Sobre o Novo Livro de Calixto Junior Por:Junior Almeida

Casa de Isaias Arruda em Missão Velha

Conclui essa semana a prazerosa e elucidativa leitura de “Vida e Morte de Isaías Arruda: Sangue dos Paulinos, abrigo de Lampião”, de autoria do colega de academia (ABLAC) e Seminário Cariri Cangaço, Calixto Junior. Eu tinha adquirido o livro direto com o autor em Aracaju, no mês de março deste ano, mas como a biografia do célebre potentado de Missão Velha foi parar numa fila literária de quase quarenta obras que tinha em casa, então, só agora, pude me dedicar à leitura. Como gosto de tecer alguns comentários sobre os livros que leio, relato aqui algumas observações do que me chamaram atenção. Só para constar, depois que findei o livro do professor/escritor aurorense, creio que quem estuda cangaço e coronelismo, temas siameses, não pode deixar de ler a citada obra, que detalha a fundo a vida do chamado “coronel menino”.

Um dos pontos que me chamou atenção na obra de Calixto é de como os chamados coronéis de barranco do nosso beligerante Nordeste daquela época eram bem à margem da lei. Não canso de me surpreender com isso. No Cariri Cearense, por exemplo, rapidamente vem à mente, além Isaías, de Missão Velha, o não menos perigoso Zé Inácio, do Barro, dentre outros. Os homens eram umas feras! Imagino-os nos dias de hoje, com seus conchavos políticos e brigas pelo poder. Seriam, quem sabe, vereadores, vices e prefeitos de suas cidades, quem sabe até deputados. Poderiam ser considerados por muitos, cidadãos de bem, que defendem a família e a Pátria. Alguém duvida?
Em seu livro Calixto Junior detalha bem as inúmeras rixas do chefe político de Missão Velha, com quantas pedras Isaías Arruda mexeu, sendo que a pedra dos Paulinos foi a que lhe veio à cabeça. Foi a sua desgraça. Já diz o ditado que “o remédio de um doido é outro na porta”, então, por mais que o coronel menino fosse ousado e destemido, não faltava quem fosse igual a ele ou pior (ou seria melhor?).


Pela narrativa da biografia, Isaías Arruda parecia ser duro na queda, não era um sujeito “morredor”, como brinca Luiz Gonzaga, cantando com Carmélia Alves, onde diz que o sujeito morreu apenas com uns risquinhos de faca, pois naquele 4 de agosto de 1928, foi atingido por sete tiros dos revólveres dos irmãos Antônio e Francisco (Chico) Paulino, só vindo a falecer quatro dias depois. Tem gente que morre de uma topada. Isaías não! Foram sete disparos para tirar-lhe a vida, mesmo assim, não acabou-se no momento que foi atingido.
Talvez esse intervalo de tempo, do atentado propriamente dito, na estação de trem de Aurora, até a morte da casa de Augusto Jucá, na mesma cidade, tenha feito com que o advogado dos homicidas tenha posto em dúvida, perante a Justiça, o laudo cadavérico da vítima, e levantado a tese de defesa dos seus clientes de que Isaías faleceu porque não se cuidou direito, e não pelos tiros que tinha tomado, chegando em sua petição a dizer que “ (...) como medicamentos; uns fazem grande bem, outros nem bem nem mal. Daí os erros judiciários a que arrastam as faltas ou ignorância dos peritos,” e também que “a morte de Isaías resultou não porque o mal [os tiros] fosse mortal e sim por ter o ofendido deixado de observar o regime médico higiênico reclamado por seu estado”.
Absurdo?! Nem tanto. Inacreditável mesmo foi o corpo de jurados, reunido em maio do ano seguinte, para julgar os irmãos Paulino, ter aceitado esta estapafúrdia tese, respondendo questionário dizendo na primeira questão que os acusados tinham sido os responsáveis pelos disparos que atingiram Isaías Arruda, mas, no segundo quesito, que esses tiros não foram suficientes para matar a vítima, e sim a falta de cuidados dele mesmo. Ou seja: pelo que os jurados entenderam o chefe político de Missão Velha, foi o culpado pela sua morte e não os Paulinos, que pegaram uma pena leve, incursos no grau mínimo do código penal da época, sendo condenados a pouco mais de dois anos, o que fez com que o juiz do caso apelasse.
O Cariri Cearense possui no campo da História daquela região nomes como Xavier de Oliveira, Joryvar Macedo, patrono de Calixto na ABLAC, e os mais recentes Souza Neto, Cristina Couto, Bosco André e Daniel Walker, que precocemente foi morar com Deus. Somando a recente obra com outras de sua lavra, Calixto Junior, nascido em Aurora no dia da alfabetização, reforça, ainda bem, o time desses abnegados. Parabéns bela obra!

Junior Almeida, pesquisador e escritor
Conselheiro Cariri Cangaço , Capoeiras-PE

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