Onde o Brasil de Alma Nordestina se Encontra... Por:Manoel Severo


O Cariri Cangaço é o resultado de um grande sonho. Em março de 2009 quando retornava da primeira edição do Seminário de Maria Bonita em Paulo Afonso aflorou em minha cabeça a ideia de tentar realizar em nosso estado do Ceará, mais precisamente na região do Cariri, um seminário onde pudéssemos resgatar um pouco da historiografia cangaceira na região, tão pouco conhecida pela grande maioria das pessoas. Num primeiro momento ouvia muitas indagações e provocações: "Cangaço no cariri? ...Está ficando louco? ...Como realizar um negocio desses aqui, sem nenhuma tradição com o tema? ...Evento para endeusar bandido?" ... Foi aí que alguns ingredientes acabaram se somando e o sonho acabou se tornando realidade: Determinação, perseverança, dedicação e amigos; muitos amigos, inúmeros amigos, de todos os lados e lugares, alguns antigos e outros novos, todos juntos começaram a acreditar que poderíamos fazer...e fizemos.


Mas não poderíamos continuar nossa conversa sem fazer o devido e responsável esclarecimento; explico: Apesar do fascínio que o cangaço exerce até hoje , o Cariri Cangaço , não nasceu com o sentimento de fazer apologia ao Cangaço, cangaceiros, violência, enfim; não "mitifica" e nem procura elementos para "endeusar" Virgulino Lampião nem nenhum outro personagem dessa saga sertaneja tão penosa e cheia de dor. O verdadeiro sentimento que moveu a todos nós foi o de proporcionar um ambiente ainda mais propício para o debate e aprofundamento dessa temática que é tão marcante em nossa terra e em nossa gente. O incrível acontece; Lampião e o Cangaço que tanto sofrimento trouxe para o ordeiro povo do sertão, hoje promove o encontro, a união e a harmonia na direção da busca da verdade histórica.
Nada se constroe sozinho! Poucos do universo da pesquisa e estudo do cangaço nos conheciam ; foi um "tiro no escuro" convidar os muitos confrades para virem ao cariri ver o que estávamos querendo fazer. A SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, foi de fundamental importância quando resolveu abraçar o evento através de todas as suas diretorias; Paulo Gastão, Kydelmir Dantas, Angelo Osmiro, Napoleão Tavares Neves, Leandro Cardoso, Lemuel Rodrigues, Aderbal Nogueira, João de Sousa Lima, Honório de Medeiros, Professor Pereira e tantos outros, foram fundamentais na consolidação desse primeiro momento.


Criamos um Empresa para realizar o evento, a Cariri do Brasil; que mais recentemente se tornou o Instituto Cariri do Brasil e a esse instituto se somaram entidades e academias culturais, organizações não governamentais, entes de promoção cultural, imprensa e formadores de opinião; a semente estava plantada e no trabalho de formiguinha tivemos três meses para regá-la e ver os frutos nascerem. Ali contavamos com o apoio de quatro municipios: Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Missão Velha.
De início tínhamos o desafio de estabelecer o formato do evento, a data, os conferencistas, tudo por tudo. Minha primeira preocupação foi fortalecer o conceito verdadeiro do evento. Era nosso desejo criar um Seminário, mesmo pequeno, onde pudéssemos de forma responsável, lucida e competente, trazer para nossos convidados e anfitriões, o resgate deste recorte da história do cangaço que poucos conheciam. O cariri cearense era sim um cenário privilegiado do cangaço, notadamente de Virgulino Ferreira. Como desconhecer a ação e episódios como a visita de Lampião a Juazeiro em 1926, a patente de capitão, sua suposta ligação com Padre Cícero; o fogo da Piçarra, a morte de Sabino, a amizade com Seu Tôim da Piçarra; como esquecer os marcantes momentos de Lampião em Aurora, Izaias Arruda, traição, fogo; e personagens como Major Zé Inácio, Sinhô Pereira, Chico Chicote, Irmãos Marcelinos, Coronel Santana, enfim. O cariri tinha sim, muito a contar e ser contado.


O Cariri Cangaço nasceu com esse sentimento; lúcido e responsável; em trazer para o sul do Ceará esse fórum qualificado que pudesse de forma clara; não fazendo apologia ao banditismos ou endeusando cangaceiros; num primeiro momento discutir esse fenômeno tão rico e intrigante que foi o cangaço, e que se tornasse uma ambiente plural e cheio de capilaridade para também discutir outras temáticas ligados ao nosso nordeste, às nossas raízes, à nossa história... e memória, e aí vamos encontrar o cordel, a música, a estética, os beatos, o messianismo, os coronéis, a culinária, a medicina, enfim. E na noite de 22 de setembro de 2009, estávamos realizando a abertura do 1º Cariri Cangaço, na cidade de Crato. Com mais de 70 pesquisadores convidados e um público de 376 pessoas, 19 conferências e debates e 22 visitas técnicas, em seus seis dias de realização reunimos mais de 1.500 pessoas no total, começava ali uma grande caminhada. Assim nasceu o Cariri Cangaço, um evento construído para todos aqueles que acreditam que nosso futuro tem estreitas ligações com nosso passado, nossas tradições e nossa história...
Estamos às vésperas de comemorar seis anos de existência, rompemos as barreiras do Ceará e o Cariri Cangaço se consolida como o mais respeitado e qualificado fórum sobre a temática; presente em 5 estados da federação: Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, já realizou 83 Conferências, reuniu mais de 500 pesquisadores e mais de 13 mil pessoas em todas as suas edições; possui 16 sedes oficiais: Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Aurora, Porteiras, Barro, Lavras da Mangabeira; no Ceará, Piranhas em Alagoas; Poço Redondo em Sergipe; Sousa, Nazarezinho, Lastro, Princesa Isabel, São José de Princesa em Pernambuco; e Floresta em Pernambuco; configurando-se numa das mais autenticas Festas da Alma Verdadeiramente Nordestina.

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço

Muito mais que um Sucesso! Por:Edvaldo Feitosa


Caro Manoel Severo, O que falar sobre uma família tão contagiante o quanto é a família Cariri Cangaço ? Ah, meu ilustre amigo Severo a página é pequena para tantos relatos! Mas resumindo posso lhe dizer: Respeito, seriedade, solidariedade, planejamento,  competência e tantos outros adjetivos que por si, qualificam e justificam a existência desta grande família nordestina. Parabéns! A edição Cariri Cangaço Piranhas 2015, foi muito mais que um sucesso. 


Além da organização e do conteúdo literário apresentado fomentou a construção de novos amigos, escritores e, simpatizantes da história e do estudo dos movimentos sociais, a exemplo o Cangaço. Saímos fortalecidos com o dinamismo das palestras. Quem participou só teve a ganhar. Evidente que a edição de luxo do Cariri Ceará não será diferente, pois o passado foi e continuará a ser a base do presente.

Cordialmente, fraterno abraço
Edvaldo de Araujo Feitosa - pesquisador e escritor
Água Branca, Alagoas

Aos meus queridos amigos do Cariri Cangaço Por: Raul Meneleu


Nesse encontro do Cariri Cangaço na linda  e aprazível cidade de Piranhas em Alagoas, onde o valente rio São Francisco passeia languidamente em sua porta, acariciando-a como um esposo amoroso faz com sua querida consorte, alguns desses valentes do tema, desencantaram para que eu os visse. Estavam por enquanto, aguardando o dia em que se apresentariam ao meu lado, surgindo em um turbilhão de assuntos, idéias, teses e causos vividos pelo passado de uma história marcante no povo brasileiro e principalmente nordestino. Foram surgindo, desencantando-se, apresentando-se, saindo das páginas de estudos do universo virtual da internet, dos e-mails e dos telefonemas, onde trocamos idéias do assunto que nos amalgama, o Cangaço.
                                            
Não fazemos apologia aos crimes desses bandidos combatidos pelas Volantes sertanejas, e sim, compreendermos uma fase da história nordestina em que alguns foram heróis e outros bandidos. Compreendermos e resgatarmos estórias passadas com esses homens de fibra e valentes de ambos os lados.

Raul Meneleu e Lamartine Lima na Fazenda Patos

No último dia 27 de julho de 2015, todos esses amigos desencantados, surgiram e se materializaram nessa cidade alagoana desde o dia 25 de julho. No momento nos encontramos na Fazenda Patos, para sermos lembrados de uma triste estória do passado que tornou-se um dos maiores, senão o maior crime cometido pelo valente e ao mesmo tempo covarde  cangaceiro Corisco, sobre uma família pacífica do sertão das Alagoas.

A estória nos foi narrada por um dos que viveram à época em que os fatos ainda estavam latentes, o Senhor Celso Rodrigues. Quando menino ouvindo os adultos conversarem no balcão da bodega de seu pai, estabelecida em Piranhas naqueles anos pós morte de Lampião. Esse garoto, homem idoso hoje, com palavras cadenciadas e veementes, nos fez passar por um portal do tempo, em frente à casa quase destruída pelo abandono dos anos, e passou a contar-nos o triste assassinato de seis membros da família que ali em felicidade viviam.

Celso Rodrigues ao lado de Antonio Amaury e João de Sousa Lima na Fazenda Patos

Todos nós em silêncio gritante ouvíamos aquela narrativa que estarei postando breve em link (já postado neste mesmo blog) nesse artiguete despretensioso mas marcante e que me fez acordar às quatro horas da manhã de hoje, dia 28 de julho, para que no silêncio dos humanos moradores de  Piranhas, pudesse eu, escrever pelo canto dos pássaros e pelo encaminhar silencioso do Velho Chico, essas palavras vindas do fundo de minha alma idosa e não acostumada nunca, com as violências de alguns seres que têm mais marcante em seus DNA os traços mais acentuados do animal que habita em nós.  

Choramos juntos, todos nós desencantados, naquele terreiro da casa do coiteiro Domingos Ventura, sua esposa e mais quatro membros de sua família que foram covardemente assassinados e decepadas suas cabeças e enviadas para o Tenente João Bezerra que tinha comandado as Volantes que livraram o povo nordestino do famigerado Lampião.

Casal Raul Meneleu no Cariri Cangaço Piranhas 2015
              
Plantamos uma centena de árvores no terreiro da fazenda para que lembrem às autoridades que apressem os reparos da estrutura daquela casa, para que se perpetue a saga, a triste sina, os momentos de pavor, para que, não por morbidez lembremos, mas para que fique registrada para a história e já está, a violência do banditismo dos cangaceiros.

Aos meus amigos que desencantaram perante esse também desencantado para eles, meus respeitos e considerações. À Família CARIRI CANGAÇO desejo de todo coração como membro mais novo dessa família,  que os propósitos para que nasceu fiquem perenes no tempo. Um forte abraço a todos. 

Raul Meneleu
Aracaju, Sergipe
Fonte:http://meneleu.blogspot.com.br/2015/07/aos-meus-amigos-cangaceiros-coiteiros-e.html

Lampião Vive - Cariri Cangaço Piranhas 2015 ! Por: Junior Almeida

Cariri Cangaço Piranhas 2015...

Mesmo depois de 77 anos de sua morte, completados no último dia 28 de julho, ainda é muito forte a presença do Capitão Virgulino e seus sicários na vida de várias cidades do Nordeste. Diferente do passado, de quando todos temiam Lampião, agora sua presença é bem vinda, pois gera renda aos lugares onde cangaceiros passaram, muitas vezes cometendo atrocidades. Cidades como Serra Talhada em Pernambuco, Paulo Afonso na Bahia, Mossoró no Rio Grande do Norte e Piranhas em Alagoas são exemplos de como a memória de tempos sombrios para o povo do Sertão pode ser explorado para receber turistas ávidos por informações daqueles homens rudes, que levavam medo aos nossos avós. 

Essas pessoas que querem saber de tudo isso, e muitos que até se vestem de cangaceiros, estão incentivando a violência e o banditismo? Não! Assim como na Europa se preserva a memória das guerras através de antigos campos de concentração, armas, fornos crematórios e câmaras de gás nada mais natural que conheçamos a nossa História. Em Serra Talhada além de lugares como o museu na antiga estação ferroviária e a casa onde nasceu Virgulino, no Sítio Passagens das Pedras, eventos tendo o cangaço como tema são realizados o ano inteiro, como encontro de xaxado e o dito maior espetáculo ao ar livre do Sertão, a peça teatral que fala da morte de Lampião em Sergipe. 


Portal de Entrada...Cariri Cangaço Piranhas 2015

Em Mossoró, no mês de junho de 1927 Lampião e seu bando se deram mal, ao tentar invadir a cidade. Hoje em dia a data é comemorada com festa e o espetáculo "Chuva de Balas" é encenado em via pública atraindo grande público. Mossoró tem também o "Museu da Resistência", que expõe objetos daquele tempo, e em seu cemitério o túmulo da cangaceiro Jararaca atrai romeiros achando que aquele que foi bandido em vida hoje é santo. Acredite se quiser.

Aqui pertinho de nós, em Paranatama, aconteceu um episódio parecido com o que aconteceu em terras potiguares. Se o povo da antiga Serrinha do Catimbau se atentar, pode ganhar dinheiro com a História da tentativa de invasão de Lampião, onde ele também não obteve êxito. Em Paulo Afonso além de várias atrações ligadas ao cangaço, existe a casa/museu de Maria Bonita, restaurada pelo pesquisador João de Souza Lima, no Sítio Malhada da Caiçara, onde ela nasceu em 1911. 



Poço Redondo e Canindé de São Francisco em Sergipe e Piranhas em Alagoas têm em seus territórios lugares que fazem parte da História do Brasil. A Grota do Angico, local onde Lampião, Maria Bonita, nove cangaceiros mais um soldado volante foram mortos hoje em dia é visitada por milhares de turistas todos os anos, apesar do seu difícil acesso. As fazendas Patos, Picos e Maranduba foram palco de muita dor e sofrimento, com mortes em batalha e também de maneira cruel e covarde. 

Para manter viva toda essa memória e também corrigir erros da História, bem como levar ao conhecimento do público novas descobertas, foi criado em 2009 o "Cariri Cangaço", que reúne os mais renomados escritores, pesquisadores e amantes do tema cangaço. Tendo à frente Manoel Severo Barbosa tem como membros, além de muitos outros: Doutor Lamartine Lima, João de Souza Lima,Antonio Vilela, José Bezerra Lima Irmão, Luiz Ruben, Renato Luiz Bandeira, Ana Lucia Souza, Narciso Dias, Juliana Pereira, Oleone Coelho Fontes, Antônio Amaury, Archimedes Marques, Aderbal Nogueira, Romero Cardoso, Wescley Rodrigues, Kiko Monteiro, dentre outros. 

Manoel Severo e a grande noite de abertura do Cariri Cangaço Piranhas 2015 

A "família Cariri Cangaço" realiza em seus encontros uma verdadeira aula de "nordestinidade", mostrando como foi árduo e muitas vezes sangrento o nosso passado, nos mostrando erros que não devemos mais cometer, para que no futuro não se criem novos cangaceiros. 

No ultimo final de semana de julho, estivemos em Piranhas, onde conhecemos vários pontos da história do cangaço. Vimos de perto lugares onde Gato e Corisco cometeram barbáries, participamos da missa no exato local da morte de Lampião e seu bando, assistimos palestras, soubemos de fatos novos, enfim: Voltamos com um pouco mais de conhecimento desse assunto tão apaixonante, que quanto mais estuda, mais dá vontade de saber.



Gostaria de registrar e agradecer a maravilhosa acolhida das pessoas de Piranhas e Poço Redondo que se desdobraram para que os participantes do evento se sentissem em casa. Em terras alagoanas nas pessoas de Celsinho Rodrigues, Patrícia Brasil, Sonia Jacqueline, secretária estadual de cultura, Melina Freitas, prefeito de Piranhas Manoel Brasiliano e o deputado Inácio Loiola. 

Em Sergipe agradecemos ao prefeito de Poço Redondo, Roberto Araújo e aos familiares do escritor Alcindo Costa. Aos novos amigos que eu, minha esposa Ranaise Almeida e minha filha Giovanna Yasmim fizemos, com destaque para Jose Tavares Neto , Manoel Serafim e Teresa, Sousa Neto , Maria Amelia Souza e Romero Cardoso, dentre tantos outros. Obrigado pela honra de os conhecer. Ao curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo, obrigado pela oportunidade de conhecer um pouco mais da nossa História. Até o próximo Cariri Cangaço, se Deus assim nos permitir.

Junior Almeida
Pesquisador e Escritor
Capoeiras, Pernambuco

Um Evento Para Não Ser Esquecido Por:João de Sousa Lima


Sou suspeito quando me refiro à cidade de Piranhas, pois sou incondicionalmente apaixonado por essa Veneza São Franciscana e, pra completar, ela sempre foi um dos meus palcos de pesquisas sobre o cangaço. Acostumado andar Brasil afora participando de congressos, encontros, seminários e eventos voltados para o tema cangaço, estive no 1° Encontro de Escritores do Cangaço acontecido em Brasília e depois disso em todas as edições do Cariri Cangaço e produzimos aqui em Paulo Afonso três seminários sobre o Centenário de Maria Bonita, A Rainha do Cangaço. Todos os eventos servem para reencontrarmos amigos, escritores e pesquisadores. Ao longo do tempo surgiu uma grande irmandade entre todos (ou quase todos, pois algumas rusgas existiram e existem sempre, mesmo sendo apaziguados os mais exaltados quando os nervos afloram em discussões)

O Cariri cangaço Piranhas 2015, confesso, me surpreendeu. Nunca a cidade havia se movimentado tanto diante de um objetivo; Os responsáveis pelo projeto suaram a camisa e mobilizaram um evento de porte grandioso. Começando pela forma de trabalho, divulgando e visitando pontos históricos que registraram fatos ligados ao cangaço. Todos puderam aprender “IN LOCO” sobre as ações acontecidas na região, desde a fazenda Picos onde Inacinha foi baleada e presa, passando pela Cachoeirinha onde o cangaceiro Gato fez várias mortes e seguiu para invadir Piranhas na tentativa frustrada de resgatar sua companheira.


Chegando ao palco da chacina maior, na fazenda Patos, onde Corisco assassinou a família do inocente Domingos Ventura, em vingança a morte de Lampião. Em homenagem as mortes, plantamos várias árvores caatingueiras, contribuindo com a preservação da natureza.

Na abertura da Semana do Cangaço de Piranhas, com o auditório Miguel Arcanjo lotado, todas as tribos estavam lá. A filarmônica Mestre Elísio recepcionou o grande público entoando várias canções do cenário nordestino, em destaque as obras do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. De Paulo Afonso seguimos em caravana: Eu, Josué Santana, Nely Conceição, Aninha Lúcia, Alan Ferreira, Ivan Caetano, Luiz Ruben, Antônio Martins, Macário, Gilmar Teixeira, Joventino e Antonio Lira.

Dentre tantas personalidades revi pessoas que gosto muito: Jorge Remígio, Narciso Dias e Catarina, Sousa Neto, Leila, Jair Tavares, Patrícia, Paulo Brito e Anne, Manoel Severo , Aderbal Nogueira, Afrânio, Osvaldo, Archimedes, Ivanildo Silveira, Kiko Monteiro, Railda, Rostand, Zé Cícero, Inácio Loiola, Cacau, Jairo e Angecila, Juliana Pereira, Lamartine Lima, Edvaldo Feitosa, Leandro Duran, Oleone, João Bezerra, professor Pereira, Tomaz e seu escudeiro Afrânio, Berg Taylor, Primo de São Bento do Uma, Wescley, Urbano Silva, Marcos Carmelita e Silvana, padre Agostinho Justino, José Tavares, Elane, Cristiano, Manuel, Lívio Ferraz, Louro Telles.  O clã dos “Rodrigues” representados pelos amigos Celso, Jaqueline, Celsinho, Patrícia Brasil e os irmãos Reginaldo e Petrucio. 

Renato Bandeira, João de Sousa Lima, Manoel Severo e Josué Santana

Os Rodrigues estiveram diretamente ligados na organização e no bom andamento da Semana do Cangaço de Piranhas - Cariri Cangaço Piranhas 2015. Um dos fatos mais marcantes foi a Homenagem ao escritor e amigo Alcino Alves Costa, com a inauguração do seu Memorial, em Poço Redondo, onde fotos e objetos espalhados em salas relembraram aquela figura excepcional. Na mesma cidade visitamos Maranduba, lugar de um dos maiores combates entre cangaceiros e policiais.

Dos acirrados debates podemos conhecer os pesquisadores que estudam com seriedade o tema e os que tentam a todo custo colocar fatos tirados da invencionice e da incapacidade de ser sério no que faz, porém esses maus pesquisadores são rebatidos por diálogos exasperados e o tempo mesmo cuidará de afastá-los dos bons.

Homenagem a Alcino Alves Costa em Poço Redondo no Cariri Cangaço Piranhas 2015

De algumas palestras tiramos proveito, aprendemos, socializamos. Dos lugares visitados vemos o palco das lutas sangrentas daquele tempo e temos a dimensão do que foi o fenômeno cangaço no nordeste brasileiro. Na travessia do milenar Rio São Francisco visualizamos as belezas daquela paisagem exuberante.

Ganhamos muito em participar de eventos desse porte. Na magnitude das expressões apresentadas ganhamos conhecimento. Em cada página debatida ou visualizada extraímos alguma coisa de bom. As trilhas, as palestras, as subidas, o tempo sempre curto, a sede, a fome, o sono... Tudo isso é superado  nas rodas de conversas dos amigos. Mas nada, nada mesmo, supera os abraços, os risos, as resenhas engraçadas, as várias fotografias que eternamente farão parte da história de nossas vidas...

Nada supera essa irmandade. Finda-se um evento e  recompomos, então a saudade surge, olhamos as imagens e tudo vem à tona...Nada paga aqueles sorrisos... Na lembrança dos trajetos trilhados a história se perpetua e as imagens dos amigos grudam na alma feito tatuagem que teima em ser eterna.... Cariri Cangaço Piranhas 2015.

Paulo Afonso, 30 de julho de 2015
João de Sousa Lima
Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso – Cadeira 06
Escritor e Historiador - Conselheiro do Cariri Cangaço
http://joaodesousalima.blogspot.com.br

A Festa do Cariri Cangaço Piranhas 2015 Por:Rostand Medeiros

Até recentemente talvez muitos não imaginassem que um tema como o fenômeno de banditismo do Cangaço, sempre tão controverso, tão espinhoso, que produz tantas discussões apaixonadas, que mexe com tantas emoções (muitas delas terrivelmente dolorosas), conseguisse reunir pessoas em um evento onde ocorressem interessantes debates e instrutivas visitas aos locais onde aconteceram os fatos.
Mas este evento existe, já acontece há seis anos e é um grande sucesso. Estou comentando sobre o Cariri Cangaço, que recentemente encerrou mais uma edição em Piranhas, Alagoas. E eu estive lá!

Noite de Abertura do Cariri Cangaço Piranhas 2015. Aqui apoiando a homenagem criada pelo amigo Ivanildo Silveira (vestido a caráter) na entrega de Placas de Honra ao Mérito pelos relevantes serviços prestados a cultura nordestina a várias personalidades do universo da pesquisa e estudo do cangaço. Receberam a honraria: Manoel Severo (na foto, de paletó), curador do Cariri Cangaço; os pesquisadores; de Barro (CE), Sousa Neto; de Paulo Afonso (BA), Luiz Ruben; de Cajazeiras (PB), Professor Francisco Pereira e de Nazaré do Pico (PE), Netinho Flor.
Noite de Abertura do Cariri Cangaço Piranhas 2015. Aqui apoiando a homenagem criada pelo amigo Ivanildo Silveira (vestido a caráter) na entrega de Placas de Honra ao Mérito pelos relevantes serviços prestados a cultura nordestina a várias personalidades do universo da pesquisa e estudo do cangaço. Receberam a honraria: Manoel Severo (na foto, de paletó), curador do Cariri Cangaço; os pesquisadores; de Barro (CE), Sousa Neto; de Paulo Afonso (BA), Luiz Ruben; de Cajazeiras (PB), Professor Francisco Pereira e de Nazaré do Pico (PE), Netinho Flor.

O Cariri Cangaço teve sua primeira edição realizada em 2009, no Ceará, sendo uma ação do Instituto Cariri do Brasil. A frente desta luta pela nossa história está Manoel Severo, que com sua força, energia e seus sonhos, consegue com sucesso realizar este evento em várias cidades nordestinas.
Mesmo sendo o Cangaço um fenômeno que existiu exclusivamente no Nordeste do país, durante os dias 25 e 28 de julho eu tive a grata oportunidade de me reunir com pessoas vindas de 16 estados do Brasil. Eram pesquisadores, escritores, professores, estudantes universitários, artistas, documentaristas, cineastas e curiosos.

Junto com os amigos Ivanildo Silveira (RN) e Kiko Monteiro (SE)
Junto com os amigos Ivanildo Silveira (RN) e Kiko Monteiro (SE)

Durante os quatro dias do evento aconteceram palestras com os temas “Piranhas e suas histórias”, “Um Estudo Multidisciplinar sobre o Cangaceirismo”, “Uma Viagem Fotográfica pelo Cangaço”, “A Vingança de Corisco no Palco dos Inocentes”, “Arqueologia do Cangaço”, entre outros.
A maioria das palestras ocorreu em Piranhas, principalmente no moderno Centro Cultural Miguel Arcanjo. No local também ocorreram apresentações do Grupo Musical Armorial e do Teatro do Cordel da Rabeca, este último com o espetáculo “O Amor de Filipe e Maria e a Peleja de Zerramo e Lampião”.

Com Sousa Neto (CE) e Kiko Monteiro (SE)
Com Sousa Neto (CE) e Kiko Monteiro (SE)

Em relação à bela cidade alagoana de Piranhas, conhecida como “Lapinha do Sertão”, é indiscutível que ela recebeu a todos de braços abertos e com extrema atenção. Uma parte da organização esteve sob a competente batuta do empresário Celso Rodrigues e de Patrícia Brasil, sua distinta esposa e secretária de cultura e turismo do município de Piranhas. Além deles inúmeras pessoas da região trabalharam arduamente para que os debates e as apresentações sobre a história dos cangaceiros e de suas vítimas fossem democratizados de maneira ímpar.

Com o Dr. Lamartine (BA) e sua esposa
Com o Dr. Lamartine (BA) e sua esposa

Já sobre as visitas é inegável que todas foram extremamente interessantes. Mas, pessoalmente, adorei a visita realizada no local do Combate de Maranduba. E a razão foi está ao lado do Dr. Lamartine de Andrade Lima.
Aí vou ter que fazer uma paradinha para comentar que este tranquilo alagoano de nascimento, que mora em Salvador a muitos anos, possui entre seus títulos e realizações o fato de ser um orgulhoso Oficial Superior Médico da Marinha do Brasil, ter realizado o Curso Superior da Escola de Guerra Naval, ser detentor da Medalha do Mérito Almirante Tamandaré, da Medalha Militar de Prata, da Medalha de Ouro do Memorial da Medicina Brasileira, ser Professor Honorário da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Professor-Assistente de Medicina Legal da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública, Assistente Voluntário de Medicina Legal da Universidade Federal da Bahia, Perito Médico-Legal do Instituto “Nina Rodrigues”, além de ser um dos mais respeitados estudiosos do cangaço no Brasil. Ligado intelectualmente ao mestre Estácio Luiz Valente de Lima – criador do Museu do Cangaço e cientista que escreveu o “Mundo estranho dos Cangaceiros” – livro clássico sobre o tema, o Dr. Lamartine também realizou criteriosos estudos sobre o assunto, baseados em persistente pesquisa e na convivência que teve com inúmeros cangaceiros, presos em Salvador, e acompanhados pelo Dr. Estácio.

Dr. Lamartine reconhecendo as velhas munições
Dr. Lamartine reconhecendo as velhas munições

Apesar de todo o seu vasto currículo e de toda sua sabedoria, pessoalmente a mais importante situação que percebo no contato com o Dr. Lamartine é a sua extrema simplicidade e sua inegável vontade de dividir o conhecimento.
Após a realização da visita ao local onde existe uma cruz que marca o ponto principal do Combate de Maranduba, eu e o amigo Kiko Monteiro seguimos para a Capela de Santa Luzia, padroeira da comunidade, com a intenção de esperar o amigo Ivanildo Silveira e seguirmos viagem. Mas ali encontramos o Dr. Lamartine em animada palestra com dois agricultores da região. Debatiam sobre um local denominado “Fogo dos Homens”, onde presumivelmente ocorreu um desdobramento do Combate de Maranduba.
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O tempo estava chuvoso, do jeito que os agricultores nordestinos gostam, mas isso não impediu que o Dr. Lamartine convidasse os agricultores, o amigo Kiko e eu, para visitarmos o dito local que ficava a cerca de dois quilômetros de distância. Seguimos no seu carro e logo desabou o maior toró, mas mesmo assim o Mestre nem se importou. Esperamos um tempo a chuva aplacar, enquanto o Dr. Lamartine dava uma verdadeira aula sobre os caminhos naturais das chuvas no sertão, analisando empiricamente a direção das gotas, a velocidade do vento e outras condicionantes.  
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Pouco tempo depois a chuva diminuiu e podemos chegar ao local do “Fogo dos Homens”. E aí eu tive a grata oportunidade de ter uma aula com alguém que sabe ensinar e sabe o que está falando!
O Dr. Lamartine seguiu pelo campo protegido por uma sombrinha e escutava com paciência e interesse os relatos dos agricultores. Eles informaram que ao longo dos anos, quando aravam a terra neste local, sempre encontravam cápsulas deflagradas. Ele questionou os locais onde mais eles encontravam estes restos de munições de fuzis, os pontos onde existiram árvores mais antigas e resistentes que serviram para a defesa dos cangaceiros, ou policiais. Seguia visitando os marcos indicados por aqueles homens simples, sempre ouvindo mais que perguntando.

Junto ao Mestre Lamartine e seus informantes. Uma grande aula!
Junto ao Mestre Lamartine e seus informantes. Uma grande aula!

Ao final, na parte mais elevada do local, a partir das informações recebidas daqueles simples nordestinos, o Dr. Lamartine fez uma memorização muito acurada do que foi publicado sobre o Combate de Maranduba, realizou sucinta análise do uso militar do terreno em que nós encontrávamos, dos pontos existentes para uma defesa satisfatória, dos possíveis pontos de disparos, dos locais favoráveis a emboscadas, rotas de fuga e etc.

Foto Kiko Monteiro
Foto Kiko Monteiro

Em mais de uma hora naquele local eu tive uma intensa e profunda aula sobre táticas de combate e a arte da guerra como jamais tive em toda minha vida.

Aprendendo mais com dois Mestres - Antônio Amaury Corrêa de Araújo  (Sentado á minha direita) e o Dr. Lamartine (a minha esquerda)
Aprendendo mais com dois Mestres, Antônio Amaury Corrêa de Araújo e o Dr. Lamartine 

Como diz meu amigo Sousa Neto, “Uma coisa é ler sobre um combate, a outra é está no local onde tudo ocorreu e assim conseguir um melhor entendimento dos fatos”. E eu complemento – E muito melhor é está em um local desses ao lado de um Mestre como o Dr. Lamartine de Andrade Lima.
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Voltando a Semana Cariri Cangaço 2015. Este evento também contou com a participação do estado de Sergipe, através da inauguração do Memorial Alcino Alves Costa, no município de Poço Redondo. O sergipano Alcino Costa (já falecido) foi um escritor, pesquisador e memorialista que conviveu com inúmeros cangaceiros e vítimas deste fenômeno, a quem tive o privilégio e a honra de conhecer em 2010.
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Não podemos olvidar que este encontro foi realizado em parceria com a SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará e o Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço.

Com o amigo  Raul Meneleu Mascarenhas (SE)
Com o amigo
Raul Meneleu Mascarenhas (SE)

Paralelo a Semana Cariri Cangaço 2015 ocorreu mais uma edição da Missa do Cangaço, na Grota do Angico, local da morte de Lampião e Maria Bonita em 1938. A Grota do Angico fica localizada na divisa dos municípios de Poço Redondo e Canindé do São Francisco, já a missa tem o objetivo de homenagear o aniversário de morte de Lampião, Maria Bonita e nove outros membros do seu bando, bem como também de preservar e manter viva a história do Cangaço. 

Junto com Vera Ferreira (SE), neta de Lampião e Maria Bonita
Junto com Vera Ferreira (SE), neta de Lampião e Maria Bonita

Este evento foi promovido pela jornalista Vera Ferreira, neta deste famoso casal de cangaceiros. Pessoalmente foi um momento muito positivo me reencontrar com Vera Ferreira, a quem não via já fazia um bom tempo e a quem tanto eu admiro!
Como está descrito no blog do Cariri Cangaço ( http://cariricangaco.blogspot.com.br/ ) – “A cada edição o numero de expectadores e convidados especiais só aumenta, em cada sede, em cada cidade, mais do que um evento, mais que uma reunião de escritores e pesquisadores, mais que um responsável conjunto de palestras, painéis debate histórico, mais do qualquer coisa, traduzimos nosso Cariri Cangaço como um espetacular encontro de amigos”.
Rostand Medeiros - http://tokdehistoria.com.br/

Edição de Luxo - Ano V

Manoel Severo, Curador do Cariri Cangaço

Era setembro de 2009 quando um grupo de amigos, unidos por propósitos e por paixão, realizavam pela primeira vez um seminário de natureza itinerante, com palestras, debates, visitas, arte, musica e gastronomia. Na época eram apenas quatro cidades, Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Missão Velha, todas no Ceara. Com apoio incondicional da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço e de uma multidão de amigos nascia uma das mais extraordinárias iniciativas do universo da pesquisa e estudo da temática cangaço, ali, no dia 22 de setembro de 2009, nascia o Cariri Cangaço.

Hoje passados todos esses anos, depois de muito chão percorrido, a essa empreitada se somaram 18 municípios de 5 estados nordestinos. Depois da realização de exatas 87 conferencias e palestras, 45 mesas de debates e painéis e 76 visitas técnicas de pesquisa, reunindo ao longo desse tempo mais de 14 mil participantes, chegamos a nossa quinta edição em solo cearense que em breve apresentaremos em grande programação ! Aguardem...

Dias 23 a 27 de setembro de 2015, 
estaremos realizando o 
Cariri Cangaço  
Edição de Luxo - Ano V

Sexo, Amor e Polêmica em Noite de Debates no Encerramento do Cariri Cangaço Piranhas 2015 !

Aderbal Nogueira, Wescley Rodrigues, Juliana Pereira e Manoel Severo

Novamente o auditório do Centro Cultural Miguel Arcanjo, centro histórico da mais bela cidade ribeirinha do Brasil; viveu momentos eletrizantes e marcantes, cheio de polemica e muita discussão quando trouxe à luz do debate outro tema dos mais intrigantes de todo o evento: A Sexualidade no Cangaço. Para a mesa tão esperada: Aderbal Nogueira, Wescley Rodrigues e Juliana Pereira.

Tendo como primeiro painelista o Professor Mestre da Universidade de Campina Grande, doutorando em Historia Cultural, Wescley Rodrigues, de Cajazeiras, a temperatura aumentou e o grau da polêmica chegou a envolver inclusive a inviolabilidade da masculinidade dos homens cangaceiros, o professor Wescley Rodrigues afirma: "chegou a hora desta geração de pesquisadores recortar com responsabilidade as temáticas que envolvem o cangaço em todas as suas nuances e capilaridades, assim nos propomos a discutir com lucidez a questão da sexualidade masculino, que ficou sob minha responsabilidade, sobre a sexualidade feminina com Juliana Pereira e o amor no cangaço com Aderbal Nogueira".

Juliana Pereira e a sexualidade feminina na época do Cangaço"

"O meio molda nossa sexualidade... Aqui no sertão do nordeste vivíamos uma sociedade patriarcal...esta história de que as mulheres eram livres no cangaço é uma grande mentira" reforça Wescley Rodrigues em sua fala e em certo momento , arremata sobre a historia da masculinidade de grandes vultos da historia:" Vejam, Julio Cesar o imperador romano, era conhecido como o homem de todas as mulheres e a mulher de todos os homens. Acredito sim que existiam homossexuais no cangaço... Por quê ? Porque são seres humanos..." 

E continua o professor Wescley Rodrigues, apimentando ainda mais o debate :"Acho que todos devem ler o livro de Pedro Moraes (Lampião o Mata Sete) , até para poder criticar, até para poder contra-argumentar. A obra de Pedro Moraes para mim, é uma grande obra de ficção, ali nada se pode provar, mas é importante que se leia. Eu particularmente não acredito de jeito nenhum na pretensa homossexualidade de Lampião, a tese de Pedro Moraes não tem fundamento algum." Já o pesquisador Ivanildo Silveira, dentro do debate rebate: “esse livro de Pedro Moraes é um lixo, é um desserviço a literatura do cangaço é um livro para ganhar dinheiro, tenho vergonha de um livro como esse.”

Pesquisador Ivanildo Silveira na polemica noite de debates..
Pesquisador Archimedes Marques e a desconstrução do "Mata Sete" de Pedro Moraes

A advogada e historiadora cearense Juliana Pereira por sua vez nos trouxe abordagens ligadas à sexualidade feminina e o perfil das cangaceiras e provoca: "Não se reconhece a importância da mulher no universo cangaceiro, muitos ainda não atentaram com o devido cuidado para todas as mudanças que houveram com a entrada das mulheres no cangaço, a partir de Maria Bonita".

"A entrada da mulher humanizou o cangaço, eu não tenho dúvidas; quanta selvageria foi amenizada ? A entrada das mulheres estabeleceu sim a verdadeira segunda fase do cangaço, isso não podemos desconhecer" assegura Juliana Pereira. Nesse segundo momento do Painel da noite, a pesquisadora cearense navegou pelos vários olhares sobre esse universo surpreendente que envolvia a presença do sexo feminino no cangaço, se configurando como um dos momentos marcantes do Cariri Cangaço Piranhas 2015 e completa: "Realmente acho que havia sim amor no cangaço, temos o próprio caso do primeiro casal; Virgulino e Maria, por outro lado penso que com Dadá houve uma espécie de síndrome de Estocolmo...Ela acabou se apaixonando por seu algoz..."

Carlo Araujo e o debate sobre sexualidade no cangaço.
Ivanildo Silveira, Elane Marques, Ingrid Rebouças, Neli Conceição, Luana Cavalcante e Pedro Barbosa

Já o pesquisador e documentarista cearense, diretor da SBEC e do GECC, Aderbal Nogueira acentua a discussão "Porque no cangaço não poderia haver homossexuais ? Eu particularmente acho que Lampião não foi homossexual, essa conversa é sem pé nem cabeça, mas acho sinceramente que poderia ter havido sim no cangaço, precisamos acabar com esse tabu. Nos recusamos a falar nisso por nosso próprio preconceito."

E continua Aderbal Nogueira: "Eu não acho que as mulheres foram a grande causa da derrocada do cangaço, mas estou convencido que elas atrapalharam e muito aqueles caras...E outra coisa essa historia de amor no cangaço eu também não acredito nisso não, em caso de tiroteio era cada um por si, eles se defendiam e elas que se virassem" E completa Aderbal Nogueira, "é muito bonito a poesia o que tá nos livros, etc, mas duvido que nenhuma mulher aqui desejasse viver uma vida daquelas e discordo da pesquisadora Juliana, não acho que houve humanização nenhuma... O amor no cangaço foi uma grande ilusão.

Felipe Mafuz, Aderbal Nogueira, Manoel Severo e Juliana Pereira
Eliene Costa, Manoel Severo e Celsinho Rodrigues

Cariri Cangaço Piranhas 2015
Centro Cultural Miguel Arcanjo, 27 de Julho
Piranhas, Alagoas

NOTA CARIRI CANGAÇO- Em breve a Curadoria do Cariri Cangaço estará disponibilizando, em podcast, na integra todas as palestras, conferencias e painéis do Cariri Cangaço Piranhas 2015.

Arqueologia do Cangaço: Cariri Cangaço Piranhas 2015 em debate

Professor Leandro Duran da Universidade Federal de Sergipe

A noite de encerramento do Cariri Cangaço Piranhas 2015 reservou dois dos mais esperados momentos de toda edição. De inicio a apresentação dos primeiros trabalhos desenvolvidos pela Universidade Federal de Sergipe, através do professor Leandro Duran, que contou com a participação de dois de seus alunos, Dalila e Marcos Vinicius, sobre a Arqueologia voltada para a temática Cangaço.

Durante sua apresentação o professor Leandro Duran, ressaltou a grande colaboração que a ciência arqueológica esta dando a este novo momento do estudo e aprofundamento do Cangaço. Um olhar científico que sem dúvidas auxiliará em muito o entendimento do que foi e das capilaridades desse tema que é tão peculiar e com tanta influência nas sociedades sertanejas daquela época.

Universitário Marcus Vinicius, Leandro Duran, Dalila Feitosa e Manoel Severo

Em princípio os convidados Cariri Cangaço que lotaram as dependências do Centro Cultural Miguel Arcanjo, acompanharam a apresentação do trabalho da universitária da área de arqueologia Dalila Feitosa sobre o estudo das vestimentas e os tecidos utilizados pelos cangaceiros e cangaceiras nos idos de 1920 até 1940. Logo após, o universitário Marcus Vinicius apresentou os primeiros resultados de seu trabalho sobre o arsenal bélico usado pelos vários grupos cangaceiros.

Marcus Vinicius realizou e apresentou um detalhado estudo das armas e munições usadas pelos grupos cangaceiros, realizando uma catalogação  a partir do acervo de dois pesquisadores de Paulo Afonso, João de Sousa Lima e Luiz Ruben, que disponibilizaram suas colecoes particulares para o estudo acadêmico.


Pesquisador Narciso Dias no sitio arqueológico da Fazenda Patos, cenário do primeiro trabalho de pesquisa arqueológica a ser desenvolvido pela equipe da UFS.

Cariri  Cangaço Piranhas 2015
Centro Cultural Miguel Arcanjo, 27 de Julho
Piranhas, Alagoas