuntos do cangaço. 

Para escrever um grande livro, não é preciso muita erudição. O que é preciso mesmo é afinco. João Gomes de Lira tinha pouca instrução, mas escreveu um dos mais importantes e mais completos livros sobre o cangaço. Suas versões dos fatos são objetivas e confiáveis. As datas e os lugares são citados com precisão. Estive com ele três vezes. Grande figura. Sempre que passo por Nazaré, entro no povoado, faço uma volta pela pracinha histórica e, antes de sair, me demoro um pouco em frente à casa onde viveu seus últimos dias o grande João Gomes de Lira. Toda manhã, ele se sentava debaixo de uma das árvores em frente a sua casa, onde cumprimentava os que passavam ou iam vê-lo. Sua bênção, querido João Gomes de Lira.

José Bezerra Lima Irmão
Pesquisador e Escritor


João Gomes de Lira e a homenagem do Cariri Cangaço

NOTA CARIRI CANGAÇO: Nascido em 13 de julho de 1913 na Fazenda Jenipapo, distrito de Nazaré do Pico – Município de Floresta/PE, viveu ali parte de sua vida. Ingressou na Polícia Militar do Estado de Pernambuco em 16 de Julho de 1931. Com dezessete anos de idade integrou na volante que tinha como comandante o Cel. Manoel Neto que perseguia Virgolino Ferreira da Silva, o "Lampião". Depois do fim da campanha contra o cangaço, foi destacar nos municípios de: Afogados da Ingazeira, Iguaracy, Tabira, Carnaíba e Flores todas cidades do interior pernambucano, onde foi delegado de polícia. Foi várias vezes ouvido pela imprensa para contar relatos da luta dos seus conterrâneos contra o bando de Lampião. Enquanto vereador de Carnaíba, João Gomes de Lira escreveu sua Obra: "Memorias de um soldado de volante", narrando sua vida e suas andanças em busca de cangaceiros. João Gomes de Lira faleceu no dia 04 de Agosto de 2011, na cidade do Recife, aos 98 anos.

E de 25 a 28 de Julho
Cariri Cangaço Piranhas 2015

Pelos Caminhos de Lampião Por: Yuno Silva

DOCUMENTÁRIO “CHAPÉU ESTRELADO – OS CAMINHOS DE LAMPIÃO NO OESTE POTIGUAR” COMEÇARÁ SUAS FILMAGENS EM BREVE

A passagem meteórica de Virgulino Ferreira da Silva pelo Rio Grande do Norte, em junho de 1927, vai muito além da histórica derrota sofrida em Mossoró. Eterno rei do cangaço, temido e amado por muitos, Lampião circulou 96 horas por terras potiguares deixando um rastro de violência que o tempo não foi – e muito provavelmente não será – capaz de apagar. É no encalço dessa rota, que durou apenas quatro dias, que o documentário em longa-metragem “Chapéu Estrelado – Os caminhos de Lampião no Oeste Potiguar” cai na estrada a partir do dia 22 de abril. A data de lançamento ainda não está definida, mas a intenção da equipe é lançar ainda este ano.
Com direção do cineasta carioca Silvio Coutinho, roteiro do escritor e artista plástico Iaperi Araújo, produção executiva do crítico de cinema Valério Andrade (FestNatal) e pesquisa de Rostand Medeiros, o filme refaz o caminho que o bando de Lampião (1898-1938) trilhou entre 10 e 14 de junho de 1927 pelo interior do Ceará, Paraíba e RN. Período que marcou o início do fim do reinado do Capitão Virgulino pelo Sertão nordestino
A proposta do ‘road movie’, cujas imagens serão capturadas com equipamento de tecnologia 4k (resolução quatro vezes superior ao padrão ‘Full HD’), é registrar a memória de herdeiros diretos, gente que está na faixa dos 80 anos, daqueles que testemunharam episódios envolvendo o famoso cangaceiro. Entre os depoimentos, imagens antigas e comentários de historiadores e estudiosos do tema.
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Sem amparo de leis de incentivo ou editais, com alguns apoios locais, o documentário será rodado de 22 de abril a 6 de maio na zona rural de cidades como Luis Gomes, Major Sales, Marcelino Vieira, Antônio Martins, Caraúbas, Apodi, Felipe Guerra, Governador Dix-Sept Rosado, Mossoró e Baraúnas – em 1920 o caminho dos cangaceiros atravessava seis municípios, hoje são 19.

“Nosso ponto de partida será a fazenda de Ipueira, em Aurora no Ceará, onde Lampião foi acolhido pelo Coronel Isaías Arruda. Foi lá que ele conheceu o pistoleiro (e dublê de cangaceiro) Massilon, que seria seu guia pelo RN. O alvo do bando era Mossoró”, disse Rostand Medeiros, escritor e autor da pesquisa que embasou o projeto “Nas Pegadas de Lampião” encomendada pelo Sebrae-RN em 2010. Saindo de Aurora, o filme segue Lampião pela Paraíba, sobe a ‘tromba do elefante’ e termina na cidade de Limoeiro do Norte também no CE.


O livro “Lampião e o Rio Grande do Norte: a história da grande jornada”, de Sérgio Dantas, foi utilizado como base para o trabalho de percorrer o caminho de Lampião no RN - Fonte - lampiaoaceso.blogspot.com
O livro “Lampião e o Rio Grande do Norte: a história da grande jornada”, de Sérgio Dantas, está sendo utilizado como base de dados para o trabalho de percorrer  e filmar o caminho de Lampião no RN – Fonte da foto – lampiaoaceso.blogspot.com

O mapeamento inicial do trajeto dos cangaceiros pelo RN foi feito pelo juiz Sérgio Dantas, que em 2005 lançou o livro “Lampião e o Rio Grande do Norte: a história da grande jornada”. No livro, Dantas desfaz equívocos e tira das costas de Virgulino Ferreira uma série de crimes que o cangaceiro não teria como cometer por questões temporais e geográficas.
“A resistência em Mossoró é um fato histórico muito importante, mas a curta passagem de Lampião pelo RN vai além”, garante Rostand, que já percorreu todo o percurso de moto para se aproximar da trilha original feita à cavalo. O pesquisador ressalta que Lampião tinha pretensões puramente financeiras na empreitada, enquanto Massilon e o Cel Isaías Arruda também tinham motivação pessoal, política e de vingança. “Quando Virgulino percebeu que estava sendo usado era tarde, o estrago estava feito. O plano dos cangaceiros era subir sem alarde até Mossoró, queriam manter o elemento surpresa, mas Massilon tocou o terror logo no primeiro povoado (Canto do Feijão, atual Santa Helena na PB) matando o delegado do lugar”.


Jornal de Caicó repercutindo o ataque de Lampião e seu bando a Mossoró
Jornal de Caicó repercutindo o ataque de Lampião e seu bando a Mossoró

Sobre o combate em Mossoró, Rostand informa que há um entendimento de que Lampião não foi para a linha de frente propriamente dita, e sim enviou subgrupos comandados por Massilon (que conseguiu fugir do massacre), e os cangaceiros Sabino, Colchete e Jararaca – este último capturado, executado e que hoje é tido como santo para devotos que visitam seu túmulo todo Dia de Finados na capital do Oeste.


Em 2010, realizando uma consultoria para o SEBRAE-RN, percorri junto com o amigo Solón Rodrigues Netto o caminho de Lampião no Rio Grande do Norte, baseando a rota no trabalho de Sergio Dantas,  Já naquele período este trabalho havia sido notícia no jornal natalense Tribuna do Norte
Em 2010, realizando uma consultoria para o SEBRAE-RN, percorri junto com o amigo Solón Rodrigues Netto o caminho de Lampião no Rio Grande do Norte, baseando a rota no trabalho de Sergio Dantas, Já naquele período este trabalho havia sido notícia no jornal natalense Tribuna do Norte.

“Mossoró utiliza, com razão, muito a memória desse ataque, mas tem muita coisa no caminho”, avisa Rostand, citando o exemplo da igreja de São Sebastião construída no alto da Serra de Veneza, em Antônio Martins, por pessoas que conseguiram escapar do bando e que prometeram rezar uma missa anualmente se sobrevivessem.


Diretor Silvio Coutinho - Fonte festnatal2013.blogspot.com
Diretor Silvio Coutinho – Fonte festnatal2013.blogspot.com

“Até hoje essa missa é rezada”, acrescenta o pesquisador, que ainda não conhece Silvio Coutinho pessoalmente, mas tem trocado ligações telefônicas frequentes com o diretor que chegam a durar horas.
O roteiro de Iaperi Araújo, que também assina parte da trilha sonora original, teve como base, além das pesquisas, os três livros publicados por ele sobre o assunto: “A Cabeça do Rei – A morte e a morte de Virgulino Ferreira da Silva Lampião” (2007), “No Rastro dos Cangaceiros” (2009) e “Angico 1938” (2013).


O escritor e artista plástico Iaperi Araújo é o roteirista de “Chapéu Estrelado – Os caminhos de Lampião no Oeste Potiguar”
O escritor e artista plástico Iaperi Araújo é o roteirista de “Chapéu Estrelado – Os caminhos de Lampião no Oeste Potiguar”

“Há um tempo escrevi um roteiro de ficção sobre Lampião no RN. Acabou não vingando, aí surgiu essa oportunidade do documentário. Quando Silvio Coutinho esteve em Natal, em 2013, para o FestNatal, conversamos e ele ficou muito animado com a ideia”, lembrou Iaperi. “Pediu o básico do básico (passagem aérea, hospedagem e alimentação) pois acredita no potencial do projeto”.
"Não conhecia a dimensão dessa passagem de Lampião aí pelo RN, fiquei fascinado com o que ouvi e me ofereci para ajudar a levar essa história para o cinema”, contou o diretor Silvio Coutinho por telefone ao VIVER. “Estamos fazendo tudo com muito cuidado, muito carinho. O projeto está sendo conduzido com seriedade e acredito muito nesse filme”.
Coutinho adiantou que o formato do documentário, que conta com parceria da produtora Locomotiva Cinema de Arte (RJ), será moderno, dinâmico. “Vamos explorar bastante a paisagem dos três estados onde vamos filmar (CE, PB e RN) e ouvir herdeiros dessa memória pelo caminho”.


A produção executiva deste documentário esta a cargo de Valério Andrade, crítico jornalista e diretor do Festnatal.
A produção executiva deste documentário esta a cargo de Valério Andrade, crítico jornalista e diretor do Festnatal.

O cineasta carioca ressalta que o prioridade “máxima” é que a primeira exibição pública seja no RN, “pelo menos” em Natal e Mossoró.  “pelo menos”. O plano é lançar ainda em 2015, mas a data não foi definida. “Depois do lançamento, e antes de chegar ao circuito comercial, pretendemos fazer o circuito de festivais nacionais e internacionais. O cangaço é um tema internacional e continua atual, vide o filme ‘A Luneta do Tempo’, de Alceu Valença, que aborda o cangaço de forma lúdica e poética”


Em 2010, percorrendo o caminho de Lampião no RN e entrevistando aqueles que tinham historias inesquecíveis daquele junho de 1927, que o Rio Grande do Norte jamais esquecerá.
Em 2010, percorrendo o caminho de Lampião no RN e entrevistando aqueles que tinham historias inesquecíveis daquele junho de 1927, que o Rio Grande do Norte jamais esquecerá.

Ele destaca que, apesar de contar com apoio de instituições potiguares, grande parte do investimento é próprio. “Apostamos na repercussão do filme, por isso resolvemos rodar sem esperar por editais e captação via lei de incentivo. Tudo para não perder, como diz Iaperi, ‘o trem da história’. Essa memória da passagem de Lampião pelo RN ainda está muito impregnada nas pessoas, na paisagem, e através do cinema podemos compartilhar com um público maior”.
Yuno Silva – Repórter, jornal Tribuna do Norte, edição de 10 de abril de 2015
Colaborou: Cinthia Lopes – editora
Fonte:http://tokdehistoria.com.br/