Cariri Cangaço Personalidade traz Victor Samuel da Ponte e a Musica Nordestina


Nesta segunda, dia 31/05 /21 ás 20h uma conversa pra lá de especial sobre a influência da musica nordestina nos destinos da música brasileira, com o pesquisador Victor Samuel da Ponte, imperdível. Ao vivo no Instagram do Cariri Cangaço, vem com a gente, segue lá: @cariricangaço

CARIRI CANGAÇO PERSONALIDADE

VICTOR SAMUEL DA PONTE

AO VIVO, 20H NO INSTAGRAM DO CARIRI CANGAÇO

Aparecia nos Ermos Feito uma Visão Demoníaca...


"Concluídas as pesquisas nos arredores, e recolhidas as armas e munições de guerra, os jagunços reuniram os cadáveres que jaziam esparsos em vários pontos. Decapitaram-nos. Queimaram os corpos. Alinharam depois, nas duas bordas da estrada, as cabeças, regularmente espaçadas, fronteando-se, faces volvidas para o caminho. Por cima, nos arbustos marginais mais altos, dependuraram os restos de fardas, calças e dólmãs multicores, selins, cinturões, quepes de listras rubras, capotes, mantas, cantis e mochilas...

A caatinga mirrada e nua, apareceu repentinamente desabrochando numa florescência extravagantemente colorida no vermelho forte das divisas, no azul desmaiado dos dólmãs e nos brilhos vivos das chapas dos talins e estribos oscilantes...

Um pormenor doloroso completou essa encenação cruel: a uma banda avultava, empalado, erguido num galho seco, de angico, o corpo do coronel Tamarindo.

Era assombroso... Como um manequim terrivelmente lúgubre, o cadáver desaprumado, braços e pernas pendidos, oscilando à feição do vento no galho flexível e vergado, aparecia nos ermos feito uma visão demoníaca."

Euclides da Cunha , Os Sertões

Combate do Tenório e o Corpo de Levino Ferreira Por:Luiz Ferraz Filho

Uma das mais confusas e esquecidas passagens sobre o período do cangaço é a morte de Levino Ferreira. Estive no local do combate juntamente com os amigos pesquisadores Geraldo Antônio Junior (pesquisador e youtuber) , Fabiano Ferreira (historiador de Flores-PE) e João da Capoeira (membro do IHGPAJEU), onde colhemos alguns relatos de moradores descendentes de quem viu de perto o Combate da Baixa do Tenório, entre 4 e 5 de julho de 1925.

Lampião estava na Fazenda Melancia, município de Flores - PE, onde torturou o fazendeiro José Calú e liberou alguns viajantes que ele havia sequestrado na estrada. Depois partiu com seus cangaceiros até chegar na casa de Sebastião Cordeiro (Sebasto), morador da localidade Baixa do Juá, no Tenório. Lá foi bem recepcionado pelo fazendeiro onde jantou e encontrou dormida para todos. A casa ficava no pé da Serra Vermelha, marco divisório entre os municípios de Flores e Betânia, e onde existe um local conhecido por Furna de Lampião. 

Na região encontramos o agricultor Raimundo Cordeiro, 79 anos, neto de Sebasto. 'Meu pai contava que Lampião estava muito desconfiado. Alguns cangaceiros jantaram e armaram rede para dormir nas árvores do terreiro da casa. Meu avô ofereceu uma rede, mas Lampião não quis e disse que iria ficar em pé. Quando foi meia noite ele disse que a casa estava cheirando a sangue e mandou os cangaceiros se levantarem. Saíram da casa e com pouco tempo o tiroteio começou', falou Raimundo Cordeiro. O combate foi contra a volante paraibana do tenente José Guedes que vinha em perseguição ao bando e acabou perdendo o seu sub-comandante, sargento Cícero de Oliveira, que tombou com um tiro na testa.




Luiz Ferraz Filho e a pesquisa do combate do Tenório

Várias versões já foram ditas e escritas sobre o Combate do Tenório (Baixa do Juá). Alguns escritores relatam que Levino morreu dentro da cozinha de uma casa na escuridão da noite. Uma segunda versão cita que o rastejador Belarmino Morais viu o vulto de um cangaceiro em cima do serrote de pedra gritando e atirou. Já outra versão sobre a morte de Levino diz que ele foi ferido no terreiro de uma casa, foi socorrido e morreu oito dias depois. 

Na mesma região outro relato interessante encontramos do morador Luis Pereira da Silva (Luis de Puliça), nascido e criado no lugar e que foi nosso guia até o local do combate. Eles nos confidenciou uma versão local totalmente diferente das outras versões sobre a morte de Levino Ferreira. Segundo ele, os moradores mais velhos diziam que o combate aconteceu a tarde e no início da noite o irmão de Lampião foi ferido pela volante paraibana do tenente José Guedes. Ao ver o irmão ferido, o Rei do Cangaço - que já conhecia bastante o lugar - providenciou fazer o transporte do ferido nas costas rumo a furna da Serra Vermelha, enquanto outra parte do bando seguia atirando pela estrada para distrair e confundir a polícia. Transportado nas costas de um dos cangaceiros, Levino Ferreira faleceu no meio do caminho antes de chegar na furna da serra. 

Quando amanheceu o dia, Lampião deu a ordem pra cortar a cabeça de Levino e mandou sepultar o corpo. Durante os anos seguintes nunca se soube o local exato ou qual a identidade dos três cangaceiros que faleceram no combate da Baixa do Juá, no Tenório. Sabe-se pela tradição oral dos moradores que um corpo foi sepultado embaixo de um juazeiro e outros dois corpos tiveram a ossada encontrada nos anos 60 e 70 no local do combate quando fizeram o alicerce para construir uma casa e no arado da terra para plantar. Vale ressaltar que anos depois há relatos de fragmentos de ossos humanos também encontrados na furna da serra que segundo moradores o cangaceiro Lampião se escondeu. 

O corpo do cangaceiro sepultado no Juazeiro foi o único desenterrado posteriormente pelas volantes que chegaram na localidade dias após o combate. Uma moradora da época indicou o local para o capitão José Caetano e o tenente Higino Belarmino fazerem a identificação. Como estava sem a cabeça, não houve certeza na identificação. 

Eis a dúvida. Porque sepultar o corpo de apenas um cangaceiro embaixo de um juazeiro e deixar os outros dois corpos de cangaceiros ao relento no campo de batalha sem nenhuma sepultura. Alguém pode até cogitar que esse corpo sepultado no juazeiro venha a ser o sargento Cícero de Oliveira, porém, a Força Volante encontrou o corpo sem a cabeça. Se fosse um policial volante não necessitaria de uma pessoa da região pra localiza-lo, pois, a própria volante já saberia o local e não utilizaria dessa prática de cortar a cabeça de um companheiro de farda. Pelo visto, esse corpo sepultado no juazeiro era um importante cangaceiro do reinado lampionico. Seria este o corpo do famoso Levino Ferreira da Silva ???.

Luiz Ferraz Filho, Pesquisador ;Presidente da Comissão do Cariri Cangaço Serra Talhada

FONTE CONSULTADA:

(CARVALHO, Rodrigues de; Serrote Preto, Lampião e seus Sequazes)

(AMAURY, Antônio & FERREIRA, Vera; O Espinho de Quipá) 

(FERRAZ, Marilourdes; O Canto do Acauã)

(MACIEL, Frederico Bezerra;  Lampião, seu Tempo e seu Reinado) 

(LIRA, João Gomes de; Memórias de um Soldado de Volante)

Lampião, Essências e Impressões nos Grandes Encontros Cariri Cangaço


O Cangaço sempre tema absolutamente forte, capilar, controverso...Polêmicas, paixões, essências e impressões...Nesta próxima quarta-feira, dia 26 de maio de 2021, às 19h30 os Grandes Encontros Cariri Cangaço, programa Ao Vivo em nosso canal no You Tube, traz dois grandes pesquisadores de duas gerações distintas para nos passar suas impressões e reflexões sobre esse que sem dúvidas é um dos mais espetaculares temas nordestinos e brasileiros.

O experiente Raul Meneleu Mascarenhas; cearense da "gota serena" radicado em Aracaju, Sergipe e  o jovem e talentoso Guerhansberger Tayllow; paraibano de Lastro; são os convidados especiais de Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço para mais um espetacular e mais que polêmico programa sobre Virgulino Ferreira - Lampião, Cangaço e muito mais nos Grandes Encontros Cariri Cangaço desta próxima quarta-feira.

"Diante do convite de meu estimado amigo Severo, procurarei apresentar em minha participação as possibilidades de localizar as origens sócio-políticas do Cangaço dentro da história do Brasil, como também gostaria de fazer uma ressalva sobre a escrita do Cangaço; Gustavo Barroso; Rui Facó; Cristina Machado, em especial a esses três autores; trazer reflexões sobre o cangaço como um espaço de exercício de poder e ainda falar um pouco sobre a diferença entre Lampião e Chico Pereira, e a importância do nomadismo para Lampião" revela o pesquisador e escritor Guerhansberger Tayllow. 

"Na verdade sou um dos menores pesquisadores e escritores da saga e creio que exista confrades nossos com mais competência, mas se o amigo Severo me dar essa missão, missão cumprida ! Trarei principalmente reflexões sobre meu mais novo livro: "A Dignidade de Virgolino Ferreira antes de ser Lampião" como também sobre a descoberta da filha de Corisco fora do relacionamento da união dele com Dadá, além de minha experiência e visão do Cariri Cangaço." assevera Raul Meneleu Mascarenhas.


GRANDES ENCONTRO CARIRI CANGAÇO

DIA 26 DE MAIO DE 2021 ÀS 19H30

AO VIVO - YOUTUBE DO CARIRI CANGAÇO

Uma Nova Perspectiva para Historia: A Trilogia de Honório de Medeiros, Cangaço, Poder e Ciência Por: Gustavo Sobral

Este trabalho é uma tentativa de leitura da trilogia de Honório de Medeiros. Trilogia que nasce com a publicação de Massilon, em 2010, perpassa a publicação de História de cangaceiros e coronéis, 2015, e tem o seu desfecho com a publicação de Jesuíno Brilhante, 2020

Honório de Medeiros propõe em sua obra um estudo histórico sobre o cangaço a partir das relações de poder, um estudo sobre as relações de poder e uma nova proposta para escrita da história ao considerar que a história deve ser entendida, escrita e explicada por uma perspectiva analítica e interpretativa.Como condição necessária para o trabalho de pesquisa, o autor apresenta uma revisão da literatura preexistente acerca do cangaço, propondo uma classificação em fases, tipos de estudos e tipos de autores, procurando situar nesse contexto a sua proposta de abordagem.

As fases, que trata por ondas, são três: a fase da produção dos fatos, quando se passaram os acontecimentos; a fase da coleta dos fatos, quando os fatos passam a ser registrados; e uma terceira fase, que deve ser a elaboração de teorias. Três também são os tipos de texto: os que fantasiam, os que narram e os que pensam. E considera também a presença de zonas de interseção: narrações que analisam; fantasias que narram etc.

Quanto aos autores, reconhece três grupos distintos: um grupo que reúne cantadores de viola, cordelistas, contadores de estórias, xilogravuristas e poetas; um grupo que nomeia de pesquisadores do cangaço, que são aqueles que se debruçam 192 sobre o tema; e o grupo que congrega os pesquisadores acadêmicos sediados nas universidades. A par desse contexto, elege, por sua vez, um caminho próprio de investigação que, considera, deve partir de uma leitura crítica das fontes, aplicando uma metodologia adequada e suportes teóricos condizentes. É essa a proposta que desenvolve na construção da sua trilogia, o que se pode albergar em cinco vertentes de abordagem distribuídas nos três volumes publicados.

A primeira vertente é o que se pode considerar estudos sobre os estudos, que seriam os trabalhos em que o autor expõe uma reflexão e uma visão crítica sobre os estudos existentes acerca do cangaço.No primeiro volume, Massilon, é possível identificar os seguintes textos nessa vertente: “Aplicação do método da ciência”; “O cangaço em nova onda”; “A nova onda do cangaço”. No segundo volume, História de Cangaceiros e Coronéis, os capítulos “Epifenômeno do cangaço”, “Tipos de textos sobre o cangaço” e “Sobre história e conhecimento escolar”.

Um segundo viés compreende estudos críticos mais aprofundados sobre as teorias e abordagens sobre o cangaço, quais sejam, a teoria do escudo ético, do estudioso Frederico Pernambucano de Melo — ensaio que integra o segundo volume, História de Cangaceiros e Coronéis —; e um estudo crítico sobre Câmara Cascudo e o cangaço, adendo a Jesuíno Brilhante, terceiro volume da série. O terceiro viés se volta para as biografias e os perfis de cangaceiros, coronéis e outras figuras históricas do contexto.

Uma quarta abordagem se detém aos episódios e a outros aspectos. Em episódios, o ataque de Lampião a Mossoró; em aspectos, podemos elencar o pacto dos governadores e o Rio Grande do Norte no tempo dos coronéis. A quinta perspectiva, que perpassa todas as anteriores, é o arcabouço metodológico e teórico. A metodologia adotada é plurimetodológica, voltada para uma diversidade de fontes de pesquisa, e envolve levantamento bibliográfico; pesquisa documental, que resulta do acesso a fontes documentais diversas; e pesquisa etnográfica, que é a pesquisa de campo, que alberga a coleta de depoimentos, realização de entrevistas e visita aos locais dos acontecimentos.

Honório de Medeiros, Bárbara e Manoel Severo

A pesquisa e o levantamento bibliográfico se concentram em livros: obras gerais de história do Rio Grande do Norte, trabalhos monográficos sobre cangaceiros, biografias, memória, genealogia e estudos teóricos no campo da ciência, filosofia, biologia, sociologia, direito, ciência política etc.; cordéis diversos, que contam a história de cangaceiros e seus feitos; e revistas e jornais de ontem e de hoje. Documentos diversos, compreendendo certidões de batismo e de óbito, inventários; peças jurídicas, como processos, representações, denúncias, pareceres, relatórios; cartas pessoais e cartas abertas (publicadas em jornais). Todos são fontes exploradas e, em sua maioria, reproduzidas a título de citação, adendo ou anexo.

Depoimentos, entrevistas e o “Diário de Viagem” — quarta parte do volume Massilon —, que relata o percurso da pesquisa de campo. Há também toda uma preocupação em documentar o trabalho de pesquisa em notas de referência, aditivas e explicativas, em rodapé e/ou ao final de cada volume, referendando as fontes pesquisadas, os depoimentos colhidos e as entrevistas realizadas.

A título de anexo, o autor cuida da reprodução de documentos, seja em fac-símile, seja transcrito. Também há a menção, ao final de cada volume, das fontes bibliográficas consultadas. A par de todo esse suporte metodológico, Honório de Medeiros desenvolve a sua teoria, o alicerce para observar e compreender o fenômeno do cangaço e o estudo das relações de 194 poder, e o faz ao apresentar os dados coletados, a análise e a interpretação, refutando hipóteses consagradas pela historiografia e propondo um novo olhar para a história.

Convite de lançamento de Massilon, de Honório de Medeiros no Cariri Cangaço

A invasão de Lampião a Mossoró ganha uma nova proposta de análise que considera as relações de poder e interesse dos coronéis e refuta as premissas postas, construindo um novo paradigma para entender a história. O mesmo acontece ao observar o pacto dos governadores como decorrência dessa relação de poder; e não é diferente quando se debruça sobre a dualidade “cangaceiro, herói ou bandido?” Honório de Medeiros não se julga fiel da balança ou solucionador de questões históricas, mas apresenta prismas analíticos e interpretativos se fiando na base plurimetodológica que adota.

A sua tentativa de biografar Massilon esbarra em uma série de dificuldades oriundas dos desencontros e conflitos de informação que permeiam os textos sobre o cangaço e, também, na ausência de dados.O nome é a primeira verdade a encontrar para contar Massilon. Com tantos nomes possíveis e pistas, Honório de Medeiros se encontra diante de um baralho embaralhado: Benevides, Massilon Leite, Massilon Diógenes, Antonio Leite? Uma figura e tantos nomes, qual seria?

O pesquisador é aquele que sabe aonde deve ir. E Honório de Medeiros vai em busca dos registros de nascimento e batismo e nada encontra, até que uma pista o leva ao inventário do pai do cangaceiro e lá está o verdadeiro nome de Massilon: Macilon Leite de Oliveira. Mas não se dá por satisfeito, pois sabe que pesquisar é entender as circunstâncias das fontes, e se faz a pergunta que deixa também para o leitor: como saber se o escrivão não se enganou? Honório de Medeiros entende que encontrar uma possível resposta não é dirimir uma dúvida. Assim, o autor também revela mais uma faceta do seu trabalho: um projeto de como se deve construir a história.

Honório de Medeiros é aquele que compreende que fazer história é não se contentar com o que está posto e, dessa forma, parte numa viagem em busca de novas fontes, que alimentam novas versões da história, ciente de que só a par de todas elas, é possível analisar e interpretar. O pesquisador é também, para Honório de Medeiros, aquele que reconhece a ausência de fontes de pesquisa e que desconfia, compara, checa e confronta todos os fatos. A construção de Massilon, a biografia, obedece a uma forma de apresentação sistemática que nasce da divisão lógica do autor para a exposição do tema. A primeira parte é dedicada ao motivo (capítulo “A busca por Massilon”) e ao contexto (capítulo “O Rio Grande do Norte e Sertão”). A segunda parte se volta para a descoberta e a revelação do biografado: como se chamava, onde e quando nasceu, quais eram as suas feições — e nesse quesito há toda uma investigação para identificar e recuperar a presença de Massilon em uma fotografia, desvendando, assim, o único retrato possível do cangaceiro. Além disso, o autor aborda temperamento, fatos da vida, registros outros e, por fim, o fim, a morte do biografado.

Outro não é o percurso que promove ao biografar Jesuíno Brilhante, tanto nos capítulos que lhe dedica na primeira parte de História de Cangaceiros e de Coronéis, quanto, cinco anos depois, no terceiro e último volume da trilogia, dedicado à história de Jesuíno Brilhante e ao aprofundamento da tese. O ataque de Lampião a Mossoró também ganha contorno em História de Cangaceiros e de Coronéis, seguindo o mesmo caminho de explanação, passo a passo. Honório de Medeiros introduz, apresenta e passa a considerar as hipóteses e os envolvidos, cangaceiros e coronéis, e chega ao campo de análise para, então, propor a sua própria tese para leitura e intepretação.Para tanto, o autor trabalha a construção dos conceitos. É pelo capítulo “Do conceito de cangaço”, na terceira parte do volume Massilon, que ele começa contrapondo as definições de cangaço e de banditismo.

Importante nessa conceituação é a definição de Cascudo: “para o sertanejo [cangaço] é o preparo, carrego, aviamento, parafernália do cangaceiro, inseparável e característica, armas, munições, bornais, bisacos com suprimentos, balas, alimentos secos, mezinhas tradicionais, uma muda de roupa, etc.” E também estabelece confrontos.Honório de Medeiros refuta a concepção de bandido social proposta pelo historiador Eric Hobsbawm. E vai mais longe: é impossível conceituar e explicar o cangaço em razão das condições geográficas, sociais, econômicas etc.

Caldeirão que Honório de Medeiros resumirá como “hipóteses do ambiente social” no seu “Esboço de conclusão”, capítulo de Jesuíno Brilhante. Essa redução é simplista, considera, e não abarca toda a complexidade e singularidade do fenômeno. Em Jesuíno Brilhante, o autor considera novos aportes para a construção do conceito de cangaceiro, levando em consideração que seriam figuras entre a santidade e o banditismo. E sustenta que a teoria do escudo ético, de Frederico Pernambucano de Mello, não é uma leitura que se aplica exclusivamente ao cangaço, e sim ao banditismo de forma geral. Pernambucano teria partido, considera Honório de Medeiros, da noção de fator moral apresentada por Câmara Cascudo em Vaqueiros e Cantadores, que, por sua vez, teria bebido na fonte de Felipe Guerra, em Ainda o Nordeste.

Tanto a noção de escudo ético quanto a noção de fator moral consideram a justificativa moral do cangaceiro para aderir ao cangaço como fator determinante, hipótese que Honório de Medeiros propõe que possa ser substituída por uma teoria mais abrangente. Já no estudo que empreende acerca de Câmara Cascudo e o cangaço — adendo do volume Jesuíno Brilhante —, investiga a construção e o molde do pensamento cascudiano acerca do tema. A perspectiva da ânsia de grandeza e impulso à revolta pessoal, que serve para pensar o cangaço, lerá em Bertrand Russell; como colherá em Albert Camus a noção de homem revoltado, que é aquele que, inconformado, reage, para então propor a leitura da figura do cangaceiro a partir da noção de outsider proposta por Howard S. Becker e Norbert Elias.

O outsider é o transgressor, o desviante, o excêntrico que não espera viver com as regras estipuladas pelo grupo. Dessa maneira, Honório de Medeiros propõe entender a figura do cangaceiro pelo prisma do inconformismo. Compreender, e não julgar, alerta o autor. E, assim, vai chegar ao conceito de cangaceirismo: é a história dos inconformados, revoltados, outsiders. Outro conceito macro é o conceito de coronelismo, que está atrelado a uma compreensão da estrutura de poder feudal no Brasil monárquico e republicano. Honório de Medeiros se valerá do conceito de coronelismo traçado por Raymundo Faoro em Os Donos do Poder.

Seria o coronelismo aquela mesma estrutura de poder que se verifica na Europa feudal, um mundo de senhores arbitrários, cuja vontade era a lei, associados ao clero, proprietários de terras e do subjugo dos homens. O coronelismo é, portanto, uma forma de exercício do poder. Outros aportes sustentam a construção do seu pensamento teórico. Honório de Medeiros parte da ciência por uma perspectiva ampla e transdisciplinar como caminho possível. O autor considera o racionalismo crítico do filósofo britânico Karl Popper para construir uma abordagem científica e aplica as regras do método científico para propor uma lógica das informações como forma de validar ou não as hipóteses e, assim, escrever a história.

Gustavo Sobral; escritor, jornalista, ensaísta.

O autor também vai se valer da noção de campo social do sociólogo francês Pierre de Bourdieu, que compreende a realidade como uma malha aberta, cujos pontos de interseção, os atratores sociais, congregam fatos e ações semelhantes, formando uma malha social, ou seja, um campo. Essa compreensão de campo social lhe permite observar cangaço e coronelismo como fenômenos do mesmo campo social, o campo social do poder. Ao considerar o cangaço um fenômeno social, Honório de Medeiros parte do postulado do cientista político, sociólogo e antropólogo francês Émile Durkheim, em As Regras do Método Sociológico, e equipara fato social a fato natural, ou seja, considera os fatos sociais como passíveis de teste, comprovação e validação.

O fenômeno, portanto, pode ser comprovado pelas suas leis de recorrência, e as hipóteses levantadas podem ser testadas. Dessa forma, considera Honório de Medeiros, os fatos são passíveis de serem testados para serem comprovados ou não. Outra contribuição importante no construto da sua proposta é a aplicação da teoria da evolução, do biólogo britânico Charles Darwin. Honório de Medeiros se apropria do darwinismo ao compreender o comportamento humano como uma evolução constante, uma busca pela sobrevivência e adaptação ao meio, e se aproxima da corrente da bio-história. No que tange ao estudo das relações de poder, o referencial é o cientista político, jurista e historiador italiano Gaetano Mosca e sua teoria de classe política. Mosca entende que um fenômeno não deve ser apenas estudado em sua forma concreta ou apenas nas suas manifestações formais. É preciso compreender a dinâmica que se esconde e sustenta as relações de poder e interesse e, assim, compreender que os grupos funcionam a partir dos seus interesses de poder. O cangaço, nessa leitura, apresenta-se como uma manifestação de poder e revolta dos excluídos.

É a partir dessa perspectiva e da junção dessas partes que o autor conecta cangaceiros e coronéis e estabelece o cangaço como resultado das relações de poder, e é assim que também escreve uma história do poder.Honório de Medeiros lança nos três volumes de sua trilogia, e em quase duas décadas de pensamento e reflexão, uma nova perspectiva teórica, metodológica e conceitual para a pesquisa e a escrita da história, abrindo as portas da história no Rio Grande do Norte, dos estudos sobre o cangaço e sobre as relações de poder, para uma nova perspectiva no século XXI.

GUSTAVO SOBRAL é jornalista e escritor. Publicou e organizou diversos livros, dentre os quais “As Memórias Alheias” e “Os Fundadores”.

Ensaio publicado na Revista da Academia Norte-rio-grandense de Letras Nº66, jan-mar, 2021, p.191-199. 

Fonte: http://honoriodemedeiros.blogspot.com/ - 11 de maio de 2021

Cariri Cangaço Personalidade traz Lulu e Tâmara Lacerda, o talento, a cultura e a arte se encontram em Almas Irmãs


Quando chegamos a este maravilhoso planeta azul certamente, ao lado do Grande Dom que é a própria vida, recebemos de Deus um conjunto de dons, talentos e capacidades, próprios a cada um de nós para o cumprimento de nossas Missões... O talento para as artes é algo absolutamente sensacional e são fortes em muitos abençoados com esse presente Divino. Hoje trazemos um convite especial para todos que estão no INSTAGRAM: Nesta segunda, dia 24 de maio, ao vivo, às 20h teremos em nosso CARIRI CANGAÇO PERSONALIDADE, a presença de uma família prá de talentosa; do nosso cariri para mundo, com muito cordel, artesanato, musica... Mãe e Filha, "o encontro da arte e da cultura em almas irmãs"... As incríveis Lulu Lacerda e Tâmara Lacerda Fidelis, num bate papo espetacular, é nesta segunda, imperdível no @cariricangaço no Instagram, vem com a gente...

CARIRI CANGAÇO PERSONALIDADE
LULU E TÂMARA LACERDA
"Mãe e filha, o encontro da arte e da cultura em almas irmãs.."
Ao vivo no Instagram do Cariri Cangaço
Segunda dia 24/05/21 às 20h

"Aquele Inverno era o mais Rigoroso de todos os que podia Lembrar..." Por: Manoel Severo


"Aquele inverno era o mais rigoroso de todos os que podia lembrar..." o inicio dessa narrativa poderia muito bem nos remeter a algumas de nossas melhores memórias de uma infância distante, guardadas no fundo do baú de nosso coração e que nos trazem as mais belas imagens de nosso sertão, o sertão de todos nós, belo e magnífico em época de chuvas, em tempos de inverno, rigorosos, maravilhosos e inesquecíveis, daqueles de todos os que podia lembrar...

Entretanto, "aquele inverno era o mais rigoroso de todos os que podia lembrar..." inicia a teia maravilhosa tecida por Grecianny Carvalho Cordeiro em sua mais recente obra "Contos Escolhidos" compartilhada com o talento de Angélica Sampaio. O inverno ali não se passa nas tórridas trilhas de nossa caatinga, que facilmente poderia povoar nossa mais preciosa memoria afetiva, mas no universo mitológico nórdico, o universo de Asgard, Odin, Thor e Loki. Mas o que aquele inverno mais rigoroso de todos que podia lembrar, de Ragnarok, de Contos Escolhidos, de Grecianny Cordeiro, poderia ter de ligação com nosso sertão ? Ora: Sua essência. A essência das grandes sagas que sempre pontuaram a historia da humanidade e de seus heróis mitológicos. No sertão vivemos as mesmas sagas e os heróis mitológicos somos eu e você, cada um que aceita o desafio. Aqui como em Ragnarok; de Contos Escolhidos; o que nos move é a essência da verdadeira esperança e a certeza do caminho a ser percorrido.

Escritora Grecianny Carvalho Cordeiro

Contos Escolhidos nos permite navegar sobre ondas do mais perfeito equilíbrio entre o mítico, imaginário e o mundo real; numa leitura leve, envolvente, prazerosa; como um inverno rigoroso e maravilhoso para lembrar. Se em noites de lua cheia em qualquer alpendre sertanejo vamos sentar para ouvir lendas e lendas, sobre o Saci, Boi Tatá, Cuca ou Iara - Mãe d'Agua, poderíamos facilmente trazer Ragnarok e sua Árvore do Mundo, Yggdrasill, ou Orfeu e sua bela Eurídice, ou ainda Tristão e Isolda...Poderíamos facilmente trazer Grecianny Cordeiro para uma conversa boa e animada sobre as coisas do mundo e tudo aquilo que nos faz sentir vivos e felizes.

Grecianny Cordeiro, um mulher cheia de talentos e desafios. Espetacular escritora, contista, jornalista e ainda promotora de justiça, dedica seu tempo a tudo que lhe é importante; a família, a profissão e as letras; missões que abraça com dedicação, perseverança e talento, talento facilmente observado em Contos Escolhidos ou em qualquer de seus romances: Anjo Caído, os dois volumes de Troia, Operação Prometeu, Cyberbullying e o precioso Siara, uma lenda de amor.

Manoel Severo , Curador do Cariri Cangaço

Serviço ; Contos Escolhidos, Sol Literário Editora -                                                                  Sampaio, Angélica / Cordeiro, Grecianny Carvalho


O Sertão é Testemunha:homilia ao cangaço e redenção familiar na memorialística do padre Pereira Nobrega Por:Guerhansberg Taylor

Guerhansberg Taylor

Hoje, 19 de maio de 2021, foi publicado o livro "Sertões e Outros Mundos" organizado pelo professor Dr. Joel Carlos de Souza Andrade. O livro foi lançado em formato digital em Portugal pela Universidade de Coimbra e no Brasil pela Universidade Federal do ABC.

Tive a oportunidade de fazer mais uma vez parceria com o professor Dr. Francisco Firmino Sales Neto. O resultado foi um artigo que faz parte do livro citado. O nosso objeto de estudo foi a escrita do padre Pereira Nóbrega que já havia sido tema da minha monografia em 2016.
Estou muito feliz, pois quando defendi a monografia tinha a consciência que algumas questões mereciam melhores reflexões que naquele contexto não tive condições de resolvê-las. Agora, com um pouca mais de maturidade e com a competência intelectual do professor Neto, conseguimos entregar um texto que julgo ser muito bom.
Feliz pelo resultado. Feliz pela continuidade dos trabalhos com Neto. Feliz por publicar um texto de maturidade em um espaço de intelectualidade importante.
Para quem saiu do ensino médio desacreditado pela maioria dos professores e entrou na faculdade com sérios problemas de formação (sobretudo na escrita), não é pouca coisa ter ocupado os espaços que já ocupei.
Sei minha origem, as dificuldades e os caminhos. Só tenho pelo que agradecer!!Link do livro: https://www.redevcc.com/publica%C3%A7.../cole%C3%A7%C3%A3o

Guerhansberg Taylor, Lastro-PB
Pesquisador e Escritor

O Império Imortal de Joaryvar Macedo...


O termo “Império” nascido do latim “imperium”, significa, poder, força e autoridade, naturalmente nos transporta para os alguns dos grandes e imortais acontecimentos da historia da humanidade: império romano, império bizantino, império otomano... Tem sido assim ao longo do tempo, entretanto, império para os apaixonados pela história de nosso torrão, de nosso sertão, das terras deste lado da nação, nos remete a bacamarte, nos remete a Joaryvar Macedo, nos remete ao Império do Bacamarte.

Uma das mais preciosas obras literárias sobre um recorte importante da historia do coronelismo nordestino; tendo o sul do estado do Ceará do final do século 19 e começo do século 20, mais precisamente a emblemática região do cariri; o Império do Bacamarte nos apresenta de maneira aprofundada, a partir da entrega e talento de seu autor; Joaryvar Macedo; sertanejo da “gema” nascido no Sítio Calabaço na emblemática cidade de Lavras da Mangabeira, centro sul do Ceará; um dos mais importantes e surpreendentes períodos do coronelismo de barranco, de todo o país. Fundamentada em vasta bibliografia, pesquisa em periódicos da época, entrevistas com remanescentes e acima de tudo, com a responsabilidade de um filho que fala de sua terra, de sua casa, de seu quintal e de sua gente, Joaryvar Macedo consolida o Império do Bacamarte como um marco no estudo do coronelismo nordestino.

Com a maestria e a sensibilidade que lhes são tão próprias, Joaryvar une mestres como João Brígido, Abelardo Montenegro, Otacílio Anselmo, Rodolfo Teófilo, Leonardo Mota, Nertan Macedo, Amália Xavier e tantos outros talentosos e obstinados garimpeiros da história sertaneja para nos ajudar a compreender esse que foi um dos períodos mais conturbados da historia recente de nosso nordeste. As áridas terras de nosso sertão aprenderam e sofreram desde os tempos da colonização, passando pelo império e desaguando nos tempos da velha república, com as intempéries do clima, a pobreza e desigualdade, a ausência do Estado e com a força e o poder do coronelismo, simbiose perfeita para outros flagelos no sertão nordestino: os “cabras”, os jagunços e os cangaceiros. Notadamente com o presidente Campos Sales; entre 1898 e 1902; e seu sucessor Rodrigues Alves; entre 1902 a 1906; consolidadores da famigerada “políticas dos governadores”, instituto que ensejou por todo o país a expansão e fortalecimento das oligarquias rurais, daí viríamos a conhecer um dos mais sombrios e violentos períodos da história de nosso sertão, destacando o cariri cearense, berço e palco de algumas das mais extraordinárias sagas de deposições, à força e à bala, de todo o Brasil daquela época.

Com clareza, responsabilidade e sua escrita firme, Joaryvar Macedo, nos permite viajar ao cariri dos primórdios do século 18, quando revela os principais e decisivos conflitos armados que teriam forte repercussão na formação da região; personagens como Bárbara de Alencar e seus filhos; Tristão Gonçalves e José Martiniano; sem esquecer ícones como Pereira Filgueiras e Pinto Madeira, dali, passo a passo a epopeia das deposições e mudanças de mando no cariri cearense, sob a égide do bacamarte e o beneplácito da oligarquia Acyolina de Nogueira Acyoli; vão sendo dissecadas com a crueza e violência dos próprios episódios, mas com a leveza das linhas esclarecedoras traçadas por Joaryvar.

1901 tem início a famosa e impressionante saga das deposições no cariri cearense: Antônio Joaquim de Santana; um dos mais proeminentes representantes do Clã dos Terésios; ou simplesmente Coronel Santana, da famosa Serra do Mato depõe Róseo Jamacaru em Missão Velha. Em 1904 no Crato, teremos o coronel Belém de Figueiredo sendo apeado do poder pelo coronel Antônio Luís Alves Pequeno, seguida da deposição em 1906 do coronel Manuel Ribeiro da Costa; o Neco Ribeiro; de Barbalha, por João Raimundo de Macedo, ou coronel Joca do Brejão, esse; irmão do coronel Santana que havia seis anos antes, tomado à bala o município de Missão Velha. No mesmo ano iríamos encontrar a deposição do coronel Marcolino Alves de Oliveira do município de Quixadá, atual Farias Brito, pelos “mandões” daqueles rincões: Joaquim Fernandes de Oliveira e José Alves Pimentel; além do curioso episódio de novembro de 1907 envolvendo dois destacados membros do Clã dos Augustos em Lavras da Mangabeira. Dona Fideralina, a matriarca mais famosa do sertão, patrocinaria a retirada do poder de um de seus filhos, coronel Honório Correia Lima em favor de outro filho, coronel Gustavo Augusto Lima, em um dos momentos mais sanguinários daquelas paragens no belo vale do rio Salgado.

Joaryvar Macedo ainda nos brinda com os episódios sangrentos de conflitos armados por todo o conturbado ano de 1908: em Santana do Cariri, Campos Sales, Aurora e ainda Araripe, quando os potentados locais engalfinhavam-se munidos do bacamarte e da sanha pelo poder perpetrando e consolidando a égide da violência. Nesse ano de 1908 vamos encontrar o destaque para a chegada ao cariri cearense do polêmico medico baiano Floro Bartolomeu; uma das mais emblemáticas e influentes personalidades da história destes lados do sertão nordestino, principalmente por sua estreita ligação com o santo do Juazeiro: Padre Cícero Romão Batista, como também o famoso “Fogo do Taveira”, conflito armado nas terras do Coxá, no município de Aurora, ate hoje cantado em prosa e verso como um dos mais emblemáticos embates da época. O tempo passa e chegamos ao ano de 1910 e a invasão de Lavras da Mangabeira pelo “Bravo Caririense”, Quinco Vasques desafiando a força e o poderio do coronel Gustavo Augusto Lima do Clã dos Augustos, intento logrado pela defesa do filho de Fideralina e seus cabras e a consequente prisão do destemido Quinco Vasques.

E assim Joaryvar Macedo sem esquecer o Pacto dos Coronéis de 1911 em Juazeiro do Norte ou mesmo a Sedição de 1913, dentre outros episódios, nos traz a partir de uma leitura envolvente os principais aspectos daquela conturbada época; com cheiro de chumbo e morte; que por muito tempo ainda viria a pontuar por esses rincões sertanejos. Traçando as principais causas, as principais características de seus protagonistas e ainda as repercussões politicas, o Império do Bacamarte é obra obrigatória a todos que pretendem conhecer um pouco mais dessa feição do coronelismo nordestino.



Família de Joaryvar Macedo, recebe em nome do homenageado, Título de "Personalidade Eterna do Sertão", pelo Cariri Cangaço.

Por ocasião de nosso Cariri Cangaço 2018 em Fortaleza, o Conselho Alcino Alves Costa em sessão solene dentro do evento que ocorreu na Casa José de Alencar; da Universidade Federal do Ceará; viria a prestar uma das mais justas homenagens da comunidade que pesquisa temas nordestinos; foi conferido ao pesquisador e escritor Joaquim Lobo de Macedo, Joaryvar Macedo, o Título de Personalidade Eterna do Sertão, honraria entregue pelos Conselheiros Bosco André e Cristina Couto. O nobre escritor cearense foi representando por sua esposa, dona Rosalba Macedo, o genro Hélio Santos e as netas Ana e Clara, num dos momentos mais importantes da agenda do evento. E hoje novamente temos a honra de reencontrar Joaryvar e seu imortal Império do Bacamarte; a partir do convite feito pela família a mim para participar, com esse texto, do lançamento da mais nova edição da obra que sem dúvidas é um clássico dentro dos clássicos. Joaryvar, você conseguiu a proeza de tornar imortal mais esse “Império” e o mesmo só consolida a sua imortalidade. Yokatane!

Manoel Severo, Fortaleza 21 de maio de 2021

Manoel Severo Gurgel Barbosa é fundador e curador do Cariri Cangaço; diretor da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço; Acadêmico Fundador da ABLAC - Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço; Membro da ACLA - Academia Columijubense de Ciências, Letras e Artes; Membro da Academia Lavrense de Letras; Membro da Academia Apodiense de Letras, Diretor do GECC – Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará e Membro Honorário do GPEC – Grupo Paraibano de Estudos do Cagaço e do GFEC-Grupo Florestano de Estudos do Cangaço. Recebeu os Títulos de Cidadão Honorário dos municípios de Maranguape, Quixeramobim, Crato e Missão Velha; no Ceará, Piranhas em Alagoas e Floresta em Pernambuco.

A História da Cadeia Velha de Pombal Por:José Tavares de Araujo Neto

Em mensagem encaminhada à Assembleia Legislativa, datado de 15 de novembro de 1842, o presidente da província da Paraíba, Pedro Rodrigues Fernandes Chaves, assinalou: “A cadeia de Pombal é a obra mais urgente da Província. Sem ela a polícia não chegará jamais ao estado que é para desejar”. Acrescentou que em virtude dessa demanda inadiável, havia iniciado os serviços de construção da referida obra, a fim de disponibilizar um lugar seguro para guardar os criminosos e assim as autoridades pudessem processá-los.

Informou ainda que na legislatura anterior, em virtude da insuficiência dos recursos consignados no orçamento, havia autorizado que a obra fosse executada através da administração direta. No entanto, os serviços foram inviabilizados por conta da falta de operários e materiais no lugar, o que ensejou a necessidade de abertura de um processo licitatório para a contratação de interessado em executar os serviços. Sendo que o cidadão Bernadinho José da Rocha Formiga foi a única pessoa interessado no pleito.

De personalidade forte e arbitrária, Pedro Chaves fez um governo marcado por medidas polêmicas, que lhe custaram um atentado contra sua vida em pleno exercício do cargo. À título de ilustração, é oportuno registrar uma correspondência que Felis Rodrigues dos Santos, Tenente-coronel e comandante do Batalhão de Pombal, em 14 de janeiro de 1845, enviou ao então Presidente da província, Frederico Carneiro de Campos, solicitando a reintegração de um oficial do seu batalhão que teria sido vítima de perseguição do ex-presidente Pedro Chaves:

“Peço a V. Ex.ª mercer de mandar reintegrar o exercício do capitão da 5ª Companhia, João Neiva da Silva, que foi demitido pelo excelentíssimo Presidente o Ex.ª Sr., Pedro Chaves, sem o mais pequeno motivo, e nem crime algum, somente por espírito de partido integrando ao Capitão Gonçallo José da Costa homem este perseguidor dos inocentes que são afeitos ao sistema constitucional e a S.M. I.”


O término do mandato de Pedro Chaves, em 3 de fevereiro de 1843, abriu uma crise de governabilidade sem precedentes. Em um lapso de dez meses a província teve sete presidentes. Essa instabilidade administrativa repercutiu negativamente em todas as obras públicas que estavam em andamento, a exemplo da cadeia de Pombal.

Nomeado por carta imperial de 14 de novembro de 1844, no dia 18 do mês seguinte, Frederico Carneiro de Campos toma posse como Presidente da Província da Paraíba do Norte. Uma de suas primeiras medidas é fazer o levantamento de todas as obras paralisadas, encargo confiado ao Engenheiro Francisco Pereira da Silva, que em seu relatório anotou que na vila de Pombal havia uma cadeia principiada, em que apenas os alicerces das paredes mestras estavam respaldados na flor da terra.

Ao concluir o seu mandado, Frederico Carneiro de Campos encaminha à presidência da Assembleia Legislativo um Relatório de Prestação de Contas, datado de 16 de novembro de 1848, no qual reporta à importância das cadeias nas Vilas de Areia e Pombal, ambas já em fase de conclusão:

“A transcendência destas obras não tem necessidade de encarecimento para quem reside na província, e há observado que os presos da terceira comarca, a noventa léguas desta capital, tem de fazer esse penosíssimo trajeto, quando lhes tocarem ao júri, ou mesmo às inquirições judiciais, e de instrução de seus respectivos processos: eles têm sido algumas vezes, também por essa falta de prisões, levados à de Pajeú de Flores, que, fora da alçada desta província, apresenta ainda outros não menos sensíveis inconvenientes, que por desnecessário deixo de enumerá-los.”

Com referência à cadeia de Pombal, ele faz um breve histórico e apresenta prazo para o recebimento da obra:

A história da construção da cadeia de Pombal está traçada em meus precedentes relatórios: neles achará V. Excia. mais que quanto eu aqui poderia dizer para mostrar o que se há feito a tal respeito. Esse edifício está contratado com Bernardino José da Rocha, sendo seu fiador o proprietário José Alves da Nóbrega, pela quantia de 15:400$000 réis; deles já recebeu 9:200$000 réis; e deve concluir a obra até dezembro deste ano, segundo o estipulado.”

Em 1864, Frederico Carneiro de Campos foi nomeado presidente da província do Mato Grosso. Poucos dias depois, em 12 de novembro, quando estava no rio Paraguai, foi aprisionado por soldados paraguaios juntamente com toda tripulação e passageiros do navio Marquês de Olinda. Este fato é tido como um dos episódios que contribuíram para desencadear a Guerra do Paraguai. Assim como toda tripulação e passageiros do navio Marquês de Olinda, Frederico Carneiro de Campos faleceu preso na fortaleza paraguaia de Humaitá, em 3 de novembro de 1867. Por ironia do destino, o grande responsável pela conclusão da cadeia de Pombal morreu na prisão.

A imponente fortaleza, localizada no centro da vila, nas proximidades das Igreja Nossa Senhora do Bom Sucesso, atual Igreja Nossa Senhora do Rosário, é uma edificação de majestosa beleza arquitetônica. Possui uma área de 320 metros quadrados e a coberta em forma piramidal, constante de telhados em quatro águas, cujo vértice atinge a aproximadamente sete metros de altura; paredes laterais, em alvenaria de pedra, com um metro de largura. Na parte frontal, um portão de grades em ferro maciço e quatro janelas reforçadas com grades duplas, assim como as demais janelas das celas; na enxovia, cela destinada aos presos de maior periculosidade, à altura de cerca de 3 metros foi instalada um forro em robustas vigas de madeira de lei com cerca de 30 cm de distância uma da outra, a fim de impossibilitar tentativas de fuga por via área.

A edificação foi alicerçada sobre maciça camada de rocha, de forma a impedir qualquer tentativa de fuga por via subterrânea, tendo as seguintes dependências: enxovia, cela segura, cela feminina, salão, sala livre, corredor, enfermaria e uma sala que servia de guarita para as sentinelas. O portão interno, que separa a sala livre do corredor, só foi instalado em 1861, serviço feito pelo serralheiro João Pereira.

Ao longo dos seus 133 anos de funcionamento como a mais importante unidade carcerária do interior da Paraíba, a cadeia de Pombal passou por algumas reformas, mas que não alteraram o significativamente o projeto original. Os serviços se resumiram praticamente a adaptações de algumas dependências.

As reformas mais relevantes aconteceram em 1897, no governo do Antonio Alfredo de Gama e Melo, e trinta anos depois, ou seja, em 1927, na gestão do presidente João Suassuna. O presidente Gama e Melo deixou registrado que, mesmo seu governo passando por sérias dificuldades financeiras, havia determinado a criação de uma comissão de pessoas distintas da localidade, para a qual repassou a quantia de 3:000$000 destinada a execução dos serviços da cadeia da cidade de Pombal.

Por sua vez, João Suassuna, no Relatório enviado à Assemblei Legislativa, prestou a seguinte informação: “Está em vias de conclusão, na cadeia de Pombal, uma reforma que habilitará o prédio a receber quarenta sentenciados, ou seja, o quadruplo da lotação a que estava reduzida aquela detenção. Devo especial referência a esse melhoramento, pela boa vontade com que os habitantes locais auxiliaram o governo, assinando quotas apresentadas pelo esforçado dele gado José Gadelha, alma da iniciativa”.

A antiga cadeia foi desativada definitivamente em 1972, quando foi construída uma nova unidade carcerária na cidade. Ernani Sátiro de Sousa era o governado do Estado e Dr. Atêncio Bezerra Wanderley era o prefeito de Pombal. Em 1989, na gestão do prefeito Francisco Queiroga Sobrinho, a velha fortaleza passou a sediar a Casa da Cultura, um pequeno museu que ainda não atingiu o seu verdadeiro objetivo, notadamente pela falta de uma gestão verdadeiramente comprometida com a preservação de nossa memória.

José Tavares de Araujo Neto, pesquisador - Pombal-PB

19 de Maio de 2021

Parabéns Lavras da Mangabeira !!!

Desde os longínquos tempos de nossa colonização; a partir do Vale do Rio Salgado se ergue uma terra, um povo, um sentimento; que tem dignificado ao longo de sua existência o orgulho de ser sertanejo. A miraculosa aparição sob o frondoso juazeiro, da imagem de São Vicente Ferrer , onde hoje se localiza a atual matriz da cidade, consolidou a força da fé que unida à vocação forte de homens e mulheres de fibra inigualável, fazem a história de um dos mais tradicionais municípios do estado do Ceará: Lavras da Mangabeira.

De maio de 1816 quando houve a elevação da Vila de São Vicente das Lavras até os dias de hoje, esse pedaço precioso do Ceará, tem se notabilizado pela grandeza de seus filhos, sua dedicação às artes, à cultura e sua entrega ao trabalho, transformando a vida do estado e da região. Com o talento inegável daqueles que emprestam o que possuem de melhor na construção de sua história, Lavras da Mangabeira chega aos 205 anos, com o vigor de sua juventude, olhando para o futuro com a base sólida de seu passado e confirmando o orgulho de ser Lavrense.
Parabéns querida família de Lavras da Mangabeira, também terra do Cariri Cangaço; por seu aniversário de 205 anos de emancipação política.
NOTA: Lavras da Mangabeira é a terra de nossa Conselheira Cristina Couto, em Lavras realizamos nossa primeira experiência de eventos descentralizados, e de la ate aqui , realizamos 5 grandes encontros na terra de dona Fideralina, do Clã dos Augusto. Lavras casa do Cariri Cangaço.

Grandes Encontros Cariri Cangaço Rastreando a Anfitriã de Lampião na Bahia: Zefa Perdida!

O ano de 1927 teria sido um ano a ser esquecido pelo rei do cangaço; em 27, Uiraúna, Ipueira dos Xavier e por fim Mossoró, formaram heroicas resistências a Virgulino Ferreira e seu bando. Depois da malograda epopeia de Mossoró, o destino apontava novas paragens para o bandoleiro das caatingas, no radar do rei cego: As terras da Bahia.

E assim em agosto de 1928, Lampião ao lado de mais cinco cabras atravessa o caudaloso Velho Chico, sentido norte-sul; o "Homem" chegava a Bahia e um novo reinado haveria de se consolidar. O tempo para recompor suas forças e reagrupar homens para suas hostes acabou contando mais uma vez com todo o talento e as ligações perigosas do rei do cangaço. 

Personagens emblemáticos como os Coronéis , Petronilio Reis, João Sá, João Maria; cangaceiros que marcaram a história como os Ingrácias: Zé Baiano, Zé Sereno; fariam parte dessa nova pagina do cangaço de Virgulino Ferreira, que depois se alastraria com sucesso pelas terras alagoanas e sergipanas, mas... quem foi o primeiro e importante anfitrião de Virgulino na Bahia, ou... quem foi a primeira anfitriã ?

Quem era Zefa Perdida ? Qual sua ligação com os Ingrácias ? Qual o papel de Zefa na vida bandida dos vários membros da família? Que ligações possuía, que relações mantinha? Porque Lampião a procurou antes de qualquer outra atitude em solo baiano no longínquo agosto de 1928 ? Quem eram os Ingrácias ?

Para responder essas questões e aprofundar o debate sobre Zefa Perdida, Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço, recebe os pesquisadores, Manoel dos Santos Neto, Raimundo Marins e José Bezerra Lima Irmão, para um "ao vivo" sensacional sobre esse personagem pouco estudado pela literatura do cangaço.

"Rastreando Zefa Perdida-A Anfitriã de Lampião na Bahia"

Grandes Encontros Cariri Cangaço

Quarta-feira - Dia 19 de Maio de 2021, 19h30

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