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Ademar ou Benjamim ? Por: Ricardo Albuquerque

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Ricardo Albuquerque em noite de Cariri Cangaço na Saraiva MegaStore

Caros Aderbal e Nirez, evitei por um tempo fazer qualquer consideração sobre a entrevista realizada pelo Nirez com o meu pai Chico Albuquerque. Mas lendo alguns comentarios, resolvi que seria hora de colocar alguns esclarecimentos neste assunto.


1) Meu avô Adhemar nunca foi um fotografo e cineasta profissional. Ele sempre trabalhou como caixa do London Bank em Fortaleza.

2) Fotografar e filmar era um hobby que ele exercia com tamanha paixão, que alem de ter os melhores equipamentos à epoca de 20 e 30, ele foi o precursor da produção cinematografica no Ceará tendo realizado mais de 20 documentarios.

3) Conforme consta na filmografia da Cinemateca Brasileira é de sua autoria o filme "O Joazeiro do Padre Cicero" de 1925 e "Os Funerais de Padre Cicero" em 1934.

4) Durante a realização do filme "Os Funerais de Padre Cicero"manteve contato com Benjamin Abrahão, que encontrava-se sem função após a morte de Padre Cicero. Deste contato surgiu a ideia de filmarem e fotografarem o bando e sub-bandos de Lampião com finalidade comercial.

5) Benjamin, que já havia mantido contato com Lampião em 1926, durante sua visita à Juazeiro, ficou encarregado de propor tal empreitada à Lampião.

6) Com o consentimento de Lampião, conforme documento de proprio punho e assinado pelo Capitão Lampião, Benjamin veio a Fortaleza procurar meu avô.

7) Nesta parceria, meu avô forneceu os equipamentos e filmes, alem de ensinar ao Benjamin como manusea-los.

8) Na primeira tentativa de Benjamin em 1936, os filmes fotograficos vieram totalmente velados, o que obrigou ao meu avô soldar a objetiva e a dar-lhe novas orientações em relação à luz.

9) Benjamin esteve mais 2 vezes com o bando de Lampião nos anos de 36 e 37, dando então por encerrado as tomadas.

10) Meu avô editou o filme e ainda em 37 anunciou a primeira exibição no Cine Moderno em Fortaleza. Esta exibição, por exigencia do DIP, tornou-se na verdade uma sessão fechada ao publico, sendo considerada uma sessão de censura.

11) A exibição publica foi proibida e o filme apreendido pelo DIP.

12) Somente em 1954, uma edição realizada por Al Ghiu do que restou do filme, foi apresentada numa sala de projeção do Rio de Janeiro.

Ricardo Albuquerque e Ângelo Osmiro
 
Antes de manifestar-me sobre a entrevista de meu pai Chico Albuquerque ao grande memorialista Nirez, preferi checar algumas duvidas com a minha familia: netos de Adhemar Albuquerque. Como eu já supunha, o meu avô, que já havia realizado dois documentários com o Paadre Cicero, deslocou-se à Juazeiro em 1934 (e não em 1930) para realizar o terceiro documentario denominado "Os funerais de Padre Cicero" Foi neste momento, apos a morte de Padre Cicero, que em conversa com Benjamin Abrahão, meu avô propos a realização do projeto Lampião. Nunca houve qualquer intermediação do Padre Cicero nesta empreitada. Benjamin Abrahão, que encontrava-se sem uma função após a morte do Padre Cicero e, que já tinha tido contato com Lampião em 1926 no Juazeiro, prontificou-se a procurar Lampião e solicitar a devida autorização, como atesta documento do proprio punho de Lampião. Com este documento em mãos, Benjamin veio à Fortaleza procurar meu avô, que ensinou-lhe a fotografar e filmar, alem de fornecer-lhe todo o equipamento e filmes necessarios. Esta foi a origem do trabalho realizado durante os anos de 1936 e 1937. Espero ter colaborado para diremir tantas duvidas sobre esta questão.
Espero ter colocado um pouco de luz sobre este trabalho.
Abraço,

Ricardo Albuquerque
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Lenha na Fogueira ! Ademar ou Benjamim? Por:Renato Casimiro

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Renato Casimiro

Caro Severo,
Você me pede uma opinião sobre o excelente depoimento de Nirez, com respeito à participação de Ademar Bezerra Albuquerque na realização do filme com Lampião. A rigor, não ouvi ali nada do que não seja o restabelecimento da verdade. Nirez tem a seu favor um zelo muito grande por tudo que lhe cerca, seja na fotografia, na música e em todas as suas manifestações de grande memorialista.

Não há dúvida que o seu depoimento procura esclarecer a verdade sobre aquilo que, historicamente, se aceitou como sendo uma ação de Benjamim Abraão.

É perfeitamente factível que as atenções de Ademar Bezerra Albuquerque para não perder a oportunidade de realizar o trabalho, através de Benjamim, sejam verdadeiras e incontestáveis. E nisto o Nirez juntou detalhes fornecidos pelo Chico Albuquerque com grande propriedade para firmar a veracidade das afirmativas. Procurando imagens do Juazeiro antigo, não encontrei em muitos anos uma só que pudesse ser referida ao “fotógrafo” Benjamim. E olhe que ele tinha tudo para fazê-lo, pois no período em que foi secretário do Pe. Cícero, Juazeiro se viu descoberto por uma quantidade enorme de visitantes ilustrados e o dia-a-dia da casa do padre era muito favorável a isto.

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Efetivamente, este período de Juazeiro e do Pe. Cícero (época em que Benjamim servia à casa do padre) é muito rico em imagens fotográficas e filmes. A propósito destes filmes, reproduzo o texto que apresentei em nosso então jornal eletrônico Juazeiro on line, na sua edição de 18.01.2009, numa coluna denominada Juazeiro, por aí, que ainda pode ser encontrado disponível em http://www.juaonline.info/.
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FILMOGRAFIA(I)...

Numa consulta à Cinemateca Brasileira (Secretaria do Audiovisual/Minc), São Paulo, localizei dados sobre os filmes realizados pelo sr. Lauro Reis Vidal, durante sua visita a Juazeiro, em 1925. Foram três películas: um filme original, de 1925, e dois outros montados nos anos 1939 e 1955.
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FILMOGRAFIA(II)...

O JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO (Infelizmente, a Cinemateca Brasileira não possui este filme), é um documentário inscrito na categoria de curta-metragem/silencioso/não-ficção. O material original foi em 35mm, BP, 16q. Produção de 1925, em Fortaleza, onde foi lançado em 08.12.1925, no Cine Moderno. A produtora foi a Aba Film, de Adhemar Albuquerque, que fez a direção. Sinopses: "Surpreendente filme natural apresentando magníficos aspectos da região do Cariri em que se vêem: Joazeiro, Crato, Barbalha e outros lugares, assim como Missão Velha, Lavras, Quixadá, Ingazeiras, Fortaleza, etc. Impressionante vista do grande açude do Cedro". (Jornal do Comércio, 28.11.1926). "Trata-se de uma bela reportagem cinematográfica do Cariri, zona em que o padre Cícero exerce a sua infatigável atividade e o seu grande prestígio. O Joazeiro, a cidade do padre Cícero, é apresentada em seus diversos aspectos, mostrando o seu progresso, o seu povo, enfim tudo o que ali existe de importante. Além do Joazeiro, o público aprecia outros bonitos pontos do sertão cearense, destacando-se o Crato, Barbalha, Missão Velha e o colossal açude do Cedro, obra grandiosa da engenharia brasileira. De Fortaleza há algumas, como sejam o porto, o passeio Público e o Parque da Liberdade. Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. É um filme digno de ser apreciado. Não fatiga o espectador. Ao contrário, torna-se atraente pela variedade de cenas, que desenrola. Além disto satisfaz uma curiosidade: mostra o maior domador de homens dos sertões, o padre Cícero Romão Baptista, que se apresenta em diferentes cenas, entre o povo que o aclama, em sua residencia trabalhando, abençoando afilhados e romeiros, discursando, enfim de diversas maneiras é ele visto na tela". (Jornal do Comércio, 02.12.1926)
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FILMOGRAFIA(III)...

O JUAZEIRO DO PADRE CÍCERO, o segundo documentário, foi realizado em 1939, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir de um material original anterior, em 35mm, BP, com duração de 8min, 220m, 24q. A produção foi de Lauro Reis Vidal, no Rio de Janeiro.
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FILMOGRAFIA(IV)...

PADRE CÍCERO, O PATRIARCA DO JUAZEIRO, o terceiro documentário, foi realizado em 1955, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir do material original em 35mm, BP, com duração de 11min, 300m, 24q. A produtora foi a Filmes Artísticos Nacionais, do Rio de Janeiro, e a co-produção foi de Lauro Reis Vidal, tendo como direção Alexandre Wulfes. Por exigência da época, o documentário passou pela censura em 19.01.1955, com o certificado 31942, válido até 19 de janeiro de 1960.
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FILMOGRAFIA(V)...

Comentários: Observe que fotos de Lampião são referidas em período anterior à sua visita a Juazeiro, em 1926. Algumas das cenas destes documentários podem ser vistas em outras produções recentes, tanto para cinema como para tv. Na ilustração da coluna de hoje, o arquivo do Juaonline apresenta algumas delas, em fotos que foram obtidas por Raymundo Gomes de Figueiredo (anos 50), a partir de fotogramas destas películas. Especialmente sobre esta primeira película, encontro um registro cartorial firmado pelo Pe. Cícero nos seguintes termos:
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1931, 13 de novembro - DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA, AO SR. LAURO DOS REIS VIDAL, PARA EXIBIÇÃO DO FILME" JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "ÍNTEGRA: " Amigo e Sr. Laudo Reis Vidal. Saudações. Consoante os seus desejos, pela presente, dou a V.S. a exclusividade absoluta para exibição e representação cinematográfica em "qualquer parte do país e fora dele" de filme que diz respeito a aspectos deste município ou fora dele, nos quais figure a minha pessoa. Assim autorizado poderá V.S. fazer a exibição de qualquer película authentica que tenha obtido, ou que possa obter, conforme melhormente consulte as suas conveniencias e as aspirações gerais do povo, a exemplo da que já é de sua propriedade. Joazeiro, 13, de outubro de 1931. Ass. Padre Cícero Romão Baptista.(Lo. B-l, N° de Ordem 10, p. 18)

No dia seguinte, o Pe. Cícero faz constar no mesmo livro do primeiro tabelionato uma outra comunicação, reafirmando a concessão do dia anterior e ampliando suas prerrogativas: 1931, 14 de novembro - DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA AO SR. LAURO REIS VIDAL, PARA IXIBIÇÃO DO FILME "JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "Integra: "Amigo e Sr. Lauro Reis Vidal. Local. Reportando-me a minha carta passada onde lhe concedo a exclusividade de minha exibição cinematográfica ficando V.S. com plena autorização por ser o único habilitado a propagar o município de Joazeiro e minha pessoa, através da mesma exclusividade, em todos os tempos, como proprietário do filme "Joazeiro, do Padre Cícero e Aspectos do Ceará" ou outro qualquer filme que possa obter; sirvo-me da presente para juntar as fotografias e documentos que solicitou, em relação separada e por mim assignada, como elementos precisos para a via de propaganda acima citada. Encerrando, cumpre-me, de já, agradecer a sua manifesta boa vontade para comigo, os meus amigos e as coisas do Joazeiro. Saudações. Joazeiro, 14 de novembro de 1931. Ass. Padre Cícero Romão Baptista.( Lo.B-l, N° de Ordem 12, p. 19/20).
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O ano de 1925 foi pródigo para filmagens em Juazeiro. Conhecemos a película realizada em 11 de janeiro, quando da inauguração da estátua ao Pe. Cícero, na Praça Alm. Alexandrino de Alencar; conhecemos a película realizada em setembro, quando da visita da comitiva do presidente Moreira da Rocha; conhecemos a que foi realizada por Ademar Albuquerque/Reis Vidal; mas não conhecemos uma que teria sido realizada por iniciativa do então deputado estadual Godofredo de Castro, neste mesmo ano.

É muito mais provável que Ademar esteja como realizador em todas estas películas e este relacionamento teria servido para oferecer um treinamento mínimo para o que viria anos depois com o filme de Lampião, pois é neste ponto que o testemunho de Chico Albuquerque a Nirez é importante.

Não tenho dúvida em aceitar que Ademar e Benjamim tornaram-se parceiros, sendo este cliente daquele e a quem poderia realizar pelo motivo apresentado por Chico Albuquerque e Nirez, o da confiança de alguém que não o punha, e a seu grupo, em apuros com a repressão policial.
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Embora tenha feito isto, publicamente, em depoimento durante uma edição do Cine Ceará, anos atrás, aproveito a oportunidade para relatar brevemente o que me foi ensejado conhecer desta atividade cinematográfica de Benjamim. No início dos anos 80, eu e Daniel Walker adquirimos uma coleção de fotografias antigas de Juazeiro e alguns pequenos pedaços destas películas que o seu proprietário, Raymundo Gomes de Figueiredo, cidadão juazeirense, mantinha como acervo e no qual se incluíam livros e jornais, e a que deu o nome de Arquivo Benjamim Abraão.

Quando adquirimos e isto foi divulgado pelo Diário do Nordeste, o fato foi relevado como se tivéssemos adquirido o Arquivo “de” Benjamim Abraão. A família de Benjamim, através de seu filho, então residente em Niteroi e comerciante no Rio de Janeiro, Atalah Abraão, instruído por Eusélio Oliveira, resolveu mover uma ação contra nós dois e a levou adiante nas instâncias de Juazeiro do Norte e Fortaleza. Vencemos nas duas e o material nos foi devolvido, anos depois. Mais adiante, numa conversa com o ex-senador da república, José Reginaldo Duarte, cuja família criou nos arredores de Juazeiro, o filho de Benjamim, o sr. Atalah, nos chamou para uma conversa onde algumas coisas foram faladas a respeito da frustração que aquele ato determinou para nós e para a família, sobretudo porque ficou demonstrado que nós não havíamos comprado nenhum roubo, portanto, não éramos receptadores de um acervo, até então procurado.

O sr. Reginaldo Duarte nos lembrou, inclusive, que por vários anos, encontrando-se diversos rolos de filmes pertencentes a Benjamim (não se sabe se apenas outros que não o relativo a Lampião) num canto da casa, na localidade de Brejo Seco, proximidades do atual Aeroporto Regional do Cariri, guardados em latas...

...a garotada do sítio tomava aqueles rolos e os queimavam durante as festas juninas. Certamente que por conta do material cinematográfico de então, sua queima se assemelhava a uma chuva de prata, coisa que fazia a garotada delirar.

Este é o fim trágico, pelo qual, inclusive tivemos que pagar duramente por uma suspeita descabida, a partir da ignorância e má vontade do então, meu amigo, Eusélio Oliveira, que não se permitiu aceitar o convite para conhecer de perto o que tínhamos comprado. A grande indagação que ficou, como moral da história foi mais uma grande dúvida sobre o que teria feito ou não Benjamim Abraão, como fotógrafo e cinegrafista, aluno de Ademar.

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Em tudo o que mencionei antes e do que ouvi, destaco: Sem querer por fogo na fornalha e já pondo, enfatizo o que registra a ficha da Cinemateca, mencionada: Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. Não é interessante que haja estas fotografias tomadas em data(s) anterior(es) a 1926. Observar que no filme com Lampião, Benjamim aparece usando um bornal com a inscrição Aba Film. Nunca houve omissão de que a produtora foi a Aba Film, de Adhemar Bezerra Albuquerque, que (também) deve ter feito a direção, à distância. Por isto, o depoimento de Nirez corrobora com as indicações anteriores de que ele era, efetivamente, produtor, diretor e fotógrafo destas películas em torno de 1925. Entre 1925 e 1936, quando filma Lampião, certamente Benjamim já teria apreendido objetivas e eficientes lições para manejar a máquina. Em mais de 10 anos de relação profissional com Ademar, Benjamim só teria feito isto? A resposta se foi, desgraçadamente, no fogo ingênuo das crianças, em noitadas de São João, nos arredores de Juazeiro do Norte.

Renato Casimiro
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Bomba! Ademar Albuquerque ou Benjamim Abraão? Por:Aderbal Nogueira

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Pesqisador e Memorialista Nirez
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Pois é, a história nos causa muitas surpresas. Pelo que eu sabia foi o libanês Benjamin Abraão que teve a iniciativa de filmar e fotografar Lampião, porém, em uma gravação de um documentário que estou fazendo com o amigo Gláuber Paiva, que não tem nada a ver com cangaço, surgiu o assunto Lampião. Pois o nosso entrevistado, Miguel Ângelo de Azevedo, o famoso "Nirez" que juntamente com Christiano Câmara são os dois maiores memorialistas e pesquisadores da história de Fortaleza, tendo um acervo incrível sobre nossa cidade, nos relatou que Chico Albuquerque, filho de Ademar Albuquerque lhe contou como foi que ocorreram as famosas filmagens de Lampião e seu bando. Eu não tenho como provar a veracidade desse fato, porém Nirez é de uma sinceridade acima de qualquer suspeita. Se o que ele nos fala for a verdadeira história, é mais um sinal de que a história sempre tem duas caras. Como dizia o famoso humorista: "há controvérsias, amado mestre".



Se pensarmos bem após esse depoimento, realmente o que um libanês que não tinha nenhum conhecimento de técnicas fotográficas poderia querer filmando Lampião?

Já Albuquerque era diferente, era empresário do ramo, vivia disso e conhecia os meios e como, depois, distribuir o material para o mundo. Tinha uma visão ampla do lucro que isso podia trazer, era influente e é muito mais plausível essa hipótese. Quero ressaltar que em momento algum Nirez tentou dizer nada a respeito de que o relato ia de encontro a tudo o que foi dito até hoje, não tentou criar nenhum tipo de polêmica, ele simplesmente relatou o que ouviu.

Eu sim fiquei pasmo, na mesma hora vi que ali poderia estar a verdadeira história... mas quem sou eu para atestar?

Aderbal Nogueira


NOTA CARIRI CANGAÇO: É... Quando pensamos que não temos mais nada a decifrar, nos chega o grande farejador de mistérios, Aderbal Nogueira, e nos traz esse depoimento BOMBA do amigo Nirez, que como Aderbal frisa, é de condura e credibilidade irrepreensíveis, agora: É com os vaqueiros da história. Aqui no Ceará, temos um pequeno e simpático ditado: "Te vira tapioca!"
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O Homem que sonhou Filmar Virgulino Por:Manoel Severo

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Ademar Bezerra de Albuquerque

Ademar Bezerra de Albuquerque nasceu em Fortaleza no dia 19 de julho de 1892. Perdeu os pais com 10 anos de idade e partiu para a labuta com uma determinação invejável para os meninos de sua idade, aos 23 anos casou com Lasthenia Campos de Albuquerque, tendo o casal nove filhos: Francisco Afonso, Antonio Afonso, Paulo Afonso, Pedro Afonso, Suzana, Lastenia, Maria Lucíola, Marta e Luis Afonso. Foi funcionário por 40 anos do Bank of London, entretanto a veia artistica fazia parte e viria  se tornar marcante na vida de Ademar.Sua criatividade artística teria uma manifestação inicial no campo da fotografia e do cinema, com destaque para a criação da Aba Film em 1934, empreendimento definitivo no ramo de fotografia. antes mesmo disso havia inaugurado seu primeiro laboratório fotografico ainda com 18 anos.

Uma das páginas mais fascinantes da história deste grande cearense se deu em 1925 quando produziu o primeiro filme sobre Padre Cícero: "O Joazeiro do Padre Cícero", o documentário nos traz imagens da vida cotidiana e da fé que cercava o santo padre do Joazeiro... registra também imagens de Missão Velha, Crato e Barbalha. O filme foi lançado no Cinema Moderno em Fortaleza no dia 8 de dezembro. Nesse curta metragem é possível ver Padre Cícero caminhando nas ruas de Juazeiro do Norte e tendo ao seu lado personalidades políticas e atrás de si uma pequena multidão.

Benjamim Abraão

Foi nessa época que Ademar viria a conhecer outro grande personagem desse capítulo, sobretudo para os estudiosos do cangaço: O imigrante libanês Benjamin Abraão Botto, secretário particular do Padre Cícero. Aqui inicia-se mais uma etapa para os investigadores da história. A farta literatura indica que ali, naquele momento, Ademar Albuquerque não só teria emprestado farto material fotográfico, como introduziu Benjamin nas artes da fotografia e do cinema, inclusive, quando em 1926 da presença de Virgulino em Juazeiro, Benjamin Abraão teria tentado, sem sucesso, filmar o cangaceiro e seu grupo.

Naquele momento, a eu ver, parecia realmente ter nascido a semente principal para a ousada empreitada de filmar e fotografar Virgulino Ferreira e seu bando. O tripé formado pela força e carisma de Padre Cícero, a invencionice e inteligência de Benjamim e a visão de futuro e senso de oportunidade de Ademar, iriam possibilitar um dos maiores feitos do cinema nacional: Filmar Lampião. Até aqui sabíamos que teria sido fruto apenas da engenhosa cabeça do libanês andante, desse momento em diante, a partir do depoimento de Nirez; post acima; temos mais um elemento a considerar: Tudo havia nascido da cabeça de Ademar Albuquerque.

Padre Cícero Romão Batista

A associação entre Adhemar Albuquerque e Benjamin Abrahão viria a se consolidar em 1936 com o fornecimento de equipamento e treinamento específico para utilização, daí, um labirinto próprio da saga lampiônica começa a se descortinar até que Benjamim se vê novamente diante do Rei do Cangaço, e se dão as primeiras fotografias e o primeiro rolo de filme. Ao final, relíquias fotográficas de valor inestimável retratando as imagens dos cangaceiros que perteciam aos vários grupos comandados por Virgulino e o filme "Lampeão" , montado na Aba Filme, mas de imediato envolvido por restrições e ameaças oficiais. No dia 2 de julho de 1938 a película teria uma exibição de carater privado. O Cine Moderno em Fortaleza recebia a seleta platéia de autoridades, entre essas, o Chefe de Polícia Capitão Cordeiro Neto. Depois dali foi decretada a apreensão do referido filme pelo diretor do Departamento Nacional de Propaganda, o braço de censura do governo ditatorial, Lourival Fontes.
 
"Secretário Segurança Publica Estado do Ceará Fortaleza. Tendo chegado ao conhecimento do Departamento Nacional de Propaganda, estar sendo annunciado ou exhibido na capital ou cidades desse Estado, um filme sobre Lampeão, de propriedade de "Aba Filme", com sede á rua Major Facundo, solicito vos digneis providenciar no sentido de ser apprehendido immediatamente o referido filme, com todas suas copias, e respectivo negativo, e remettel-os a esta repartição, devendo ser evitado seja o mesmo negociado com terceiros e enviado para fora do paiz. Attenciosos cumprimentos. Lourival Fontes, director do Departamento Nacional de Propaganda do Ministério da Justiça."


Cine Moderno por ocasião da exibição de Lampeão, Acervo coronel Edynardo Weyne

O tempo nos traria os trágicos desdobramentos de tão festejada empreitada. Em maio do mesmo ano Benjamim Abraão seria assassinado  com quarenta e duas facadas no estado de Pernambuco. Em julho, também do mesmo ano, tombariam mortos; Lampião, Maria e mais nove cangaceiros, no estado de Sergipe e do filme; só nos resta 11 intermináveis e memoráveis minutos, eternizando um mito. Ademar Bezerra de Albuquerque, faleceu aos 83 anos de idade, no dia 17 de julho de 1975.


FONTES:
palavracultura.blogspot.com blog de nossa amiga, profa.Rosilene Melo
fortalezanobre.blogspot.com de Leila Nobre
http://www.memoriadocinema.com.br/

Manoel Severo
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