Crato se Prepara a Festa de 10 Anos do Cariri Cangaço

Wilton Silva, Honorato Feitosa e Manoel Severo

A manha do último dia 22 de fevereiro marcou a primeira reunião de trabalho da curadoria do Cariri Cangaço com representantes do município de Crato para a realização do grande Cariri Cangaço 10 Anos a se realizar nos próximos dias 24 a 28 de julho de 2019 na região do Cariri e tendo como anfitriões as cidades de Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Barro e Lavras da Mangabeira.

Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço e Ingrid Rebouças receberam em Fortaleza para reunião o Secretário de Cultura de Crato, Wilton Silva - Dedê, junto com o produtor cultural Honorato Feitosa da empresa Lumiar Comunicação e Cultura. Na oportunidade foram definidas as principais linhas do evento que terá sua abertura solene na noite do dia 24 de julho de 2019 na cidade do Crato. Para o Secretário de Cultura , Wilton Silva, "será uma enorme honra realizarmos a noite de abertura do Cariri Cangaço 10 Anos, que inclusive teve seu nascimento aqui na terra de Frei Carlos".

O Cariri Cangaço - 10 Anos terá como anfitriões: Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Barro e Lavras da Mangabeira

O encontro marcou os principais pontos que serão abordados durante o evento em sua noite de abertura em Crato; a conferencia de abertura, as homenagens às instituições culturais da região e à personalidades de destaque do universo da cultura e da arte do cariri sem falar nas visitas técnicas, debates e outras atividades que o encontro promete. "Na verdade é muita coisa para mostrar e celebrar em tão pouco tempo, mas faremos um esforço danado para contemplar da melhor forma a todos os nossos convidados com o que temos de melhor" ressalta Manoel Severo, criador do Cariri Cangaço.

Honorato Feitosa, Manoel Severo, Ingrid Rebouças e Wilton Silva

Segundo Wilton Silva, Crato deverá realizar uma grande festa cultural na abertura do Cariri Cangaço 10 Anos. Além das principais linhas para realização do encontro em Crato ficou marcada uma nova reunião de trabalho no próximo mês de março, desta vez em Crato, quando serão acertados os detalhes; palestras, debates, visitas;  do evento que acontece em Julho. O Cariri Cangaço - 10 Anos em Crato tem como co-realizadores a Prefeitura Municipal de Crato e o ICC - Instituto Cultural do Cariri.

Reunião de Trabalho
Cariri Cangaço - Município de Crato
Fortaleza, 22 de Fevereiro de 2019

Crato, Anfitrião Cariri Cangaço - 10 Anos...

As terras às margens do rio Jaguaribe-Mirim (e seus afluentes) e da Chapada do Araripe eram habitadas por diversas etnias indígenas, dentre elas os Kariri, Aquijiró, Guariú, Xocó, Quipapaú e tantas outras,antes da chegada das entradas e/ou missões religiosas dos portugueses,italianos e até baianos, paraibanos e sergipanos. Com a expulsão dos neerlandeses do nordeste brasileiro, os portugueses puderam adentrar e explorar de forma efetiva as terras do "Siará Grande". Acredita-se que a primeira penetração no território do Cariri aconteceu durante século XVII, com a bandeira dos irmãos Lobato Lira. Desta bandeira, participaram dois religiosos: um padre secular e um frade capuchinho, que ganharam a confiança dos índios Kariri e conseguiram aldeá-los. Estes exploradores subiram o leito do Jaguaribe-Mirim e instalaram nos arredores da cachoeira dos Kariri (cachoeira de Missão Velha).
Tempos depois, o frade capuchinho Carlos Maria de Ferrara organizou, às margens do rio Itaitera (água que corre entre pedras), o maior e mais importante aldeamento de silvícolas na região. Este recebeu o nome de "Missão do Miranda", em homenagem a um dos chefes da tribo batizado com esse nome. Mais tarde, também aparecem as denominações "Miranda" e "Cariris Novos". A Missão do Miranda, sob a administração dos capuchinhos, prosperou, devido à fertilidade do solo e abundância de água, que possibilitaram o cultivo da cana-de-açúcar, mandioca e cereais. Manuel Carneiro da Cunha e Manuel Rodrigues Ariosto requereram, através da lei de sesmaria, a posse das terras adjacentes ao Rio Salgado, fato que culminou na elevação da missão a povoação.
A primeira manifestação de apoio eclesiástico aconteceu em terras doadas pelo capitão-mor Domingos Álvares de Matos e sua mulher, Maria Ferreira da Silva. Doação de terras feita aos índios Cariús da Missão ratificada perante o tabelião Roque Corrêia Merreiras no dia 13 de dezembro de 1743. Essa doação localizava-se, inicialmente, em terras encravadas a dois quilômetros a sudeste da povoação, transferindo-se, em data posterior, para a margem direita do rio Granjeiro. Os trabalhos da primitiva Igreja, dedicada a Nossa Senhora da Penha de França e São Fidélis de Sigmaringa, tiveram início em 1745, tendo como responsável, o frei Carlos Maria de Ferrara. Em 1762, foi criada a Paróquia, na aldeia do Miranda, sob a invocação de Nossa Senhora da Penha.
A edificação desse primitivo templo revela o atraso de sua época, considerando sua estrutura como as paredes de taipa, piso de barro batido e coberta de palhas, tendo ainda os caibros e ripas trançados de cipós. A permanência desses religiosos, no que se chamou de Missão do Miranda, estendeu-se por espaço de dez anos.
A povoação de Miranda elevou-se à categoria de vila em 16 de dezembro de 1762, tendo sido instalada em 21 de junho de 1764 como Vila Real do Crato, no século XVIII, desmembrada da cidade de Icó e constituindo com essa, Lavras e Umari os mais importantes núcleos de povoamento na época colonial no interior do nordeste. Foi tornada cidade pela Lei Provincial nº 628, de 17 de outubro de 1853.

Dona Bárbara de Alencar
No século XIX, já habitavam na vila do Crato famílias que enviavam seus filhos para estudar em Recife, capital da província de Pernambuco. Foi por lá que muitos entraram em contato com os ideais de independência e adoção do regime republicano no país. Assim, José Martiniano de Alencar, subdiácono e estudante do Seminário de Olinda, deflagrou o movimento republicano no conservador Vale do Cariri, a ter o Crato como palco principal. Repercutindo os ideais da Revolução Pernambucana de 1817, Martiniano "proclama" a independência do Brasil no púlpito da matriz da cidade em 3 de maio de 1817. Com isso, a cidade do Crato foi considerada um país por um dia. O proprietário Leandro Bezerra Monteiro, o mais importante proprietário rural do Cariri, católico e monarquista, pôs fim ao intento republicano. Os revolucionários foram presos e enviados para as masmorras de Fortaleza entre os prisioneiros estavam Tristão Gonçalves de Alencar Araripe e Dona Bárbara de Alencar, irmão e mãe de José Martiniano. Recebem a anistia pela autoridade real posteriormente.
Em 1824 eclode em Pernambuco a Confederação do Equador. Tristão Gonçalves de Alencar Araripe mais uma vez adere ao movimento e é aclamado pelos rebeldes Presidente da Província do Ceará. Em 31 de outubro de 1825 morre em combate com forças contrárias ao movimento. Após tais acontecimentos, em Crato, assim como no Cariri, muitos se dividem entre monarquistas e republicanos. Com a renúncia de D. Pedro I, inimigos do monarquista aproveitam para se vingar e Pinto Madeira em sua defesa arma dois mil jagunços com a ajuda do vigário de Jardim, padre Antônio Manuel de Sousa. Invadem o Crato em 1832 para derrotar os inimigos políticos. Apesar de vitoriosos no começo, Pinto Madeira e Antônio Manuel sofrem reveses e, finalmente presos, são enviados ao Recife e Maranhão. Retorna ao Crato em 1834 e é condenado a forca, sentença posteriormente comutada para fuzilamento, em face do réu ter alegado sua patente militar de coronel. Tanto Tristão Gonçalves quanto Pinto Madeira dão nome a rua e bairro, respectivamente, na cidade nos dias de hoje.

Seminário São José em Crato
No início do século XX, a cidade dividiu com o recém criado município de Juazeiro do Norte a liderança política do vale do Cariri. Joaseiro, como era conhecido, era uma localidade pertencente à Crato e seu processo de autonomia política seria encabeçado por, entre outros, padre Cícero.Em 20 de Outubro de 1914, é criada a Diocese de Crato pelo papa Bento XV. A Igreja Católica foi responsável pelo progresso material e social de Crato inicialmente, pois aí fundou o Seminário menor de São José (primeiro do Interior cearense), a pioneira cooperativa de crédito (Banco do Cariri), escolas, hospitais e a Faculdade de Filosofia de Crato, embrião da atual URCA fundada no ano de 1986. Ainda em 1914, Crato foi palco de confrontos da Sedição de Juazeiro, levante que levaria à deposição do Governador Franco Rabelo.

O município de Crato foi palco da noite de abertura das Conferências da primeira edição do Cariri Cangaço em Setembro de 2009, há exatos 10 anos e hoje será novamente palco da noite de abertura da festa de 10 anos do Cariri Cangaço.

Mostrou-se o Cangaço na Paraíba ! Por: Geziel Moura


Mostrou-se, o Cangaço na Paraíba!
Quando estava lendo a última obra do escritor e pesquisador Sérgio Dantas, "Lampião na Paraíba: Notas para a História", lembrei de certo professor de cinema, ao afirmar que o sucesso de um filme está nos primeiros 15 minutos, isto é, se o espectador não for capturado naqueles minutos iniciais, não o será jamais. Ao fazer esta relação, da produção literária de Sérgio Dantas com o exemplo das características de bom filme sugerido pelo especialista em cinema, não tenho dúvida, fui refém desde a introdução e somente posto em liberdade, ao final das 366 páginas, num voo direto de leitura, sem escalas e/ou conexões

Penso que ler, pesquisar e escrever, sobre a primeira fase do cangaço lampiônico, não seja tarefa fácil, na medida em que os acontecimentos abrangem períodos iniciais daquele cangaço, cujas noticias são esparsas e escassas, muito delas espraiadas em diversos textos clássicos, com diversas variações de entendimentos por seus autores, sem falar que as matérias jornalísticas, são raras e de difícil acesso.Entretanto, mesmo diante de tais contingências, Sérgio Dantas conseguiu estudar e produzir a história do cangaço de Lampião, que ocorreu no Estado da Paraíba, cujos eventos eram cheios de incertezas, duvidas e principalmente a falta de concatenamento entre eles.
Assim, gostaria de destacar alguns episódios ocorrido na Paraíba de suma importância, para os leitores deste "Mundo Estranho dos Cangaceiros", que recebeu considerada luz no texto de Sérgio Dantas, dentre outros, o ataque à cidade de Sousa (PB), que não restam dúvidas foi o divisor de águas, nas carreiras bandoleiras de Lampião e Chico Pereira, aliás, agora se pode ter noção da complicada e obscura relação do Coronel José Pereira Lima e o Capitão Virgolino, podemos até estabelecer marco histórico: antes e depois de Sousa (PB), confesso que fiquei atendido, como leitor, na perspectiva apresentada pelo autor.
Sérgio Dantas

Ainda, no campo de relações harmônicas ou desarmônicas de Lampião, com as autoridades da Paraíba, consegui fazer funcionar minhas sinapses, partindo do combate da Lagoa do Vieira, em que o chefe cangaceiro saiu lesionado no pé, até a região de Patos de Irerê, mais precisamente no Sítio Saco dos Caçulas, protegido por Marcolino Diniz e seus parentes, agora sim ficou fácil pensar desta amizade, que posteriormente chegou ao fim.
Outra perspectiva interessante que fez-me pensar, e livro bom faz o leitor pensar, foi a trajetória do cangaceiro Chico Pereira, a áurea de injustiçado muito propalado pelo filho escritor dele, foi descortinado, agora é possível deslocar-se e ver aquela trajetória de outro ponto de observação, que nem sempre apresenta o cangaceiro como perseguido pela policia.
Termino este comentário, declarando o óbvio, que os textos de Sérgio Dantas, como de costume, são encharcados do rigor científico, com vastíssimas referências (Jornais, Boletins da policia, Processos, livros, entrevista e revistas), isto não é novidade para os leitores dele, acrescento que desta vez ele superou, o que já era bom, no que tangencia a geografia do sertão, arrisco dizer que nunca li antes, quem cuidasse com tanto esmero e propriedade as localizações dos episódios pesquisados.
Aprendi com o autor, que mais importante que instituições, grupos de pesquisas e pareceristas é a pesquisa dura, daquelas que carecem sentir o ácaro dos arquivos públicos, a estrada de barro, o sol inclemente do sertão e também se apropriar de toda literatura disponível da área, até as medíocres, e o mais importante: A satisfação pessoal que vem do trabalho realizado. Agora temos uma referência sobre o cangaço na Paraíba, ainda bem.
Geziel Moura, pesquisador - Belem-PA

Nova e Dinâmica Agenda Cariri Cangaço e Café Patriota 2019

Manoel Severo, Anapuena Havena e Ingrid Rebouças

A agenda Cariri Cangaço - Café Patriota para este primeiro semestre de 2019 contemplará os meses de abril, maio e junho com duas datas ao mês; sempre em uma terça-feira no horário da noite e em um sábado no horário das 14 horas. A definição foi acertada entre o Curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo, Ingrid Rebouças e a proprietária do Café Patriota, empresária Anapuena Havena em recente reunião de trabalho em Fortaleza. "É uma enorme satisfação receber o Cariri Cangaço aqui no Café Patriota, na verdade é uma grande honra está ao lado de uma iniciativa vitoriosa e tão preciosa para a cultura brasileira, vamos continuar realizando grandes encontros aqui em Fortaleza" revela a proprietária do local, empresária Anapuena Havena.

A parceria entre o Cariri Cangaço e o Café Patriota foi firmada ainda em Julho de 2018; entre o Curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo Barbosa e os proprietários da casa, Lincoln Chaves e Anapuena Havena; numa indicação de que muita coisa boa seria proporcionada a partir dali. Ainda no ano de 2018 duas grandes conferências tiverem lugar no Café: As duas tendo como tema central a figura de Virgulino Ferreira da Silva, tendo como palestrantes, primeiro; Manoel Severo e depois com o documentarista Aderbal Nogueira. Neste primeiro semestre de 2019 o Cariri Cangaço promete trazer ao Café Patriota outros personagens não menos marcantes da historia do sertão nordestino.


"O Café Patriota é um empreendimento ousado e já extremamente vitorioso que nasceu com o este forte sentimento de amor a história e às nossas verdadeiras raízes. O espaço requintado, cheio de charme e não menos aconchegante torna-se especialmente diferenciado, unindo gastronomia, historia e cultura, Lincoln e Havena estão de parabéns; assim é uma honra o Cariri Cangaço reiniciar a agenda Café Patriota neste ano de 2019" confirma Manoel Severo. 

Definição da Agenda Cariri Cangaço-Café Patriota 2019

O espaço que reúne cafeteria e restaurante com cardápio de primeira classe, livraria e espaço cultural para apresentações de conferências e palestras como também reuniões , situado bem no coração de um dos mais importantes bairros de Fortaleza, Aldeota, já consolidado como uma das casas referências no estado, receberá através do Cariri Cangaço conferencias e debates quando terão como principais personagens, dentre outros; Dona Fideralina, Padre Cícero, Beato José Lourenço, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Izaias Arruda, Padre Ibiapina, Delmiro Gouveia, Guidinha do Poço, Antonio Conselheiro além de episódios marcantes da historia nordestina como a Sedição de Juazeiro, Confederação do Equador, Caldeirão, Revolução de 30, dentre outras.

"Já temos as datas de 16 e 27 de abril, 07 e 18 de maio e ainda 11 e 29 de junho, agora vamos montar o conjunto de palestras e debates para divulgação, com certeza será muito legal, esperamos a todos no Café Patriota" conclui Ingrid Rebouças.

Cariri Cangaço e Café Patriota
Fortaleza, Ceara
22 de Fevereiro de 2019

Sociedade Cearense de Geografia e História Lança Revista na Casa Juvenal Galeno

Vicente Alencar, Rene Lobo, Ângelo Osmiro e Manoel Severo

A Sociedade Cearense de Geografia e História, instituição cultural com sede na cidade de Fortaleza, lançou na tarde de ontem, dia 19 de fevereiro, na Casa de Juvenal Galeno, no centro da cidade, a edição comemorativa de sua Revista de 2018 sob o comando de seu presidente, jornalista e radialista Vicente Alencar.

Nomes como Ângelo Osmiro, Aristides de Sousa Neto, Cássio Borges, Evandro Bezerra, Herculano Verçosa, Geraldo Bezerra, Marum Simão e o próprio Vicente Alencar, dentre outros ilustres escritores fazem parte dos autores escolhidos e responsáveis pela edição 2018 da prestigiada revista.

"A Sociedade Cearense de Geografia e História com essa publicação mostra o pensamento que envolve os seus membros, como estão acompanhando tudo o que se registra no mundo. Que os conceitos aqui contidos possam colaborar, diretamente, para um melhor posicionamento de todos nós, perante a população brasileira" afirma o presidente Vicente Alencar.

NOTA CARIRI CANGAÇO: A SCGH-Sociedade Cearense de Geografia e História, foi fundada em 25 de agosto de 1935, reconhecida como de utilidade pública pela Lei Nº 107 de 15 de maio de 1936. Mantem reuniões na Casa de Juvenal Galeno, rua General Sampaio, 1128, centro da cidade de Fortaleza.

Virgulino Lampião em Mais uma Palestra em Fortaleza

Serzedelo Freitas, Manoel Severo e Joélcio Alves

A cada dia que passa me surpreendo ainda mais com o fascínio que o tema cangaço desperta nas mais variadas plateias; do menino ao mais experiente, do estudioso ao curioso, enfim. Nestas nossas andanças por todos os caminhos nordestinos; do litoral ao sertões ; o tema cangaço encanta e quando começamos a falar de Virgulino Lampião até o tempo estaciona para ouvir...

Na manha do último dia 12 de fevereiro tivemos o privilégio de atender ao convite do professor Joélcio Alves, do colégio da Imaculada Conceição na cidade de Fortaleza, capital do meu Ceará. Naquela manhã foram reunidos os alunos das turmas do nono ano do referido colégio, turmas sob o "comando" dos professores Joélcio Alves e do professor Serzedelo Freitas, reunidos ali para conhecerem um pouquinho mais da incrível historia dos míticos Lampião e Maria Bonita.


Diante de mim uma preciosa platéia de admirados e curiosos expectadores, esses queridos alunos; todos com idade entre 13 aos 17 anos; começaram meio sem jeito a partir da apresentação de um assunto que nem todos possuíam afinidade, entretanto, com o passar dos minutos a curiosidade e a atenção redobrou, e aqueles surpresos expectadores passaram a ávidos curiosos desejando conhecer mais e mais a historia do Rei do Cangaço e sua amada. Não pelo talento do palestrante mas pelo incrível magnetismo do tema, tivemos uma manhã onde o tempo passou como um raio e deixou um gostinho de "quero mais"...Como confirma o professor Joélcio: "Precisamos fazer outra palestra, desta vez muito maior."

Na verdade um grande desafio, explico: Estamos acostumados a debater, discutir e aprofundar o estudo do tema cangaço junto a um público de estudiosos, pessoas que dedicam boa parte de suas vidas à pesquisa e ao estudo do tema, sempre em conferências que acabam reunindo centenas de pesquisadores, assim, quando somos colocados diante de um público como esses estimados alunos chega a dá um "frio na barriga"... Mas missão dada, missão cumprida !

 "Virgulino Lampião tinha a real noção da força de sua imagem..."

Ao final ficou a impressão de um bate-papo leve, solto, quando nos esforçamos para apresentar aos alunos o cangaço  de forma completa; em sua complexidade e simplicidade; como as coisas do nosso sertão nordestino e apesar de todas as diferenças, ninguém melhor para entender um nordestino do que outro.


"Hoje recebemos a visita do amigo Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço aqui no Colégio da Imaculada Conceição para conversar com os alunos dos nonos anos sobre o Cangaço no Brasil.Foi um momento rico em histórias e conhecimento. " Ressalta o professor Joélcio Alves, que já confirmou presença na primeira agenda do Cariri Cangaço para este ano de 2019: Cariri Cangaço Quixeramobim - Antônio, o Conselheiro do Brasil.

Cariri Cangaço no Colégio Imaculada Conceição
12 de Fevereiro de 2019, Fortaleza,CE
Fotos:Ingrid Rebouças

E vem ai...

O Combate de Uauá - Canudos Por:Rubens Antonio


Apesar de algo distante do evento do Cangaço, como alguns dos seus nomes chegaram a participar de ambos eventos, reproduzimos aqui algo do material relacionado à rebelião de Canudos.


Relatório do Tenente Pires Vieira - 
Comandante da I Expedição Contra Canudos.

"Combate de Uauá – Logo que chegamos ao arraial, no dia dezenove, mandei estabelecer o serviço de segurança, postando guardas avançadas nas quatro estradas que ali conduzem em distancia conveniente, afim de evitar qualquer surpreza; nomeei o pessoal de ronda, e conservei toda a força no acantonamento. O dia vinte passou-se sem nenhum incidente notavel, a não ser o abandona do arraial à noite, e furtivamente, por quase todos os habitantes. Das informações que colhi consta que assim procederam com receio da gente do Antonio Conselheiro. Inclino-me, porém, a crer que se achavam mancommunados com esta para atraiçoarem a força publica, como o fizeram, pois que até os poucos que ficaram no arraial não foram offendidos pelos bandidos, e garantiram-me antes do combate que ali não havia fanaticos, nem adeptos do Antonio Conselheiro; que este e o seu povo se achavam em Canudos, de onde não sahiriam, não obstante terem elles a certeza quando isso me affirmaram de que os mencionados bandidos se achavam a quatro léguas de distancia, dirigidos por Quimquim Coyam, e viram atacar a força na madrugada do dia immediato.

A’s cinco horas da manhã do dia vinte e um, fomos surprehendidos por um tiroteio partido da guarda avançada, colocada na estrada que vae ter a Canudos. Esta guarda, tendo sido atacada por uma multidão enorme de bandidos fanaticos, reistiu-lhes denodamente, fazendo fogo em retirada. Por essa occasião o soldado da segunda companhia Theotonio Pereira Bacellar, que por se achar muito estropeado não poude acomlpanhar, a guarda foi degolado por um bandido. Immediatamente, dispuz a força para a defensiva, fazendo collocar em distancia conveniente do acantonamento uma linha de atiradores, que causou logo enormes claros nas fileiras dos bandidos.

Estes, não obstante, avançaram sempre, fazendo fogo, aos gritos de viva o nosso Bom Jesus! Viva o nosso Conselheiro! Viva a monarchia! etc., etc., etc, chegando até alguns a tentarem cortar a facão os nossos soldados. Um delles trazia alçada uma grande cruz de madeira, e muitos outros traziam imagens de sanctos em vultos. Avançaram e brigaram com incrivel ferocidade, servindo-se de apitos para execução de seus movimentos e manobras. Pelo grande numero que apresentaram foram por algumas praças calculados em tros mil! Há, porém, nisso exagero, proveniente de erro de apreciação; seriam uns quinhentos, mais ou menos, os que nos atacara, divididos em varios grupos, que procuravam envolver a nossa força e apoderar-se do arraial, o que não conseguiram devido às energicas providencias que tomei, effecazmente auxiliado pelos officiaes e a disciplina das praças. Conseguiu, entretanto, grande numero delles, apoderar-se de algumas casas abandonadas, que se achavam desguarnecidas por insufficiencia da força e de onde nos fizeram algum mal, mas, sendo necessario incendiar as dictas casas, afim de desalogja-los, o que conseguimos depois de alguma trabalho.


Chegados a esta phase do combate, depois de mais de quatro horas de luta, conhecendo que elles já se achavam desmoralizados, pela dificuldade com que respondiam, ao nosso fogo, e porque já tentavam fugir, passei a tomar a offensiva, e fiz perseguil-os até meia legua de distancia, morrendo muitos delles nessa occasião, e ficando o resto completamente desbaratado. Não levei mais longe a perseguição e mandei toca a retirar, por constar-me, achar-se um grande reforço delles um pouco adiante, e por estar a nossa gente cançada e sem alimentar-se desde a véspera. Além disso cumpria-me reunir os elementos que me restavam, afim de resistir a uma nova aggressão que porventura se desse. Seria pouco mais ou menos meio dia, quando terminou essa luta, com o regresso de nossas praças ao acantonamento, sem que durante a perseguição tivesse soffrido prejuízo algum. Na phase mais aguda do combate, houve fogo incessante e renhido de parte à parte, durante mais de quatro horas. Todos os officiaes, inferiores e praças portarem-se nessa emergência com um heroísmo e uma disciplina sem par, o que muito concorreu para seu bom exito, faltando-me palavras com que possa exprimir o procedimento nobre, correcto e enthusiasmador de que deram exhuberantes provas, honrando assim a corporação a que pertencemos.

Os inimigos deixaram no campo e dentro das casas que occupavam mais de cento e cincoenta cadaveres, sendo incalculavel o numero de feridos que tiveram e dos que foram morrer pela estrada, ou dentro das catingas. As nossas perdas foram aliás insignificantes quanto ao numero, sendo, porém, dolorosamente sensíveis e lamentaveis, por terem sido victimados pelas balas dos bandidos o distincto e temerario alferes Carlos Augusto Coelho dos Santos, o bom e destemido segundo sargento Hemeterio Pereira dos Santos Bahia, os valorosos cabo de esquadra Manoel Francisco de Souza, anspeçada Antonio Joaquim do Bomfim, soldados Herculano Ferreira de Araujo, Victorino José dos Santos e João Chrysostomo de Abreu, além do já mencionado Bacellar, que foi degollado no começo da ação, tendo sido assim a primeira victima. Ficaram feridos: gravemente - cabos de esquadra Cesario João dos Santos, Manoel Antonio do Nascimento, Pedro Leão Mendes de Aguiar, anspeçadas Tiburtino de Oliveira Lima, Minervino Bello da Cruz, soldados José Antonio Moreira, Casemiro de Freitas Passos, João Ferreira de Pinho e Virgilio Manoel dos Reis; levemente - cabos de esquadra Athanazio Felix de Sant'Anna e Salustiano Alves de Oliveira, anspeçadas João Evangelista de Lima e Raphael Pereira Cardoso, soldados - Antonio Bispo de Oliveira e Feliciano José dos Santos. Faleceram, tambem na luta, os paisanos Pedro Francisco de Moraes e seu filho João Baptista de Moraes, que nos serviam de guias, e que se portaram com galhardia na ocasião do combate, juntando-se à força e enfrentando os bandidos. Eram ambos casados e deixaram familia sem recursos. Perdemos, portanto, um oficial, um inferior, um cabo de esquadra, um anspeçada e quatro soldados, que com os dois paisanos guias dão um total de dez homens mortos no referido combate.

Me cumpre ainda notar que alguns casos de morte se deram por excessos de bravura, praticados pelas victimas que se expunham sem necessidade ás balas do inimigo. Os cadaveres do official e das praças foram cuidadosamente sepultados na capella do arraial, os dos bandidos ficaram insepultos por não dispormos de tempo, pessoal, nem dos instrumentos necessarios para o enterramento delles. Fomos forçados a retirar para Joaseiro, na tarde do mesmo dia do combate, não só para evitar o mal que poderia advir da decomposição de tantos corpos, como tambem pela falta de viveres e outros recursos em Uauá.
Os bandidos estavam armados em grande parte com carabinas Comblain e Chuchu, outros tinham bacamartes, garruchas e pistolas, e quasi todos traziam, além das armas de fogo, grandes facões, foices e machados. O dr. Antonio Alves dos Sanctos, medico adjunto do exercito, que acompanhou a força, prestou -reas serviços durante o combate, tratando as praças feridas com interresse e desvelo, mostrando-se na altura da humanitaria missão que lhe fôra confiada; tendo, porém, depois de terminada a luta apresentado symptomas de desaranjo mental, entreguei os feridos logo que cheguei ao Joaseiro aos cuidados do facultativo civil dr. Antonio Rodrigues da Cunha Melo, que se encarregou do tratamento, fazendo-o com dedicação, solicitude e interesse, operando até algumas praças, no que foi auxiliado pelo cirurgião dentista Brigido Pimentel, que muito se prestou durante alguns dias com incansavel zelo.


Armamento
Fuzil Mannlicher, de que se acha ainda armado o batalhão, comquanto seja de repetição e de grande alcance, com seu projectil dotado de uma força de penetração extraordinaria, e dando ao tiro uma justeza admiravel, comtudo não compensa com essas bôas qualidades, alliadas a muitas outras que possui, o prejuizo resultante da extrema delicadeza de seu mecanismo que facilmente se estraga, ficando o fuzil reduzido a simples arma branca, quando adaptado no extremo do cano o componente sabre-punhal. Basta um pouco de poeira ou um simples grão de areia, introduzido na camara, para que não possa o ferrolho funccionar. Acontece, além disso, que com o fogo um pouco prolongado os carregadores não podem entrar no deposito com o numero de cartuchos regulamentar, dilata-se o aço do cano que, aumentado de diametro, difficulta a introducção dos cartuchos para o tiro simples, não podendo a arma funccionar como as de repetição. Dahi um grande numero de armas incapazes para o seu mister na ocasião opportuna, como aconteceu no combate em que tive de tomal-as das mãos das praças, afim de ver si conseguia fazel-as funccionar, sendo infructiferos todos os esforços nesse sentido. Mesmo em muitas das armas que funccionavam, o extractor, peça de grande delicadeza, perdia a necessaria justeza e enfraquacia a móla, deixava de extrahir o cartucho, que tinha de ser extraido á mão, o que prejudicou a rapidez do tiro. Esse armamento não convém ao nosso exercito, por não dispor ainda este de meios de transporte facil, rapido e commodo, de que dispoem os exercitos europeus; não merece a confiança dos officiaes, nem das praças que delles se utilizam, por não poderem contar, com segurança, com seus bons effeitos numa emergencia qualquer. Não obstante os assiduos cuidados que tive pela boa conservação do armamento das praças, pois que como é intuitivo do estado delle dependeria, em grande parte, em uma dada circumstancia, a victoria ou derrota de nossa força, ainda assim tive o desprazer de observar o que venham de referir. Durante o combate muitas armas flcaram tambem inutilizadas por outros motivos, umas perderam os respectivos ferrolhos que saltaram com a violencia do choque na defesa á arma branca, outras tiveram as coronhas partidas a talho de fação ou por balas; algumas ficaram com a camisa do cano inutilisada por bala, muitas seus sabres punhais, e ainda outras com os depositos arrebentados. A poeira e as escabrosidades das estradas, o calor de um sol abrasador e insupportavel, as condições em que foram feitas as marchas, sem commodidade de ordem alguma, tudo isso, frustrando os meus previdentes cuidados, deram o resultado acima apontado. Acontece ainda que essas armas que serviram na campanha de S. Paulo e Paraná, em mil oitocentos e noventa e quatro, já se achavam bastante usadas, tendo a mór parte dellas soffrido concertos. Outras fossem as condições de resistencia e solidez de seu mecanismo, e melhor teria sido o resultado obtido na luta.

Fardamento
O das praças que compuzeram a força de meu commando ficou bastante estragado, em estado mesmo de não poder continuar a servir, devido a acção dos raios solares, da chuva e da poeira, e ainda do uso constante que delle fizeram, por necessidade, pois que não só marchavam, como dormiam com elle, á noite, sobre o solo nú e barrento das estradas, pela falta de barracas; e também pela necessidade de conservar-se a força sempre em armas em sitios cuja topographia nos era desconhecida, e onde não podiamos fiar em informações adrede preparadas, com o intuito de nos illudir. Muitas praça tiveram ainda algumas peças de seus uniformes, perdidas por completamente inutilizadas, como fossem tunicas de flanella cinzenta e calça de panno garance, rasgadas pelos galhos das arvores e espinhos das picadas, estrada, etc. Algumas perderam na marcha as gravatas de couro, ourtas tiveram no combate os gorros e os capotes crivados de balas ou cutilados a facão, em farrapos e ensanguentados. Ainda outros perderam os gôrros, levados pelas balas. O calçado incapaz de resistir a uma marcha tão longa, e por tão maus caminhos, estragou-se, ficando um grande numero de praças descalças.

Disciplina
Foi mantida em toda sua plenitude, sem que tivessem havido, infracção alguma digna de nota, durante todo o periodo de meu commando. 
Quartel da Palma, na Bahia, 10 de dezembro de 1896 - Manuel da Silva Pires Ferreira, tenente."
(Apud Aristides Milton, 1902, p.35)

Por: Rubens Antônio
http://cangaconabahia.blogspot.com/2012/02/o-combate-de-uaua-canudos.html
Trazido de:




E Vem aí...
Cariri Cangaço
Antônio, O Conselheiro do Brasil 
Quixeramobim - 24 a 26 de Maio de 2019

Os Últimos Dias do Rei do Cangaço Por:João de Sousa Lima


CONVITE
LANÇAMENTO DE DOCUMENTÁRIO

Tá chegando o dia da apresentação do documentário dos últimos dias do Rei do Cangaço Lampião em nossa cidade de Paulo Afonso - BA.

O documentário foi realizado pela TVE Alagoas e já passou por quase toda a região do São Francisco, mostrando a caminhada dos últimos dias do temido Rei do Cangaço Lampião e no dia 23 de fevereiro é o dia da nossa cidade Paulo Afonso - BA marcar presença e assistir esse grande trabalho.

O mesmo será exibido na Casa da Cultura a partir das 19:00 horas, onde contará com a presença do escritor e historiador João de Sousa Lima que irá falar um pouco sobre esse documentário.
Então se liga para não perder, e nem ficar de fora, pois o local infelizmente conta com cadeiras limitadas.

Os Vaga-lumes de Maria Bonita por: Raul Meneleu


Na história do Cangaço precisamos ter cuidados em fazermos afirmativas, pois as contradições que muitas vezes, senão em maioria, nunca foram propositais. Destaco o depoimento da cangaceira Sila, quando, contando que na noite anterior do fatídico dia da morte de Lampião e Maria Bonita, junto com mais nove cangaceiros, estava sentada em uma pedra, conversando com Maria e que viu lampejos que ela achava que poderiam ser fachos de lanternas, mas que fora dissuadida por Maria Bonita, que lhe dissera que eram apenas luzes dos vagalumes. Ela então talvez convencida naquela ocasião, que realmente eram lâmpadas de vagalumes, não ficou preocupada e nem disse isso ao seu companheiro Zé Sereno quando chegou em sua barraca. No depoimento ela diz que após o acontecido,  lembrando dessa conversa, esta lhe marcou a mente, que eram soldados fazendo o cerco ao Angico. Mas pergunto: que hora era  aquela da conversa, se o ataque se deu cedinho pela manhã e temos testemunhos de soldados, que disseram que às 3 horas da manhã, não tinham ainda atravessado o Rio São Francisco?

A mente humana pode ser convencida por algum fato lembrado, mas que necessariamente tal fato não se deu. Boa parte das lembranças do ser humano é falsa. Jamais aconteceu. Não passa de mentiras inventadas pelo cérebro, dizem os psicólogos. Parte das lembranças é pura imaginação. Isso porque a memória não é um registro da realidade – é uma interpretação construída pela mente. O nosso cérebro inventa o mundo, das cores que a gente vê às experiências que a gente vive. E edita essas informações antes de gravá-las.

Adília e Sila

Boa parte das lembranças é falsa. Jamais aconteceu. Não passa de mentiras inventadas pelo cérebro. Lembrar é imaginar, e imaginar é distorcer. Em uma reportagem de Gisela Blanco e Bruno Garattoni publicado na revista Super Interessante de julho de 2018, reportando sobre isso, mostra que essas lembranças sempre afloravam no consultório de algum psicólogo, depois de sessões de terapia com técnicas de hipnose e regressão e se descobriu muitos casos de falsas memórias, que haviam sido acidentalmente induzidas por psicólogos durante sessões de hipnose. É aquela história que de tanto se falar se acredita.

"É uma interpretação construída pela mente. O nosso cérebro inventa o mundo, das cores que a gente vê às experiências que a gente vive. E edita essas informações antes de gravá-las, explica o psicólogo cognitivo Martin Conway, da Universidade de Leeds. Cientistas da Universidade Harvard pediram a voluntários que se lembrassem de uma festa em que tinham estado. Em seguida, eles deviam imaginar uma festa que ainda não havia acontecido. Os pesquisadores monitoraram as cobaias durante todo o experimento e descobriram que, nos dois exercícios, sua atividade cerebral foi praticamente a mesma. Ou seja: os mecanismos que usamos para acessar nossas memórias são os mesmos que usamos para imaginar as coisas. Uma pessoa pode ter lembranças erradas ao ler o que está gravado corretamente na sua memória,


Vocês podem até se lembrar do principal, mas todo o resto será distorcido – com direito a várias informações criadas pelo cérebro. Já que a memória e a imaginação usam os mesmos mecanismos, a mente não vê problema em dar uma inventadinha para completar as lacunas.

Essa tendência é tão forte que a Justiça possui artifícios para se defender disso, e ver se os relatos de testemunhas estão contaminados pela imaginação. Além de propor situações que não aconteceram (como no caso do americano Paul Ingram), os interrogadores evitam perguntas indutivas (“ele estava usando um boné, certo?”) ou que envolvam raciocínio negativo (“isso não está certo, né?”), pois elas acabam levando o cérebro a distorcer as memórias. Mas não há uma maneira de determinar, cientificamente, se uma lembrança é real. Nem mesmo o detector de mentiras consegue desmascarar falsas memórias, e por um motivo simples. Sabe aquela máxima que diz: uma coisa não é mentira quando você acredita nela? Pois é.

Apesar de tudo isso, é difícil imaginar uma sociedade que não acreditasse na memória das pessoas. Não existiria verdade nem realidade coletiva, pois cada indivíduo viveria isolado em seu próprio mundo de lembranças. “A crença na memória é fundamental para várias instituições da sociedade, como a Justiça e as escolas”, afirma Schacter. Ainda bem. Pois, no futuro, nossas memórias serão totalmente diferentes."

Sila ao lado de seu companheiro Zé Sereno e seu bando

Então amigos, não era porque Sila estava mentido. Ela e Maria Bonita realmente conversaram naquela pedra e a lembrança que Sila teve quando algum tempo depois, alguns dias depois ou talvez meses, quando ela lembrou ficou gravado em sua mente que aquelas luzes de lanternas eram dos Soldados. Mas não poderia ser pois, a que horas elas estavam conversando em cima daquelas pedras? Era 3 horas da manhã? Eu duvido que isso se deu nessas horas entre 3 e 4 da manhã! Provavelmente deveria ser, essa conversa, antes de 22h.

Mas aí já entra da minha parte essa interrogação. Mas sinceramente acho muito difícil que essa conversa tenha se dado as 3 horas ou 4 horas da manhã pois os soldados ainda estavam atravessando o rio.

Raul Meneleu, pesquisador, Conselheiro Cariri Cangaço
30 de novembro 2018
http://meneleu.blogspot.com/

O Romance entre João Maria de Carvalho e Maria Déa, a Futura Maria Bonita Por:Rangel Alves da Costa

Conforme conhecimento geral, o chefe do clã dos Carvalho da Serra Negra, filho de Pedro Alexandre de Carvalho e Dona Guilhermina Maria da Conceição, o depois temido e reverenciado tenente João Maria de Carvalho (coronel por força do poder e da patente concedida pelos méritos da força e do mando), sempre se sobressaiu vitoriosamente aonde sua mão e seu passo puderam alcançar.
Agraciado pela família de nomeada por toda a Serra Negra e arredores, cada um dos filhos de Pedro Alexandre logo procurou tecer seu próprio destino. E eram muitos, nada menos que quatorze, sendo a metade de homens. Nas lidas da terra, na compra e venda de rebanhos, nos estudos, no tino da troca e da venda de mercadorias, no contexto local de poder, cada um foi garantindo seu lugar ao sol. E João Maria, antes de todo o poder alcançado, antes de se tornar tenente e coronel nordestino, antes de ser dono e rei de um mundo, foi um inquieto e irrequieto lutador. E, na luta, os muitos ofícios, desde o tangimento de gado ao comércio.
João Maria de Carvalho


Do seu tino de comerciante, eis que um dia, lá pelos fins dos anos 20, fincou pé nas bandas de Santa Brígida, não distante de sua Serra Negra, onde passou a comercializar, principalmente nos dias de feira, tecidos, chinelos e outros produtos de uso pessoal e do lar. E foi neste local que o moço garboso, já passado dos trinta anos e ostentando o poder da sedução, lançou o olhar sobre uma mulher que lhe pareceu de atração diferenciada. Naqueles sertões de mulheres tímidas e recatadas, um olhar mais penetrante logo despertava verdadeiro desejo.

Aquela que encontrou era como que uma flor dengosa, feminina demais em cada olhar e gesto, uma atriz de cinema naquele mundo carrasquento e embrutecido. Logo se encantou. No seu livro “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico, no capítulo “Maria Bonita, Rainha e Deusa do Cangaço”, Alcino Alves Costa narra como se deu tal episódio amoroso, e diz:

“Faz feira, com um comércio de tecidos, em Santa Brígida, um dos descendentes da tradicional família Carvalho, de Serra Negra. É ele um jovem moço que anos depois veio a se tornar no famoso e temido tenente João Maria de Carvalho."

A futura rainha do cangaço inicia um romance com o prestimoso lojista que seria depois o grande patriarca daqueles sertões. Romance ardoroso. Altamente sigiloso. Tão sigiloso que ainda hoje é negado por seus familiares. 

Rangel Alves da Costa

Tempos aqueles em que uma mulher casada era uma preciosidade que só poderia ser alcançado dentro do maior segredo e debaixo de sete chaves.
Maria Déa se atira aos braços do amante. João Maria é exatamente o inverso do marido. É explosivo, ardente, carinhoso e arrojado, deixa a moça na mais completa felicidade.

O ardor dos encontros proibidos faz com que Maria cada vez mais se afaste do sapateiro. Já não partilhavam à mesma cama. As brigas a cada dia se multiplicavam. Impossível continuar vivendo aquela fracassada união. Só existia uma solução: a separação definitiva. Corre o ano de 1930.

Lampião reina absoluto por aquelas bandas baianas. É o nome que se fala, que se comenta. Eis que o grande bandoleiro aparece na Malhada da Caiçara.É carinhosamente recebido. Faz amizades. As visitas se tornam constantes. Todos comenta, o romance de Maria com o famoso rei dos cangaceiros.

Maria Bonita em foto do final da década de vinte (acervo de João de Sousa Lima)

Em uma manhã de fevereiro de 1931, Lampião a leva para sua companhia. A bela flor de Santa Brígida, que há anos vinha murchando na taperinha de Zé de Neném, ia, agora, florir a vida seca e encrespada de Virgulino Ferreira da Silva, passando a ser a deusa e rainha do cangaço”.

Tal história, ainda recentemente me foi asseverada por Orlando da Serra Negra, sobrinho-neto de João Maria, segundo o qual sempre ouviu histórias dando conta de que a relação entre o comerciante e a jovem esposa do sapateiro ia muito além da amizade. Costumeiramente, João Maria mandava entregar a Maria Déa cortes de panos, sandálias e perfumes. Entregar e nada cobrar, pois presentes especiais para uma pessoa de afinidade. Desse modo, difícil negar que antes dos braços do Capitão Lampião, a futura Maria Bonita lançou-se aos braços de um embrionário coronel sertanejo.

Que sina a desta mulher, a desta Maria. Saindo daquele mundo que não lhe cabia, por ela mesma rejeitar, e enveredando pelos caminhos onde um ex-amante era amigo e dava guarida ao seu capitão. De um lado o coronel, de outro o cangaceiro, e a beleza feminina a todos envolvendo e enfeitiçando. Que se diga, contudo, que a página de João Maria na vida de Maria, foi simplesmente rasgada após ela se tornar cangaceira e dona de Lampião. Ainda viviam no mesmo mundo, mas era como se aquele mundo não vivesse mais neles.


Rangel Alves da Costa. Pesquisador e Escritor
Conselheiro Cariri Cangaço