Expedição Serra Grande , 90 Anos de História Por:Marcelo Alves

Louro Teles e Marcelo Alves na Serra Grande

No dia 26 de novembro de 1926 por volta das 8:00 da manha se dava início ao maior combate da história do Nordeste... Os livros falam que Lampião contava com aproximadamente 60 cangaceiros porém em pesquisa local do amigo Louro Teles o número era um pouco maior e cada um verá no seu livro que será lançado em breve.
Se Falando em cangaço e dos combates seria impossível não mencionar o episódio de Serra Grande, pois esse foi a maior vitória de um grupo cangaceiro sobre uma volante da história. E para homenagear o aniversário de 90 anos do combate iremos narrar aqui essa subida:
Por volta das 5:00 da manha se deu a arrumação das coisas: água, gandola do exército, chapéu e muita disposição, e saí de Princesa Isabel-PB onde dormi com destino a Calumbi-PE que tem distância aproximadamente de 35 KM e logo observamos a obliquidade de diferentes serras por todo o caminho.


 Marcelo Alves e Louro Teles rumo a Serra Grande 
Chegando em Calumbi fui direto ao encontro do amigo Louro. Logo observei que dentro de Calumbi ou ele era dono de tudo ou era a família por que tudo tinha seu sobrenome. Teles bar... Farmacia Teles... Etc.
Saindo de lá Louro foi mostrar uma região onde se deu o trajeto de Lampião até chegar na serra. De lá voltamos até Calumbi e lá atravessamos a pista onde paramos o carro pois de lá não existia mais acesso pois havia sido construído uma ferrovia. Então trilhamos o resto do percurso a pé e de motocicleta até as proximidades do pé da Serra Grande.
Chegando lá nosso ponto de parada foi no juazeiro das 7 covas, como assim é chamado pois depois do combate foram enterrados 10 volantes sendo 7 deles numa cova coletiva e que haviam sido mortos em combate. 

Então começamos o trajeto feito pelos volantes até chegar ao topo da serra, primeiramente fizemos entender os trajetos feito pelo tenentes Arlindo rocha que pegou a direção da beira do Boqueirão e onde existia um olho d'Água e não existia saída sendo então denominado de curral das volantes. Diz-se que o trajeto de Arlindo rocha até o curral foi cantado e "aboiado" pelos cantos e tiros do cangaceiro Genesio vaqueiro que aos berros animava os outros cangaceiros e amedrontava e aterrorizava a volante de Arlindo que teimava em querer subir . Já o outro trajeto foi do tenente Manoel neto que pegou rumo a subida por uma região de mais difícil acesso sendo ambos os tenentes logo baleados no início do combate, Arlindo levou um tiro de fuzil a nível da boca e Manoel neto nas pernas. Dizia-se que Lampião gritava pra não matarem Manoel neto e que era pra pegar ele vivo . Então seguimos subida fazendo a pesquisa e sempre encontrando objetos como chumbada, espoleta, casca de fuzil ano 1912e 1913, que foram doados pelo padre Cícero a época e por isso Lampião estava tão bem armado, casca de bala 44 que eram das volantes, um botão de gandola, uma presilha acessória de oficial, etc. 


Tnascrição do telegrama de Theophanes Torrres, para o Comando da Força, por Geraldo Ferraz: "Boletim Geral nº 262, dia 01 de dezembro - Serviço para 02. Telegrama (grafia da época):

Villa Bella,30. Communico-vos fallecimento tiroteio Serra Grande 26 mez findo soldados seguintes:
Destacamento de Salgueiros - 3º Batalhão Luiz Torres Bandeira, Severino Pereira da Silva, Pedro Aureliano da Silva e Targilindo Rocha; ainda do 3º Octavio de Sá Araujo, pertencente força Tenente Lemos; 
De Floresta, ainda da referida unidade, soldados João Terto, de Afogados de Ingazeira e José Dias dos Santos, de Villa Bella, Angelo Ignacio da Silva que era o bravo insubstituivel rastejador e ainda do 3º Batalhão soldados José Arconcio dos Santos e Antonio Braz de Lima, ao todo 10 homens.
Foram feridos mesmo combate bravo 2º Sargento Arlindo Rocha e Cabo Manoel de Sousa Netto aquelle de Salgueiros e este de Floresta ambos inspirando cuidado estado saude. Feridos gravemente soldados do 2º Batalhão Vicente Ferreira de Lima, destacado em Villa Bella, dito do 3º Eduardo Pinheiro de Sousa da Força do Tenente Lemos, de Salgueiros ditos Cicero Aristides Pereira pertencente Força auxiliar Sargento Arlindo Rocha, dito da C.M.M. José Francisco Bezerra aqui estacionado. Feridos levemente ditos do 3º José Caetano de Sousa, Antonio Alves de Lima, aqui destacados, Florentino Fernandes da Silva, pertencente Salgueiros, Agamenon Coelho Magalhães, pertencente Triumpho e 2º Sargento José Olinda de Siqueira Ramos, pertencente a Afogados de Ingazeira, ao todo 14 feridos. Saudações. Major THEOPHANES TORRES. Commandante Geral Forças Interior.”

 
 Expedição a Serra Grande e reliquias da batalha de 1926
 
 


Na subida sempre destacamos o difícil acesso e a diversidade da fauna e da flora da caatinga, encontramos uma diversidade de plantas típicas como favela, palmatória, xique-xique, mandacarú, quipá, etc. E de animais encontramos um bando de macacos pregos que estavam se alimentando e quebrando o coco catolé, além de uma cobra corredeira que estava engolindo uma lagartixa, resquícios de alimentação de porcos caititu, e uma diversidade de pássaros como Gavião carijó, gavião carcará, cancão , casaca de couro, galo de campina, golados, maria fita, etc.

Casa do Srº Francisco Braz no Sitío Tamburil,para onde foram levados os soldados baleados na Serra Grande e neste pilão foram preparadas as primeiras doses de remédio para os soldados feridos, todos os pintos do terreiro foram pisados com água no pilão e dado para os soldados beberem.

Há 90 anos este lugar foi marcado como o cenário da maior batalha do cangaço, neste juazeiro foram sepultados os 10 soldados mortos neste confronto 7 deles em uma cova coletiva .

Então seguimos a subida até chegar ao topo da serra onde observamos o ponto estratégico que Lampião ficou onde existia um olho d'Água e que dava pra observar toda a região. Além de ver o local que manteve o seu refém o "Mineirinho". Lampião ainda pós término do combate e com o escurecer da noite desceu pra sangrar todos os volantes feridos e que haviam ficado embaixo Pós combate. 

Depois na mesma noite desceu pelo outro lado da serra e esperou todo o grupo se juntar novamente e tiraram sentido a Betânia-PE sendo finalmente o mineirinho libertado. Lampião voltou então para um conjunto de serras no sentido Flores-PE/Calumbi-PE onde permaneceu até por volta do dia 08 de dezembro de 1926 enganando assim todas as tropas que achavam que ele estava no rumo de Betânia.




Marcelo Alves, pesquisador
Paraiba

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