Confidências de Lamartine...


"Meu velho Pai, falecido aos quase 93 anos de idade, faz quase 20 anos, aqui em Gravatá-PE, pertenceu, nos anos 1930, à Polícia Militar de Pernambuco, e, nos anos 1950, eu adolescente, através dele, conheci alguns oficiais do seu tempo, como Higino José Belarmino (Nêgo Gino), Arlindo Rocha e João Miguel da Silva (Sêca de Jão Migué). Optato Gueiros, que era seu amigo e muito evangélico, lhe contou que, em Pau de Colher, na Bahia, a tropa pernambucana chegou atrasada, depois de terem sido derrotadas pelos caceteiros as tropas da Bahia e do Piauí, e aqueles fanáticos colocaram as crianças e mulheres na frente, fazendo barreira, e por trás os homens atiravam em sua tropa, logo no início, sendo atingido na cabeça o corneteiro ao seu lado, fazendo com que aquele comandante desse a ordem de fogo, inclusive usando metralhadora, e mesmo sob os tiros aquela gente avançava e vinha morrer em cima dos soldados. O documentário aqui apresentado é elucidador daquela tragédia acontecida há mais de oito décadas, quando fazia quatro décadas da hecatombe de Canudos."

Lamartine Lima, médico e pesquisador
Membro da ABLAC

A Verdade sobre o Massacre do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto


Dentre todos os personagens desta encantadora história do nordeste; um em especial nos chama a atenção: Beato José Lourenço. Paraibano de nascimento e chegado ao Juazeiro do Padre Cícero ainda em 1890, Zé Lourenço viria a se tornar um dos mais destacados líderes religiosos do nordeste. A partir de orientações de Padre Cícero, Zé Lourenço arrendaria um lote de terra no sitio Baixa Dantas, no município do Crato, ali com ajuda dos inúmeros romeiros enviados pelo sacerdote, transformaria o lugar em um importante produtor e fornecedor de alimentos aos mais desvalidos que acorriam à Meca nordestina.

Delmiro Gouveia presentearia Padre Cícero com um boi da raça Zebu, que por sua natureza mansa, ficou sendo chamado de Mansinho, o sacerdote encaminhou o animal para o sítio Baixa Dantas, para os cuidados do Beato e para melhorar o rebanho do lugar. A partir dali começaram a surgir boatos de que as pessoas estariam adorando o boi como a um Deus. Em 1923 Floro Bartolomeu ordenou a morte do referido animal e a prisão do beato José Lourenço, sob acusação de fanatismo. O beato ficaria preso por 18 dias, sendo solto por intercessão do próprio Padre Cícero.

O Cariri Cangaço em visita de campo ao Caldeirão da Santa Cruz do Deserto

Em 1926 após a venda do Sítio Baixa Dantas o beato e seus seguidores partem para o Sítio Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, também em Crato. Começava a se construir uma das mais destacadas e polêmicas experiências comunitárias da história do Brasil, assim como em Canudos de Antônio Conselheiro; ali o trabalho sob a liderança do beato Zé Lourenço e ainda de dois de seus mais fiéis seguidores: Isaías e Severino Tavares; acabou trazendo para o Caldeirão nos seus quase 500 hectares, cerca de mil e quinhentas pessoas.Era o ano de 1934 e após a morte de Padre Cícero o suplício dos seguidores de Zé Lourenço iria chegar ao clímax. Já em 1935 o movimento da Intentona Comunista acabaria indiretamente contribuindo para que o poder central declarasse guerra ao Caldeirão. Depois de intensa campanha e luta, os seguidores de José Lourenço viriam a ser atacados pelas forças do governo, à frente estavam o tenente José Góis de Campos Barros e o Chefe de Polícia, Capitão Cordeiro Neto, era o ano de 1937, posteriormente haveria o massacre, onde perderiam a vida perto de mil pessoas, entre homens, mulheres, velhos e crianças, fala-se até de um polêmico e “desmentido bombardeio” por parte do Brigadeiro Macedo.


Hoje vamos relembrar na sessão "Do fundo do Baú" , uma das lendárias Conferências e uma das mais emblemáticas visitas de campo realizadas em nosso Cariri Cangaço, desta vez no espetacular Caldeirão da Santa Cruz do Deserto; do Beato José Lourenço em Crato, Ceará. Os pesquisadores, professor Domingos Sávio, Professor Sandro Leonel; bisneto de Severino Tavares; professor Lemuel Rodrigues e Mucio Procópio. As imagens são de Aderbal Nogueira e sua Laser Video.

Veja na Íntegra a Conferência sobre o 
Caldeirão da Santa Cruz do Deserto...


Fonte: You Tube
Canal: Aderbal Nogueira

Painel sobre o Beato José Lourenço e o Caldeirão
Professor Domingos Savio e participações 
Realizada no Cariri Cangaço 2009
Caldeirão do Deserto - Cidade de Crato,CE
24 de Setembro de 2009

A Fé que Alimenta o Sertão Por:Rangel Alves da Costa

O sertão é um oratório a céu aberto. E um oratório de céu com feição tão sertaneja que santos são criados pelo desejo do próprio povo. Quem haverá de dizer que Padim Ciço Romão Batista não é santo? Quem haverá de dizer que Frei Damião não conduz a milagres? A fé que anima e move o seu povo é tamanha que tudo na vida passa a depender dos desejos sagrados. E nada se faz sem as bençãos divinas. 
Na concepção da religiosidade sertaneja, nenhum tempo ruim permanecerá se o olhar divino e salvador logo vai abrir a porta e entrar. Daí as dores e os sofrimentos, as angústias e as aflições, serem suportados pela fé que logo tudo cessará. A seca braba esturrica e castiga, faz padecer e chorar, mas Deus logo mandará chuva boa. É assim que se diz. O pecado do homem e a falta de obediência aos ensinamentos trazem a tristeza e o sofrimento. É assim que se diz. 
E há uma certeza tamanha na reversão das angústias, que é como se tudo fosse apenas uma privação ou provação passageira. É assim que, na concepção sertaneja, se concebe o amanhã. Mas para que o amanhã realmente traga um tempo bom, necessário que os rosários de contas caminhem pelas mãos, os joelhos se dobrem frente aos altares e oratórios, as velas sejam acesas, as bocas murmurejem preces, orações, ave-marias. E assim também acontece diuturnamente. 
Os santos são companhias milagrosas ao olhar, o coração se fortalece ante a visão de uma imagem sagrada pendurada na parede, os terços e rosários são como inafastáveis relíquias, as fitas de Juazeiro só saem dos braços pelo desejo do tempo. Logo à entrada da moradia uma escrita anuncia que a família é abençoada por Deus. As flores de plástico são como jardins empoeirados ao lado dos santos. As novenas vão levando de porta em porta o alimenta da fé. Na banquinha com toalha rendada e enfeitada de flores, a imagem devotada alimentando a fé de um povo. Os olhares lacrimejam, os lábios se movem em canções, as mãos se cruzam rente ao peito, então um escudo sagrado vai envolvendo o viver perante as dificuldades da vida. Pelas estradas nuas, secas, esturricadas, debaixo dos sóis, seguem os passos da fé em procissão. 
Encontrar dez, quinze ou vinte pessoas, levando sua fé pelas estradas, pode até causar estranheza ao de hoje. Porém, basta a proximidade para saber e sentir o que move o passo daquele povo. Há um estandarte e um santo, ou mesmo uma imagem sendo levada e passada de mão em mão, mas há algo muito maior: a certeza que, pela fé e devoção, o milagre acontecerá. E qual milagre? A cura, a chuva, a benção ao lar, a proteção sagrada, a demonstração que se vive da fé e pela fé. E que, por isso mesmo, pela força da fé, Deus, os santos e anjos, cuidarão de tornar suas esperanças em conquistas. A chuva, a terra molhada, a planta vingando, o alimento surgindo, e tudo o mais que se deseje. E assim, pelas estradas, vai seguindo a procissão. Lá no alto, a vela do sol a tudo ilumina. E iluminados, os corações encontram seus contentamentos e suas forças para seguir adiante. Pela vida inteira.
Rangel Alves da Costa, pesquisador e escritor
Conselheiro Cariri Cangaço
Poço Redondo, Sergipe

"Vida e Morte de Isaías Arruda - Sangue dos Paulinos, abrigo de Lampião" Lançado em Noite de Festa em Fortaleza


O Restaurante Caravelle, em Fortaleza, acolheu o lançamento da mais nova obra do escritor e pesquisador; Conselheiro Cariri Cangaço; João Tavares Calixto Junior, "Vida e Morte de Isaías Arruda - Sangue dos Paulinos, abrigo de Lampião". O evento, uma promoção do Cariri Cangaço, aconteceu na noite do último sábado, dia 25 de janeiro de 2020 e reuniu grande público de apaixonados pela historia e memoria do sertão, notadamente do ciclo coronelístico e do cangaço dos anos 20.

O livro já havia sido lançado em vários municípios do cariri cearense e chega a Fortaleza, como um dos mais aguardados lançamentos sobre a temáticas cangaço e coronelismo. Após mais de seis anos de intensa e zelosa pesquisa o escritor João Tavares Calixto Junior, nos traz em seu mais novo livro,"Vida e Morte de Isaías Arruda - Sangue dos Paulinos, abrigo de Lampião", a saga desse que sem dúvidas é um dos personagens mais emblemáticos e marcantes do universo do coronelismo sertanejo. A partir de um trabalho espetacular; minucioso, dedicado e responsável; Calixto nos apresenta não só os acontecimentos da época, mas e principalmente o perfil, a personalidade, as relações perigosas e principais fatos que tornariam Isaias Arruda quase uma unanimidade: Um homem a frente de seu tempo. 

Calixto Júnior e família em noite de lançamento
Calixto Junior, João de Lemos, Linda Lemos, Manoel Severo e Fatima Lemos
Calixto Junior e Manoel Severo

"Isaías Arruda de Figueiredo nasceu aos 6 de julho de 1899 na Vila d'Aurora. Era filho de Manoel Antônio de Figueiredo de Arruda e Maria Josefa da Conceição (naturais de Aurora, casados aos 30 de junho de 1896). Convolou núpcias no primeiro dia de setembro de 1920 na Igreja Paroquial da Vila d’Aurora com Estelita Silva, natural de Fortaleza. Em perfeita consonância com a práxis vigente de sua época de existência, inseriu-se Isaías Arruda na prepotente atuação sociopolítica regional, marcada pela incursão do poder privado dos coronéis. Eram estes os senhores supremos dos feudos nordestinos, detentores do voto do cabresto e responsáveis pelas famosas eleições a bico de pena, onde até defuntos votavam... 


Trapaças e moléstias sociais que hoje ainda remanescem, apesar de diminuídas as proporções, são oriundas deste famigerado tempo da República dos Coronéis ou Coronelismo, a chamada República Velha. Bosquejando sobre as passagens deste notável personagem do cenário coronelístico nordestino, delegado de polícia em Aurora, assim como Prefeito municipal de Missão Velha, transcrevemos o que exara Joaryvar Macêdo em Império do Bacamarte (Fortaleza, 1990, p. 225): "Improvisado o coronel Isaías Arruda em poderoso chefe político de Missão Velha, se o juiz não se submetesse às suas ordens, ele o escorraçava, e ao oficial de polícia, intolerante com os desregramentos, mandava assassinar"...Calixto Junior.

 Manoel Severo e Paulo de Tarso
Cristina Couto e Calixto Junior
Arlindo Moreira, Manoel Severo e Ângelo Osmiro

O encontro promovido pelo Cariri Cangaço, contou ainda com o apoio do GECC-Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, à frente o presidente Ângelo Osmiro, da Academia Lavrense de Letras com a presidente Cristina Couto, além da Associação dos Amigos e Filhos de Aurora, da Academia de Letras Juvenal Galeno, com a presidente Linda Lemos e a Academia Maria Ester, tendo a frente Fátima Lemos, dentre outras instituições culturais e literárias. "A presença honrosa de minha familia Tavares Luna e tantos amigos de Aurora, de Fortaleza, e tantos ilustres pesquisadores nos deixam muito felizes e fazem dessa noite, muito mais especial" assevera Calixto Junior.


 Manoel Severo, Vicente Ferrer e Aderbal Nogueira
Calixto Junior e Iderval Teixeira ; filho de "seu" Antonio da Piçarra
Linda Lemos, Manoel Severo e João de Lemos

"Desde que iniciei minhas andanças pelos carrascais da caatinga deste nosso maravilhoso sertão; notadamente de meu cariri cearense; que um personagem em particular me saltava aos olhos... Num cenário e ambientes explosivos como os do inicio do século XX, por esses lados do Brasil esquecido por Deus; onde a força do bacamarte decidia destinos e estabelecia quem devesse viver, ou morrer; na época dos coronéis de barranco e que o poder era disputado “a bala” nos feudos nordestinos, despontava da pequena Vila d'Aurora; no vale do Salgado; Isaias Arruda de Figueiredo. Sem dúvidas um homem incomum; inteligente, sagaz, destemido, determinado, de uma coragem incomparável e uma sina: Tornar-se o mais jovem e temido coronel das terras cearenses dos anos vinte. Isaias teve seu destino palmilhado à bala, tanto em suas conquistas como na definição de seu ato final, e fatal em agosto de 1928. Com uma personalidade arrebatadora, líder inconteste e acima de tudo um predestinado, Isaias Arruda escreveria sua saga no livro de historia do sertão... Às vezes fico pensando o que esse “Coronel Menino” assassinado aos 29 anos poderia ainda ter feito... Mas para responder essa pergunta nada melhor que adentrarmos no universo do “Vida e morte de Isaías Arruda- Sangue dos Paulinos, abrigo de Lampião”, capitaneado pelo brilhante pesquisador e escritor João Tavares Calixto Júnior; uma das mais gratas surpresas no campo da pesquisa do coronelismo sertanejo. 

Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço em texto "Orelha" do Livro Vida e Morte de Isaias Arruda - Sangue dos Paulinos, Abrigo de Lampião, autoria de João Tavares Calixto Junior, Conselheiro Cariri Cangaço.

Manoel Severo apresenta a Obra de Calixto Junior


Em sua fala Manoel Severo ressaltou "Calixto Júnior ; também Conselheiro do Cariri Cangaço; a partir de um trabalho de fôlego, espetacular; minucioso, dedicado e extremamente responsável; de muitos anos, nos apresenta não só os acontecimentos da época, anos 20 do seculo passado em nosso cariri cearense, mas e principalmente o perfil, a personalidade, as relações perigosas e principais fatos que tornariam Isaias Arruda, o conhecido "coronel menino", quase uma unanimidade: Um homem a frente de seu tempo." 

Calixto Junior apresenta seu mais novo livro
Calixto Junior e as boas vindas ao convidados
Célia Figueiredo; neta de Isaias Arruda; fala em nome da família de Isaias Arruda

"Algo depois de funestos episódios que lhe marcaram a curta vida, polêmica e tumultuada, ocorreu-lhe o assassinato aos 4 de agosto de 1928, na pedra da Estação de Trem de Aurora, vindo a falecer 4 dias depois. No Livro de Registros de Óbitos da Paróquia de São José de Missão Velha (1926-1930, p.136), deparamo-nos com o assento referente ao seu falecimento:"Aos oito dias do mês de agosto de mil novecentos e vinte e oito, na sede da Freguesia de Aurora, foi assassinado Isaias Arruda com vinte e oito anos de idade, casado com Estelita Arruda. Seu corpo foi sepultado nesta Villa. Para constar mandei lavrar este assento que assino. O Vigário Horácio Teixeira".
Da calçada, onde caíra baleado, Isaías foi transportado para a residência de Augusto Jucá. No dia seguinte foi assistido pelos médicos Antenor Cavalcante e Sérgio Banhos, mas estes pouco puderam fazer no sentido de salvar a vida de Isaías, que terminou falecendo no dia 8 de agosto, pelas 6 horas da manhã"...

Francisca, Herton Cabral e Manoel Severo
Noite de Festa para o Cariri Cangaço no lançamento do livro de João Tavares Calixto Junior

"Salienta-se que no dia 12 de agosto do mesmo ano, regressava de Aurora a Fortaleza, o Delegado Virgílio Gomes, que havia sido incumbido de instaurar inquérito sobre o assassinato de Isaías. A respeito, foi provocado por vingança à morte de João Paulino, o chefe dos irmãos Paulinos, família de espírito de luta aguerrido, que, por anos consecutivos, fizeram do município de Aurora, assim como de suas cercanias, aterrorizado. Era estrondosa a rixa entre os seus integrantes e os "Arrudas", de Isaías Arruda de Figueiredo."

 Antônio Teixeira Leite Neto, Eusébio Rocha, Manoel Severo e Iderval Teixeira; 
Filho e netos de Antônio da Piçarra
  Manoel Severo e Aderbal Nogueira
 Calixto Junior e o lançamento em Fortaleza
 Bianca e Francisco Brasil e Manoel Severo
Afranio Gomes, Manoel Severo e Malvinier Macedo
Forró de Pé Serra no lançamento da noite




Leandro Cardoso Fala sobre Angico em Palestra no Cariri Cangaço


Angico foi e continuará sendo um dos episódios mais estudados e comentados do cangaço. Hoje vamos relembrar na sessão "Do fundo do Baú" , uma das lendárias Conferências realizadas em nosso Cariri Cangaço, desta vez com o pesquisador e escritor, Leandro Cardoso; dentro da programação do Cariri Cangaço 2009, na cidade de Juazeiro do Norte no Memorial Padre Cícero. Na mesa: Antônio Amaury, Aderbal Nogueira, Paulo Britto e Paulo Gastão, além da participação marcante de Alcino Alves Costa. As imagens são de Aderbal Nogueira e sua Laser Video.

Veja a Palestra na Íntegra...


Fonte: You Tube
Canal: Aderbal Nogueira

Palestra de Dr Leandro Cardoso; Conselheiro Cariri Cangaço
Realizada no Cariri Cangaço 2009
Cidade de Juazeiro do Norte,CE
26 de Setembro de 2009

Isaias Arruda - o Coronel Menino; Hoje em Fortaleza


José Ignácio da Silva, vulgo Jacaré

Cangaceiro Jacaré (irmão de Moreno), morto.
José Ignácio da Silva, vulgo Jacaré. "Em Brejo Santo, Jacaré formou um grupo, que diziam que andavam aterrorizando as pessoas, por isso, teve que fugir junto com o amigo Róseo Moraes, depois de um forte cerco policial, indo encontrar guarida na cidade alagoana de Piranhas, ao lado do coronel José Rodrigues, desafeto de Delmiro Gouveia.
Jacaré casou com Maria Lima, uma moça de Água Branca, Alagoas, que trabalhava na tecelagem da Fábrica da Pedra. Quando da morte de Delmiro Gouveia, Jacaré e Róseo Moraes foram acusados como sendo os matadores deste conhecido sertanejo considerado um homem rico. Com a repercussão do crime, Jacaré fugiu para Brejo Santo, ficando sob a proteção do major Zé Inácio.
O Major quando ficou sabendo do crime, comunicou às autoridades piranhenses, sobre o paradeiro de Jacaré. A prisão do acusado não se demorou e enquanto era recambiado do Ceará para Alagoas, na divisa do Ceará com Pernambuco, nas imediações de São José do Belmonte, Jacaré foi friamente assassinado, como queima de arquivos com o temor de que ele poderia denunciar homens importantes da sociedade, como mandantes do crime daquele que viria a ser considerado um dos maiores progressistas do sertão nordestino."
Por Severino Coelho Viana, João Pessoa - PB, 05 de maio de 2011. Pombalense, Escritor e Promotor de Justiça na Capital paraibana.
PS: Róseo Morais era irmão do cangaceiro Raimundo Morais, vulgo Mundinho, e Xixiu. Residentes no sítio Oitizeiro
Bruno Yacub, pesquisador - Brejo Santo, Ceará ; texto enviado pela filha dos cangaceiros Moreno e Durvinha , Neli Conceição; Conselheira do Cariri Cangaço.

Magérbio de Lucena e o Ataque de Lampião a Mossoró


Mossoró, a capital do oeste potiguar, ficou famosa a partir da literatura do cangaço, como a única cidade que resistiu e rechaçou o bando de Lampião; apesar de Uiraúna na Paraíba e Ipueira dos Xavier em Pernambuco haverem realizado façanhas semelhantes; polêmicas a parte hoje vamos relembrar na sessão "Do fundo do Baú" , uma das lendárias Conferências realizadas em nosso Cariri Cangaço, desta vez com o médico, pesquisador e escritor Magérbio de Lucena; autor ao lado de Hilário Lucetti do festejado "Estado Maior do Cangaço". Dentro da programação do Cariri Cangaço 2009, na cidade de Barbalha no Teatro Nelory Figueira, Magérgio traça as principais linhas do famoso episódio de ataque à cidade de Mossoró pelo bando de Lampião. As imagens são de Aderbal Nogueira e sua Laser Video.

Veja na íntegra a Conferência de 
Magérbio de Lucena


Fonte: You Tube Canal: Aderbal Nogueira

Palestra do Dr Magérbio de Lucena
Realizada no Cariri Cangaço 2009
Cidade de Barbalha,CE
26 de Setembro de 2009

Os Desprezíveis do Cangaço Por:Junior Almeida


Existe na vasta literatura cangaceira centenas de narrativas de passagens sangrentas em solo nordestino. Algumas mortes aconteceram com certo heroísmo, outras por encomenda, algumas por azar e muitas por inveja, cruzetas, ou mesmo por puro e simples fuxico, o mal que assolou o Sertão naqueles tempos, como disse tão bem o mestre Alcino Alves Costa. De certo é que em nossa terra jorrou o sangue de muitos inocentes. 


Muitos homens caíram em desgraça, entrando para o cangaço ou para as volantes, por falta de perspectivas de vida, ou faziam isso ou morriam. Já outros tantos, participavam da luta indiretamente e lucravam muito com as desgraças alheias. Lampião, como ele mesmo disse em Juazeiro do Padre Cícero em 1926, era um pé de dinheiro. Era bom negociar com o rei de todos os cangaceiros. Ele comprava em quantidade e pagava muito bem o que comprava. Muito enriqueceram às suas custas.

Se um coiteiro ganhasse a confiança do “Rei Vesgo”, estava feito na vida. Além de faturar alto com isso, financeiramente falando, tinha a vantagem de ninguém se atrever mexer com ele, e não era difícil, por exemplo, que comprasse uma propriedade por muito menos do que ela valia, só por ser amigo de Lampião. Quem danado queria se indispor com Virgulino ou um protegido seu?

Virgulino Ferreira da Silva em foto de 1926 e Juazeiro do Norte

O cangaceiro mor era leal a quem o servia com a mesma lealdade, e de sua maneira, tratava bem seus colaboradores. Esses por sua vez, não tinham qualquer tipo de escrúpulos para que tão vantajosa relação fosse mantida. Valia tudo. Foram dezenas, centenas de servos de Lampião durante o seu reinado e para esses, o que valia era o dinheiro e outras vantagens que Virgulino podia lhes proporcionar, não importando laços de amizade ou sangue, se muitas pessoas ficariam na orfandade por conta de seus atos ou mesmo que sofrimentos sem fim seriam vitimados vários desditos, por conta de determinada atitude covarde e muitas vezes mentirosa do coiteiro caluniador ou do simples adulador de bandidos.

Quem mais sofria era quem não tinha um lado na peleja, o roceiro simples, o cidadão de bem. Envolvido com as partes, ninguém era santo, isso é certo. Foram muitos cangaceiros e volantes sanguinários. Pessoas que nem sei se pode-se chamar de gente, pois eram feras humanas, carniceiros da pior qualidade. Gato, Moreno, Zé Baiano, Corisco ou o próprio Lampião, dentre outros, estão nessa lista, pois foram tudo de ruim já descrito pela história, mas algumas pessoas daquela época foram até piores mesmo sem estarem presentes no campo de luta, pois com seus atos foram responsáveis por grandes atrocidades.

Os casos são muitos, os personagens mais ainda, mas particularmente destaco três que são símbolos do que pior pode existir no ser humano e do que existiu na triste história do cangaço. São na minha opinião seres desprezíveis do cangaço.

Joca Bernardo

Joca Bernardo, essa ignóbil criatura é foi uma dessas pessoas que infelizmente a história tem que registrar. Invejoso, cruzeteiro, mentiroso e extremamente covarde. Por conta de sua aversão aos cangaceiros, por ser corneado por um, o cabra Jacaré, do bando de Corisco, Joca decidiu procurar o sargento Aniceto, e delatou quem sabia onde Lampião com seu bando estavam acoitados. Por conta do seu fuxico morreram doze em Angicos, e para piorar, esse cabra ainda mentiu para Corisco, para que esse cometesse mais uma barbaridade, matando mais seis pessoas da Família Ventura. Ou seja: Joca Bernardo foi o responsável direto por 18 mortes, sendo seis inocentes, que nada deviam a cangaceiros ou volantes. Dizem que em Piranhas morreu no desprezo, que quando passava na rua, as pessoas davam-lhe as costas.


Horácio Grande, ou Horácio Novaes foi outro bandido de atitudes bem reprováveis. Ladrão, covarde e mentiroso, esse ser que não se sabe se tinha alguma virtude, além de ter roubado a tropa de burros da honrada família Gilo, se sentiu ofendido em ser pego com a boca na botija e ser desmoralizado por ser ladrão. Quis se vingar dos Gilos, numa total inversão de papéis, como se a honrada família fosse a errada da história. Na primeira investida se deu mal, pois perdeu um companheiro de empreitada, o cabra Brasa Viva, e ainda levou um tiro no saco, que quase lhe capa. Não desistindo de seu intento, Horácio Grande se aliou a Lampião e o envenenou contra a família do Sítio Tapera em Floresta. O cangaceiro tão esperto caiu nas mentiras do sicário florestano, e em agosto de 1926 com cerca de cem homens cometeu uma das maiores atrocidades que se tem conhecimento em sua vasta história de crimes. Por conta da sórdida atitude de Horácio Grande morreram treze pessoas da família e mais um soldado que veio em socorro dos desafortunados Gilos.

Outro personagem de triste memória também tem seu nome ligado à hecatombe da Tapera em Floresta. Antônio Muniz de Farias, oficial da polícia pernambucana, que teoricamente deveria dar segurança aos cidadãos de Floresta e região, foi também responsável pela morte da Família Gilo e um dos seus comandados, mesmo sem ter apertado o gatilho. O capitão Muniz Farias tinha dado a sua garantia aos Gilos que se Lampião fosse atacar a Tapera, ele mesmo iria com seu efetivo do quartel em Floresta, para acudi-los. Balela. Em cerca de dez horas de tiroteio o covarde oficial não só deixou de cumprir com a palavra empenhada, como proibiu seus comandados de agirem. Só o destemido Manoel Neto, num ato de insubordinação foi em auxílio do Gilos, perdendo com isso um soldado. 

Manoel Severo e o autor, Junior Almeida

Conta-se em Floresta, que o portador do pedido de socorro no quartel argumentava com água nos olhos que o oficial tinha dado a sua palavra, por tanto deveria Muniz, como homem que acreditavam que fosse, deveria cumprir.

Antônio Muniz Farias com esse ato de extrema covardia apagou da sua história qualquer ato de bravura que tenha feito e manchou de forma vergonhosa o nome da corporação. Sicários da pior espécie existiram muitos, mas um covarde como esse, que se escondia atrás da farda e foi responsável pela perda de 14 vidas, é um dos piores.

Junior Almeida, pesquisador e escritor
Conselheiro Cariri Cangaço
Capoeiras-Pernambuco

Lemuel Rodrigues: O Sertanejo entre o Cangaço e a Religiosidade


Hoje vamos relembrar na sessão "Do fundo do Baú" , a primeira de todas Conferências já realizadas em nosso Cariri Cangaço, na noite de 23 de setembro de 2009, na abertura da primeira noite do evento, o professor Lemuel Rodrigues; que depois veio a ser presidente da SBEC; nos trouxe o tema: Cangaço e Religiosidade, suscitando deste aquele primeiro momento a verdadeira essência do Cariri Cangaço.  

Personagens como Padre Ibiapina, Antônio Conselheiro, Padre Cícero, Beato Zé Lourenço, Sinhô Pereira e Lampião, desfilam a partir de um estudo lucido e abalizado do professor Lemuel Rodrigues trazendo as repercussões desses personagens e de suas narrativas na vida do sertanejo. Dentro da programação do Cariri Cangaço 2009, na cidade de Crato, na noite de abertura no Teatro Salviano Arraes em mesa que contou ainda com os pesquisadores Ivanildo Silveira, Ângelo Osmiro e Paulo Gastão, segue a grande Conferência de Lemuel Rodrigues . As imagens são de Aderbal Nogueira e sua Laser Video.

Veja na íntegra...


Fonte: You Tube  Canal: Aderbal Nogueira

Palestra do professor Lemuel Rodrigues
Realizada no Cariri Cangaço 2009
Cidade de Crato,CE
23 de Setembro de 2009

Antônio Amaury Fala sobre Angico em Palestra no Cariri Cangaço


Angico foi e continuará sendo um dos episódios mais estudados e comentados do cangaço. Hoje vamos relembrar na sessão "Do fundo do Baú" , uma das lendárias Conferências realizadas em nosso Cariri Cangaço, desta vez com o Mestre Antônio Amaury Correa de Araujo; dentro da programação do Cariri Cangaço 2009, na cidade de Juazeiro do Norte no Memorial Padre Cícero. Na mesa: Aderbal Nogueira, Paulo Britto e Paulo Gastão, além do Doutor Leandro Cardoso, contando ainda com a participação marcante de Alcino Alves Costa. As imagens são de Aderbal Nogueira e sua Laser Video.

Veja a Palestra na Íntegra...


Fonte: YouTube Canal:Aderbal Nogueira

"Paulista, Antônio Amaury, é um dos maiores pesquisadores da vida de Lampião e da história do cangaço, há mais de 60 anos em busca de informações sobre o assunto realizou muitas entrevistas (com pessoas da sociedade, do cangaço e das forças policiais da época e familiares remanescentes). Suas pesquisas minuciosas, diretas, imparciais, fazem-no um autêntico mestre, criterioso e honesto. Nos anos 70, tornou-se conhecido em todo o Brasil ao participar do "Programa 8 ou 800", da TV Globo, respondendo sobre o assunto. Tem vários livros publicados sobre o assunto, entre eles:“Lampião: Segredos e Confidências do Tempo do Cangaço”; “Assim Morreu Lampião”; “Lampião: As Mulheres e o Cangaço”; “Gente de Lampião: Dada e Corisco”; “Gente de Lampião: Sila e Zé Sereno”; “De Virgolino a Lampião”; “O Espinho do Quipá” (estes dois últimos em co-autoria com Vera Ferreira, neta de Lampião); “Lampião e Maria Fumaça” (co-autoria com Luiz Ruben F. de A. Bonfim, de Paulo Afonso – BA); “A Medicina e o Cangaço” (em co-autoria com Leandro Cardoso Fernandes, de Teresina – PI).
Seu trabalho mais recente é “Lampião e as Cabeças Cortadas”, também em co-autoria com Luiz Rubem Bonfim. É também Sócio-fundador da União Nacional de Estudos Históricos e Sociais – UNEHS.

Antônio Amaury Corrêa de Araujo possui fortes ligações com o Cariri Cangaço. Desde a primeira edição no ano de 2009 como um de nossos principais incentivadores e apoiadores, sendo figura principal dentre todos os ilustres convidados daquele que se prenunciava como um dos maiores eventos já realizados sobre a temática cangaço. Ao longo desses últimos dez anos de Cariri Cangaço, tivemos a honra e o grande privilégio de contar com o Mestre Antônio Amaury em incontáveis agendas, sendo referência na pesquisa e estudo da temática cangaço, muito nos honra em tê-lo na família Cariri Cangaço.

Palestra de Antônio Amaury
Realizada no Cariri Cangaço 2009
Cidade de Juazeiro do Norte,CE
26 de Setembro de 2009