Por Terras do Bandarra Profeta do Sebastianismo Por:Valdir José Nogueira


Sugestionado pela curiosa e fantástica história da Pedra do Reino, cujos antecedentes também se reporta ao sapateiro de Trancoso, Gonçalo Anes, o Bandarra - personagem celebrizada pelas suas proféticas trovas que alimentaram o mito do sebastianismo, desde muito tempo que vivia com a curiosidade de conhecer a terra deste célebre profeta do Quinto Império de forte ligação com a história da "Terra da Pedra do Reino". Mas os anos foram se passando e, a oportunidade então surgiu.


Trancoso é uma cidade que integra a rota das aldeias históricas beirãs, de Portugal. Trata-se duma bela cidade, com uma história riquíssima e com um notável patrimônio arquitetônico, encontrando-se rodeada de muralhas com um belo castelo, também medieval, a coroar um majestoso conjunto fortificado. Os seus vários monumentos constituem um dos mais expressivos e belos centros históricos do país, destacando-se, as igrejas de Santa Maria, da Misericórdia e de São Pedro, a Casa do Gato Preto, a Casa dos Arcos e o Pelourinho, bela peça do mais puro estilo manuelino.

Em Trancoso foi realizado em 26 de junho de 1282 o casamento do rei D.Dinis e D. Isabel de Aragão. D.Dinis, o sexto rei português, ficou conhecido na História de Portugal como o rei lavrador. Já D. Isabel veio a celebrizar-se como a Raínha Santa, ligada à popular lenda do "milagre das rosas". Foi beatificada e canonizada, sendo por isso venerada como Santa Isabel e é uma das figuras mais conhecidas da nossa História.


 Valdir José Nogueira

Pois bem, foi nesta maravilhosa cidade beirã que nasceu e viveu Gonçalo Eanes o Bandarra sapateiro de profissão que se dedicou à escrita em verso de profecias de cariz messiânico. Os seus escritos revelam um bom conhecimento das Escrituras do Antigo Testamento, do qual fazia as suas próprias interpretações, tendo composto uma série de "Trovas" sobre a vinda do “Encoberto” e o futuro de Portugal, como reino. Bandarra foi acusado pela Inquisição de Judaísmo e as suas trovas foram incluídas, posteriormente, no catálogo de livros proibidos, já que suscitaram interesse sobretudo entre cristãos-novos. Foi inquirido perante este tribunal e foi obrigado a participar numa procissão do auto-de-fé, sendo-lhe ainda imposta a obrigação de nunca mais interpretar a Bíblia ou escrever sobre temas da Teologia. Após o julgamento voltou para Trancoso, onde viria a morrer, em 1556. 

A sua cidade natal prestou-lhe homenagem, construindo numa das suas praças uma estátua, perpetuando assim a sua memória. No entanto e apesar de julgado e condenado e da interdição do Santo Ofício, as suas trovas circularam por todo o país em diversas cópias manuscritas. As Trovas de Bandarra foram interpretadas como uma profecia ao regresso do Rei D. Sebastião após o seu desaparecimento na Batalha de Alcácer-Quibir em Agosto de 1578. Mesmo com todas as censuras e proibições, as Trovas continuaram circulando tendo sido impressas várias edições. Segundo alguns críticos, as Trovas do Bandarra influenciaram o pensamento sebastianista e messiânico de D. João de Castro, do Padre António Vieira e de Fernando Pessoa.


Outra figura curiosa, para sempre ligada à história de Trancoso é a do Padre Francisco da Costa, Prior de Trancoso no século XV que gerou 299 filhos em 53 mulheres, muitas delas familiares diretas, incluindo irmãs e a própria mãe! O prior foi julgado em 1487, aos 62 anos; a sentença proferia que seria "degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos". No entanto, El-Rei D. João II perdoou-o e mandou-o pôr em liberdade com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, ao tempo tão despovoada!

Valdir José Nogueira
Pesquisador e Escritor, 
São José de Belmonte-Pernambuco

E vem aí
Cariri Cangaço São José de Belmonte
11 a 14 de Outubro de 2018

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